ColunaGestãoTecnologia
0

O teste na fazenda

soja estaca teste

Seja bem-vindo(a) a Newsletter da Agro Insight, um espaço de artigos autorais e curadoria sobre tecnologias, sustentabilidade e gestão para o agro.

Se você ainda não é assinante, junte-se a mais de 8 mil profissionais do Agro, consultores e produtores rurais que recebem gratuitamente conteúdos de qualidade selecionados toda semana, adicionando o seu e-mail abaixo:

Insanidade é esperar algo diferente fazendo sempre a mesma coisa, já dizia o físico alemão Albert Einstein, um dos mais renomados cientistas do século XX.

Por isso é tão comum vermos nas unidades de produção, ou fazendas, o que chamamos de “testes”, terror da maioria dos operadores de máquinas e chefes de campo.

Cada teste realizado (digo “cada teste” porque geralmente uma fazenda não faz apenas um teste, mas sim vários) possui o seu objetivo particular. Na maioria dos casos os testes vêm em busca do aumento da produtividade, mas também podem atuar buscando redução de custos e alternativas de manejo para produtos que vem diminuindo performance ou correm risco de serem banidos do mercado e ao final todos convergem para o aumento ou manutenção do retorno sobre o investimento da atividade (ROI).

E como devem ser feitos estes testes?

Vamos abordar na perspectiva da fazenda, claramente sabendo que vários setores da cadeia estão envolvidos, tanto os elos antes como depois da porteira, e que as empresas fornecedoras de insumos têm papel fundamental neste processo, pois é praticamente destas que (como dizem de forma bonita) as soluções são desenvolvidas.

Passo 1: Comece pelo “por quê” – existe até um livro, de mesmo nome, que fala sobre a importância de se começar pelo “por quê”. O “por quê” vai deixar bem claro qual é o objetivo do trabalho, o porquê de estar sendo feito. Vale lembrar aqui e citar a famosa metodologia 5W2H utilizada para organizar tarefas. Não à toa, o primeiro W desta história é justamente “Why” (por quê em português).

Passo 2: Depois de ter bem estabelecido qual é o seu objetivo, é hora de cuidar da implantação e metodologia de avaliação dos testes e é neste ponto que muitas vezes cometemos algumas falhas.

Os testes na fazenda devem (e devem mesmo) seguir uma rotina prática de trabalho, mas não podem perder a essência do que é fazer um teste. Um teste, no final do dia, é uma pesquisa, em outra escala, mas é uma pesquisa. Não vamos dizer que os testes a nível prático tenham que estar em blocos casualizados com 4 repetições e grau de liberdade maior que 20, mas algumas premissas não podem ser perdidas.

Na pesquisa clássica um dos fatores que mais se preza é isolar a variável a ser avaliada tentando excluir ao máximo as influências externas de ambiente e manejo. Portanto, se o teste que vou realizar é sobre eficiência e retorno de determinados pacotes de fungicidas, as demais variáveis ambientais e de manejo devem ser as mesmas para todos os tratamentos do nosso famoso “teste lado a lado” – de um lado o tratamento, do outro o “padrão fazenda”.

Não é tão simples como parece implantar um lado a lado, porém devemos estar o máximo possível alinhados com o que é o “padrão fazenda”. Mesmo sendo compreensível temos que tomar muito cuidado com a priorização da operação, como geralmente ocorre, onde os testes são implantados apenas quando a operação dá uma folga.

Por exemplo, faz sentido realizar um teste de cultivares instalando o lado a lado no último dia de plantio? Esta data de plantio está dentro da melhor faixa de produtividade observada? O último talhão plantado está dentro das melhores áreas da propriedade e servem como espelho para a maioria das áreas? Tem diferença no banco de ervas e fertilidade? Chuvas?

Para estas perguntas o lado a lado teria que ficar dentro do que mais representa a fazenda para não termos dúvida sobre o resultado, ou será que aqueles 2sc/ha (soja) de diferença na última janela não trás nenhuma dúvida?

Teste dá trabalho, não estamos falando que não dá, mas lembre-se do seu nobre objetivo e se vale a pena colocar em dúvida um resultado e perder uma safra. Lembrem-se sempre que o nosso processo de feedback é anual, é por safra, não estamos em uma loja que todo dia temos um ciclo de vendas e um resultado. Não. Temos que esperar um ano.

Pense bem uma maneira de instalar os testes de um jeito que o trabalho seja o mais fácil possível. Sim, isso é importante, mas não pode transgredir as premissas anteriores.

Passo 3: Vamos a mais um ponto que trás alta complexidade na hora de instalar um lado a lado: com a diversa gama de cultivares e tecnologias existentes no mercado, às vezes fica difícil realmente colocá-los sob mesmo cenário. Algumas vezes determinada cultivar tem tecnologia de resistência/tolerância a herbicidas, ou doenças, ou pragas ou um cruzamento entre elas. Então como fazer?

