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Crédito de carbono na pecuária

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(Curadoria Agro Insight)

Olá pessoal do Agro! Hoje vamos tratar de um assunto de grande relevância, que é a possibilidade da pecuária gerar créditos de carbono. Para isso, trouxemos um material bastante atual da Embrapa, que está fazendo um trabalho de  quantificação do total de carbono que pode ser sequestrado por diferentes sistemas de produção pecuários.

O manejo adequado das pastagens no Brasil, apresenta grande potencial para a redução dos gases do efeito estufa devido à elevada produção de forragem e ao acumulo de carbono no solo.

No Brasil, a produção de carne é fortemente embasada em pastagens, porém, em grande parte, em sistemas extensivos com baixa produtividade e pastagens degradadas. Representando, por um lado, um grande desafio para o País, embora também seja uma oportunidade para a readequação e otimização das áreas produtivas com vistas à geração de aumento de renda e de menor impacto ambiental, tanto relacionado à mitigação das emissões de gases do efeito estufa (GEEs), quanto à diminuição do desmatamento ilegal (ALMEIDA et al., 2020).

Neste contexto, um estudo, realizado pela Embrapa, com quatro níveis de intensificação de sistemas pastoris de produção pecuária, indica que a intensificação média apresentou a pegada de carbono mais baixa, com possíveis créditos de carbono. Resultado altamente promissor para o setor, que pode vir a obter remuneração em função da utilização do sistema produtivo adequado.

Foto: Embrapa

1. POR QUE AS PASTAGENS DEGRADADAS SÃO UM SÉRIO PROBLEMA?

Segundo a pesquisadora da Embrapa, Patrícia Perondi Anchão Oliveira, as pastagens degradadas apresentaram um balanço de carbono bem desfavorável, pois além das emissões dos animais também ocorreram emissões do solo, provenientes da decomposição e perda da matéria orgânica das áreas em processo de degradação.

Além do alto impacto ambiental, as pastagens degradadas apresentam baixa produtividade, o que aumenta a pegada de carbono por unidade de produto. Outro problema é o desperdício de terra, devido aos baixos índices zootécnicos obtidos (baixa lotação animal, baixa produção de peso vivo por hectare e baixo rendimento de carcaça), necessitando de mais área para a produção de carne e aumentando a pressão sobre os remanescentes florestais do bioma Mata Atlântica.

2. PESQUISA SOBRE NÍVEIS DE EMISSÕES E SEQUESTRO DE CARBONO NA PECUÁRIA

Um estudo, feito em quatro níveis de intensificação de sistemas pastoris de produção pecuária, indica que a intensidade média apresentou a pegada de carbono mais baixa, com possíveis ganhos de créditos de carbono. Os trabalhos foram desenvolvidos no bioma Mata Atlântica, um dos mais impactados pelas ações do homem sobre o ambiente, por se localizar em área com crescente crescimento urbano.

De acordo com Oliveira, a recuperação de pastagens e a intensificação da produção de bovinos nessas áreas melhoram o sequestro de carbono e mitigam as emissões de gases de efeito estufa, além de ter um efeito poupa-terra.

Os sistemas de produção intensificados com média lotação animal apresentaram os melhores resultados, especialmente se computados os insumos. No caso citado pela pesquisadora, o crédito de carbono equivale ao crescimento de 6,27 árvores de eucalipto por garrote a cada ano.

O sistema com quadro mais preocupante é o de pastagens degradadas, cujo balanço resultou em saldo negativo. Em situações assim, chegam a ser necessárias 63,9 árvores para o abatimento das emissões de cada garrote mantido nessas áreas. Os resultados foram publicados na revista britânica Animal, da Universidade de Cambridge, Inglaterra. O trabalho é assinado por oito pesquisadores, cinco deles da Embrapa Pecuária Sudeste.

Esses resultados embasam a produção de carne carbono neutro em sistemas de produção pastoris, em que não somente as emissões de GEE são contabilizadas, mas também há possibilidade de usar o sequestro de carbono no solo das áreas de pastagens.

Oliveira relata que a pesquisa teve por objetivo elucidar o problema da emissão de gases de efeito estufa pela pecuária, frequentemente considerada a grande vilã do aquecimento global e das consequentes mudanças climáticas. Ela conta que os experimentos foram desenhados para cobrir as lacunas no conhecimento sobre a real contribuição dos sistemas de produção da pecuária brasileira para as emissões de GEE e para o aquecimento global.

No caso da pecuária, foi possível compreender melhor os benefícios da parte do sequestro de carbono realizada pelo crescimento das plantas, seja pelo acúmulo no solo das pastagens ou no caule das árvores. Apesar de os sistemas avaliados não possuírem árvores, as taxas anuais de remoções de GEE de árvores de eucalipto de um sistema silvipastoril com brachiaria, que faz parte de outro experimento, foram utilizadas para calcular o número hipotético de árvores necessárias para abater a emissão anual de cada sistema de produção.

No caso dos sistemas que estavam com créditos de carbono, devido ao sequestro do elemento no solo das pastagens, a mesma taxa foi usada para calcular o quanto esse crédito equivaleria em número de árvores hipoteticamente crescendo nos sistemas de produção.

O balanço de carbono é uma ferramenta que permite apontar tanto o potencial de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa, quanto de prospectar sistemas de produção passíveis de receber créditos de carbono. Também é capaz de identificar os sistemas de produção que podem causar prejuízos ao meio ambiente do ponto de vista das mudanças climáticas, uma vez que identifica também aqueles que mais emitem do que sequestram carbono.

