Manejo fitossanitário da cigarrinha-do-milho

Manejo fitossanitário da cigarrinha-do-milho

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O milho (Zea mays L.) é o cereal mais produzido no mundo, e têm grande destaque no cenário da agricultura brasileira. Para a safra 2020/21, a CONAB estima uma produção total de 106,4 milhões de toneladas, isto representa um aumento de 3,7% em relação à safra 2019/20. Atualmente, Mato Grosso é o maior produtor deste cereal no país, responsável por produzir 31,5 milhões de toneladas na safra de 2019/2020, com destaque para o município de Sorriso, que produziu 3,1 milhões de toneladas.

No entanto diversos problemas podem resultar na diminuição da produtividade, entre eles, a ocorrência de insetos-praga, como a cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae). Durante muito tempo, este inseto-praga tinha status de praga secundária e não havia muitas pesquisas relacionadas ao seu manejo. Porém com o aumento na produção da área plantada de milho e a quebra da sazonalidade dessa cultura, este inseto-praga encontra hospedeiros o ano inteiro, consequentemente favorecendo o aumento da população. Além dos danos diretos, através das lesões que provoca ao se alimentar da seiva da planta, D. maidis também é um inseto-vetor responsável pela transmissão da virose risca e do enfezamento do milho, que é uma das principais doenças que acarretam danos nas produtividades da cultura, podendo comprometer até 70% da produção de grãos.

Apesar do enfezamento não ser um problema novo na cultura do milho, havendo registros desde da década de 1990 de surtos epidêmicos, ocorrendo de forma pontual e controlada. A partir de 2015 foram relatados maiores danos de D. maidis, em diversas regiões como o oeste da Bahia, sudoeste de Goiás, região noroeste de Minas Gerais e  no Estado de São Paulo e Paraná, e estima-se um aumento dessa doença na safra de 2020/21, principalmente nas regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, em razão do aumento da temperatura, que resulta em altas populações do inseto-vetor e também pela oferta abundante e ininterrupta do hospedeiro, o milho, que apresenta até três safras em algumas regiões, permitindo que exista uma ponte verde, facilitando a sobrevivência da cigarrinha-do-milho.

Os enfezamentos são doenças vasculares e sistêmicas de origem bacteriana, causadas por molicutes e ocorrem dois tipos: o enzefamento pálido causado pelo espiroplasma (Spiroplasma kunkelii) e o enzefamento vermelho causado pelo fitoplasma.

No campo é difícil ou até mesmo impossível diferenciar qual dos dois enfezamentos está ocorrendo, visto que a planta pode apresentar apenas um ou até os dois patógenos simultaneamente, e a sua detecção ocorre de forma molecular por PCR. Porém de uma maneira geral, os sintomas nas plantas localizam-se normalmente nas folhas, que apresentam as bordas avermelhados e com clorose longitudinal. Os sintomas se expressam na fase de produção e dependem: 1) da cultivar de milho utilizada, havendo cultivares que são mais resistentes e outras mais suscetíveis; 2) a idade da planta afetada, quando mais jovem a planta for atacada, maiores serão os danos à produção; 3) as condições ambientais, em temperaturas maiores, haverá um aumento na população do inseto-vetor.

Além das folhas com bordas avermelhados e clorose longitudinal, outros sintomas são observados em plantas contaminadas com molicutes, como: estrias cloróticas esbranquiçadas, redução em altura, avermelhamento e seca das folhas, brotos axilares, perfilhamento na base das plantas, multiespigamento, acamamento de plantas, espigas pequenas com grãos chochos ou com poucos grãos.

A cigarrinha-do-milho D. maidis, têm origem no México e tem ocorrência no Brasil, Argentina, Estados Unidos, Peru e na Colômbia. No Brasil o primeiro relato foi em 1985, no Estado de Minas Gerais, porém os patógenos que levam aos enfezamentos e a virose da risca, foram descritos pela primeira vez em 1971 em São Paulo. A cigarrinha-do-milho é um hemíptero, que mede cerca de 3,7 a 4,3 mm de comprimento com menos de 1 mm de largura, de coloração palha-amarelada, no abdômen encontra-se manchas negras, apresentam duas fileiras de espinhos nas tíbias posteriores, fêmeas possuem dimorfismo sexual e são maiores que os machos. Os ovos são translúcidos, e após 10 dias, eles possuem a coloração leitosa e sua extremidade possui um tufo de micro filamentos, facilmente visíveis com uma lupa manual.

Em condições favoráveis o ciclo de vida de uma cigarrinha-do-milho, é de cerca de 45 dias, podendo ser completado até em 24 dias em temperaturas mais elevadas. As fêmeas podem depositar até 14 ovos por dia, podendo chegar até 600 ovos durante seu ciclo. Dessa forma, considerando o ciclo do milho em torno de 180 dias, uma mesma lavoura é capaz de abrigar até 6 gerações de cigarrinhas neste período em temperaturas acima de 26ºC, isto permite a migração de populações de cigarrinhas para lavouras mais novas.

