Segundo levantamento da Embrapa, no Brasil existem aproximadamente 200 milhões de hectares de pastagens nativas ou implantadas, dos quais estima-se que cerca de 130 milhões estejam degradados e com baixa qualidade de forragem.
Uma das principais causas é a falta de atenção com a fertilização do solo, pois os solos brasileiros, em geral, são ácidos e de baixa fertilidade natural.
Atualmente, é consenso entre os pesquisadores que o fósforo (P) é o nutriente que mais limita a produção das pastagens. Isso ocorre em virtude da pobreza dos solos neste nutriente e do importante papel que ele desempenha nas pastagens, já que têm grande impacto no desenvolvimento do sistema radicular e perfilhamento.
A grande maioria dos solos brasileiros contém baixo ou muito baixo teor de P disponível às plantas. A deficiência desse nutriente é intensa devido ao baixo pH e à presença de grandes concentrações de minerais capazes de adsorver o P, tornando-o indisponível às plantas.
Como consequência, doses elevadas de fertilizantes fosfatados são necessárias para que o teor de P disponível se mantenha em níveis adequados ao desenvolvimento das pastagens. Entretanto, alguns aspectos são importantes na decisão de qual fonte utilizar.
Os fosfatos de maior solubilidade, como o superfosfato simples e triplo são mais prontamente disponíveis, favorecendo a absorção e o aproveitamento do nutriente, principalmente pelas culturas de ciclo curto. No entanto, essa rápida liberação do P pode também favorecer o processo de adsorção e precipitação, indisponibilizando o nutriente às plantas.
Por outro lado, uma alternativa para diminuir a fixação ou a deficiência de P pode ser o uso de fontes alternativas, os fosfatos naturais, já que estes apresentam como característica principal a disponibilização gradual do P.
Nesse contexto, é fundamental a definição da melhor estratégia de fornecimento de P às pastagens.
Fontes solúveis
As fontes solúveis são as mais utilizadas na agricultura (90%). Isso ocorre, principalmente, por sua elevada quantidade de P disponível às plantas.
Os fosfatos solúveis mais comumente utilizados são o superfosfato simples (SFS), o superfosfato triplo (SFT), o fosfato monoamônico (MAP) e o fosfato diamônico (DAP), todos obtidos por processos industriais (Tabela 1).
O SFS é obtido do tratamento da rocha fosfática com ácido sulfúrico concentrado, portanto, uma mistura de fosfato monocálcico com gesso (Tabela 1). As principais vantagens desse produto são o fornecimento adicional de cálcio e enxofre, podendo corrigir áreas sódicas e melhorar o ambiente radicular em profundidade, além de apresentar elevada solubilidade em água.
O tratamento da rocha fosfática com elevada quantidade de ácido sulfúrico resulta na produção de ácido fosfórico e gesso. O ácido fosfórico é separado por filtragem para ser usado na produção do superfosfato triplo (SPT) e de fosfatos de amônio (MAP e DAP).
Pela separação do gesso e acidulação de novo lote de rocha com ácido fosfórico, obtém-se o SFT. Apesar da vantagem do elevado teor de P, o SPT apresenta as desvantagens em relação ao SPS de um menor teor de cálcio e de não conter enxofre.
Os fosfatos de amônio são fertilizantes obtidos pela reação da amônia com ácido fosfórico, produzindo o MAP ou o DAP, que possuem como grande vantagem os teores elevados de nitrogênio.
As fontes de P de elevada solubilidade em água são mais eficientes a curto prazo, mas quando adicionadas aos solos tropicais ácidos, de alta capacidade de fixação de P, podem ter parte do P convertido a formas indisponíveis às plantas, podendo ter sua eficiência diminuída ao longo do tempo.
Fontes de liberação gradual
A aplicação dos fosfatos naturais reativos tem surgido como uma alternativa de menor custo, o que favoreceu o aumento do seu uso nas áreas de pastagens, sobretudo em regiões tropicais e subtropicais, caracterizadas pelo pH ácido e a baixa fertilidade natural.
Fosfatos naturais são concentrados apatíticos obtidos a partir de minérios fosfáticos ocorrentes em jazidas, que podem ou não, passar por processos físicos de concentração, como lavagem e/ou flotação, para separá-los dos outros minerais com os quais estão misturados.
A legislação brasileira determina, para fosfatos naturais reativos, um teor mínimo de 27% de P2O5 total, sendo pelo menos 30% do P2O5 total solúvel em ácido cítrico. Além de conter 28% de cálcio (Tabela 1).
Tabela 1. Garantias mínimas das principais fontes de fósforo (Instrução Normativa do MAPA Nº 46 de 22/11/2016).
