Dia Nacional da Conscientização sobre Mudanças Climáticas: Mitigação das emissões da pecuária

Mudanças climáticas

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(Curadoria Agro Insight)

Nesta quarta-feira, 16 de março, é celebrado o Dia Nacional da Conscientização sobre Mudanças Climáticas. Em 2021, durante a 26ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP26, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir 30% das emissões de metano até 2030.

Uso de tecnologias na pecuária contribui para reduzir metano e diminuir impacto no clima

A Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos – SP) tem investido em estudos  sobre emissões de GEE em sistemas de produção de bovinos de corte e de leite, buscando a baixa emissão de gases como  o metano, a fim de  diminuir o impacto da atividade no clima.

O centro de pesquisa, localizado no interior de São Paulo, trabalha com tecnologias tanto para mitigação de metano, como para mensurar as emissões, seguindo metodologia reconhecida internacionalmente.

Entre os recursos tecnológicos à disposição do setor estão recuperação de pastagens degradadas, boas práticas de manejo animal e vegetal, uso adequado de insumos, bem-estar animal, redução do ciclo de vida e manejo nutricional. Para o chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste, Alexandre Berndt, a adoção dessas tecnologias e boas práticas, como sistemas integrados, manejo intensivo das pastagens e uso de aditivos na nutrição animal, é capaz de compensar as emissões geradas pela pecuária e tornar o sistema de produção mais sustentável.

Em relação à mensuração de emissões, são realizadas coletas de metano dos animais por meio de uma canga tubular acoplada a um cabresto, colocado logo atrás da cabeça do bovino  (Assista ao vídeo). A canga permanece por 24 horas armazenando os gases. Mais de 90% desses  gases produzidos pelo gado são emitidos pela boca e narinas, pelo processo natural de eructação. Após o período, o tubo é retirado e vai para análises no laboratório. As coletas são feitas a partir de uma amostra de animais por um determinado tempo em diferentes estações do ano.

Os resultados das pesquisas e avanços tecnológicos têm contribuído para adaptação e mitigação frente aos efeitos das mudanças do clima, colocando a descarbonização como meio para o desenvolvimento mais sustentável da pecuária brasileira.

Artigo – Os avanços das pesquisas em carne carbono neutro e baixo carbono

Roberto Giolo – Pesquisador da Embrapa Gado de Corte

A cadeia da carne bovina sofre pressões internacionais recorrentes, relacionadas a impactos ambientais, desde meados da década de 2000. A principal crítica tem sido que a pecuária brasileira apresenta baixos índices zootécnicos e que parte desta atividade está relacionada ao desmatamento e, por consequência, a carne produzida apresenta elevada intensidade de emissão ou pegada de carbono.

A marca Carne Carbono Neutro (CCN®) foi concebida em 2012 exatamente para enfrentar esta crítica, oferecendo a possibilidade de produção de uma carne cujas emissões de metano fossem compensadas pelo sequestro de carbono de árvores implantadas no pasto, além de proporcionar condição de melhor conforto térmico aos animais, estimular o plantio de árvores e contribuir para evitar o desmatamento para incorporação de novas áreas de vegetação nativa ao sistema produtivo.

A CCN® é uma marca-conceito desenvolvida pela Embrapa, que visa atestar, por meio de um protocolo parametrizável e auditável, que a carne bovina proveniente de sistemas pecuários com a presença obrigatória de árvores, como sistemas de integração do tipo silvipastoril (integração pecuária-floresta, IPF) ou agrossilvipastoril (integração lavoura-pecuária-floresta, ILPF), foi produzida em áreas consolidadas com agropecuária, livres de desmatamento e do uso do fogo, e em condições de manejo que asseguram a compensação ou neutralização dos gases de efeito estufa emitidos pelos animais durante o processo produtivo, o bem-estar animal e a qualidade da carne. A logomarca foi depositada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2013, com versões em inglês e português, tendo o registro definitivo sido concedido em 2016.

O protocolo CCN foi validado em oito fazendas nos biomas Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica, está associado a sistemas de integração do tipo ILPF e IPF e é baseado nas boas práticas agropecuárias, bem-estar animal, além das práticas mitigadoras de emissão de gases de efeito estufa, rastreabilidade e às boas práticas a serem adotadas nos frigoríficos. O objetivo é atender às demandas de consumo sustentável e a legislação vigente em relação a aspectos socioambientais, contribuindo diretamente com a agenda ESG, tanto na dimensão ambiental, em especial, com o objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS) nº 13, no combate às mudanças climáticas, como no social e de governança, com o aprimoramento da gestão e transparência no sistema de produção.

