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Produtividade e nutrição de açaizeiros fertirrigados em função da adubação com boro

Produtividade e nutrição de açaizeiros fertirrigados em função da adubação com boro

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O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) é uma palmeira nativa da Amazônia brasileira que se destaca pela grande ocorrência em áreas de várzeas e por produzir importante alimento para as populações locais, consumido in natura e na forma de sucos, além de ser fonte de matéria prima para a agroindústria de palmito (ARAUJO et al., 2016). Em 2016, a produção nacional de frutas de açaí, totalizou mais de um milhão e duzentas mil toneladas, sendo o principal produtor o estado do Pará com 93,8% do total nacional, com área superior a 219 mil ha entre açaí de terra firme e açaí manejado de várzea (IBGE, 2017). Na região do Nordeste paraense, sobretudo na microrregião de Tomé Açu, o cultivo de açaí em terra firme vem ganhando cada vez mais espaço. A importância do boro (B) na nutrição do açaizeiro, já tinha sido destacada, a partir da ocorrência dos sintomas de deficiências em cultivo em Latossolo Amarelo, em casa de vegetação (VIEGAS et al., 2008; VIEGAS et al., 2009).

A deficiência de B, entre os micronutrientes é a mais frequente em solos no Brasil. Por ser um elemento móvel no solo está sujeito à lixiviação, particularmente em solos com predomínio de partículas arenosas e em regiões de muita chuva (RAIJ, 2011). Tais características edafoclimáticas são comuns na microrregião de Tomé Açu – PA. Esse nutriente é um dos que mais limita a produtividade das palmeiras (BROSCHAT, 2007).

Em virtude da grande exigência de B pelas plantas da família Arecaceae e a dinâmica do elemento no solo, a aplicação de B deve ser bem planejada nas áreas de produção de açaizeiro, principalmente nas áreas cultivadas, cujos solos são mais limitantes em B.

O objetivo do trabalho de pesquisa apresentado aqui, foi avaliar a produtividade e a nutrição mineral do açaizeiro submetido a doses de B, aplicado via adubação com bórax, em cultivo fertirrigado.

Metodologia

O ensaio foi montado em um talhão de uma fazenda de exploração comercial, considerada como modelo de uma cooperativa agrícola local, no município de Tomé-Açu, Nordeste paraense (02°28’43,6″ S e 48°18’16,8″ W). Na área de estudo, as plantas apresentavam oito anos após o plantio, em plena fase produtiva, cujas mudas foram provenientes de sementes de açaizeiros nativos. O clima predominante na região é o tipo Ami, segundo a classificação de Koppen, com temperatura média de 26,4 °C, umidade relativa do ar variando entre 71 e 91% e pluviosidade média de 2617,9 mm, cuja concentração das chuvas ocorre nos primeiros meses do ano. O solo da área foi classificado segundo Embrapa (2013), como Latossolo Amarelo Distrófico, textura média.

O plantio do açaizeiro foi com espaçamento de 5 x 5 m e a adubação via fertirrigação, com fertilizantes hidrossolúveis, fornecidos em quantidades por touceira/ano, a partir do 5º ano. Na época do plantio, foi usado 200 g de fosfato reativo (10% de P2O5 solúvel em ácido cítrico e 30% P2O5 total) por cova, e nos primeiros cinco anos de cultivo foi aplicado via adubação manual, aproximadamente 232 g, sendo 40, 112 e 80 g/touceira/ano de N, P2O5 e K2O, respectivamente.

Para suprir a demanda hídrica do açaizeiro no período de estiagem foi instalada irrigação no plantio a partir do 5o ano de cultivo. O sistema de distribuição constou de micro-asperssores com intensidade de aplicação de 2,8 mm h¹, ou seja, 70 L h-1 de água, e o tempo de irrigação foi de 1 h e 30 min, o que fornecia 105 L de água por touceira de açaí. Este fornecimento de água atende 84% da evapotranspiração máxima.

A fertirrigação foi realizada semanalmente, cuja programação de aplicação compreendeu frações do total dos nutrientes, no total de 52 aplicações anuais. Esse período compreende uma aplicação a cada 7 dias, de janeiro até dezembro. As injeções da solução de fertilizantes foram realizadas através de bomba multi-estágio modelo Booster de 1 cv para evitar perdas de cargas no sistema e desuniformidade na lâmina de irrigação durante a aplicação.

