Retardamento do início das chuvas: consequências e perspectivas

Seja bem-vindo(a) a Newsletter da Agro Insight, um espaço de artigos autorais e curadoria sobre tecnologias, sustentabilidade e gestão para o agro.

Se você ainda não é assinante, junte-se a mais de 8 mil profissionais do Agro, consultores e produtores rurais que recebem gratuitamente conteúdos de qualidade selecionados toda semana, adicionando o seu e-mail abaixo:

Por Artur Müller, pesquisador da Embrapa Cerrados

Foto: Sandra Brito

Artigo - Retardamento do início das chuvas – consequências e perspectivas - Portal EmbrapaEm 2023, foi constatada a demora na estabilização das chuvas no Distrito Federal. Esse fato está retardando a instalação das principais culturas na região, entre elas, a soja, que normalmente é plantada no início de novembro ou mesmo no final de outubro, quando as chuvas estabilizam nesse mês.

Essa situação tem causado angústia nos agricultores que já haviam preparado sua estrutura de plantio no final de outubro, visando a colheita no início de fevereiro e plantio de outra cultura logo em seguida (na maioria dos casos, milho de segunda safra), aproveitando o final do período chuvoso.

Em uma simulação da umidade do solo, a partir dos dados meteorológicos, coletados diariamente em 2023 na estação agroclimática da Embrapa Cerrados, submetidos ao balanço hídrico climatológico, foi estimado o dia 1º de dezembro como a data a partir da qual existem condições de umidade suficiente para o plantio na região de Planaltina (DF). Para essa simulação foi considerado o solo como apto ao plantio tendo acima de 60 mm de água disponível.

Consequências prejudiciais

Contudo com a semeadura da soja no início de dezembro, praticamente se inviabiliza a segunda safra na região. Mesmo utilizando cultivares de soja super precoce, a colheita deverá ocorrer próximo ao dia dez de março. No entanto, a recomendação para o plantio de milho de segunda safra, segundo o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) é até o final de fevereiro, mesmo quando considerado o maior nível de risco de perdas aceito (40%).

Essa situação requer que o agricultor que produz em sequeiro (sem irrigação) opte por uma cultura mais rústica, que pode ser o sorgo ou o milheto, e com baixo nível de insumos para evitar maiores perdas financeiras com culturas de alto custo variável. Contudo, essa situação diminui a renda da propriedade, pois, além de perder uma segunda entrada de recursos com a comercialização da segunda safra, o produtor terá que arcar com os custos fixos da propriedade, como as depreciações de máquinas e equipamentos, que incidirá mesmo sobre a cultura menos rentável.

Para entendermos melhor a situação climática ao longo do tempo, a mesma simulação da umidade do solo foi realizada para os 50 anos de dados disponíveis na estação agroclimática da Embrapa Cerrados, com a data a partir da qual o solo tinha umidade suficiente para o plantio da soja. Com a comparação desses anos, observamos que a situação de 2023 é uma das mais extremas, pois somente em 2007 ocorreu condição de plantio mais tardia.

Apesar de esse dado parecer alentador, por ser um evento raro, que ocorreu apenas duas vezes com essa intensidade nos últimos 50 anos, a análise de essa se tornar uma tendência é mais preocupante.

Separando os 25 anos com data em que o solo teve umidade para plantio mais precoce, observa-se que a concentração de anos com umidade mais tardia vem aumentando nas últimas décadas em relação às duas primeiras décadas, chegando a ter oito datas com umidade tardia nesta última década, questão que traz uma preocupação para a cadeia produtiva e coloca em cheque o atual sistema de duas safras em sequeiro. A pesquisa deverá aprofundar esse assunto e criar mecanismos de adaptação do sistema se essa tendência de prolongamento da estação seca realmente se mantiver.

Tabela 1. Datas aptas ao plantio de soja, a partir da umidade do solo simulada pelo balanço hídrico climático, com dados diários para Planaltina (DF).

Ano Data plantio Ano Data plantio Ano Data plantio Ano Data plantio Ano Data plantio
1974 06/out 1984 01/out 1994 21/nov 2004 21/nov 2014 09/nov
1975 05/nov 1985 29/out 1995 31/out 2005 22/nov 2015 30/out
1976 29/set 1986 13/out 1996 20/nov 2006 13/out 2016 12/nov
1977 06/out 1987 10/nov 1997 17/nov 2007 03/dez 2017 11/nov
1978 20/out 1988 23/out 1998 27/out 2008 19/nov 2018 19/out
1979 19/out 1989 15/out 1999 24/set 2009 26/out 2019 21/nov
1980 12/nov 1990 13/set 2000 10/out 2010 02/nov 2020 25/out
1981 06/out 1991 04/out 2001 09/nov 2011 15/out 2021 07/nov
1982 09/out 1992 30/set 2002 13/nov 2012 09/nov 2022 01/nov
1983 13/out 1993 05/out 2003 10/nov 2013 08/out 2023 01/dez

Tabela 2. Decênios e frequência de ocorrência de datas aptas ao plantio de soja estimadas com umidade precoce do solo e datas tardias (25 anos cada) para Planaltina (DF).

Decênios Precoce Tardia
1973 a 1984 8 2
1983 a 1994 8 2
1993 a 2004 3 7
2003 a 2014 4 6
2013 a 2024 2 8

Link da matéria: Embrapa notícias

Núcleo de Comunicação Organizacional – NCO

Embrapa Cerrados

[email protected]

(61) 3388 9891/ 9945

www.embrapa.br/cerrados

Se inscreva na nossa Newsletter gratuita

Espaço para parceiros do Agro aqui

Tags: chuva, clima, Embrapa cerrados, Milheto, soja, umidade do solo, Zoneamento Agrícola de Risco Climático

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

outubro 2024
D S T Q Q S S
 12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031  
LinkedIn
YouTube
Instagram