Fonte de fósforo | Garantia mínima | Elementos adicionais | |
Rápida solubilidade | |||
Superfosfato simples | 18% de P2O5 | Teor solúvel em Citrato Neutro de Amônio + água (CNA+água) e mínimo de 16% solúvel em água | 16% de cálcio e 10% de enxofre |
Superfosfato triplo | 41% de P2O5 | Teor solúvel em CNA+água e mínimo de 36% solúvel em água | 10% de cálcio |
Fosfato monoamônico (MAP) | 48% de P2O5 | Teor solúvel em CNA+água e mínimo de 44% solúvel em água | 9% de nitrogênio |
Fosfato diamônico (DAP) | 45% de P2O5 | Teor solúvel em CNA+água e mínimo de 38% solúvel em água | 17% de nitrogênio |
Solubilidade gradual | |||
Fosfato Natural | 5% de P2O5 total | 15% do teor total solúvel em ácido cítrico | |
Fosfato Parcialmente Acidulado | 20% de P2O5 total | 9% solúvel em CNA+água e mínimo de 5% solúvel em água | 16% de cálcio |
Fosfato natural reativo | 27% de P2O5 total | 30% do teor total solúvel em ácido cítrico | 28% de cálcio |
Os fosfatos naturais reativos, de origem sedimentar, podem ser importados, como os da Carolina do Norte (EUA), de Gafsa (Tunísia), de Sechura (Peru) e de Arad (Israel).
O Brasil também possui reservas de fosfato natural, a maioria de origem ígnea ou magmática, com menor reatividade, sendo que as principais estão localizadas nos estados de Minas Gerais, Goiás e São Paulo.
Outro tipo é o fosfato natural parcialmente acidulado, que surgiu da necessidade de aumentar-se o teor disponível de P dos fosfatos naturais (com baixo teor de P reativo).
Os fosfatos naturais parcialmente acidulados são obtidos reagindo rochas fosfáticas, geralmente, com ácido sulfúrico ou ácido fosfórico, em quantidades inferiores àquelas necessárias para produção dos superfosfatos.
A acidulação parcial pode ser uma maneira econômica de incrementar a eficiência agronômica de materiais de baixa solubilidade.
Os principais parâmetros de solo que maximizam a reatividade dos fosfatos naturais são: o elevado teor de matéria orgânica, acidez potencial elevada, mas com concentração nula ou baixa de alumínio trocável; além de elevada capacidade de troca de cátions (CTC) e baixa concentração de P na solução do solo.
A eficiência agronômica de uma rocha fosfática é diretamente relacionada com a sua reatividade química. Sendo reportado que alguns fosfatos naturais apresentam eficiência agronômica semelhante à das fontes solúveis, o que pode ser compensador pelo menor custo.
Os fosfatos naturais apresentam ainda a grande vantagem de serem permitidos para a adubação fosfatada de sistemas de produção orgânicos e agroecológicos (Instrução Normativa Nº 46, de 6 de outubro de 2011).
Fosfatos Naturais x Superfosfatos
Algumas características que diferem os superfosfatos e os fosfatos naturais reativos são apresentadas na Tabela 2.
Com relação à eficiência, os superfosfatos possuem elevada eficiência inicial, seguida por um decréscimo marcante ao longo do tempo. Já os fosfatos naturais reativos, possuem eficiência inicial menor, porém o declínio em eficiência com o passar do tempo é menos significativo.
Essa diferença fica evidente no artigo de MELO et al. (2018), que estudaram doses de superfosfato triplo e fosfato natural Bayovar em um Latossolo no Tocantins. Nesse estudo, os autores observaram que no primeiro corte o superfosfato triplo foi mais eficiente e proporcionou maior produção de massa seca da pastagem de Panicum maximum (cv. Massai). Já no segundo corte, as duas fontes de P tiveram a mesma eficiência. Mas no terceiro e quarto cortes, o fosfato natural reativo foi mais eficiente com uma produção de massa seca superior ao superfosfato triplo.
Outro estudo realizado para avaliar a eficiência do superfosfato triplo e do fosfato natural de Arad em pastagens de Brachiaria brizanta com e sem calagem, indicou resultados similares. Segundo trabalho de GUEDES et al. (2009), o fosfato natural de Arad foi mais eficiente que o superfosfato triplo a partir do segundo corte da Brachiaria, com ou sem a correção do solo.
GUEDES et al. (2009), sugerem ainda, que mesmo a fração do P não prontamente solúvel em água, do fosfato natural, foi eficientemente acessada pela planta. Esse resultado indica que quando aplicado, o sistema solo-planta forrageira, é capaz de utilizar uma fração maior que aquela estimada pelo método analítico que determina o teor de P solúvel.
Uma questão que deve ser comentada é a relação da disponibilidade de P em função do pH do solo.