Esta marca tem um grande potencial de valorização da carne, ao longo de toda a cadeia, desde o produtor até o consumidor, com forte apelo para a sustentabilidade e menor impacto ambiental. Com isso, há uma perspectiva de visibilidade e competitividade nos mercados interno e, principalmente, externo, melhorando a imagem da pecuária do país.

Em 2018, a Embrapa e a Marfrig Global Foods formaram uma parceria estratégica para inserção no mercado da marca CCN® e para o desenvolvimento de uma nova marca-conceito, a Carne Baixo Carbono (CBC®). A marca CCN® foi então lançada no mercado nacional em agosto de 2020, como a primeira no gênero no mundo envolvendo a temática do carbono. A partir da iniciativa CCN, outros países se engajaram no desenvolvimento de estratégias de produção de carne com compensação das emissões de gases de efeito estufa, como a Austrália, Nova Zelândia, Colômbia, Argentina e outros. Mais recentemente, Portugal e Uruguai lançaram suas certificações para produtos pecuários com foco em baixa emissão de carbono.

O Programa de certificação CCN é regido por uma cadeia de valor que envolve produtor, certificadora independente e frigorífico, e sua gestão é realizada por meio da Plataforma de Rastreabilidade da CNA, Agri Trace Animal (http://ranimal.cnabrasil.org.br/), sendo a Embrapa a detentora do protocolo de certificação e a responsável técnica pelo Programa.

Atualmente, existe uma propriedade rural adotando o protocolo CCN, a Fazenda Santa Vergínia, do Grupo Brochmann Pollis, em Santa Rita do Pardo-MS, com cerca de 900 hectares certificados. A área potencial com sistemas de ILPF e IPF no Brasil é de aproximadamente 2,5 milhões de hectares. A perspectiva é de ampliação das áreas com uso do protocolo CCN, principalmente nos estados que possuem maiores áreas com os sistemas produtivos citados, como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

A partir de 2018, com o apoio da Marfrig, foram iniciados os estudos para o desenvolvimento de uma outra marca-conceito para a carne, a Carne Baixo Carbono (CBC®), que foi orientada para sistemas pecuários que não contemplavam a presença de árvores plantadas e que atualmente perfazem a maior parte das áreas com pastagens no Brasil.

Nestes sistemas, a capacidade de compensação ou neutralização da emissão de metano dos animais é limitada, pois conta somente com o potencial do solo em fixar o carbono da atmosfera por meio do manejo adequado da pastagem e consequente incorporação de carbono via palhada sobre o solo e reciclagem do sistema radicular das forrageiras.

Dentro desse contexto, elaborou-se um protocolo com base em boas práticas agropecuárias com foco na baixa emissão de carbono para otimizar a produção do pasto e contribuir com a melhoria da produtividade de carne e com a incorporação de carbono ao solo, mitigando as emissões do sistema de produção.

O protocolo também foi validado em fazendas no bioma Cerrado e mostrou benefícios importantes para a resiliência de sistemas pecuários em áreas de solos arenosos e sujeitos a déficit hídrico.

A logomarca foi depositada no INPI em 2018, com registro definitivo em 2021. O potencial de uso desta marca é muito grande, pois abarca a maior parte dos sistemas pecuários brasileiros, com perspectivas de melhorar as condições de manejo, de bem-estar e produtividade, além de contribuir para uma agropecuária de baixa emissão de carbono, em alinhamento com o Plano ABC+ do governo federal e com as demandas do mercado consumidor pela oferta de carne produzida a pasto (grass-fed beef). A expectativa é de que a marca CBC® seja lançada no mercado brasileiro no primeiro semestre de 2022.

BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

Embrapa/Notícias: ILPF  Agricultura de Baixo Carbono – Uso de tecnologias na pecuária contribui para reduzir metano e diminuir impacto no clima
Embrapa/Notíias – Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação – Os avanços das pesquisas em carne carbono neutro e baixo carbono

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Tags: descarbonização, metodologia-para-mensuracao-de-metano, pecuária sustentável, reducao-de-metano, sustentabilidade

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