(Curadoria Agro Insight)
Na curadoria de hoje, continuamos falando do uso de inoculantes. Mas agora, com um guia com orientações simples, mas essenciais para o produtor de soja.
A inoculação das sementes de soja é uma prática indispensável para fornecer o nitrogênio (N) que a soja necessita através de uma simbiose. A bactéria inoculada (Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii) nas sementes infecta as raízes da soja, via pelos radiculares, formando os nódulos e, no seu interior, ocorre o processo de Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) que a soja necessita. A FBN pode, dependendo de sua eficiência, fornecer todo o N que a soja necessita, e deve ser maximizada.
Os inoculantes são insumos baratos e fáceis de serem encontrados. O mercado oferece inoculantes líquidos, géis, turfosos e novas formulações. O inoculante líquido pode ser aplicado via semente e via sulco de semeadura. O inoculante à base de turfa só pode ser aplicado via semente. O agricultor deve seguir rigorosamente as orientações de inoculação descritas pelos fabricantes.
a) Inoculação em áreas com cultivo anterior de soja
Em áreas normalmente cultivadas com soja, os ganhos médios de rendimento são da ordem de 8%, desde que o agricultor faça uma inoculação bem feita e com inoculante de boa qualidade. Por isso, recomenda-se realizar a inoculação anual da cultura da soja.
b) Aplicação de fungicidas às sementes junto com o inoculante
A aplicação dos micronutrientes, juntamente com os fungicidas, antes da inoculação, reduz o número de nódulos e a eficiência da FBN. Assim, quando se utilizar fungicidas no tratamento de sementes, como alternativa, pode-se fazer a aplicação de Co e o Mo (2 a 3g/ha e 12 a 30g/ha, respectivamente) por pulverização foliar entre os estádios V3 – V5.
c) Aplicação de fungicidas e micronutrientes nas sementes, junto com o inoculante
A aplicação dos micronutrientes, juntamente com os fungicidas, antes da inoculação, reduz o número de nódulos e a eficiência da FBN. Assim, quando se utilizar fungicidas no tratamento de sementes, como alternativa, pode-se fazer a aplicação de cobalto (Co) e molibdênio (Mo) (2 a 3g/ha e 12 a 30g/ha, respectivamente) por pulverização foliar entre os estádios V3 – V5.
d) Aplicação de micronutrientes nas sementes
O Co e o Mo são indispensáveis para a eficiência da FBN. As indicações técnicas atuais desses nutrientes são para aplicação de 2 a 3 g de Co/ha e 12 a 30 g de Mo/ha, via semente ou em pulverização foliar, nos estádios de desenvolvimento V3-V5.
e) Semente enriquecida com Mo
A utilização de sementes enriquecidas em Mo aumenta a eficiência da FBN, incrementando os rendimentos da soja. O enriquecimento das sementes deve ser feito apenas pelos produtores de semente. Deve-se fazer duas aplicações de 400 g de Mo, utilizando-se uma fonte solúvel em água, entre os estádios R3 – R5-4, com intervalo de, no mínimo, 10 dias.
f) Métodos de inoculação
- Inoculação das sementes com inoculante turfoso – umedecer as sementes com solução açucarada ou outra substância adesiva, misturando bem. Adicionar o inoculante, homogeneizar e deixar secar à sombra. Outra opção é preparar uma pasta de inoculante. Para cada 500g de inoculante devem ser adicionados de 300 a 400 ml de solução açucarada (9 a 7 colheres de sopa de açúcar cristal em um litro de água. A seguir essa pasta deve ser adicionada às sementes. A distribuição da mistura açucarada/adesiva com o inoculante nas sementes deve ser feita, preferencialmente, em máquinas próprias, tambor giratório ou betoneira. Sementes bem inoculadas ficam recobertas, por uma camada fina e uniforme de inoculante.
- Inoculação com inoculante líquido – aplicar o inoculante nas sementes, homogeneizar e deixar secar à sombra.
- Inoculação com inoculante líquido no sulco de semeadura – Aplicar o inoculante diluído em água (aproximadamente 50 litros/ha) no sulco de semeadura. Utilizar dose de inoculante seis vezes superior à dose indicada para as sementes. O uso desse método tem a vantagem de reduzir os efeitos tóxicos do tratamento de sementes com fungicidas e da aplicação de micronutrientes sobre a bactéria.
g) Cuidados na inoculação
- Fazer a inoculação à sombra e manter a semente inoculada protegida do sol e do calor excessivo antes e durante a semeadura.
- Fazer a semeadura logo após a inoculação, especialmente se a semente for tratada com fungicidas e micronutrientes.
- Fazer a inoculação das sementes seguindo a orientação técnica de cada fabricante, para cada tipo de inoculante, para obtenção de máxima aderência e distribuição uniforme do inoculante na semente.
h) Cuidados com o inoculante
Os inoculantes devem ter eficiência agronômica comprovada e estar registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A quantidade a aplicar deve ser suficiente para fornecer no mínimo 600.000 células/semente. O ideal é utilizar 1,2 milhão de células/semente. A base de cálculo para o número de células/semente é a concentração registrada no MAPA, que consta da embalagem.
