Embrapa estuda criação de rota turística de base comunitária na região de Palmeira dos Índios

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Em março, a região metropolitana de Palmeira dos Índios, no agreste alagoano, recebeu a visita técnica do projeto Paisagens Alimentares, coordenado pela Embrapa Alimentos e Territórios (AL) e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A ação, que contou com a consultoria especializada da Agrosuisse, teve como principal objetivo o levantamento e caracterização da paisagem alimentar local, com um foco na construção de um roteiro turístico que alinhe os sistemas alimentares tradicionais e a rica história dos municípios.

Durante os quatro dias de imersão, uma equipe da Embrapa Alimentos e Territórios (AL) e da Agrosuisse percorreu diversos pontos da região, que concentra a Serra das Pias. As visitas se concentraram em comunidades rurais e áreas urbanas, mapeando e analisando os elementos que compõem a paisagem alimentar das cidades de Palmeira dos Índios, Quebrangulo, Igaci e Estrela de Alagoas. Entre os aspectos investigados estão a produção agrícola local, os sistemas de distribuição e comercialização de alimentos, as práticas culinárias tradicionais, bem como os espaços de sociabilidade e memória relacionados à alimentação.

De acordo com o pesquisador João Roberto Correia, a iniciativa visa não apenas promover o conhecimento e valorização dos recursos alimentares da região, mas também explorar seu potencial turístico de forma sustentável e inclusiva. “A região de Palmeira dos Índios possui uma herança gastronômica e cultural riquíssima, que merece ser preservada e compartilhada com visitantes de outros lugares. Por meio do projeto ‘Paisagens Alimentares’, buscaremos criar em conjunto com os atores regionais um roteiro turístico que não apenas ofereça experiências gastronômicas únicas, mas também conte a história e promova a identidade local”, destaca.

A parceria com a Agrosuisse, consultoria reconhecida internacionalmente por sua expertise em turismo rural e gastronomia sustentável, trouxe uma abordagem inovadora e estratégica para o desenvolvimento do roteiro turístico. “Estamos trabalhando há sete anos com o conceito de paisagens alimentares. Nossa intenção é evitar o desaparecimento de sistemas alimentares tradicionais utilizando o cotidiano, o saber-fazer e a história dos agricultores como motor para a promoção do turismo de experiência”, explica o consultor José Ferreira.

Com base nas informações levantadas durante a visita técnica, a equipe pretende elaborar um itinerário que abranja desde visitas a propriedades rurais, áreas de comunidades indígenas e quilombolas até experiências gastronômicas em festividades que valorizam ingredientes regionais e receitas tradicionais.

A expectativa é que, com a implementação do roteiro turístico baseado no conceito de paisagens alimentares, Palmeira dos Índios possa se destacar como um destino gastronômico de relevância nacional, contribuindo para a geração de renda e a valorização do patrimônio cultural e natural local.

Povos e comunidades tradicionais

Palmeira dos Índios concentra nove aldeias, onde vivem cerca de 3.500 pessoas da etnia Xucuru-Kariri. Na Terra Indígena Mata da Cafurna, com 117 hectares, os cerca de 400 habitantes se alimentam da pesca, caça, agricultura e mantêm as tradições ancestrais do artesanato, rituais de celebração e espirituais e o uso de plantas medicinais.

No espaço Magia da Terra, a equipe do projeto saboreou um almoço com pratos à base de mandioca, coco e banana, preparado pela multifacetada Koram Xucuru. Além de ser uma das líderes da aldeia, ela é cozinheira, curandeira, técnica em enfermagem e terapeuta holística. O miaí, um mingau tradicional feito de mandioca, coco e ervas, foi a estrela do cardápio e agradou o paladar de todos. “Toda a concepção dos pratos é pensada para que alimente o corpo, a alma e o espírito. Que nutra, cure e sustente a pessoa”, explica.

Com a banana, Koram desenvolveu vários produtos, como a maionese vegana feita com a biomassa da banana verde, além da fruta desidratada, geleias, doces, farinhas e bolos. Além da alimentação, a aldeia conta com outros atrativos turísticos que proporcionam com que os visitantes experienciem o cotidiano e a vida junto aos indígenas, como caminhadas nas trilhas, uso do rapé, banhos de argila e ervas. A equipe também participou do toré, um ritual com dança circular, em fila ou pares, acompanhada por cantos ao som de maracá.

Outro local visitado foi a Comunidade Quilombola Povoado Tabacaria, primeira a ter seu território reconhecido no estado de Alagoas. Situada em meio à beleza natural das serras, a comunidade é composta por descendentes de africanos que fugiram da opressão nas fazendas e estabeleceram-se nessa região. Ao longo dos séculos, eles desenvolveram uma cultura única, preservando tradições e costumes da herança afro-brasileira.

Atualmente, 95 famílias com cerca de 500 pessoas vivem no quilombo tendo a agricultura como a principal fonte de sustento, com plantação de feijão, milho, batata e mandioca. Por meio de mobilizações locais, parcerias com organizações não-governamentais e articulação política, eles têm buscado garantir o reconhecimento de seus direitos territoriais, bem como o acesso a políticas públicas que promovam o desenvolvimento sustentável da comunidade.

Elson Paulino, presidente da Associação da Comunidade Remanescente do Quilombo da Tabacarial, conta que estão trabalhando em um projeto de turismo com base comunitária, envolvendo trilhas ecológicas e festas religiosas, para que os visitantes conheçam a alimentação, a mata e as festividades, como a Festa de Nossa Senhora de Nazaré. “A comunidade está empolgada. É um sonho das pessoas. É a chance de mostrar nossa cultura, da gente elevar nossa autoestima”.

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Tags: comidas típicas, comunidades tradicionais, paisagens alimentares, Quilombo, rota turística, Terra indígenas

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