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Princípios da conservação e do armazenamento de sementes

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(Curadoria Agro Insight)

A curadoria de hoje trás uma parte da publicação “Armazenamento e conservação de sementes convencionais e transgênicas”, dos pesquisadores, Antonieta Nassif Salomão, Marcos Aparecido Gimenes e Ana Cristina de Miranda Brasileiro.

Senescência

A senescência é um evento celular natural aos organismos biológicos. Em sementes, a senescência ou a deterioração resultam da interação entre complexos fatores, como os inerentes às sementes (qualidade fisiológica, genótipo, morfologia, constituição química e teor de água) e os exógenos como as condições do ambiente de armazenamento (temperatura, umidade relativa e embalagem). Todos esses fatores devem ser considerados tanto para o armazenamento de sementes por períodos que variam de poucos dias até alguns anos, quanto para a conservação a longo prazo, sendo superior a 5 anos (FAO, 2013; Hong; Ellis, 2002).

Gradiente de armazenabilidade

O gradiente de armazenabilidade depende dos ecótipo, genótipo, grau de maturação,  presença ou ausência de dormência, comportamento fisiológico para fins de conservação e nutrientes de reserva das sementes, fatores esses que podem variar entre sementes de uma mesma espécie e de espécies distintas. Sementes que atingiram a maturação fisiológica e/ou apresentam dormência física possuem maior armazenabilidade que aquelas imaturas e/ou que têm dormência fisiológica.

Características da semente

Conforme a predominância de nutrientes de reservas, as sementes amiláceas têm maior armazenabilidade que as aleuro-amiláceas, seguidas pelas aleuro-oleaginosas, sendo as oleaginosas com menor armazenabilidade. Dependendo do método e das condições de conservação utilizados, sementes ortodoxas têm maior armazenabilidade que aquelas de comportamento intermediário ou recalcitrante (Freitas, 2018; Vertucci; Roos 1990). Sementes ortodoxas são aquelas que toleram a dessecação e podem ser conservadas em temperaturas subzero (-18 ºC ou -20 ºC).

Estádio de desenvolvimento

Ao atingir a maturidade fisiológica e iniciar sua dispersão ou sua colheita, a semente apresenta máximas longevidade, viabilidade, germinabilidade e máximo vigor. Após a dispersão ou a colheita, esses atributos tendem a declinar, em maior ou menor velocidade, em resposta às condições a que as sementes são expostas, uma vez que, o metabolismo basal dessas não é detido nem em temperatura ambiente, nem em baixas temperaturas de armazenamento, ou mesmo, em temperaturas subzero de conservação (Hay; Probert, 2013; van Treuren et al., 2013).

Condições de armazenamento e conservação

A longevidade e a viabilidade são características de alta plasticidade em sementes. Em condições adequadas de armazenamento ou conservação (temperatura, umidade relativa, teor de água das sementes e tempo), as sementes podem manter tanto a longevidade quanto a viabilidade por maior período. Isso porque, a longevidade e a viabilidade durante o armazenamento ou a conservação têm correlação direta, sobretudo, com a redução do teor de água das sementes e a temperatura de exposição. Em condições inapropriadas de altas temperaturas, altas umidades relativas e sementes muito hidratadas há perda gradativa de viabilidade e germinabilidade, alterações na coloração e no teor de água das sementes, danos estruturais e funcionais dessas, pois os processos de degeneração são acelerados e resultam em morte das mesmas (Lee et al., 2012; Azevedo et al., 2003).

A deterioração é um processo contínuo que se inicia quando a semente atinge a maturidade fisiológica e alguns de seus efeitos são imperceptíveis visualmente, passando a ser críticos, até que sejam letais para a semente. Entretanto, há sinais de deterioração que podem ser quantificados, como a perda gradual ou total da germinabilidade, a desuniformidade na emergência de plântulas, o aumento do número de plântulas anormais e a redução do vigor das plântulas.

Umidade e temperatura

O postulado clássico sobre as condições de armazenamento e conservação de sementes determina que a cada redução de 1% do teor de água das sementes ou de 5 ºC na temperatura de armazenamento, ou conservação, duplica-se o período de vida das sementes (Harrington, 1972).

A dessecação de sementes, que consiste na remoção em quantidade adequada de água livre do sistema, é um dos fatores que garantirá a eficiência do armazenamento ou da conservação. Entretanto, danos decorrentes de dessecação malconduzida resultam em perda parcial ou total da viabilidade, antes mesmo do armazenamento ou da conservação. Os danos causados pela dessecação podem se acentuar, progressivamente, durante o armazenamento ou a conservação, levando a deterioração ou a completa perda de viabilidade do material biológico. Esses danos celulares podem ser estruturais, funcionais, mecânicos, moleculares, metabólicos, físicos e fisiológicos, conforme exemplificados na Figura 2 (Manfre et al., 2009; Kaczmarczyk et al., 2012; Engelmann; Gonzales-Arnao, 2013). Dependendo da intensidade dos danos decorrentes da dessecação malconduzida, esses podem ser reversíveis durante as etapas de absorção e embebição de água no processo germinativos. Informações sobre o processo de dessecação serão dados mais adiante no texto.

Considerando-se períodos curtos de armazenamento, há diferentes combinações entre as condições ambientais de temperatura e umidade relativa que permitem atingir o ponto de equilíbrio higroscópico entre a umidade da semente e a umidade relativa do ambiente, visto que que esse equilíbrio varia entre as espécies e a temperatura de exposição.

De maneira geral, para armazenamento, recomenda-se como teores de água das sementes valores entre 6 e 12%, para sementes amiláceas e entre 4 e 9% para sementes lipídicas (Harrington, 1972; 1973).

A utilização de embalagem que proporciona impermeabilidade e hermeticidade às sementes é extremamente importante. Isso porque a deterioração das sementes é retardada dado que esse tipo de embalagem evita que as sementes absorvam água do ambiente, não sofram o efeito desfavorável da pressão de oxigênio e não haja proliferação de patógenos (Azevedo et al., 2003; Silva et al., 2010; Salomão et al., 2020).

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BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

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Tags: armazenamento de sementes, conservação de sementes, inoculação, semente, sementes; nova legislação de sementes;, vigor

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