Guia de Conduta Ambiental: conselheiro do CCAS fala sobre mudanças climáticas

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A ONG The Nature Conservancy (TNC) tem por missão o combate às mudanças climáticas e a proteção ao ambiente para a produção de água e alimentos saudáveis. Recentemente lançou o documento que empresta o título a este artigo. Nossa intenção é exclusivamente comentá-lo e trazê-lo à luz para discussão pelos elos da cadeia produtiva da soja, sem emitir juízo de valor.

O Brasil é o maior produtor e exportador de soja, a maior parte cultivada no Cerrado, abrangendo 15% da produção mundial. Segundo maior bioma da América Latina – onde vivem um terço da fauna e da flora brasileira – o Cerrado é importante para manutenção da biodiversidade, na estocagem de carbono no solo e abriga importantes bacias hidrográficas.

Gazzoni & Dall´Agnol expuseram no livro A Saga da Soja que a produção mundial de soja se aproximará de 800 Mt até 2050, com o Brasil respondendo por até 40% deste volume. A expansão ocorrerá por ganhos de produtividade – que deveria ser a prioridade absoluta tanto do setor privado quanto do governo – e por expansão de área, mormente no Cerrado. A TNC informa que o Cerrado possui 18,5 milhões de hectares de áreas já antropizadas, que podem rapidamente ser convertidas para cultivo da soja. Com ganhos de produtividade superiores a 1% ao ano, esta área será suficiente para comportar a expansão até 2050, sem necessidade de desmatamento ilegal.

Crédito

A TNC conclama o setor financeiro a desempenhar papel fundamental na alteração da dinâmica da produção de soja no Cerado. Linhas de crédito de custeio estão disponíveis, porém produtos de longo prazo, para a readequação dessa dinâmica, são escassos. Esses são fundamentais para a conversão de pastagens degradadas em áreas de soja, seguida da adoção de melhores práticas, aumentando a produtividade, a rentabilidade e a sustentabilidade das mesmas.

O mercado criou o termo “livre de desmatamento e conversão “ (DCF, na sigla em inglês), para caracterizar a produção que não exigiu o ingresso em áreas nativas. No pós-pandemia, deve ocorrer pressão crescente para o atendimento deste quesito, e o aumento de produção de soja DCF pode gerar benefícios para toda a cadeia. A TNC afirma que oportunidades de negócios e benefícios reputacionais são gerados pelo alinhamento com essa agenda. Traders podem criar relacionamentos contratuais mais longos com produtores e melhorar o acesso a mercados mais exigentes, enquanto produtores podem obter melhores condições de financiamento e evitar a perda de produtividade atribuída aos efeitos do desmatamento regional.

Requisitos essenciais e adicionais

No Guia de Conduta Ambiental a TNC lista alguns requisitos considerados essenciais:

1) Conformidade legal: O produtor deve estar em conformidade com todas as leis e regulamentações aplicáveis em todas as suas propriedades, o que inclui o Código Florestal, leis de trabalho e leis ambientais, entre outras.

2) Data de referência para não desmatamento: O Guia estabelece janeiro de 2018 como a data de referência para não desmatamento, ou seja, a data a partir da qual não deve ocorrer qualquer tipo de desmatamento.

3) Irrigação: sistemas de irrigação devem levar em conta o aumento do estresse hídrico no Cerrado.

Adicionalmente o Guia da TNC também considera importante:

1) A aplicação da data de referência para não desmatamento em todas as propriedades (arrendadas ou próprias) do tomador dos recursos, e não somente na propriedade beneficiada.

2) Os mecanismos financeiros DCF podem encorajar investimentos e empréstimos em regiões do Cerrado que apresentem maior risco de conversão futura. O Guia inclui uma lista de municípios com alto valor de conservação e uma ferramenta em que os usuários podem simular suas próprias regiões prioritárias.

3) Mecanismos financeiros também são uma oportunidade de promover a adoção de boas práticas de gestão que, reconhecidamente, melhorem os indicadores ambientais e sociais, com redução do risco do empréstimo. Exemplos de boas práticas são padrões como RTRS, Proterra e outros arranjos de qualidade estabelecidos pelas traders.

4) Além da exigência legal de título de terra ou contrato de arrendamento, é recomendável que se verifique a existência de conflitos de terra extrajudiciais, que possam ser identificados em lista publicada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e em publicações na imprensa.

5) Adoção dos padrões de desempenho de responsabilidade social e ambiental do IFC (IFC Performance Standards.

Ferramentas

O Guia da TNC fornece métricas específicas e métodos práticos para que o originador dos recursos possa analisar o desempenho da sua carteira, através de duas ferramentas:

1) Dashboard, uma ferramenta de mapeamento dinâmico que permite revisar o impacto do cultivo de soja em qualquer município do Cerrado até 2030, identificando a localização de seus próprios alvos de financiamento e estimando a exposição de uma fazenda a determinados riscos ambientais, como estresse hídrico.

2) Calculadora de Emissão de Carbono Evitada, que estima o impacto que um financiamento de expansão de soja exclusivamente sobre pastagem no Cerrado, pode apresentar em hectares de vegetação nativa preservada e as emissões de CO2 evitadas.

O presente artigo é uma condensação do Guia, o qual pode ser acessado no endereço. Pela importância que o tema apresenta no mercado internacional, encorajamos sua leitura pelos envolvidos na cadeia produtiva da soja, para que possam formar sua própria opinião.

Autoria: Décio Luiz Gazzoni, Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho Científico Agro Sustentável.

Sobre o CCAS

O Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar, de maneira clara, sobre o assunto. O CCAS é uma entidade privada, de natureza associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a sustentabilidade das atividades agrícolas. A agricultura, por sua importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas. É preciso que professores, pesquisadores e especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões, para melhor informação da sociedade. Não podemos deixar de lembrar que a evolução da civilização só foi possível devido à agricultura. É importante que todo o conhecimento acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa, assim como a larga experiência dos agricultores, seja colocado à disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website. Acompanhe também o CCAS nas redes sociais:FacebookInstagramLinkedInInformações para Imprensa:Alfapress ComunicaçõesMariana CremascoMTB: 60.856/SP19 99781-6909[email protected]

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Tags: cerrado, clima, Conselho Científico Agro Sustentável, Desmatamento, Mercado, soja, tecnologia

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