As doses de nutrientes foram definidas conforme o boletim de recomendação de adubação da Embrapa Amazônia Oriental (2007). Embora as recomendações sejam para adubação sólida, as quantidades de nutrientes foram atendidas através de fertilizantes com boa solubilidade, próprios para fertirrigação.

A adubação com boro foi eliminada da fertirrigação na área experimental um mês antes de iniciar o tratamento. A adubação com o B foi realizada utilizando o fertilizante Boráx (10% de B), fornecido de forma fracionada, manualmente em três aplicações, exceto no T1 (Tratamento 1), sendo a primeira no dia 21 abril, a segunda no dia 26 de maio e a terceira no dia 25 de junho, do ano de 2016, o mesmo período adotado pelos produtores e recomendado por técnicos na região, ou seja, no período chuvoso.

O delineamento do experimento foi em blocos ao acaso com quatro tratamentos (T1, o controle, sem adição de B e adição de 20, 40 e 60 g/touceira de B, T2, T3 e T4, respectivamente), cinco repetições, sendo que 16 touceiras constituíram cada parcela. As plantas da bordadura foram excluídas para amostragem de solo, folhas e produção, considerando apenas as quatro touceiras do centro da parcela, como plantas úteis.

As amostras foliares foram compostas, formadas pelas quatro touceiras úteis de cada unidade experimental. Foram tomadas como referência, as folhas médias (com a contagem de cima para baixo), correspondendo as folhas de número seis como porção mediana de um total de 12 folhas, sempre na estipe dominante da touceira, totalizando 20 amostras compostas, uma para cada uma das 20 unidades experimentais. Da mesma forma as amostras de solo constituíram de amostras compostas das quatro touceiras de cada unidade experimental, com profundidade de 0 a 20 cm, também totalizando 20 amostras.

Uma amostragem de solo e folha foi realizada em janeiro de 2016, antes do tratamento com B, e a segunda amostragem em novembro de 2017, ou seja, após 17 meses da última aplicação de B. Este intervalo é o tempo necessário para formação dos frutos (JARDIM e ANDERSON, 1987; OLIVEIRA et al., 1998; OLIVEIRA et al., 2002) que foram colhidos em novembro e dezembro de 2017 e janeiro de 2018.

Os cachos de frutos frescos das quatro touceiras das áreas consideradas como útil foram colhidos debulhados e pesados apenas os frutos durante os meses de novembro e dezembro de 2017 e janeiro de 2018. Cada touceira ocupava uma área de 25 m², desta forma as quatro touceiras ocupavam juntas 100 m² e as produções de frutos frescos de cada tratamento foram estimadas para 10 000 m².

Esse período de colheita foi o mesmo observado por Homma et al. (2006) como aquele que concentra 85% da produção anual (novembro = 30%, dezembro =30% e janeiro = 25%), em uma área de açaizeiro irrigado e produtivo no município de Santo Antônio do Tauá, também Nordeste paraense. Portanto foram acrescidos mais 15% na produção afim de estimar a produção de frutos em kg ha-¹ ano-1.

Resultados

A produtividade máxima (PM) do açaizeiro, foi aquela com maior valor obtido entre as doses aplicadas. Para determinar a produtividade mais econômica (PME) com o nutriente B considerou-se como aquela correspondente a 90% da PM (Cruz et al., 2008; Melo et al., 2015; Melo et al., 2018) e para a análise econômica entre a PM e PME utilizou-se as informações de Raij (1991) e Zebarth et al. (1991). Neste estudo, considerou-se o preço do kg de frutos frescos de açaí pago pela indústria local (CAMTA – Cooperativa agrícola mista de Tomé Açu) no valor de R$ 1,50 na safra 2017/2018. O custo do kg do fertilizante comercial Bórax (B 10%) foi de R$ 3,14 no ano da aplicação (2016). Transformando o valor (R$) por kg do nutriente B o valor é R$ 31,4. Acrescentou-se os custos de aplicação, cuja diária/homem para aplicação de fertilizante foi R$ 60,00 o ha¹, considerando que cada hectare tem 400 touceiras e foram três aplicações de Bórax, o custo da aplicação por touceira foi de R$ 0,45, perfazendo um total (boro + aplicação) de R$ 31,85. Com o objetivo de atenuar os problemas de variação cambial e de oscilação nos preços do mercado, trabalhou-se, porém, com uma relação de troca ao invés da moeda corrente, buscando-se assim dados mais estáveis.

