Dicamba: o que você precisa saber

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A principal ferramenta no manejo de plantas daninhas é, sem dúvida, o uso de herbicidas.

O herbicida mais usado e vendido é o glifosato, sistêmico de ação total, não-seletivo e pós-emergente.

A soja comercialmente conhecida como Roundup Ready (RR) é resistente a este produto. Mas o uso repetido do herbicida caracteriza uma situação de alta pressão de seleção, favorecendo o desenvolvimento de variedades resistentes de plantas daninhas.

Desta forma, o dicamba tem ganhado mercado no exterior, por ser uma alternativa no controle de certas plantas infestantes resistentes ao glifosato, como a buva (Conyza spp.), e por apresentar poucas plantas resistentes ao seu mecanismo de ação.

O herbicida dicamba (ácido 3,6-dicloro-2-motoxibenzoico) pertence à classe dos herbicidas mimetizadores de auxina, grupo químico dos ácidos benzoicos, absorvido pelas folhas, caule e raiz, eficiente no controle de plantas daninhas dicotiledôneas em culturas de trigo, milho, cana-de-açúcar e em pastagens, com recomendação semelhante ao 2,4-D.

Por outro lado, há uma preocupação com os danos que podem ocorrer por deriva na cultura da soja, sensível ao mecanismo de ação do dicamba.

 

MECANISMO DE AÇÃO

O dicamba é um herbicida sistêmico mimetizador das auxinas (Grupo O). Causa descontrole da divisão e do crescimento das células vegetais por atuar como uma auxina, um dos hormônios vegetais reguladores de crescimento.

Com a aplicação do dicamba, a concentração de auxina na célula não pode ser regulada pelo metabolismo celular, mantendo-se em altos níveis. Assim, o metabolismo celular fica desregulado, proporcionando elongação celular descontrolada e aumento na síntese proteica.

As substâncias de reserva são mobilizadas e transportadas para os pontos de crescimento, causando crescimento e reprodução celular abundante. Com isso, a planta é levada à morte devido ao esgotamento das reservas e à inativação de mecanismos de reparo das células.

É prontamente absorvido por raízes e folhas sendo um herbicida sistêmico, translocado tanto pelo floema quanto pelo xilema.

A sua translocação em gramíneas é mais restrita, sendo, por tanto, mais usado para o controle de folhas largas.

O sintoma característico é o de ramos torcidos por conta do aumento da plasticidade celular.

Os primeiros sintomas visuais nas plantas dicotiledôneas sensíveis são caracterizados por anormalidades no crescimento, como epinastia e inibição do crescimento com intensificação da pigmentação verde foliar dentro de 24 horas.

Estes fenômenos são seguidos por danos nos cloroplastos, causando clorose e destruição da integridade das membranas e do sistema vascular, culminando em dessecação e necrose dos tecidos.

 

Links relacionados

– Herbicidas: Mecanismos de ação e uso. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/571939/1/doc227.pdf

– Herbicidas. Disponível em: https://www.fcav.unesp.br/Home/departamentos/fitossanidade/leonardobiancodecarvalho/livro_herbicidas.pdf

 

SOJA SENSÍVEL AO DICAMBA

Diversos estudos têm verificado o efeito fitotóxico da deriva de dicamba sobre culturas vizinhas suscetíveis, especialmente a soja.

Segundo Aguiar et al. (2020), que buscavam identificar as espécies mais sensíveis ao dicamba, entre feijão (Phaseolus vulgaris), melancia (Citrullus lanatus), pepino  (Cucumis sativus), beterraba (Beta vulgaris), soja (Glycine max) e tomate (Solanum lycopersicum). O feijão e a soja foram as mais sensíveis.

São relatadas perdas irreversíveis superiores à 12% na produtividade da cultura da soja afetada em V7 (Kelley et al., 2017).

 

Links relacionados

– Aguiar, A.C.M.; Paiva, M.C.G.; Barcellos Júnior, L.H.; Silva, E.M.G., Souza, P.S.R.; Silva, A.A. Seleção de espécies indicadoras de resíduos de dicamba no solo. Agrarian, v.13, n.48, p.187-194, 2020. Dispinível em: https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/agrarian/article/view/10015

– Kelley, K.; Riechers, D.; Nordby, D.; Hager, A. Plant growth regulator injury to soybean. 2017. Disponível em: http://weeds.cropsci.illinois.edu/extension/factsheets/PGR.pdf

 

SOJA RESISTENTE AO DICAMBA

O uso intensivo do glifosato nas plantações de soja, causaram um aumento na pressão de seleção, provocando o surgimento de espécies resistentes. Por outro lado, o dicamba têm oferecido há décadas, um controle efetivo da maioria das plantas daninhas comuns encontradas na produção de milho e, até o momento, não há plantas resistentes.

Neste contexto, está prestes a ser lançada no Brasil (safra 2021/22) a tecnologia Intacta 2 Xtend, soja resistente ao dicamba e glifosato, que atualmente está sendo avaliada por alguns produtores selecionados, e tem como objetivo, controlar as plantas com resistência ao glifosato, assim como, plantas daninhas de folha larga de difícil controle. Além de fornecer proteção de lagartas dos gêneros Helicoverpa e Spodoptera.

Os genes de tolerância ao dicamba foram incorporados juntamente com os de resistência ao glifosato e fornecerão a opção de usar em pré e pós-emergência.

