Sistemas agroflorestais: Uma oportunidade viável para agricultura familiar
Desde a década de 1980, os sistemas agroflorestais vêm sendo cultivados de forma mais intensificada no Brasil, principalmente pelos agricultores familiares. Atualmente, o Brasil conta com vários tipos de sistemas, que vão desde os quintais agroflorestais familiares, os quais são característicos das regiões de Mata Atlântica, até grandes consórcios comerciais, a exemplo da produção do café sombreado.
De acordo com os dados divulgados pelo Censo Agropecuário 2017, o Brasil possui aproximadamente 490 mil estabelecimentos agropecuários utilizando sistemas agroflorestais, ocupando uma área de 13,8 milhões de hectares (IBGE, 2017). A região Nordeste lidera o ranking das regiões com sistemas agroflorestais, com 63% do total da área, seguido pela região centro-oeste, norte, sudeste e região sul, com 5,3%.
Os sistemas agroflorestais, são sistemas de uso e manejo do solo em que plantas lenhosas perenes, são manejadas simultaneamente com plantas herbáceas, espécies agrícolas, forrageiras, além da possibilidade de integração com animais. Tudo isso, em uma única unidade produtiva, de acordo com um arranjo espacial e temporal, com alta diversidade de espécies e interações ecológicas entre estes componentes (ABDO, 2008).
A autora também destaca, que o componente arbóreo é dos principais elementos do sistema agroflorestal. Pois, para uma área de exploração agrícola ser caracterizada como um sistema agroflorestal, esta deve ter pelo menos uma espécie florestal, pois a não ocorrência de espécies florestais não define a área de exploração como uma agrofloresta.
Diante disso, as árvores sempre apresentaram papel de destaque para a humanidade, seja pelo fornecimento direto de produtos, tais como: madeira, mel, produtos medicinais, ou através dos benefícios indiretos: como sombra, regulação da umidade do ar, da temperatura e da poluição atmosférica, proteção dos solos e dos recursos hídricos, além dos benefícios sociais, como turismo e educação ambiental.
Sistemas agroflorestais
Os sistemas agroflorestais, quando conduzidos sob uma lógica agroecológica, se destacam e sugerem sustentabilidade, por levarem em consideração conceitos básicos fundamentais da agroecologia, aproveitando assim, os conhecimentos e o histórico do local em que está sendo implantado e projetado os sistemas, os quais são adaptados para o potencial natural do local (GÖTSCH, 1995). Assim, existem vários tipos, cada um com suas particularidades, arranjos e consórcios de diferentes tipos de plantas, sendo sistemas específicos para cada condição.
No manejo de um sistema agroflorestal busca-se imitar o que a normalmente acontece em uma floresta, ou seja, mantem-se o solo sempre coberto com a utilização de vegetação, além de utilizar uma variedade de plantas no mesmo espaço, garantindo assim benefícios entre estas. Com isso, através de uma produção diversificada e pensando no agroecossistema como um todo, esta forma de agricultura corrobora para o bem-estar socioeconômico dos agricultores além, de auxiliar na preservação dos recursos naturais. Pois, existe uma variedade de possibilidade de utilização de seus componentes, como frutas, madeira, plantas medicinais, matéria-prima para artesanato, garantindo a sustentabilidade do sistema.
As agroflorestas como alternativa para a agricultura familiar
A agricultura familiar, é praticada em pequenas extensões de terra, onde a mão de obra é predominantemente composta por membros da família. A agricultura familiar tem significativa contribuição para produção total de alimentos, além da sua potencialidade de promover a sustentabilidade. Além disso, outro aspecto de suma importância da agricultura familiar é o seu potencial para o fortalecimento de um modelo de produção e de consumo que garanta a segurança alimentar e nutricional da população, apresentando-se como segmento estratégico para eliminar a pobreza e a fome (FAO, 2014).
Vários autores destacam características semelhantes entre agricultura familiar e os sistemas agroflorestais, pois ambos associam a geração de renda, a recuperação ambiental e a melhoria na qualidade de vida. Com isso, estudos indicam que a adoção de agroflorestas, como também são denominados os sistemas agroflorestais, sejam uma alternativa promissora e interessante de produção no setor da agricultura familiar, buscando minimizar o efeito da intervenção antrópica na natureza.