A análise econômica foi calculada através da diferença percentual entre o lucro obtido na produtividade máxima (PM) e o lucro obtido na produtividade máxima econômica (PME), ambos em kg de frutos fresco de açaí por ha-1. Tanto as produções da PM quanto a PME foram subtraídas o valor em kg de açaí da produção com dose zero e na sequencia cada uma dessas produções foram subtraídos o equivalente em frutos de açaí para o investimento na dose do adubo (Bórax) para se obter a PM e a PME e a diferença em relação a produção na dose zero.

As análises de solo e folha foram realizadas conforme Embrapa (2011) e foi observado uma variação do valor de pH de 5,36 a 5,78, classificado como acidez forte a média, matéria orgânica com exceção da média do T2, que está médio, os demais restantes enquadram-se como baixo e com o teor de argila entre 240 a 274 g kg-1, solo de textura média (EMBRAPA, 2013).

Os dados foram submetidos às análises de variância e de regressão, utilizando-se o software Statistica 9.0 (STATSOFT, 2009). Foi selecionado para expressar o comportamento das doses de B, o modelo que melhor expressa o comportamento da curva. Nas análises de variância e de regressão foi considerado o nível de probabilidade de 5%, pelo teste F. A produtividade de frutos frescos (kg ha-1) aumentou em 47, 32, e 5% com as doses 20, 40 e 60 g/touceira de B aplicada no solo, respectivamente.  As análises de regressão mostraram efeito quadrático para as doses e teores foliares de B na produtividade, evidenciando efeito de fitotoxidade nas quantidades mais elevadas (Figura 1). A PM foi de 5521 kg ha ano de frutos frescos, com uma dose de 20 g/touceira de B. Já a PME correspondente a 90% da PM foi de 4968 kg ha ano de frutos, com uma dose estimada em torno de 13 g/touceira de B. Na literatura não foram encontrados trabalhos com adubação de B em açaizeiros produtivos, contudo é relatado sobre os riscos de toxidade em campo, especialmente em solos arenosos (PRADO, 2008). Em relação aos teores foliares, os valores de B de 13 e 15 mg kg-1 se relacionaram ao PME e PM, respectivamente, mostrando pouca variação dos teores nutricionais para as produtividades avaliadas.

 

 

A

 

B

Figura 1.  Relação entre a produção de frutos de açaí e os teores de B na planta (A) e produção de frutos de açaí em resposta a aplicação de B (B)

Considerando os custos de adubação e os frutos como moeda de troca foi possível de observar que o lucro do produtor na PME correspondeu a 1093 kg de frutos frescos ha-1 quando comparado a produção na dose zero (Tabela 1). Foi descontado o investimento com o B aplicado de 13 g touceira (dose para obter a PME) que foi equivalente a 110,4 kg ha-1  de frutos de açaí.

Tabela 1. Analise econômica entre as adubações com B da produção máxima e produção máxima econômica do açaizeiro.

Produção Dose* Produção na dose zero Aumento de produção Custo do adubo Lucro %*
  kg ha-¹ kg ha-¹ de frutos fresco %
PME 5,2 3765 1203 110,4² 1093 29
PM 8,0

3765

1756 1702 1586 42

¹Porcentagem da produtividade de frutos fresco de açaí obtida, em relação a produção na dose zero.               ²considerando 400 touceiras por ha

 

Observa-se que o lucro na produção máxima (PM) foi 42% maior em relação a produtividade na dose zero, ao passo que a PME foi de 29% mostrando que apesar da pouca variação nos teores de B na planta entre PME e PM, o lucro maior na PM em relação a PME justifica um investimento maior na adubação boratada, porém sempre monitorando os teores na planta, haja visto que teores logo acima daqueles que proporcionaram maior produção causaram declínio na produtividade. Importante observar que a diferença entre a dose para PME e PM são apenas de 7 gramas por touceiras e que refletiu nos teores foliares de 13 a 15 mg kg-1 para PME e PM respectivamente, ao passo que a partir de 30 gramas touceira, ou seja 15 gramas a mais em relação a dose para PM foi observado queda na produção. Estudos relativos as doses econômicas são importantes (OLIVEIRA et al., 2009; NATALE et al., 2010; NATALE et al., 2011) uma vez que esta é a variável mais necessária em termos de propriedade rural.

