O conhecimento da “pegada de carbono’ das atividades agrícolas pode ampliar o mercado melhorar a remuneração

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(Curadoria Agro Insight)

O termo “pegada de carbono” para produtos se refere à massa de gases de efeito estufa (GEE) emitida devido à produção, uso e descarte de um produto. Assim, estudos sobre pegada de carbono de produtos contabilizam as emissões provenientes de um conjunto de processos relacionados ao ciclo de vida de um produto (PANDEY et al., 2011).

Nesse contexto, o estudo da pegada de carbono de produtos agrícolas identifica atividades com maior potencial de emissão de GEE e possibilita a definição de práticas de manejo que reduzam essas emissões. Quando o estudo leva à certificação do produto com relação a sua pegada de carbono, também amplia o mercado para comercialização do produto em locais onde os consumidores valorizam essa iniciativa, como os mercados europeu e americano.

Método disponibiliza dados de pegada de carbono em nível municipal

Uma nova versão do método BRLUC (Brazilian Land Use Change) disponibiliza dados de pegada de carbono de vários produtos agropecuários em nível municipal para todo o Brasil. Os dados disponibilizados são sobre o processo de “Mudança no uso da terra” (Land use change ou LUC em inglês), que podem responder por até 90% da pegada de carbono destes produtos e que foi responsável por aproximadamente 66% das emissões de CO2 no Brasil em 2020.

A contabilização da mudança de uso da terra é requerida na grande maioria dos protocolos internacionais de pegada de carbono e de avaliação do ciclo de vida (ACV), como o GHG protocol e normas ISO sobre o tema. Em geral, eles requerem que no estudo de um determinado produto sejam observados qual era o uso da terra 20 anos antes e qual a diferença de estoque de carbono entre esse uso anterior e o uso atual. Por exemplo, se o objetivo do estudo é levantar a pegada de carbono de algum produto agrícola e o uso da terra no local de produção era floresta ou pastagem há 20 anos, é necessário contabilizar esta diferença de estoque de carbono e as emissões de CO2 decorrentes desta mudança de estoque. “Os estoques de carbono de uma floresta podem ser até sete vezes maiores que os de uma lavoura. Então se essa conversão ocorreu no período de 20 anos, as emissões podem ser muito altas”, explica o bolsista de inovação da Embrapa Meio Ambiente Danilo Garofalo, primeiro autor do estudo.

“O ideal nestes estudos é o levantamento de dados em nível de talhão ou de fazenda, mas muitas vezes isso é inviável, seja por falta de informações ou pelos altos custos e tempo envolvidos. O método BRLUC foi desenvolvido para suprir essa necessidade, disponibilizando dados em nível municipal, de forma aberta e em conformidade com os protocolos internacionais”, diz o analista da Embrapa Meio Ambiente Renan Novaes, um dos coautores do método.

Fonte: Danilo Garofalo et al.

O novo método e as novas estimativas de emissões foram publicados em uma das principais revistas que tratam do tema de ACV no mundo, o Journal of Cleaner Production, que possui um alto fator de impacto JCR de 11,0 e está disponível neste link. Os dados para o período 2000-2019 também estão com acesso aberto no site da Embrapa em https://brluc.cnpma.embrapa.br/

As principais melhorias feitas nesta nova versão, chamada de BRLUC 2.0, foram o uso de dados de conversão de terras espacialmente explícitos do MapBiomas, estatísticas agrícolas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estoques de carbono regionalizados de fontes reconhecidas, como IPCC e inventário nacional de gases de efeito estufa e uma abordagem de responsabilidade compartilhada entre as lavouras.

A versão mais recente do método levou a uma estimativa de 911 Mtons de CO2 associadas à agricultura em 2019, sendo 81% destas relacionadas a pastagens plantadas. As taxas de emissão de dLUC em nível nacional para cana-de-açúcar, milho e soja foram estimadas em 0,3, 2,0 e 2,3 tCO2.ha-1.ano-1, respectivamente. “Essas novas estimativas são 97%, 38% e 85% menores que as estimadas disponíveis na ferramenta da consultoria Blonk e nos bancos de dados do GFLI e do Agrifootprint”, que são exemplos de dados disponíveis internacionalmente.

“Com o crescente compromisso de governos e empresas com metas de redução de carbono, como por exemplo as metas net-zero, esse tipo de dado será cada vez mais requisitado. Como os dados resultantes são consistentes com os protocolos internacionais, poderão ser usados por esses estudos”, salienta Novaes. Os autores esperam que os dados sejam usados também para apoiar a gestão das cadeias de suprimentos de empresas, em direção a um perfil de produção de baixo carbono e maior competividade internacional.

Os autores do artigo são Danilo F. Trovo Garofalo, Renan Milagres L. Novaes, Ricardo A. A. Pazianotto, Vinícius Gonçalves Maciel e Marília I. S. Folegatti-Matsuura da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), Miguel Brandão do KTH Royal Institute of Technology Stockholm (Suécia) e Julia Zanin Shimbo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Acesso para o artigo no Journal of Cleaner Production em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0959652622021503

Acesso para o BRLUC 2.0: https://brluc.cnpma.embrapa.br/

BIBLIOGRAFIA E LINS RELACIONADOS

Embrapa/Notícias – Método disponibiliza dados de pegada de carbono em nível municipal. Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, Agosto de 2022.

SANTOS et al. Pegada de carbono de produtos agrícolas: estudo de caso do melão. Embrapa Agroindústria Tropical, 2013, 34p.

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Tags: acv, geoprocessamento, georreferencimento, geotecnologia, uso-da-informacao-espacial-para-tomada-de-decisao

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