Sistemas produtivos
A integração de diferentes sistemas produtivos, a exemplo: produção de grãos, de fibras, de carne e de leite, permitem a diversificação das atividades econômicas, aumentando a renda para os agricultores, e por consequência diminuindo os riscos de perdas, seja por eventos adversos do clima ou pela sazonalidade do mercado. A consorciação de várias espécies dentro de uma área aumenta a diversidade do ecossistema, em que as interações benéficas são aproveitadas entre as plantas de diferentes ciclos, portes e funções (FREITAS et al., 2012).
Vale destacar que o planejamento é um passo importante e necessário quando se tem a pretensão de implantar uma agrofloresta. Deve-se levar em consideração vários fatores edafoclimáticos como: o clima, os tipos de solo, a retenção de umidade no solo, a disponibilidade de nutrientes de matéria orgânica.
Portanto, é importante que, o agricultor familiar tenha plena consciência na hora de escolher o melhor sistema de uso e de gestão da terra para sua família, garantindo a sustentabilidade a médio e longo prazo.
Os sistemas agroflorestais como aliados da qualidade do solo
Com a adoção das agroflorestas é possível reabilitar solos para aumentar a produção de alimentos. Diante disso, uma série de trabalhos nacionais e internacionais evidenciam que a utilização dos sistemas agroflorestais, apresentam capacidade de aumentar e/ou manter a qualidade do solo, seja ela, biológica, química, física e/ou hídrica.
Dentre os destaques da utilização de sistemas agroflorestais, estão a contribuição do sistema para a fixação de nitrogênio no solo. Com a utilização de plantas leguminosas, fixadoras de nitrogênio, realiza-se uma adubação natural ao solo, diminuindo as despesas decorrentes da necessidade de incorporação de fertilizantes, aumentando a eficiência econômica da unidade produtiva. Estes sistemas, também, contribuem para a redução da erosão, ciclagem de nutrientes e de matéria orgânica, além de otimizar o uso do espaço pelo sistema produtivo (SIMINSKI et al., 2016).
A utilização destes sistemas diversificados, favorecem a recuperação de solos degradados. Além de garantir benefícios ao solo e ao ambiente, garantem alimentos de qualidade para a família, com a possibilidade de comercialização do excedente, garantindo assim a melhoria na renda.
Ainda diante do exposto, as agroflorestas aumentam a capacidade dos agricultores para se adaptarem às mudanças climáticas devido aos múltiplos benefícios que oferecem, dentre os quais se incluem o fornecimento de alimentos e, consequentemente, segurança alimentar, renda complementar e serviços ambientais (SCHEMBERGUE et al., 2017).
Considerações finais
Os sistemas agroflorestais se consolidam como uma prática indicada para a agricultura familiar. Dentre os benefícios pode-se citar a maior produção e fornecimento de alimentos por unidade de área, em decorrência da variabilidade de espécies utilizadas nos sistemas agroflorestais. A venda dos produtos excedentes colabora com a renda do agricultor. Além destes sistemas causarem uma melhora significativa nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo por meio de ciclagem de nutrientes, fixação de carbono e nitrogênio e controle de erosão.
Links relacionados:
ABDO, M. T. V. N; VALERI, S. V; MARTINS, A. L. M. Sistemas agroflorestais e agricultura familiar: uma parceria interessante. Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária, v. 1, n. 2, 50-59, 2008. Disponível em:
GÖTSCH, E. Break-through in agriculture. Rio de Janeiro: AS-PTA. 1995. 15p. Disponível em: https://agrofloresta.net/static/artigos/break-through-in-agriculture-ernst_goetsch.pdf
FAO- Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (2014). O Que É Agricultura Familiar?
FREITAS, D. A. F; SILVA, M. L. N.; CARDOSO, E. L.; CURI, N. Índices de qualidade do solo sob diferentes sistemas de uso e manejo florestal e cerrado nativo adjacente. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 43, n. 3, p.417-428, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1806-66902012000300002.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2017: Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. Rio de Janeiro: IBGE. 2017. Disponível em:
SCHEMBERGUE, A.; CUNHA, D. A.; CARLOS, S. M.; PIRES, M. V.; FARIA, R. M. Sistemas agroflorestais como estratégia de adaptação aos desafios das mudanças climáticas no Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 55, n. 1, p. 9-30, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1234-56781806-94790550101.
SIMINSKI, A.; SANTOS, K. L.; WENDT, J. G. N. Rescuing agroforestry as strategy for agriculture in Southern Brazil. Journal of forestry research, v. 27, n. 4, p. 739-746, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11676-016-0232-3