A análise de variância da regressão considerando o B como variável independente e as demais variáveis (teores de macro e micronutrientes no solo e planta) como dependentes apresentou significância (p ≤ 0,05) linear apenas para teores de B na planta.

Os teores de B nas folhas variaram de 12,0 a 17,6 mg/kg¹ em respostas as doses empregadas. Esses teores ficaram próximos dos observados por Viegas et al. (2008) que obtiveram valores de 18 mg kg-1 em folhas de plantas jovens de açaizeiro, cultivadas em casa de vegetação. Por outro lado, tais resultados são diferentes dos encontrados por Ribeiro (2017) em açaizeiro produtivo cultivados em sistema fertirrigado, que foram de 47 a 57 mg kg¹ de B, quando adubados com 13 g de B por touceira ano, via ácido bórico. Considerando outras palmeiras em fase produtiva no estado do Pará, no cultivo da palma de óleo tem sido comum encontrar teores em torno de 30 mg kg-1 na folha amostral (MATOS et al., 2016) e em coco de 15 a 20 mg kg-1 (SALDANHA et al., 2017).

Os teores de B na planta apresentaram comportamento linear em função das doses de adubação com B (Figura 2), mostrando que não foi possível encontrar o teor máximo desse nutriente na folha. As doses de 40 e 60 g/touceira proporcionaram teores foliares significativamente superior ao encontrado na dose sem B, no entanto esses valores não são interessantes pois acima de 30 g/touceira já ocorre queda na produção (Figura 1B).

Figura 2. Teor de B na folha em função da aplicação de boro (B). *Significativo (p < 0,05).

 

A concentração de B no solo e dos demais micronutrientes não foram influenciadas pelas doses de B aplicadas. As concentrações de B no solo foram inferiores a 0,22 mg dm-3, valor considerado abaixo do adequado de acordo com RAIJ et al. (1997), que está entorno de 0,75 mg dm-3. A textura média do solo e a precipitação pluviométrica superior a 600 mm, no período em que foi realizado a aplicação de B, somado a todo volume de chuva que ocorreu até a data da amostragem, podem justificar baixas concentrações observadas no solo e a não variação em função das doses aplicadas.

A lixiviação de B no solo também foi observada por Rosolem e Biscaro (2007) e Oliveira Neto et al. (2009), sendo justificada pela elevada pluviosidade ocorrida, cujo solo apresentava textura média, baixa teor de MO e pH baixo. A toxidez de B está associada à aplicação de doses maiores do que 3 kg ha-1 de B, de uma só vez ou muito localizada ao redor das plantas, normalmente são observados os sintomas, porém rapidamente desaparecem, devido a lixiviação (QUAGGIO e PIZA JR, 2001). Neste experimento utilizamos o equivalente a 8 kg ha-1 de B no tratamento de maior dose aplicado de uma só vez, não foi identificado sintomas de toxidez nas folhas, sendo este evidenciado no momento da colheita ao constatar queda na produção com doses acima de 30 g/touceira.

A produção máxima de frutos frescos de açaí foi de 5521 kg ha-1, com 20 g/touceira de B e a máxima produção econômica foi de 4968 kg ha-1 de frutos de açaí, com 13,2 g de B/touceira.

O lucro na produção máxima foi 42% superior comparado ao lucro na produção máxima econômica, mostrando que um investimento maior na adubação boratada pode ser justificado para alcançar melhores produtividade, contudo deve se atentar aos teores na planta, pois a faixa de maior produtividade e do declínio da produção se mostraram estreita tanto para teores na planta, quanto para as doses aplicadas.

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Tags: Açai, doses de boro, Euterpe oleracea Mart., Fertirrigação, nordeste paraense

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