Fungicidas multissítios no manejo da ferrugem da soja

Seja bem-vindo(a) a Newsletter da Agro Insight, um espaço de artigos autorais e curadoria sobre tecnologias, sustentabilidade e gestão para o agro.

Se você ainda não é assinante, junte-se a mais de 8 mil profissionais do Agro, consultores e produtores rurais que recebem gratuitamente conteúdos de qualidade selecionados toda semana, adicionando o seu e-mail abaixo:

(Curadoria Agro Insight)

Manejo da ferrugem da soja e o uso de fungicidas

Hoje, a curadoria Agro Insight compartilha algumas informações fundamentais sobre o manejo da ferrugem da soja e o uso de fungicidas multissítios.

A ferrugem-asiática da soja

A doença foi identificada pela primeira vez no Brasil em 2001. Segundo levantamentos do Consórcio Antiferrugem, a doença pode levar a perdas de até 80%, se não for controlada, enquanto, os custos com o controle da ferrugem e de outras doenças para os agricultores no Brasil, excedem US$ 2 bilhões por safra.

Controle químico

Usar fungicidas multissítios, atuantes em mais de um processo metabólico do fungo, e associar os defensivos a um pacote de estratégias reduz a severidade da ferrugem da soja. Essa foi uma das conclusões da rede de pesquisa, formada por 32 cientistas brasileiros, que avaliou a eficiência de fungicidas (registrados e em fase de registro) no controle da ferrugem-asiática da soja.

Os resultados obtidos e compartilhados anualmente pela rede vêm sendo utilizados para auxiliar técnicos e produtores na determinação de programas de controle mais eficientes para a ferrugem-asiática, a mais severa doença da soja.

A rede

Conheça as 23 instituições públicas, universidades, fundações de apoio à pesquisa e consultorias que compõem a rede de pesquisa: Desafios Agro, Famiva Pesquisa e Soluções Agrícolas, Agro Carregal Pesquisa e Proteção de Plantas Eireli, Embrapa Soja, 3M Experimentação Agrícola, Coamo, Desafios Agro, Agrodinâmica, Fundação Chapadão, Proteplan, G12 Agro Pesquisa e Consultoria Agronômica, Ceres Consultoria Agronômica, Universidade de Rio Verde (UniRV / Campos Pesquisa Agrícola), Assist Consultoria e Experimentação Agronômica, Instituto Phytus/ Staphyt, Fundação Rio Verde, Tagro – Tecnologia Agropecuária, Estação Experimental Ide Consultoria, Fundação MS, Fundação MT, Centro de Pesquisa Agrícola Copacol e Agrotecno Research.

 Os tipos de fungicida para a soja

A maioria dos fungicidas utilizados no controle da ferrugem pertence a três grupos distintos:

  • os Inibidores de desmetilação (IDM, “triazóis”)
  • os Inibidores da Quinona externa (IQe, “estrobilurinas”);
  • os Inibidores da Succinato Desidrogenase (ISDH, “carboxamidas”)

Esses grupos de fungicidas são chamados também de sítio-específico, porque têm atuação em pontos específicos do fungo. Atualmente, o fungo causador da doença, o P. pachyrhizi, apresenta mutações que lhe conferem menor sensibilidade a esses três grupos, ou seja, o microrganismo se tornou mais resistente a essas moléculas.

Uma das alternativas para atenuar o efeito da resistência é associar a fungicidas multissítios, que interferem em mais de um processo metabólico do fungo, registrados na cultura da soja a partir de 2013/2014. Eles têm sido recomendados para aumentar a eficiência dos fungicidas sítio-específicos (que atuam em somente um processo do fungo) e atrasar o aumento da resistência do patógeno. 

Estratégias de manejo para controle da ferrugem-asiática

O fungo causador da doença é capaz de se adaptar às estratégias de controle, seja pela perda da sensibilidade aos fungicidas ou pela “quebra” da resistência genética presente em algumas cultivares de soja. Desta forma, é importante a adoção de estratégias para evitar a ocorrência de resistência genética.

Para atrasar o processo de seleção de resistência e aumentar a eficiência dos fungicidas, devem ser adotadas todas as estratégias de manejo, incluindo a adoção do vazio sanitário, a semeadura no início da época recomendada com cultivares precoces ou com gene de resistência, a utilização dos fungicidas preventivamente ou nos primeiros sintomas, sempre com a rotação de fungicidas e a inclusão de multissítios nos que não tiverem na sua formulação.

Vazio sanitário e calendarização da semeadura da soja

Em maio de 2021 o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou a Portaria nº 306 instituindo o Programa Nacional de Controle da Ferrugem-asiática da Soja – Phakopsora pachyrhizi (PNCFS) estabelecendo o vazio sanitário, como medida para o controle do fungo causador da ferrugem-asiática da soja e o calendário de semeadura, como medida fitossanitária para racionalização do número de aplicações de fungicidas. A Portaria nº 306 foi alterada pela Portaria nº 388, de 31 de agosto de 2021.

