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Orientações de manejo para ocorrência de lagarta-falsa-medideira em soja-Bt

Viabilidade econômica da safra 2021/22 da soja

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(Curadoria Agro Insight)

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Na curadoria Agro Insight de hoje, trouxemos uma Nota Técnica da Embrapa sobre a ocorrência de algumas espécies de lagarta-falsa-medideira em soja-Bt. O documento foi elaborado pelos pesquisadores Adeney de Freitas Bueno e Daniel Ricardo Sosa-Gómez, da Embrapa Soja, e busca orientar os produtores quanto ao manejo das lagartas resistentes.

1. NOTA TÉCNICA

A primeira geração de soja-Bt aprovada no Brasil, MON 87701 × MON 89788 (Intacta RR2 Pro®), expressa a proteína inseticida Cry1Ac. Ela foi disponibilizada comercialmente aos agricultores em 2013 como uma tecnologia para manejo de algumas lagartas que atacam a cultura da soja no país: lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens), lagarta-da-maçã do algodoeiro (Chloridea virescens) e broca-das-axilas (Crocidosema aporema). Além disso, esta tecnologia também possui atividade contra outras espécies de lepidópteros como por exemplo Rachiplusia nu, espécie muito semelhante a C. includens inclusive em sua injúria que é a caracterizada pela presença de folhas rendilhadas (Figura 1).

Figura 1. Diferentes espécies de lagarta-falsa-medideira. (A) Chrysodeixis includens e (B) Rachiplusia nu. (C) Pupa esverdeada na parte superior (C. includens) e escurecida na parte inferior (R. nu). (D) Injúria nas folhas caracterizada pela presença de folhas rendilhadas (C. includens e R. nu).

É importante destacar que as duas espécies de lagarta-falsa-medideira (C. includens e R. nu) são muito semelhantes, portanto, sua identificação só pode ser realizada constatando características morfológicas muito específicas. Assim, recomendamos consultar o “Manual de identificação de insetos e outros invertebrados da cultura da soja” da Embrapa (https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/991685/manual-de-identificacao-de-insetos-e-outros-invertebrados-da-cultura-da-soja) para mais detalhes.

A ocorrência de R. nu no Brasil tem sido historicamente mais restrita a regiões dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e sul do estado do Paraná. No entanto, a partir da safra 2019/20 a ocorrência de R. nu tem se tornado mais frequente no Brasil, sendo relatada sua presença inclusive em cultivares de soja-Bt de primeira geração. Além disso, R. nu tem expandindo sua área de ocorrência ao norte do estado de Paraná e centro de São Paulo.

Estudos realizados pela Embrapa Soja têm demonstrado que populações de R. nu coletadas nos estados do Paraná e São Paulo possuem capacidade de se desenvolver em variedades de soja-Bt de primeira geração. Resultados iniciais indicam a evolução de resistência a nível de campo de populações de R. nu à soja expressando Cry1Ac.

Apesar dessa notícia negativa é importante destacar alguns pontos importantes:

1) A resistência foi caracterizada ainda apenas em populações de R. nu e isso não deve impactar a performance da tecnologia de soja-Bt para o manejo de outras espécies alvos;

2) Os níveis populacionais observados de R. nu, de maneira geral, não tem sido elevados a ponto de causar perdas de produtividade e assim justificar adoção de inseticidas. Portanto, o produtor deve ser cauteloso no momento de verificar a necessidade de controle respeitando as recomendações do MIP-Soja, que indicam o momento correto de se aplicar inseticidas (Níveis de Ação);

3) Estudos preliminares com a soja-Bt de segunda geração (MON87751 × MON87708 × MON87701 × MON89788, tecnologia piramidada com as proteínas Cry1Ac, Cry1A.105 e Cry2Ab2) indicam que ela é eficiente no controle de lagartas de R. nu resistentes a soja-Bt de primeira geração (expressando exclusivamente Cry1Ac) 4).

Plantas Bt são apenas um componente das estratégias de manejo que podem ser utilizadas, e o MIP-Soja preconiza a associação de diferentes ferramentas sustentáveis de manejo.

De maneira geral, inseticidas contra lagartas desfolhadoras devem ser aplicados apenas quando a desfolha for igual ou superior a 30% durante o estádio vegetativo da soja ou 15% no estádio reprodutivo. Antes desse momento, inseticidas são desnecessários e sua aplicação além de elevar o custo de produção, pode eliminar os insetos benéficos causando surtos de pragas secundárias entre os efeitos negativos. Publicações científicas recentes indicam que esses níveis de ação são seguros e devem ser adotados pelos sojicultores para uma maior lucratividade e sustentabilidade de sua lavoura (Batistela et al. 2012, Bueno et al. 2021, Hayashida et al. 2021).

Outro lepidóptero, cuja populações também sem sido relatadas ocorrendo em soja-Bt de primeira geração é a broca-das-axilas, Crocidosema aporema, de observação mais difícil por ser uma mariposa pequena de 6,5 a 8 mm (Figura 2). Por isso, também recomendamos acessar o manual de identificação da Embrapa mencionado anteriormente para mais detalhes.

