Crescimento das proteínas alternativas

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(Curadoria Agro Insight)

Na curadoria de hoje, trouxemos um texto da plataforma Visão de Futuro do Agro Brasileiro, sobre as Megatendências do Agro e que aborda as transformações no consumo e na agregação de valor.

Aumento da importância das proteínas alternativas à carne

O tema sobre proteínas alternativas à carne vem sendo discutido há décadas, mas as crescentes preocupações com o desenvolvimento sustentável, bem-estar animal e saúde humana o tornaram, nos últimos anos, um dos tópicos mais quentes na indústria de alimentos e comunidade de pesquisa (He et al., 2020). Os produtos de base vegetal, que mimetizam a carne (ver seção Desenvolvimento de Produtos Plant-Based), construídos a partir de proteínas extraídas de plantas, são apenas uma alternativa à carne tradicional; há também os produtos obtidos a partir de proteínas cultivadas (sintética ou de laboratório) (ver seção Agricultura Celular Transformando Sistemas Agroalimentares: Carnes e Outros Produtos Agropecuários Cultivados In Vitro), proteínas à base de insetos e de algas, já disponíveis no mercado.

Desenvolvimento de produtos plant-based

A cultura do consumo de alimentos plant-based8  é impulsionada não só pelos consumidores vegetarianos e veganos como também pelos flexitarianos (Sociedade Vegetariana Brasileira, 2018). Segundo dados da agência Euromonitor, nos últimos 5 anos o País registrou um crescimento anual de 11,1% nas vendas de produtos substitutos da carne animal, e as projeções são de um crescimento de 40% ao ano, nos próximos 5 anos (Mengue, 2018; Turbiani, 2020).

A soja foi, até há pouco, a principal matéria-prima nacional para produção de proteínas vegetais na forma de concentrados, isolados e texturizados proteicos. No entanto, o mercado vem demandando outras fontes de proteínas vegetais, dando início a uma nova geração de ingredientes proteicos destinados à indústria de alimentos. Desse modo, as pulses, sementes da família das leguminosas como o feijão, ervilha, lentilha e grão-de-bico, são matérias-primas vegetais escolhidas como alternativas por apresentar alto teor proteico (em geral de 20% a 38%). (Seixas; Contini, 2017, 2018; Brasil, 2018).

Essa demanda por ingredientes e produtos vegetais proteicos diversos, no entanto, trouxe desafios de caráter tecnológico, sensorial e de ordem nutricional para o setor produtivo. As pesquisas vêm avaliando se as rotas tecnológicas usualmente aplicadas para a soja se ajustam às outras fontes agrícolas, especialmente aquelas produzidas no Brasil.

Outra importante questão científica a ser respondida está relacionada ao valor biológico das proteínas das pulses. Informações sobre a digestibilidade e a bioacessiblidade de ingredientes e produtos são importantes para direcionar o desenvolvimento de novos produtos.

Com o processo de amadurecimento e expansão da oferta de produtos, o consumidor aguarda a redução do preço, que é hoje uma das principais barreiras a serem superadas (Good Food Institute, 2021). Acredita-se que, com o advento de novos ingredientes, especialmente com o aumento da produção nacional destes, e com a incorporação de novas tecnologias, em alguns anos os produtos plant-based poderão disputar com os similares à base de proteína animal. Embora constitua-se ainda um nicho de mercado, a certeza que se tem é que os alimentos plant-based estão se consolidando como uma alternativa no cardápio do brasileiro e que o mercado seguirá ampliando a oferta.

O público consumidor das proteínas sem carne atualmente representa 1% do mercado mundial, mas estimativas apontam o potencial de crescimento para 10% na próxima década (The Economist, 2019). Segundo os fabricantes, o alvo dessa nova geração de produtos não é apenas o consumidor vegano, mas também o carnívoro que está disposto a experimentar novidades. Para conquistar essa maior fatia do mercado, os produtos são posicionados ao lado das carnes tradicionais nos corredores dos supermercados, e não em segmentos à parte (Morgan Stainley, 2020).

Do ponto de vista ambiental, os produtos proteicos similares (em aparência) à carne, de base vegetal, representam algumas vantagens em relação à carne tradicional. Análises com duas das maiores líderes desse seguimento, Beyond Burguer e Impossible Burger, revelaram que os hambúrgueres vegetais economizam até dez vezes mais na carga ambiental do que as carnes provenientes de animais.

Apesar de baixa, a aceitação de alternativas substitutas à carne convencional deve crescer, especialmente as proteínas cultivadas (também chamadas de sintética/de laboratório), para a qual a perspectiva é que suas características superem outras formas de proteínas, aproximando-se da carne convencional, e até mesmo superando-a em sabor e textura. Entretanto, ainda existem riscos e incertezas relacionados a esse produto, como segurança do alimento e custo de produção.

Singapura foi pioneira na comercialização de nuggets de frango da empresa Eat Just em 2020, demonstrando que o mercado de proteína cultivada (similar à carne) já é realidade (Morgan Stainely, 2020). A expectativa é de mais inovações. As proteínas cultivadas podem mudar cardápios de todo o mundo, oferecendo produtos até então inviáveis, como carne de wagyu, salmão selvagem, avestruz, alpaca, entre outras opções exóticas, a preços competitivos. É um mercado com potencial para atingir 25 bilhões de dólares em 2030 (Brennan et al., 2021).

A indústria de proteína cultivada (similares em aparência à carne) ainda está em estágios iniciais, com poucas avaliações conclusivas sobre o seu impacto ambiental, mas com possibilidade de se consolidar como fonte de proteína e causar menor impacto ambiental (Brennan et al., 2021).