Vazio sanitário

O vazio sanitário, de acordo com a Portaria nº 306, é o período definido e contínuo, de pelo menos 90 dias, em que não se pode semear nem manter plantas vivas de soja no campo. Nesse período plantas voluntárias devem ser eliminadas. O objetivo é reduzir a população do fungo no ambiente na entressafra e assim atrasar a ocorrência da doença na safra.

Anualmente os períodos de vazio sanitário são estabelecidos pela Secretaria de Defesa Agropecuária com base nas sugestões dos Órgãos de Defesa Sanitária Vegetal. As propostas devem ser encaminhadas à coordenação nacional do PNCFS até o dia 31 de dezembro. Para 2023 os períodos foram estabelecidos pela Portaria  nº 781, de 06 de abril de 2023 (ver figura).

Acesse aqui o período de vazio sanitário

Calendário de semeadura

O objetivo do calendário de semeadura é reduzir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra e com isso reduzir a pressão de seleção de resistência do fungo aos fungicidas. Populações menos sensíveis a fungicidas inibidores da desmetilação (IDM), inibidores de quinona externa (IQe) e inibidores da succinato desidrogenase (ISDH) já foram observadas no campo.

Semeaduras tardias de soja podem receber inóculo [esporos (“sementes”) do fungo] já nos estádios vegetativos, exigindo a antecipação da aplicação de fungicida e demandando maior número de aplicações. Quanto maior o número de aplicações, maior a exposição dos fungicidas e maior a chance de acelerar o processo de seleção de populações resistentes a esses fungicidas.

Para a safra 2023-2024 o calendário, para 20 estados e para o Distrito Federal, foi estabelecido por meio da Portaria SDA nº 840 de 07 de julho de 2023. As propostas de calendário em cada estado devem ser encaminhadas à coordenação nacional do PNCFS até o dia 31 de dezembro de cada ano.

Acesse aqui o calendário de semeadura da soja 2023/2024

Monitoramento da lavoura

Os pesquisadores da rede recomendam ao sojicultor monitorar a lavoura, desde o seu início de desenvolvimento, para definir o melhor momento do controle químico, evitando atrasos nas aplicações, uma vez que os fungicidas presentes no mercado apresentam baixa eficiência curativa.

Algumas regiões que utilizam cultivares precoces e fazem uma segunda safra com milho ou algodão, por exemplo, têm conseguido “escapar” da doença ou apresentar incidência tardia, o que facilita o controle.

A pesquisa

A rede de ensaios realizou quatro protocolos para ferrugem nas principais regiões produtoras da leguminosa. O objetivo foi avaliar os novos fungicidas que estão em fase de registro, os fungicidas registrados sem e com fungicidas multissítios e ainda monitorar as mudanças de sensibilidade do fungo P. pachyrhizi aos fungicidas.

No caso dos fungicidas registrados, todos os tratamentos apresentaram severidade inferior à parcela testemunha, em que não foi aplicado fungicida. A porcentagem de controle dos fungicidas registrados variou entre 28% e 69%. Quando os fungicidas registrados foram misturados a fungicidas multissítios, a eficiência de controle aumentou de 7% a 14%.

Com relação aos fungicidas em fase de registro, todos os tratamentos também apresentaram severidade inferior comparados às lavouras sem o defensivo. As porcentagens de controle variaram entre 60% a 75%.

Nos ensaios para monitoramento da sensibilidade do fungo a fungicidas com ingrediente ativo único, entre os triazóis, as menores severidades foram observadas para protioconazol e tebuconazol.

Ainda de acordo com a pesquisadora, as baixas produtividades médias observadas nos tratamentos desse protocolo ocorreram pela baixa eficiência de controle dos ingredientes ativos isolados. “Isso reforça que os fungicidas usados para o controle da ferrugem-asiática devem ser utilizados sempre em misturas comerciais ou misturas em tanque, para maior eficiência de controle e para atrasar o processo de resistência”, destaca. As tabelas detalhadas estão disponíveis na publicação.

BIBLIOGRAFIA E LINS RELACIONADOS

EMBRAPA. Notícias – Fungicidas associados a estratégias de manejo são fundamentais para o controle da ferrugem da soja. Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. Julho de 2023.

EMBRAPA. Notícias – Vazio sanitário e calendarização da semeadura da soja. Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação. Julho de 2023.

 

 

Se inscreva na nossa Newsletter gratuita

Espaço para parceiros do Agro aqui

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

novembro 2024
D S T Q Q S S
 12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930
LinkedIn
YouTube
Instagram