Embora no estudo de GUEDES et al. (2018), não tenha havido diferença entre solos com e sem calagem, há consenso de que solos com pH levemente ácido tendem a favorecer a dissolução do P dos fosfatos naturais, aumentando a disponibilidade para as pastagens. Mas deve-se ter cuidado, pois em solos com pH ácido e que tenham concentrações elevadas de alumínio trocável é sempre recomendada a realização de calagem.
Outra diferença em relação aos superfosfatos, que estão sob a forma de grânulos, é que o fosfato natural reativo possui granulometria farelada. Segundo a legislação, isso significa que as partículas de fosfato natural reativo devem passar 100% na peneira de 4,8 mm e passar, no mínimo, 80% na peneira de 2,8 mm.
A granulometria entre outros fatores influencia a forma de aplicação. Os melhores resultados são obtidos com aplicação dos superfosfatos a lanço, enquanto que os fosfatos naturais apresentam maior eficiência quando incorporados ao solo.
Tabela 2. Algumas características dos superfosfatos e fosfatos naturais reativos.
Parâmetro | Superfosfato | Fosfato Natural Reativo |
Concentração de fósforo prontamente solúvel | Alta | Média baixa |
Solubilidade do fósforo | Alta | Gradual |
Suscetibilidade à adsorção no solo | Muito suscetível | Pouco suscetível |
Efeito residual | Baixo | Alto |
Granulometria | Grânulo | Farelado |
Custo com transporte | Menor | Maior |
Custo de produção | Maior | Menor |
Possibilidade de uso em sistemas de produção orgânicos/agroecológicos | Não | Sim |
Assim como constatado pelos artigos citados neste texto, os resultados da literatura de forma geral, destacam o mesmo comportamento, uma resposta rápida e imediata dos superfosfatos e um efeito mais lento e gradual dos fosfatos naturais.
Considerações
O comportamento ao longo do tempo sugere uma relação complementar entre as duas fontes de P e indica que a associação dos fosfatos naturais reativos com os superfosfatos pode ser a estratégia chave para a formação de pastagens de alta produtividade e com menor custo.
Como o fosfato natural reativo apresenta maior eficiência quando incorporado ao solo (SOARES et al., 2000; FRANZINI et al., 2009), pode-se indicar que ele seja aplicado como fosfatagem de correção, antes do plantio/semeadura da pastagem. Além disso, em solos sem problemas de alumínio trocável, pode-se aplicar até mesmo antes da calagem, potencializando a sua eficiência.
Após a correção inicial com fosfato natural reativo, os superfosfatos podem ser utilizados como adubação fosfatada de manutenção, com aplicação entre os cortes/pastejos, por exemplo, obtendo-se assim, o seu efeito imediato e de curto prazo.
Acesse os artigos científicos citados no texto: MELO, M.P.; LIMA, R.C.P.; FREITAS, G.A.; LIMA, S.O. Fontes de fósforo na produção de Panicum maximum (cv. Massai). Revista Tecnologia & Ciência Agropecuária, v.12, n.2, p.25-35, 2018. Disponível em: https://revistatca.pb.gov.br/edicoes/volume-12-2018/volume-12-n-2-2018/04-ce-0218-06-fontes-e-doses-de-fosforo-na-producao-de-panicum-maximum.pdf GUEDES, E.M.S.; FERNANDES, A. R.; LIMA, E.V.; GAMA, M.A.P.; SILVA, A.L.P. Fosfato natural de Arad e calagem e o crescimento de Brachiaria brizanta em Latossolo Amarelo sob pastagem degradada na Amazônia. Revista de Ciências Agrárias, n.52, p.117-129, 2009. Disponível em: https://periodicos.ufra.edu.br/index.php/ajaes/article/view/129/24 FRANZINI, V.I.; MURAOKA, T.; CORASPE-LEON, H.M.; MENDES, F.L. Eficiência de fosfato natural reativo aplicado em misturas com superfosfato triplo em milho e soja. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.44, n.9, p.1092-1099, 2009. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pab/v44n9/v44n9a04.pdf SOARES, W.V.; LOBATO, E.; SOUSA, D.M.G. de; REIN, T.A. Avaliação do fosfato natural de Gafsa para recuperação de pastagem degradada em Latossolo Vermelho‑Escuro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, p.819‑825, 2000. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pab/v35n4/4749.pdf |
1 Comentário. Deixe novo
ÓTIMO CONTEÚDO. PARA INCORPORAÇÃO DE FN OU FNR, EM PROFUDIDADE 40 CM, COM SATURAÇÃO DE BASE ABAIXO DE 40, ANTES DA CALAGEM, QUAL SERIA A MÁXIMA CONCENTRAÇÃO DE AL TROCÁVEL, QUE PODERIA ME IMPEDIR DE APLICAR OS FOSFATOS , ANTES DA CALAGEM?