Em primeiro lugar prezar pela segurança do trabalho, diferenças de tecnologias como herbicidas neste caso são as mais complexas mas não impossíveis se utilizarmos as devidas tecnologias de aplicação. Depois, alocar de modo a que o manejo utilizado seja o mais próximo possível com tecnologias similares e, se não for viável, fazer escolhas.

É preferível eu tomar cuidado em duas aplicações de herbicidas ou ter que realizar MIP a cada 3-5 dias em faixas diferentes e, em caso de atingir o nível de controle (NC), aplicar direcionado em um ciclo de 120 dias? E no caso de reguladores de crescimento que exigem um aspecto de monitoramento e aplicação mais direcionado ainda? Qual destas situações trás mais ou menos simplicidade na minha operação.

Uma dica que podemos dar para ajudar neste sentido é o tamanho do teste. Trabalhar áreas compatíveis a um tanque do pulverizador é uma boa saída. Se sua configuração de aplicação trabalha 50ha, por exemplo, faça testes de 50ha. Mas e se minha plantadora, no caso de um teste de cultivares não for múltipla dos 50ha? Podemos refletir: melhor ter um trabalho uma pouco mais difícil na semeadura que se faz uma vez na safra ou na pulverização que fazemos por várias vezes? Escolhas. Lembre-se do porquê.

Passo 4: Outro ponto valioso para facilitar a operação e até trazer maior segurança no resultado é trabalhar em áreas o mais uniforme possível tanto em fertilidade, rotação de culturas, anos de cultivo, banco de ervas, declividade, etc. e, evitar bicos.

E se na hora de montar o teste, a empresa bonificar somente metade da área? Compre a outra metade! Me recuso a acreditar que um produtor que planta milhares de hectares não possa comprar para algumas dezenas. Este trabalho também é seu! Se colher os 2sc ou 50@ a mais, para quem vai?

Aliás, explore o seu parceiro como um facilitador do trabalho, exija dele avaliações periódicas, a visão da empresa e do profissional sobre o sistema de produção. Já foi o tempo que “judiar” do vendedor era dar chá de cadeira de 3 horas ou desmarcar visita, “judie” com trabalho, no bom sentido! Bom para ele e melhor ainda para o produtor.

Passo 5: Vamos a mais dois fatores importantes: identificação e comunicação.

Identifique bem a área. Há várias alternativas desde a tradicional estaca branca (que não está lá como mira, Sr. Operador), como também bandeiras de fibra de vidro que resistem mais ao trânsito de máquinas (ouviu Sr. Operador?), inclusive aplicativos de georreferenciamento, use o máximo que puder, e identifique o tratamento – sobre estacas ou bandeiras sugiro as cores vermelha e laranja pois dão mais destaque na paisagem (imagine a estaca branca em um algodão pronto para colheita) e sempre acima da copa da lavoura.

Comunique a equipe. Tenha um croqui, faça reuniões com a equipe de campo como um todo desde os chefes de campo como operadores, explique para eles também o objetivo do trabalho – não é melhor quando executamos uma tarefa sabendo por que estamos fazendo aquilo?

Passo 6: E por final, colha. Ter todo esse trabalho ao longo da safra e não ter o resultado não faz o menor sentido, chega a beirar a estupidez. Em culturas mais complexas em que existem operações de beneficiamento e parâmetros de qualidade, o trabalho deve chegar até essa etapa. E se eu conseguir ter uma boa produtividade, mas não atingir nível de ATR suficiente em um teste de cana-de-açúcar? Nós vamos ficar na dúvida se aquele tratamento nutricional que eu realizei interfere na qualidade do algodão?

E, pronto, acabou, você tem o resultado em mãos! Seja bastante analítico e criterioso na sua avaliação.

Escale os produtos de maneira consciente na fazenda. Tendo resultado positivo, iniciado em pequenas áreas, avance devagar, saia da pequena faixa, vá para talhões e depois transforme no seu “padrão fazenda”.

Sempre atingirei meu objetivo? Não necessariamente, mas lembre-se que todo resultado é um resultado. Se não incrementar em produtividade (ou outro objetivo), no mínimo mostra que está em um bom caminho, que seu padrão fazenda é bom, afinal todo resultado é um resultado.

Mas cuidado, não se acomode, continue buscando, continue inovando, pois como iniciamos nossa conversa, não espere algo diferente fazendo sempre as mesmas coisas.

Gostou desse insight? Se inscreva na nossa newsletter e tenha este e outros conteúdos na palma de sua mão. Clique aqui.

 

Rinaldo Grassi Pirozzi

Engenheiro Agrônomo

 

 

Se inscreva na nossa Newsletter gratuita

Espaço para parceiros do Agro aqui

Tags: 5W2H, experimentação agrícola, fazenda, gestao, teste

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

maio 2024
D S T Q Q S S
 1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031  
LinkedIn
YouTube
Instagram