Ocorrência da lagarta Rachiplusia nu em soja Bt

broca-das-axilas resistentes à soja-Bt

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(Curadoria Agro Insight)

Hoje na curadoria Agro Insight, trouxemos uma Nota Técnica do pesquisador Crébio José Ávila, sobre a ocorrência a resistência da lagarta Rachiplusia nu à soja Bt.

No ano de 2013 foi disponibilizada para os sojicultores uma nova tecnologia para o manejo de lagartas no Brasil. Trata- se da soja transgênica Bt, denominada de intacta, que expressa nas plantas a toxina Cry1Ac, obtida da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), que é letal para diferentes espécies de lagartas que atacam a cultura da soja. Essa tecnologia foi denominada de primeira geração de soja Bt no Brasil (Intacta RR2 Pro®), a qual apresenta também resistência ao herbicida glifosato. A soja Intacta1 tem por objetivo o manejo das seguintes espécies de lagartas: lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-falsa- medideira (Chrysodeixis includens), lagarta-da-maçã do algodoeiro (Chloridea virescens) e broca-das-axilas (Crocidosema aporema). A adoção da tecnologia Bt varia de 60% até próximo de 100%, atualmente, considerando as diferentes regiões produtoras do Brasil. A alta eficácia da soja Bt no controle de lagartas resultou em maior facilidade no manejo e em menor número de pulverizações de inseticidas nas lavouras, após o início do uso comercial no Brasil.

A tecnologia Intacta1 apresentava, por ocasião do seu lançamento, atividade inseticida contra outras espécies de lepidópteros, como por exemplo Rachiplusia nu, lagarta esta muito semelhante à C. includens, cujas injúrias nas plantas de soja são caracterizadas por folhas com aspecto rendilhado. A diferenciação dessas duas espécies somente é possível por meio de características morfológicas muito específicas observadas em lagartas, pupas e adultos. As lagartas de C. includens apresentam dois dentes na face interna das mandíbulas, o que é ausente em R. nu (Sosa-Gómes et al., 2014). As pupas de includens são de coloração verde a marrom-clara, enquanto as de R. nu são de coloração marrom-escura a preta. Já os adultos de includens apresentam no primeiro par de asas duas manchas prateadas, separadas e bem nítidas, enquanto em R. nu essas manchas são opacas e apresentam-se ligadas, lembrando o símbolo de infinito.

A ocorrência histórica de R. nu tem sido mais frequente nos estados da região Sul do Brasil e na Argentina. Todavia, a partir da safra 2019/2020, esta espécie tem sido encontrada com mais frequência em outras regiões, como no norte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, tanto em cultivares de soja convencional quanto na soja Bt de primeira geração (Intacta RR2 Pro®). Esse fato tem levado à suspeita de que as lagartas de R. nu já estejam resistentes a essa tecnologia, ou seja, que o processo de evolução de resistência a essa praga já esteja ocorrendo no campo.

Estudos conduzidos na Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), sobre a incidência de lagartas na cultura da soja, demonstraram a ocorrência de R. nu se alimentando em cultivares de soja Bt de primeira geração em diferentes lavouras do sul de Mato Grosso do Sul. Esse fato indica a ocorrência de resistência de populações dessa espécie em lavouras de soja expressando a toxina Cry1Ac na região sul de MS (Dourados) e provavelmente em outras regiões do estado (Pessoa; Sosa-Gómez, 2022). Estudos recentes evidenciaram que R. nu tem maior poder de consumo foliar do que C. includens, o que não deixa de ser uma preocupação para os produtores. Todavia, os níveis populacionais de lagartas encontrados na soja eram relativamente baixos (três a seis lagartas/pano de batida), o que não justificava ações de controle com inseticida, uma vez que a soja apresentava ainda baixo nível de desfolha. Deve-se ter em mente que a soja Bt representa apenas uma alternativa para o Manejo Integrado de Pragas (MIP) na cultura, o qual preconiza diferentes estratégias sustentáveis de manejo. Dessa forma, precisa-se ter consciência de que o controle de lagartas na cultura da soja deve ser realizado somente quando o nível de desfolha atingir os níveis de controle (30% durante o estádio vegetativo da soja ou 15% no estádio reprodutivo), os quais são até então seguros (Batistela et al., 2012).