Não utilizar inoculantes sem registro no MAPA, que não foram transportados e armazenados em locais frescos, que não estejam dentro do prazo de validade e que não apresentem população superior a 1×108 células por grama ou por ml do produto.
i) Nitrogênio mineral
Resultados obtidos em todas as regiões onde a soja é cultivada mostram que a aplicação de fertilizante nitrogenado na semeadura ou em cobertura em qualquer estádio de desenvolvimento da planta, em sistemas de semeadura direta ou convencional, além de reduzir a nodulação e a eficiência da FBN, não traz nenhum incremento de produtividade para a soja. No entanto, se as fórmulas de adubo que contêm nitrogênio forem mais econômicas do que as fórmulas sem N, elas poderão ser utilizadas, desde que não sejam aplicados mais do que 20 kg de N/ha.
Figura 1. Rendimento de soja (kg/ha) em solo com população estabelecida de Bradyrhizobium em função dos tratamentos: não inoculado (NI), sem e com 200 kg de N ha-1 (100 kg na semeadura e 100 kg no início do florescimento – R2) e inoculado, sem e com fertilizante nitrogenado aplicado na semeadura (30 kg de N), em R2, ou no enchimento de grãos – R4 (50 kg de N). Colunas com a mesma letra não diferem estatisticamente (Duncan, 5%). Médias de 20 ensaios, conduzidos por três safras, em Londrina e Ponta Grossa (PR), com as cultivares Embrapa 48 (ciclo curto) e BRS 134 (ciclo médio), sob semeadura direta ou convencional, com seis repetições por tratamento. Fonte: Hungria et al. (2007)
PROCEDIMENTO DE INOCULAÇÃO
Ampla experiência de pesquisa indica que não há necessidade de aplicar fertilizante nitrogenado para a cultura de soja. A demanda de nitrogênio (N) é suprida pelo solo e pela simbiose da planta com o rizóbio específico já existente no solo e/ou fornecido mediante a inoculação das sementes. Além de aumentar os custos de produção, a aplicação de N ao solo inibe a fixação biológica de N e não aumenta o rendimento de grãos. No entanto, se fórmulas de adubo que contêm N forem mais econômicas do que fórmulas sem N, mas com o mesmo teor de P2O5 e K2O, estas poderão ser usadas, desde que não sejam aplicados mais do que 20 kg de N/ha.
Os inoculantes comerciais contêm as estirpesas estirpes de bactérias autorizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pertencentes às espécies Bradyrhizobium japonicum (SEMIA 5079 e SEMIA 5080) e
Bradyrhizobium elkanii (SEMIA 587 e SEMIA 5019).
Para que a fixação simbiótica de N seja favorecida, há necessidade de ser corrigida a acidez do solo e de ser fornecidos os nutrientes que estejam em teores abaixo do nível adequado no solo.
Inoculação de sementes de soja para cultivo em áreas novas
Em áreas de primeiro ano de cultivo, a resposta da planta de soja à inoculação é elevada, porque no solo não há,
originalmente, rizóbio em quantidade e com eficiência suficientes.
Inoculação de sementes de soja para áreas com mais de um ano de cultivo
No sistema convencional de preparo do solo, os ganhos com a inoculação das sementes, em áreas com cultivo anterior de soja, são menos expressivos do que os obtidos em solos de primeiro ano. Contudo, a reinoculação deve ser feita de forma a favorecer as estirpes inoculadas, pois estas necessitam competir com as estirpes nativas do solo para formação de nódulos. No sistema plantio direto, com no mínimo três anos de cultivo de soja inoculada, poderá não haver resposta à inoculação. Porém, considerando-se ser prática de custo baixo, indica-se a reinoculação.
Procedimento de inoculação
A inoculação deve ser feita da seguinte maneira:
• usar inoculantes cuja eficiência agronômica tenha sido comprovada por órgãos oficiais de pesquisa;
• usar a quantidade de inoculante indicada pelo fabricante de modo a atingir quantidade mínima de 1,2 milhões de células viáveis de Bradyrhizobium por semente.
Além disso, o volume de inoculante líquido a aplicar não deve ser inferior a 100 mL, sem qualquer diluição em água, por 50 kg de sementes. Em áreas de primeiro ano de cultivo, usar o dobro dessa quantidade;
• no caso de inoculantes turfosos, misturar primeiramente o produto com solução adesiva (10% de açúcar ou 20% de goma arábica ou solução de celulose substituída a 5% ou solução adesiva do fabricante). O volume final da solução não deve ser superior a 700 mL por 100 kg de semente;
• misturar, uniformemente, o inoculante com as sementes e deixar secar à sombra, efetuando a semeadura no mesmo dia.
Cuidados com a inoculação:
• usar somente inoculantes que estejam dentro do prazo de validade;
• conservar o inoculante em lugar fresco e arejado até o momento de uso;
• realizar a semeadura com umidade do solo adequada para manter a eficiência do inoculante;
• por ocasião da semeadura, evitar que o reservatório de sementes da semeadora seja aquecido em demasia,
pois temperatura elevada pode comprometer a eficiência da inoculação;
• a aplicação conjunta de fungicidas e de inoculantes às sementes, de modo geral, reduz a nodulação e a fixação
biológica de N. Havendo necessidade de efetuar a aplicação de fungicidas, escolher entre os seguintes produtos, por
serem menos prejudiciais ao rizóbio: Carbendazim + Captana, Carbendazim + Tiram ou Carboxina + Tiram. Esses produtos devem ser aplicados antes do inoculante.
REFERÊNCIAS E LINKS RELACIONADOS
Embrapa: Árvore do conhecimento – SOJA
Indicações Técnicas para a Cultura da Soja no RS e em SC, safras 2012/2013 e 2013/2014