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Tudo sobre controle biológico de pragas no algodão

controle biológico de pragas no algodão

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Introdução

O algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) é uma das principais culturas produtoras de óleo, proteínas e fibras no Brasil. Sendo assim, aprenderemos a seguir a importância do controle biológico de pragas no algodão para um bom cultivo.

O monocultivo do algodão  tende a exercer uma grande pressão de seleção sobre os insetos, favorecendo a disseminação de pragas, uma vez que há grande disponibilidade de alimento.

O controle químico é intensivamente utilizado, mas traz uma série de prejuízos ambientais e à saúde de trabalhadores e consumidores.

Por outro lado, o controle biológico atende aos pré-requisitos de eficiência, segurança ambiental e custo relativamente baixo.

Na cultura do algodoeiro uma ampla diversidade de espécies realiza o controle biológico de pragas. Com ação de predação, temos os percevejos, as joaninhas, os besouros e as tesourinhas; entre os parasitóides, o Trichogramma é o principal; e atuando como entomopatógenos, temos fungos e vírus.

A seguir, serão apresentados exemplos de agentes do controle biológico de pragas no algodão  para as principais pragas do algodoeiro.

controle biológico de pragas no algodão

Broca-da-raiz (Eutinobothrus brasiliensis)

O adulto da broca-da-raiz é um besouro de coloração pardo-escura. A fêmea promove a abertura da casca das plantas novas, fazendo a postura na altura do colo.

Fungos entomopatogênicos presentes no solo exercem o controle biológico natural, mas em áreas com populações elevadas da praga, os fungos apresentam eficiência parcial. Desta forma, o manejo com rotação de culturas que favoreça o desenvolvimento desses fungos contribui para que o controle ocorra naturalmente, ajudando no controle biológico de pragas no algodão.

Tripes (Thrips tabaci e Frankliniella sp.)

São raspadores-sugadores que causam alteração da consistência das folhas, tornando-as coriáceas e quebradiças. Nas brotações e plantas jovens, provocam encarquilhamento e espessamento das folhas do ponteiro.

O controle biológico é realizado através dos inimigos naturais, que são os percevejos predadores, Orius insidiosus e Geocoris sp. Entretanto, OSEKRE et al (2008), indicam que a eficiência de controle de O. insidiosus sobre tripes do gênero Frankliniella depende da espécie envolvida, não sendo efetiva em suprimir a população de F. tritici na cultura do algodão.

Pulgão (Aphis gossypii e Myzus persicae)

A sucção contínua deixa as folhas dos ponteiros enrugadas, encarquilhadas e os brotos deformados. Um material adocicado é excretado pelos pulgões, que atrai fungos que formam a fumagina, a qual dificulta a absorção da radiação solar pelas folhas da planta.

Estudos de controle biológico do pulgão, indicam que o parasitoide Lysiphlebus testaceipes demonstra elevado potencial de controle, com uma taxa de parasitismo de 56% a 83% (RODRIGUES & BUENO 2001; MACEDO et al., 2010).

Mosca branca (Bemisia tabaci e B. argentifolli)

A mosca branca causa pequenas pontuações brancas e amareladas na face inferior e manchas cloróticas com aspecto brilhante na superior, com o acúmulo de substâncias açucaradas excretadas pelos insetos, resultando na redução da qualidade da fibra. A mosca branca ainda é vetora de doenças, como o vírus do mosaico comum.

O controle biológico da mosca branca pode ser realizado pelos parasitóides do gênero Encarsia; por predadores, como Orius insidiosus e Geocoris sp.; além dos entomopatógenos, tais como Verticillium lecanii, Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana.

Bicudo do algodoeiro – Anthonomus grandis

O bicudo faz orifícios de alimentação e orifícios de oviposição. Os botões atacados caem em seguida e as flores apresentam pétalas perfuradas. No interior dos capulhos, as larvas do bicudo destroem as fibras e sementes.

Bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis) adulto. Adaptado de PRAÇA (2007).

 

Na região Nordeste do Brasil, Bracon mellitor e Catolaccus grandis são os principais parasitoides do bicudo-do-algodoeiro. Já a predação do bicudo foi constatada por formigas dos gêneros Solenopsis, Pheidole e Crematogaster (RAMALHO et al., 1993; PIEROZZI Jr. et al.,1984).

LEMOS et al. (1998) relataram que a tesourinha Euborellia annulipes é também um agente controlador de populações do bicudo, alimentando-se de larvas e pupas desse inseto.

No Brasil, os fungos Beauveria bassiana e Metarhizium anispliae destacam-se como agentes de controle biológico de pragas no algodão  de populações de adultos do bicudo, sendo altamente patogênicos a esse inseto em laboratório e em campo (CAMARGO et al., 1985).

GIOMETTI et al. (2020), avaliaram diversos isolados do fungo Beauveria bassiana originados de diversos hospedeiros e regiões produtoras de algodão do Brasil, e obtiveram 85% de mortalidade dos adultos de bicudo com o isolado IBCB 241, obtido em Pindamonhangaba, SP.

Ácaros 

  • Ácaro rajado (Tetranychus urticae)

  • Ácaro vermelho (Tetranychus ludeni)

  • Ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus)

As folhas atacadas pelos ácaros apresentam manchas a partir das nervuras que evoluem para áreas necrosadas e posteriormente queda.

Os mais importantes agentes de controle natural de ácaros são percevejos predadores, como Orius insidiosus, Geocoris sp., Tropiconabis sp. e Zellus sp., além dos ácaros fitoseídeos, que também predam os ácaros fitófagos.

Lagartas

Lagarta-das-maçãs – Heliothis virescens

A lagarta faz galerias em botões florais e maçãs, ferimentos que provocam a queda dos botões e das maçãs e a destruição das fibras e sementes. Além disso, os ferimentos servem de porta de entrada de doenças.

Os principais inimigos naturais da lagarta-da-maçã são os percevejos Orius sp., Tropiconabis sp. e Geocoris sp. Além dos parasitoides de ovos e lagartas, como os do gênero Trichogramma.

A liberação do Trichogramma deve ser feita com 15 cartões de 2 pol2 contendo ovos parasitados (pupas) distribuídos em 15 pontos equidistantes/ha ou 100 mil adultos de Trichogramma/ha (ALMEIDA, 1996).

Adaptado de SILVA et al. (2013). Foto: Rômulo Sátiro de Medeiros

Lagartas do gênero Spodoptera (S. frugiperda, S. cosmioides e S. eridania)

As lagartas são desfolhadoras e atacam também botões florais, flores e maçãs desenvolvidas.

O controle biológico pode ser realizado por vespas parasitóides, como a Bracon vulgaris, Catolaccus grandis, Cotesia sp., Campoletis fravicincta, e Euplectrus sp. Mas o principal parasitóide é o Trichogramma.

A recomendação de liberação inundativa do Trichogramma semanalmente, no momento do aparecimento do inseto no campo na quantidade de 100.000 ovos distribuídos em 15 pontos por hectare.

Nesse sentido, a Associação Mineira de Produtores de Algodão (Amipa), já produz em larga escala o agente de controle biológico Trichogramma pretiosum, que é liberado via drones em todas as culturas da propriedade dos associados, com excelentes resultados no controle de lepidópteros (lagartas de borboletas e mariposas).

Os percevejos, tesourinhas e besouros do gênero Calosoma, também são inimigos naturais das lagartas, atuando no seu controle.

Os fungos entomopatógenos como Beauveria bassiana e Metarrizhium anisoplae e a bactérias Bacillus thuringiensis também podem ser utilizados no controle biológico das lagartas.