Outro setor emergente de proteínas alternativas é o de insetos. Consumidos por 2 bilhões de pessoas em dietas regulares, os insetos devem se tornar um alimento cada vez mais comum. Seu alto valor nutricional, baixo impacto ambiental, comparado com outras fontes de proteína, e o maior interesse em fontes alternativas de alimentos são algumas das motivações (FAO, 2021).

Apesar da resistência psicológica e regulamentar de países ocidentais, há sinais de mudanças. Em 2017, a Coop, segunda maior rede de supermercados suíços, lançou hambúrgueres e bolinhos de larvas; pesquisadores do Space10, laboratório de inovação da Ikea, estão desenvolvendo hambúrgueres de insetos e almôndegas de larvas para os restaurantes da rede sueca, entre outros (World Economic Forum, 2018). A previsão é de que o mercado global de insetos comestíveis cresça a uma taxa de Compound Annual Growth Rate (CAGR) de 26,5% de 2020 a 2027, chegando a 4,63 bilhões de dólares em 2027 (Meticulous Research, 2020).

As algas são também proteínas substitutas à carne com grande potencial de crescimento. Ricas em proteínas e outros nutrientes essenciais, como antioxidantes, clorofila, vitaminas, minerais e fibras (Meticulous Research, 2021), as microalgas são cada vez mais pesquisadas e introduzidas como um alimento nutritivo para humanos e animais (Sainsbury, 2019). Por não precisarem de água doce na sua produção, são chamadas de alimento do futuro, além de sustentáveis, possuem custo competitivo.

Apesar do grande potencial, a introdução progressiva de proteínas alternativas na dieta humana é um campo pouco conhecido, demandando investimento em pesquisa, marcos regulatórios, políticas públicas e comunicação com o consumidor.

 

Agricultura celular transformando sistemas alimentares: carnes e outros produtos agropecuários cultivados in vitro

A agricultura celular surge como opção para minimizar os impactos negativos dos sistemas produtivos convencionais (emissão de gases de efeito estufa, desmatamento, uso intensivo de agroquímicos, perda da biodiversidade, alta demanda hídrica, aspectos éticos relacionados ao bem-estar animal, etc.) e para ofertar proteína de qualidade para a população mundial nas próximas décadas. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2014), a expectativa é de que, até 2050, a produção de alimentos precise aumentar em 70% para suprir as demandas da população. Nesse contexto, carnes artificiais se tornam uma pauta importante para além dos círculos vegetarianos e veganos, e o Brasil está no foco dessa proposta.

A bioimpressão ou impressão 3D9 surge como opção para resolver os desafios ligados à estrutura/textura da carne artificial. O método mais comum é o de extrusão, em que as fibras musculares passam por bicos injetores que desenham camada por camada até formar a estrutura de um músculo. Os desafios dessa tecnologia estão ligados a custo de equipamentos, falta de mão de obra qualificada, gasto de energia e capacidade de produção, além dos estudos sobre ingredientes e materiais com melhores resultados (Ramachandraiah, 2021).

O mercado da agricultura celular é imenso. Startups no mercado de carne cultivada cresceram 85% entre 2017 e 2018, com previsão de que o mercado de substitutos da carne exceda 30 bilhões de dólares até 2030 (IDTechEx, 2021). Em 2020, Singapura se tornou a primeira região do mundo a conceder regulamentação para venda do frango cultivado pela EAT JUST, produto com 70% de frango cultivado e 30% de base vegetal (CNBC, 2021). Outras empresas estão lançando híbridos no mercado mundial.

A carne cultivada é mais um desafio ao desenvolvimento da agropecuária brasileira. Produtos cárneos plant-based, desconhecidos no passado recente, estão presentes nas prateleiras dos supermercados e têm aceitação cada vez maior pelos consumidores mais exigentes. O que era negócio de pequenas empresas e startups tornou-se um mercado promissor, no qual estão as grandes empresas de carnes animais como a JBS/Seara, a Marfrig e a BRF/Sadia. Agora é a vez da carne cultivada. A BRF, em parceria com a Aleph Farms, promete inovar. Porém, a Nutricel foi a primeira startup brasileira a obter financiamento para investir na carne cultivada em laboratório.

Nesse contexto, algumas etapas devem ser exploradas, como a realização de um estudo prospectivo do estado da arte e do mercado atual e futuro da agricultura celular brasileira, bem como o mapeamento de um portfólio de empresas e instituições que atuam ou têm perspectivas em atuar nessa área, identificando oportunidades e desafios para fomentar um plano de ação para o desenvolvimento ordenado e estratégico do cultivo de carne no Brasil. Existem importantes núcleos de estudos em engenharia celular como o da Universidade Federal do Paraná. Outros núcleos, como o da Nutricel, partiram para experimentação prática e buscam a formulação e processos otimizados para a obtenção de produtos escalonáveis e sustentáveis.

A Embrapa possui Unidades com vasta experiência em biologia celular, produção de alimentos em biorreatores e desenvolvimento de ingredientes plant-based que podem agregar valor a propostas em parceria com centros de excelência em cultivo celular. Poderiam focar em projetos de pesquisa para o desenvolvimento de meios de cultura à base de biopolímeros e extratos de algas marinhas, no desenvolvimento de processos de fermentação de células animais e de extrusão de pools de fibras celulares para construir desenhos de hole cut (pedaços inteiros de carne cultivada). A reconfiguração do sistema de produção da carne demanda também uma mudança radical na nossa compreensão sobre os alimentos. Por isso, pesquisas com mercado e perfil do consumidor podem auxiliar o setor agropecuário no desenvolvimento de produtos inovadores, sem perda do mercado consumidor tradicional da carne animal.

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Tags: certificação, embrapa, Megatendências, rastreabilidade

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