Segundo estudo de Johnson et al. (2010) o uso da soja resistente ao glifosato e ao dicamba, resulta na adição de novos modos de ação do herbicida e melhora a consistência dos programas de controle de plantas daninhas.

Por outro lado, o Instituto Soja Livre, representando várias instituições envolvidas na cadeia nacional de produção da soja convencional, emitiu nota manifestando preocupação com a liberação comercial, pelo Ministério da Agricultura, da tecnologia Intacta 2 Xtend, prevista para ser comercializada pela Bayer-Monsanto em 2021.

Segundo a referida nota, a preocupação advém da aplicação do herbicida dicamba, pois há vários relatos negativos de produtores dos Estados Unidos em relação à deriva do produto, causando danos em culturas sensíveis, especialmente a soja. Além de um provável aumento de volatilidade do dicamba quando em mistura com produtos que diminuem o pH da calda, como por exemplo algumas formulações de glifosato.

 

Links relacionados

– Johnson, B.; Young, B.; Matthews, J.; Marquardt, P.; Slack, C.; Bradley, K.; York, A.; Culpepper, S.; Hager, A.; Al-Khatib, K.; Steckel, L.; Moechnig, M.; Loux, M.; Bernards, M.; Smeda, R. Weed control in dicamba-resistant soybeans. Crop Management doi:10.1094/CM-2010-0920-01-RS.

https://acsess.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1094/CM-2010-0920-01-RS

– Nota sobre a liberação da soja resistente ao Dicamba. Disponível em https://sojalivre.com.br/nota-sobre-a-liberacao-da-soja-resistente-ao-dicamba/

 

Mestre do Manejo

 

EFICIÊNCIA DA APLICAÇÃO DO DICAMBA

            Os herbicidas memetizadores de auxina, como o dicamba, normalmente controlam um grande número de espécies de plantas daninhas dicotiledôneas, incluindo algumas espécies-chave que desenvolveram resistência ao glifosato.

Para o caruru, (Amaranthus palmeri), planta de extrema relevância no território norte-americano, a adição de dicamba ao glifosato eleva consideravelmente os níveis de controle.

No Brasil, entre as espécies resistentes ou tolerantes ao glifosato, que são mais facilmente controladas quando o glifosato é associado ao dicamba é possível destacar, a buva (Conyza spp.), erva-quente (Spermacoce latifolia), a trapoeraba (Commelina benghalensis), a poaia (Richardia brasiliensis) e a corda de viola (Ipomoea grandifolia).

O estudo de Soares et al. (2012), verificou que o dicamba isolado ou em associação com glifosato foi eficaz no controle de uma população de buva resistente ao glifosato.

Segundo Osipe et al. (2016), a adição de dicamba ao glifosato para controlar plantas tolerantes ou resistentes ao glifosato é necessária, principalmente quando essas plantas estão mais desenvolvidas. O dicamba associado ao glifosato acelera e melhora os níveis de controle.

 

Links relacionados

– Osipe, J.B.; Oliveira Jr., R.S.; Constantin, J.; Takano, H.K.; Biffe, D.F. Spectrum of weed control with 2,4-D and dicamba herbicides associated to glyphosate or not. Planta Daninha, v35:e017160815, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/pd/v35/0100-8358-pd-35-e017160815.pdf

– SOARES, D.J.; OLIVEIRA, W.S.; LOPEZ-OVEJERO, R.F.  and  CHRISTOFFOLETI, P.J. Control of glyphosate resistant hairy fleabane (Conyza bonariensis) with dicamba and 2,4-D. Planta daninha, v.30, p.401-406, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-83582012000200020

 

DICAMBA NO BRASIL

No Diário Oficial da União do dia 09/07/2020, a coordenadoria-geral de agrotóxicos do Ministério da Agricultura brasileiro aprovou registros para seis produtos à base de dicamba, sob titularidade de diferentes empresas. Sendo a classificação quanto ao potencial de periculosidade ambiental foi de Classe II (Produto muito Perigoso ao meio ambiente).

Nos Estados Unidos, também em junho de 2020, a venda de herbicidas com dicamba foram suspensas quando um produtor rural do Missouri teve a sua plantação de pêssegos destruída.

Nesse contexto, o vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Antônio Galvan espera que o Brasil acompanhe os EUA e não libere o Dicamba e o Mapa reveja a autorização que foi dada para as pesquisas e uma possível liberação do dicamba já em 2022.

Segundo ele, o dicamba seria ineficiente no Brasil, pois só age no estágio em que a planta está muito pequena, e possui muitos problemas com volatilização e deriva.

 

Considerações

O dicamba é um herbicida já bastante conhecido para o controle de plantas daninhas de folhas largas. Além de ser efetivo no controle das plantas resistentes ao glifosato. Mas por outro lado, a soja é muito suscetível ao seu mecanismo de ação.

Desta forma, o desenvolvimento de cultivares de soja resistentes ao glifosato e ao dicamba poderia causar uma revolução no sistema de produção da soja, facilitando drasticamente o manejo a cultura.

Mas por outro lado, o risco para as cultivares convencionais seria muito grande. Especialmente porque uma característica negativa do dicamba, é justamente a suscetibilidade à volatilização e deriva. Risco que os produtores não estão dispostos a correr.

Neste contexto, é provável que as associações de produtores de soja, que são contra a tecnologia baseada no dicamba, consigam retardar o lançamento dessa tecnologia no Brasil.

 

 

 

 

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Tags: herbicida, mais lidas, manejo de daninhas

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