Lagartas do curuquerê-do-algodoeiro (Alabama argilácea)

Essas lagartas provocam desfolhamento, maturação precoce das maçãs, paralisação da frutificação e redução da produção. Na abertura das maçãs, causam sua maturação forçada, diminuindo a resistência das fibras. Já no final de ciclo, contaminam as fibras com fezes.

O controle biológico do curuquerê pode ser realizado com pulverizações de Bacillus thuringiensis na dosagem comercial de 8 g i.a./ha a 16 g i.a./ha (BLEICHER et al., 1990; MOREIRA; ALL, 1995).

Outra alternativa eficiente, segundo OLIVEIRA et al. (2008), é a utilização do percevejo Podisus nigrispinus. Percevejos predadores do gênero Podisus têm recebido destaque como agentes de controle biológico do curuquerê-do-algodoeiro pela sua presença em áreas infestadas pela praga e pelas altas taxas de predação a campo.

Ninfas de Podisus nigrispinus predando lagarta-docuruquerê. Adaptado de SILVA et al. (2013).

Percevejos 

  • Percevejo castanho (Scaptocoris castanea e Atarsocoris brachiariae)

As formas jovens são de coloração branca e as adultas são de coloração marrom-claro. Ambas as formas têm hábito subterrâneo e sugam a seiva das raízes do algodoeiro.

O controle biológico através dos nematóides entomopatogênicos dos gêneros Steinernema e Heterorhabidits pode ser uma alternativa eficiente e duradoura, especialmente em condições de alta umidade do solo.

  • Percevejo rajado – Horcias nobilellus,

  • Percevejo manchador, Dysdercus sp.,

  • Percevejo verde – Nezara viridula,

  • Percevejo pequeno – Piezodorus guildinii,

  • Percevejo marrom – Euschistus heros.

Os principais danos provocados pelos percevejos são deformações, atrofiamento e abscisão dos botões florais.

As maçãs têm o desenvolvimento comprometido, apresentando deformações denominadas “maçãs bico-de-papagaio”. Já os capulhos, apresentam-se com manchas nas fibras devido ao aparecimento de fungos e bactérias.

Os parasitóides de ovos, Trissolcus basalis e Telenomus podisi são os principais inimigos naturais, pois atacam ovos de várias espécies de percevejos da cultura do algodoeiro.

controle biológico de pragas no algodão

CONSIDERAÇÕES

Atualmente a sustentabilidade da cultura do algodão depende muito do manejo adequado de pragas, com destaque para o uso dos métodos de Manejo Integrado de Pragas (MIP), especialmente do controle biológico de pragas no algodão.

Como visto anteriormente, há uma ampla diversidade de agentes de controle biológico na cultura do algodoeiro, mas que na prática ainda não tem conseguido minimizar a gravidade dos problemas com insetos-praga na maior parte das áreas de produção.

Neste contexto, há a necessidade de intensificar as pesquisas voltadas ao desenvolvimento desse método de controle.

Principalmente, aquelas que tragam viabilidade técnica e econômica ao seu uso, como por exemplo o incentivo a criação de biofábricas de inimigos naturais nas principais regiões produtoras do Brasil.

Links relacionados

– PRAÇA, L.B. Anthonomus grandis Boheman, 1843 (Coleoptera: Curculionidae). Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2007. 23 p. (Documentos/Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 216).

– GIOMETTI, C.S., WENZEL, I.M.I, ALMEIDA, J.E.M., LEITE, L.G., & ZAPPELINI, L.O.. (2010). Seleção de isolados de Beauveria bassiana para o controle de adultos do bicudo-do-algodoeiro Anthonomus grandis (Coleoptera: Curculionidae). Arquivos do Instituto Biológico, 77(1), 167-169. Epub October 19, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1808-1657v77p1672010

– EVANGELISTA JÚNIOR, W.S.; ZANUNCIO JÚNIOR, J.S.; ZANUNCIO, J.C. Controle biológico de artrópodes pragas do algodoeiro com predadores e parasitóides. Revista Brasileira de Oleaginosas E Fibrosas, Campina Grande, v.10, n.3, p.1147-1165, 2006. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/228540030_CONTROLE_BIOLOGICO_DE_ARTROPODES_PRAGAS_DO_ALGODOEIRO_COM_PREDADORES_E_PARASITOIDES#:~:text=RESUMO%3A%20Insetos%20entom%C3%B3fagos%2C%20predadores%20e,praga%20chama%2Dse%20controle%20biol%C3%B3gico.