Figura 2. Broca-das-axilas (Crocidosema aporema). (A) Mariposa. Lagartas injuriando (B) folhas novas e (C) pecíolos de folhas.

A ocorrência de C. aporema em soja-Bt de primeira geração tem sido constatada mais acentuadamente na região centro-norte do estado do Paraná e sul do estado de São Paulo além da região do entorno do Distrito Federal (PAD-DF). A incidência dessa praga observada durante a safra 2020/21 indica a possibilidade de resistência da espécie a soja-Bt de primeira geração expressando Cry1Ac.

O que tem preocupado os pesquisadores da Embrapa Soja com relação a essa praga é o uso indiscriminado de inseticidas muitas vezes utilizados por alguns agricultores na tentativa de seu controle. Em alguns cultivos comerciais acompanhados pelos pesquisadores nos municípios de Itararé (São Paulo) e Tibagi (Paraná) as observações realizadas foram de que mesmo quando a praga não foi controlada, não houve redução de produtividade em comparação com áreas que receberam aplicações de inseticidas.

Resultados iniciais de ensaios realizados em Tibagi em área sem aplicação de inseticida, atingiu-se na colheita 56,5% de plantas com sintomas de ataque da broca, enquanto a área pulverizada com inseticidas para lagartas (duas aplicações), o ataque foi reduzido para 33,1% das plantas com a presença de injúrias causadas pela broca. Apesar da redução do ataque com a aplicação de inseticidas, a produtividade não diferiu entre ambos os tratamentos sendo de 3,8 ton ha-1 tanto na área onde não se aplicou inseticida como na área que recebeu duas aplicações de inseticidas (Figura 3).

Figura 3. Produtividade de soja (ton.ha-1) em áreas tratadas com inseticidas específicos para lagartas e áreas sem aplicação de inseticidas para lagartas. Tibagi, PR, safra 2020/21. Cultivar M 6410 IPRO.

A Embrapa continuará a monitorar e realizar mais experimentos visando reavaliar os níveis de ação existentes para a broca. Entretanto, recomendações oficiais do MIP-Soja preconizam que a broca-das-axilas somente deve ser controlada a partir de 25 a 30% de plantas com ponteiros atacados (Bueno et al. 2012). Antes disso, qualquer aplicação de inseticida é desnecessária além de poder acarretar todos os mesmos efeitos negativos destacados anteriormente de um uso abusivo de inseticidas (elevar desnecessariamente o custo de produção, eliminar os insetos benéficos, causar surtos de pragas secundárias entre outros exemplos).

As causas da resistência de R. nu e possivelmente de C. aporema à soja-Bt de primeira geração são complexas. Entretanto, é provável que a baixa adoção de área de refúgio estruturado seja um fator responsável pela maior ocorrência desses insetos em soja-Bt. Tem sido observado, em geral, uma redução na adoção do refúgio estruturado no cultivo de soja. Assim, em um cenário de alta adoção da tecnologia de soja-Bt e de baixa aderência a prática do refúgio estruturado aumenta-se consideravelmente a probabilidade de evolução da resistência nas espécies-alvo. Por isso, é essencial o plantio de pelo menos 20% de refúgio estruturado (soja não-Bt) semeado de forma que a distância de uma planta-Bt de uma planta não Bt esteja dentro de no máximo 800 m.

É importante destacar que a segunda geração de soja-Bt continuará a usar a proteína Cry1Ac piramidada com outras proteínas. Portanto, adoção da área de refúgio assim como o uso racional de inseticidas através da adoção dos níveis de ação entre outras recomendações do MIP-Soja são essenciais para a sustentabilidade da atual e da nova soja-Bt no manejo de lepidópteros-praga.

BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

BATISTELA MJ, BUENO AF, NISHIKAWA MAN, BUENO RCOF, HIDALGO G, SILVA L, CORBO E, SILVA RB. Re-evaluation of leaf-lamina consumer thresholds for IPM decisions in short-season soybeans using artificial defoliation. Crop Protection, v. 32, p. 7–11, 2012.

BUENO AF, PANIZZI AR, HUNT TE, DOURADO PM, PITTA RM, GONÇALVES J. Challenges for adoption of integrated pest management (IPM): the soybean example. Neotropical Entomology, v. 50, p. 5-20, 2021.

BUENO AF, PANIZZI AR., CÔRREA-FERREIRA BS, HOFFMANN-CAMPO CB, SOSA-GÓMEZ DR, GAZZONI DL, HIROSE E, MOSCARDI F, CORSO IC, OLIVEIRA LJ, ROGGIA S. Histórico e evolução do manejo integrado de pragas da soja no Brasil. In: HOFFMANN-CAMPO, C. B.; CÔRREA-FERREIRA, B.S.; MOSCARDI, F. (Eds), Soja: Manejo Integrado de Insetos e outros Artrópodes-Praga. Embrapa, Brasília, DF, p.37-74, 2012.

HAYASHIDA R, GODOY CV, HOBACK WW, BUENO AF. Are economic thresholds for IPM decisions the same for low LAI soybean cultivars in Brazil? Pest Management Science, v. 77, p. 1256-1261, 2021.

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Tags: Chrysodeixis includens, lagarta-falsa-medideira, Rachiplusia nu, soja Bt

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