É importante ressaltar que nem toda a cigarrinha-do-milho é vetor de molicutes, isto por que o inseto adquire os patógenos causadores das doenças ao se alimentar de plantas contaminadas, quando realiza a sucção da seiva, passando a transmitir para plantas sadias quando novamente alimentar-se.

CONTROLE

Para o controle deste inseto-vetor e consequente redução da doença, devem ser adotados um conjunto de medidas baseadas nos princípios do Manejo Integrado de Pragas. Primeiramente é necessário realizar a amostragem e o monitoramento da cigarrinha-do-milho, e quando houver a presença do inseto-vetor, realiza-se o controle químico por pulverização foliar, quando o milho estiver entre os estágios VE até V8.

No MAPA, há 54 produtos registrados para pulverização foliar e tratamento de sementes. Entre os principais ingredientes ativos usados para controle de D. maidis estão tiametoxam, imidacloprid, lambda-cialotrina, clotianidina e acefato, porém, deve-se dar preferência os inseticidas do grupo dos neonicotinóides, como o tiametoxam que apresentam boa eficiência no controle. Contudo, é importante ressaltar que deve-se utilizar agrotóxicos registrados, respeitando a dosagem e o intervalo entre aplicação, e realizar também a rotação de modos de ação dos inseticidas a fim de evitar selecionar indivíduos resistentes.

O controle químico por tratamento de sementes é mais indicado, sendo que o tiametoxam e o imidacloprid são considerados inseticidas que apresentam melhor desempenho no controle desse inseto-vetor.

O controle biológico pode ocorrer naturalmente através de parasitoides de ovos, como os das famílias Mymaridae e Trichogrammatidae, ninfas e adultos e/ou por predadores. A utilização de fungos entomopatogênico é uma medida eficiente para reduzir populações de D. mailus, atualmente estão registrados no MAPA 16 produtos comercias a base de Beauveria bassiana e 1 de Isaria fumosorosea, podendo apresentar uma eficiência de controle de até 85% quando realizada corretamente em fases iniciais de desenvolvimento do milho.

Embora a cigarrinha-do-milho use plantas da família Poaceae como abrigo, somente em plantas de milho é que este inseto-vetor completa seu ciclo, com isso é fundamental eliminar com antecedência as plantas voluntárias de milho, ou tigueras, em áreas próximas, nas margens das estradas, lotes vagos e outros, a fim de evitar novas populações.

Outro ponto importante, está relacionado a colheita, devendo utilizar maquinas bem reguladas para evitar deixar grãos, espigas e fileiras remanescentes na lavoura e realizar o transporte destes grãos de maneira adequada para evitar a dispersão.

Um ponto importante no manejo da cigarrinha-do-milho é realizar o plantio no período correto, afim de evitar a sobreposição de ciclos da cultura. Também deve-se evitar realizar novos plantios próximos a áreas com plantas velhas e com sintomas de enfezamento.  E sempre que possível realizar a rotação de culturas, evitando o plantio de milho sobre milho e também de gramíneas (Poaceae) na sequência.  Outro fator que merece atenção é adubação, plantas de milho com maior concentração de nitrogênio tente a induzir o aumento da população de insetos sugadores na área, como a cigarrinha-do-milho.

O controle varietal é realizado através da escolha de cultivares que seja resistente aos enfezamentos, além disso, é necessário realizar a rotação destes materiais com o intuito de evitar a quebra de resistência das cultivares. Também é necessário o produtor atentar-se que em regiões com alta incidência de enfezamentos, que a utilização de cultivares suscetíveis acarretará em grandes perdas econômicas.

O manejo correto dado à cultura certamente é chave para o reduzir a população de D. mailus, e consequente redução das doenças associadas ao inseto-vetor, sendo importante frisar que é um compilado de ações que atuam de forma integrada, no qual nenhuma ação isolada é eficaz a longo prazo.

 BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

– ALVES, A., et al. Guia de boas práticas para o manejo dos enfezamentos e da cigarrinha-do-milho. São Paulo: Croplife Brasil; Brasília, DF: Embrapa, 2020, 33p. Disponivel em: http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1129511.

– CONAB. Oitavo levantamento safra 2020/21, Brasília, Maio 2021. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-de-graos

– MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (MAPA). AGROFIT. Sistema de inseticidas fitossanitários. Disponível em: http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons

– SABATO, E. de O.; KARAM, D.; DE OLIVEIRA, C. M. Sobrevivência da cigarrinha Dalbulus maidis (Hemiptera Cicadelidae) em espécies de plantas da família Poaceae. Embrapa Milho e Sorgo (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento nº 175), 2018. Disponivel em: http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1100098

 

 

 

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Tags: Cigarrinha do milho, Controle de pragas, Enfezamento do milho

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