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Seletividade de inseticidas. O que é? e Qual a importância na prática?

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Um dos principais fatores limitantes de produtividade de uma cultura é a ocorrência de artrópodes-praga, e o controle químico com a utilização de inseticidas é a forma mais utilizada. Apesar da eficiência no controle, a utilização de inseticidas está associada a diversos efeitos negativos, como seleção de populações de pragas resistentes, ressurgência de pragas, aparecimento de pragas secundárias e ou eliminação de populações de inimigos naturais.

Em função destes problemas, surgiu na década de 60 o Manejo Integrado de Pragas (MIP), que recomenda uma combinação de estratégias, tais como: controle químico, físico, genético e biológico, para suprimir a população de forma eficaz, econômica e ambientalmente saudável. Uma das estratégias utilizadas no MIP, quando se utiliza o controle químico é a utilização de inseticidas seletivos, isto é, que fazem a supressão do artrópode-praga e não causam efeitos negativos nos inimigos naturais existente na área.

Inimigo natural ou agente do controle biológico é qualquer organismo (insetos, ácaros, vírus, fungos, nematoides, etc) que exerça o controle sobre a população de artrópodes-praga, como por exemplo, os parasitoides Cotesia flavipes que parasitam a lagarta da broca-da-cana (Diatraea saccharalis), e o Trichogramma pretiosum usadas no controle da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta), lagarta-da-espiga-de-milho (Helicoverpa zea), lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda), lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) e lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens), e predadores, como a joaninha Cycloneda sanguínea que controla os pulgões Aphis gossypii e Myzus persicae presente na cultura do algodão, e Chrysoperla externa que é predador generalista que consome lagartas pequenas de lepidópteros, ácaros, pulgões, cochonilhas, moscas-branca, entre outros inimigos naturais ocorrem naturalmente nos agroecossistemas.

1. Conceito de Seletividade de Inseticidas.

É a propriedade de um inseticida em controlar a praga, sem alterar negativamente a atividade de organismos não-alvo existente na área, como inimigos naturais e polinizadores.

O impacto negativo de inseticidas sobre inimigos naturais pode ocorrer de diversas formas como:

  • Mortalidade direta pela ação tóxica do inseticida;
  • Mortalidade indireta através da morte de presas e hospedeiros pela ação dos inseticidas, causando a quebra do ciclo de vida por falta de recursos, e ou através da contaminação desses recursos por inseticidas levando a morte do inimigo natural ao se alimentar, ao ter contato direto e também ao ovipositar no substrato contaminado.

Existe dois tipos de seletividade de inseticidas.

a) Seletividade fisiológica: É obtida pelo emprego de inseticidas seletivos, ou seja, de compostos que são mais tóxicos aos artrópodes-praga do que aos inimigos naturais.

b) Seletividade ecológica: É obtida pela adoção de técnicas de aplicação que minimizem a exposição do inimigo natural aos inseticidas.

2. Qual a importância da seletividade de inseticidas no controle de artrópodes-praga?

 A seletividade de inseticidas é uma das estratégias que sustentam o CONTROLE BIOLOGICO POR CONSERVAÇÃO.

O controle biológico por conservação baseia-se em ações que protegem e estimulam o desempenho de inimigos naturais que ocorrem naturalmente. Estas ações envolvem a modificação e/ou manipulação do ambiente para favorecer a sobrevivência e desempenho dos inimigos, como manter a abundância e disponibilidade de alimentos e hospedeiro e/ou presas aos inimigos na área, dessa forma, utilizando inseticidas seletivos garante-se que haja recursos para o ciclo de vida do inimigo natural.

Portanto, a seletividade de inseticidas tem por objetivo preservar a comunidade de artrópodes benéficos existente na área, que desempenham um controle biológico natural.

3. Como atingir a seletividade de inseticidas na prática?

3.1) Utilização de inseticidas seletivos

Inseticidas de amplo espectro como carbamatos, fosforados, piretróides e neonicotinóides, que possuem ação neurotóxica são menos seletivos aos inimigos naturais de maneira geral.