– OSEKRE, E.A.; WRIGHT, D.L.; MAROIS, J.J.; MAILHOT, D.J. Predator-Prey Interactions Between Orius insidiosus (Heteroptera: Anthocoridae) and Frankliniella tritici (Thysanoptera: Thripidae) in Cotton Blooms. The Journal of Cotton Science, v.12, p.195–201, 2008. Disponível em: http://www.cotton.org/journal/2008-12/3/upload/JCS12-195.pdf

– ALMEIDA, R. P. de. Biotecnologia de produção massal de Trichogramma spp. através do hospedeiro alternativo Sitotroga cerealella. Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1996. 36 p. (EMBRAPA-CNPA. Circular técnica, 19). Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/269375

– SILVA, C.A.D. da; RAMALHO, F. de S.; MIRANDA, J.E.; ALMEIDA, R.P. de; RODRIGUES, S.M.M.; ALBUQUERQUE, F A. de. Sugestões Técnicas para o Manejo Integrado de Pragas do Algodoeiro no Brasil. Circular Técnica, 135. Embrapa Algodão, 2013. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/97869/1/CIRTEC135.pdf

– MACEDO, L.P.M.; MOURA FILHO, E.R.; CARVALHO, A.S.; BEZERRA, C.ES; SILVEIRA, L.C.P. Occurrence of Lysiphlebus testaceipes parasitizing Aphis gossypii in watermelon in the State of Rio Grande do Norte, Brazil. Ciência Rural, v.40(9), p.2030-2032, 2010. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782010005000148

– RODRIGUES, S.M.M.; BUENO, V.H.P. Parasitism rates of Lysiphlebus testaceipes (Cresson) (Hym.: Aphidiidae) on Schizaphis graminum (Rond.) and Aphis gossypii Glover (Hem.: Aphididae). Neotropical Entomology, v.30, p.625-629, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-566X2001000400017&lng=en&nrm=iso&tlng=en

– LEMOS, W.P.; MEDEIROS, R.S.; RAMALHO, F.S. Impacto da temperatura nas variáveis reprodutivas de Euborellia annulipes (Lucas) (Dermaptera: Anisolabididae), predador do bicudo-doalgodoeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 17., 1998, Rio de Janeiro, RJ. Resumos. Rio de Janeiro: SEB, 1998. p.650.

– CAMARGO, L.M.P.C.A.; BATISTA FILHO, A.; CRUZ, B.P.B. Susceptibilidade do “bicudo” do algodoeiro (Anthonomus grandis Boheman) à ação dos fungos Beauveria bassiana (Balsamo) Vuillemin e Metarhizium anisopliae (Metsch.) Sorokin. O Biológico, São Paulo, v.51, n.8, p.205-208, 1985.

– RAMALHO, F.S.; GONZAGA, J.V.; SILVA, J.R.B. Método para determinação das causas de mortalidade natural do bicudo-doalgodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.28, n.8, p.877-887, 1993b.

– PIEROZZI JR., I.; HABIB, M.E.M; ANDRADE, C.F.S. Ocorrência natural de parasitismo e predação em população do bicudo, Anthonomus grandis BOHEMAN, 1843. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 9., 1984, Londrina, PR. Resumos. Londrina: SEB, 1984. p.163.

 

 

 

 

 

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Tags: agricultura, agricultura sustentável, algodão, controle biológico, culturas, manejo de pragas, manejo integrado de pragas

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