Entre os impactos gerados pela descoberta está a possibilidade de adoção de sistemas de produção mais sustentáveis e de se obter produtos pecuários com baixa pegada de carbono. Essa “contabilidade do carbono” pode favorecer a exportação da carne brasileira, por exemplo, já que o mercado externo valoriza cada vez mais a produção sustentável.

2.1. Objetivo da pesquisa

O objetivo principal da pesquisa foi contribuir para a competitividade e sustentabilidade da pecuária brasileira por meio do planejamento, desenvolvimento e organização de dados que estimaram a participação dos sistemas de produção agropecuários na dinâmica de gases de efeito estufa em quatro níveis de intensificação (desde as pastagens degradadas até as pastagens altamente intensificadas e irrigadas), visando subsidiar políticas públicas e alternativas de mitigação.

2.2. Avaliações

A pesquisa avaliou cinco níveis de intensificação:

  • pastagem degradada;
  • pastagem recuperada com corretivos e fertilizantes e média lotação animal;
  • pastagem intensificada com corretivos e fertilizantes e alta lotação animal;
  • pastagem intensificada com corretivos, fertilizantes, irrigação e alta lotação animal;
  • vegetação natural.

A vegetação natural foi o controle positivo e a pastagem degradada foi o controle negativo.

Foi realizado o balanço de carbono entre as emissões de gases de efeito estufa – GEE (metano ruminal, metano do sistema solo-planta, óxido nitroso do sistema solo-planta) – e a remoção dos gases de efeito estufa (sequestro de carbono no solo).

Para o cálculo da pegada de carbono, além da emissão de GEE, foi contabilizada a emissão de GEE da fabricação dos fertilizantes, dos combustíveis fósseis das operações agrícolas realizadas e do uso de energia elétrica para irrigação, de acordo com cada nível de intensificação.

Também foi calculado o número de árvores necessárias para abater a emissão de GEE de cada garrote produzido nos diferentes sistemas de produção avaliados. De acordo com Oliveira, foi analisada ainda a taxa anual de sequestro de carbono de árvores de eucalipto e, com esse valor, foram calculadas quantas árvores precisariam ser plantadas e mantidas para cada animal existente nos sistemas de produção.

2.3. Principais resultados

O sistema degradado apresentou balanço de carbono negativo, a maior emissão de gases de efeito estufa por quilo de peso vivo produzido e a maior emissão de GEE por quilo de carcaça, necessitando de 63,9 árvores para o abatimento das emissões de cada garrote mantido em pastagens degradadas.

O sistema irrigado com alta lotação apresentou balanço de carbono negativo maior que o degradado, entretanto, como sua produção de peso vivo e seu rendimento de carcaça foram maiores, a emissão por quilo de peso vivo produzido foi diluída e menor que o sistema degradado.

Na prática, isso significa que esse sistema requer menor número de árvores para o abatimento das emissões (29,11 árvores/garrote). Mesmo computando todos os insumos utilizados, a emissão por quilo de carcaça foi menor para o sistema intensivo irrigado do que para o sistema degradado.

Já os sistemas de produção intensificados de sequeiro com média lotação animal em pastagens de brachiaria (uso de corretivos e fertilizantes, com dose de 200 kg N/ha/ano) e alta lotação animal em pastagens de Panicum maximum (uso de corretivos e fertilizantes, com dose de 400 kg N/ha/ano) apresentaram maior sequestro de carbono no solo em relação às emissões de GEE.

Consequentemente, o balanço de carbono foi positivo, o que representaria créditos de carbono equivalentes ao crescimento de 6,27 de eucalipto para cada garrote no sistema de sequeiro com média lotação, e 1,08 árvore para cada garrote no sistema de sequeiro com alta lotação. Entretanto, quando computados os insumos, somente o sistema com média lotação permaneceu com créditos de carbono.

 

3. BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

– P.A. OLIVEIRA, A. BERNDT, A.F. PEDROSO, T.C. ALVES, J.R.M. PEZZOPANE, L.S. SAKAMOTO, F.L. HENRIQUE, P.H.M. RODRIGUES. Greenhouse gas balance and carbon footprint of pasture-based beef cattle production systems in the tropical region (Atlantic Forest biome). Animal, v.14, p.s427-s437, 2020. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1751731120001822?via%3Dihub

– SEGNINI, A.; XAVIER, A. A. P.; OTAVIANI JUNIOR, P. L.; OLIVEIRA, P. P. A.; PEDROSO, A. de F.; PRAES, M. F. F. M.; RODRIGUES, P. H. M.; MILORI, D. M. B. P. Estoques de carbono e humificação no solo em pastagens com diferentes níveis de intensificação no Brasil. Capítulo em Livro Técnico-Científico. p.106-107, 2020. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/211566/1/Diretrizes-tecnicas-para-producao-de-carne.pdf

– ALMEIDA, R. G. de; ALVES, F. V. (Ed.). Diretrizes Técnicas para Produção de Carne com Baixa Emissão de Carbono Certificada em Pastagens Tropicais: Carne Baixo Carbono (CBC). Campo Grande, MS: Embrapa Gado de Corte, 36p., 2020. (Embrapa Gado de Corte. Documento, 280). Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/211566/1/Diretrizes-tecnicas-para-producao-de-carne.pdf

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Tags: baixo-carbono, bovinocultura, carbono, emissao-de-gases-de-efeito-estufa, mais lidas, mudancas-climaticas, Pecuária, producao-animal

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