No exemplo abaixo foi realizado um experimento sobre larvas do predador Chrysoperla externa, onde foram testados seis inseticidas usados em pomares de pessegueiro e macieira para controle da mariposa oriental Grapholita molesta, foi avaliado a mortalidade e os efeitos sobre a parâmetros reprodutivos de C. externa (fecundidade das fêmeas e fertilidade dos ovos), seguindo a metodologia da International Organization for Biological and Integrated Control (IOBC).

 Tabela 1. Efeito total e classificação da IOBC, quando larvas de Chrysoperla externa foram expostas ao contato residual de inseticidas utilizados em pomares (DE ARMAS et al., 2020).

Tratamento  DC1  M (%)2   Fecundidade     Fertilidade E (%)3 C4
Testemunha

32,44 ± 3,31 a      83,33 ± 0,61 b

abamectina

80

22,50 16,64 ± 0,71 b 88,54 ± 1,08 a 57,79

2

azadiractina

1%

10,00 27,35 ± 1,38 ab 84,38 ± 1,08 ab    26,16

1

clorantraniliprole

14

0,00

34,67 ± 4,60 a 85,42 ± 0,56 ab 0,00

1

deltametrina

40

100,00

100,00

4

fenitrotiona

100

100,00

100,00

4

malationa

150

100,00

100,00

4

 1DC= Dosagem do produto comercial (g ou mL.100 L-1); 2M= Mortalidade corrigida por Schneider-Orelli; 3E= Efeito total; 4C= Classes da IOBC, 1= inócuo (<30%), 2= levemente nocivo (30-79%), 3=moderadamente nocivo (80-99%), 4= nocivo (>99%). Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Com estes resultados podemos concluir que quando tiver a presença de larvas de C. externa os inseticidas deltametrina, fenitrotiona e malationa devem ser evitados por causarem 100% da mortalidade, e abamectina dever ser utilizado com moderação devido ter causado efeitos na fecundidade e fertilidade das fêmeas de C. externa, podendo interferir na sobrevivência da espécie devido a efeitos negativos nos parâmetros reprodutivos. Já os inseticidas azadiractina e clorantraniliprole podem ser usados sem causar danos negativos ao predador. Portanto, sempre que possível devemos escolher inseticidas seletivos para o controle de artrópodes-praga.

3.2) Utilizar estratégias seletivas na aplicação de inseticidas

Quando o uso de um inseticida reconhecidamente não seletivo for a única opção, pode-se utilizar estratégias que visem expor menos o inimigo natural aos inseticidas, como:

  1. Utilização de doses menores ou sub doses quando possível;
  2. Aplicações em horários que coincidem com a menor exposição do inimigo natural na área de aplicação;
  3. Aplicações localizadas ou por talhões;
  4. Uso de iscas tóxicas;
  5. Utilização de cultura armadilha.

Portanto, o controle biológico conservativo ocorre naturalmente nas áreas de cultivo, e a seletividade de inseticidas garante uma maior sobrevivência desses agentes de controle biológico, assim um agroecossistema equilibrado demandará de uma menor quantidade de pulverizações, uma vez que inimigos naturais presente na área atuaram no controle de artrópodes-pragas de forma natural e gratuita, diminuindo custos e aumentando a segurança ambiental.

BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

DE ARMAS, F. S.; GRUTZMACHER, A. D.; NAVA, D. E.; PASINI, R. A.; RAKES, M.; PAZINI, J. B. Non-target toxicity of nine agrochemicals toward larvae and adults of two generalist predators active in peach orchards. Ecotoxicology, v. 29, n.3, p.327-39, 2020. https://link.springer.com/article/10.1007/s10646-020-02177-5.

FONTES, E. M. G.; VALADARES-INGLIS, M.C. Controle biológico de pragas da agricultura. Embrapa: Brasília, DF, 510p. 2020.

https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/212490/1/CBdocument.pdf

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Tags: controle biológico por conservação, controle de artrópodes-praga, manejo integrado de pragas, mortalidade direta, mortalidade indireta, seletividade ecológica, seletividade fisiológica

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