Suplementos químicos agrícolas na cultura do feijoeiro irrigado

Manejo de pragas em sistemas de produção

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(Curadoria Agro Insight)

Você sabe o que são suplementos agrícolas?

Para ajudar a sua compreensão, trouxemos uma publicação dos pesquisadores da Embrapa, Cleber Morais Guimarães, Luís Fernando Stone e Pedro Henrique Lopes Sarmento, que trabalharam o tema na cultura do feijoeiro e inclusive, testaram alguns suplementos.

1. Suplementos químicos agrícolas

Os suplementos químicos agrícolas, aliados à adoção de sementes melhoradas e ao manejo adequado, são usados para aumentar a produtividade das culturas, entre as quais do feijoeiro irrigado. Esses suplementos são definidos como substâncias naturais ou sintéticas que podem ser aplicadas diretamente nas plantas, nas sementes ou no solo para alterar os seus processos vitais e estruturais, a fim de incrementar a produtividade, melhorar a qualidade vegetativa das plantas e facilitar a colheita (Laca-Buendia, 1989; Ávila et al., 2008).

Hormônios

Entre os produtos comercialmente disponíveis estão o composto formado pelos ácidos giberélico e indolbutírico e a cinetina. O ácido giberélico é um estimulante do crescimento radicular (Pasqual; Ando, 1991), que atua na germinação das sementes, ativando enzimas como a α-amilase e a protease, que desdobram as substâncias reservas do endosperma, facilitando a disponibilização de energia para a germinação (George et al., 2008). Promovem, ainda, a quebra da dormência, o alongamento e o crescimento do caule, a divisão celular e, consequentemente, a expansão foliar (Taiz; Zeiger, 2009), demandando, muitas vezes, a ação conjunta com outros hormônios.

O ácido indolbutírico é importante indutor de enraizamento por não sofrer intervenções biológicas, ser persistente e ter ação localizada (Miranda et al., 2004). A cinetina tem efeito semelhante sobre o crescimento radicular do feijoeiro (Oliveira et al., 1994), além de atuar no desenvolvimento vascular, dominância apical e mobilização de nutrientes (Nishimura et al., 2004). Segundo Taiz e Zeiger (2009), níveis altos dessa citocinina promovem o crescimento da parte aérea, e afirmam também que, em condições nutricionais baixas, os níveis são reduzidos, o que aumenta o crescimento da raiz, permitindo que a planta adquira de forma mais eficiente os nutrientes do solo. Por outro lado, em condições de boa fertilidade do solo, os níveis de citocinina aumentam, favorecendo o crescimento da parte aérea da planta, ou seja, a capacidade fotossintética.

Cálcio

O cálcio (Ca) atua em processos metabólicos relacionados ao crescimento e desenvolvimento das plantas, como alongamento, divisão e diferenciação celular, defesa e resposta a estresses bióticos e abióticos (White; Broadley, 2003), atuando também no desenvolvimento do tubo polínico e na fertilização das flores (Krichevsky et al., 2007), evidenciando a importância no desenvolvimento reprodutivo das plantas. O movimento do Ca no interior da planta é restrito às rotas apoplásticas, altamente dependente do fluxo transpiratório (White; Broadley, 2003), portanto fatores que afetam o fluxo podem induzir deficiência do elemento nas estruturas reprodutivas, com consequente redução da quantidade de vagens fixadas.

Fósforo

A resposta da cultura do feijoeiro à adubação via solo, no que se refere ao fósforo (P), está bem estabelecida. Por outro lado, é crescente o número de produtores que estão aplicando P via pulverização foliar, sob a alegação de que ocorre melhor aproveitamento no solo, refletindo no aumento da produtividade. Na literatura há relatos de benefícios resultantes da aplicação foliar de P para outras culturas produtoras de grãos, a exemplo da soja (Rezende et al., 2005).

Em alguns estudos houve aumento do teor de P na planta em quantidade superior à aplicada via foliar, sugerindo que a aplicação foliar estimula a planta a absorver mais P do solo. Dal Bello et al. (2011) observaram acréscimo de até 15% na produtividade com a aplicação de P foliar no estádio vegetativo do feijoeiro. Entretanto, com o intuito de conseguir produtividade acima da capacidade de suporte do solo, que muitas vezes foi comprometida pela capacidade supressiva de doenças e insetos-praga, os suplementos agrícolas são aplicados indiscriminadamente, o que onera o custo de produção e compromete o meio ambiente com a geração de resíduos químicos, causando insustentabilidade ambiental e econômica do sistema de produção do feijoeiro irrigado.

Boro

A quantidade de boro (B) requerida para a produção de grãos, geralmente, é maior do que a necessária para o crescimento vegetativo. Dessa forma, mesmo em situações nas quais a cultura está em solo com boas características físicas e químicas, podem ser obtidos aumentos na produtividade com a aplicação de B. O B interfere na absorção de P, Cl e K. Adicionalmente, ao formar complexos através de ligações cis-diol com fotoassimilados, facilita o descarregamento a partir dos sítios de síntese, por torná-los mais solúveis. Com a deficiência de B ocorre acúmulo de carboidratos na parede celular, o que causa espessamento e endurecimento e dificulta o aumento do volume e a divisão celular, portanto compromete o seu crescimento em todas as zonas de crescimento, inclusive no sistema radicular. Todos esses fatores ajudam a explicar o comprometimento da germinação do grão de pólen, do crescimento do tubo polínico, dos frutos e das folhas, da nodulação e do crescimento radicular (Malavolta, 1980; Coetzer et al., 1990).

Pulverizações com ácido bórico no feijoeiro, no período de abertura das primeiras flores, podem aumentar a retenção de vagens e, consequentemente, elevar a produtividade de grãos e a indução do crescimento radicular (Lenoble et al., 1993; Lukaszewski; Blevins, 1996).

2. Avaliação do efeito de suplementos químicos na cultura do feião

Objetivou-se determinar o efeito da aplicação de suplementos químicos agrícolas no feijoeiro, cultivar BRS Estilo, em Sistema Plantio Direto (SPD). Foram conduzidos dois experimentos, no inverno de 2018 e de 2019, na Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás, GO, avaliando os efeitos dos seguintes tratamentos:

  • Gesso agrícola, 200 kg/ha, na semeadura;
  • Boro, 1 kg/ha, na semeadura;
  • MAP via foliar, 1,5 kg/ha, em ambos os estádios, V4 e R5;
  • Ca via foliar, 680 g/ha, em ambos os estádios, V4 e R5;
  • Boro via foliar, 100 g/ha, também em ambos os estádios, V4 e R5; e
  • Bioestimulante, 0,5 L/ha, em V4.

Verificou-se que todos os suplementos químicos agrícolas usados, nas doses e nas condições de condução dos experimentos, não interferiram na produtividade nem nos demais componentes agronômicos.

Considerações

Provavelmente a ausência de efeito dos suplementos testados é resultado de boas condições de cultivo, sem carências no sistema de produção avaliado .

BIBLIOGRAFIA E LINS RELACIONADOS

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