Para o manejo da resistência de lagartas em soja Bt e prorrogação da vida útil dessa tecnologia, é essencial o uso de refúgio estruturado em 20% da área cultivada com soja. O plantio de refúgio é a principal ferramenta dos programas de Manejo da Resistência a Insetos (MRI) e tem sido eficaz em não permitir ou retardar o aparecimento de resistência em pragas nos países com histórico de uso dessas tecnologias (Bernardi et al., 2014). A cultivar utilizada no refúgio deve ser de ciclo de maturação similar à utilizada com a tecnologia Bt e ser cultivada a uma distância máxima de 800 metros, visando garantir o maior número possível de acasalamentos entre os insetos provenientes dessas duas áreas. Já o controle de lagartas na área do refúgio deve ser realizado de acordo com os princípios do MIP-Soja, seguindo as orientações de um engenheiro-agrônomo para a tomada das decisões. Infelizmente, na prática, esse manejo proposto de refúgio não tem sido realizado.

Estudos recentes conduzidos com a soja Bt de segunda geração (Intacta2), a qual expressa três proteínas de forma piramidada (Cry1Ac, Cry1A.105 e Cry2Ab2), evidenciaram controle eficiente de lagartas de R. nu em cultivares de soja que apresentam essa nova tecnologia. Entretanto, a disponibilidade de sementes de soja com a tecnologia Intacta2 ainda não é suficiente para atender à demanda dos produtores da região, o que deve se regularizar com o tempo.

BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

BATISTELA, M. J.; BUENO, A. F.; NISHIKAWA, M. A. N.; BUENO, R. C. O. F.; HIDALGO, G.; SILVA, L.; CORBO, E.; SILVA, R. B. Re-evaluation of leaflamina consumer thresholds for IPM decisions in short-season soybeans using artificial defoliation. Crop Protection, v. 32, p. 7–11, 2012.

BERNARDI, O.; DOURADO, P.M.; CARVALHO, R. A.; MARTINELLI, S.; BERGER, G. U.; HEAD, G. P.; OMOTO, C. High levels of biological activity of Cry1Ac protein expressed on MON 87701 × MON 89788 soybean against Heliothis virescens (Lepidoptera: Noctuidae). Pest Management Science, v. 70, n. 4, p. 588–594, 2014.

PESSOA, A. C. W. F.; SOSA-GÓMEZ, D. R. Suscetibilidade de Rachiplusia nu resistente a proteína Cry1Ac a produtos comerciais a base de Bacillus thuringiensis. In: In: JORNADA ACADÊMICA DA EMBRAPA SOJA, 17., 2022, Londrina. Resumos expandidos. Londrina: Embrapa Soja, 2022. (Embrapa Soja. Documentos, 446). Editoras Técnicas: Regina Maria Villas Bôas de Campos Leite, Larissa Alexandra Cardoso Moraes, Kelly Catharin p. 62-66.

SOSA-GÓMES, D.; CORRÊA-FERREIRA, B. S.; HOFIMANN-CAMPO, C. B.; CORSO, I. C.; OLIVEIRA, L. J.; MOSCARDI, F.; PANIZZI, R.; BUENO, A. F.; HIROSE, E.; ROGGIA, S. Manual de identificação de insetos e outros invertebrados da cultura da soja. 3. ed. Londrina: Embrapa Soja, 2014. 100 p. (Embrapa Soja. Documentos, 269).

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Tags: intacta, IPRO, lagarta Rachiplusia nu, resistência, soja, soja Bt

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