Controle biológico de nematoides, uma ótima alternativa!

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Controle biológico, por que têm aumentado tanto?

O controle biológico de pragas e doenças tem aumentado muito nos últimos anos, isso se dá por vários motivos, busca por uma agricultura mais sustentável, produtos mais seletivos/específicos, resistência de pragas a princípios ativos químicos.

Para o manejo de nematoides esse crescimento ocorre devido a eficiência dos produtos em controlar o nematoide durante todo o ciclo da cultura, pois não tem efeito residual e também aos benefícios a cultura que alguns agentes de controle biológico acabam proporcionando.

Outro ponto importante é que os produtos biológicos são registrados para o alvo (nematoide) e podem ser utilizados em qualquer cultura em que se tenha o alvo indicado, isso facilitou o uso em culturas que ainda não possuíamos produtos químicos registrados, visto que o registro dos químicos deve ser feito obrigatoriamente para a cultura e alvo.

O objetivo desse artigo é mostrar como foi o desenvolvimento dos produtos biológicos para o controle de nematoides ao longo do tempo e como esses produtos funcionam e o que temos disponível até o momento e seus respectivos alvos.

1. CONTROLE BIOLÓGICO, O QUE É?

Controle biológico de nematoides consiste no uso de um organismo vivo para o controle do patógeno (nematoide), de forma direta ou indireta. São vários os organismos que tem potencial para controlar diversas espécies de nematoides.

Os produtos comerciais a base de organismo vivos para o controle de nematoides começaram a ser comercializados em 2006, antes não existia nenhum produto comercial biológico com esse objetivo, algumas dificuldades eram encontradas, principalmente para estabilizar o organismo vivo em forma de produto, encontrar uma forma que o organismo tivesse um tempo de prateleira adequado para durar até ser comercializado e aplicado no campo.

Atualmente existem mais de 10 organismos registrados para o controle biológico, distribuídos em muitos produtos comerciais e mistura de agentes de controle também já é uma realidade.

Todos os produtos comerciais para o manejo de nematoides, tem indicação para aplicação em T.S. (tratamento de sementes), sulco de plantio (culturas perenes e anuais) ou pulverizado no solo (culturas perenes, já instaladas).

2. COMO OS PRODUTOS BIOLÓGICOS FUNCIONAM?

Os produtos biológicos são aplicados na área das formas descritas anteriormente, se os microrganismos aplicados encontrarem condições favoráveis para sobrevivência e multiplicação, podemos ter efeitos positivos no manejo.

Alguns agentes não tem estrutura de resistência, os produtos estão prontos para agir no nematoide, assim quando aplicado, deve ter condição de se estabelecer, multiplicar e na sequência controlar os nematoides, os produtos que são aplicados em suas formas inertes, podem ficar aguardando condição ideal para se estabelece, isso pode ser uma vantagem, pensando que nem sempre as condições na semeadura são ideais para o estabelecimento dos agentes de controle biológico.

O modo de ação dos produtos é bem específico, devido a característica de cada agente de controle, se estamos falando de controle biológico de nematoides, os produtos registrados até o momento são a base de fungos e bactérias (Tabela 1).

 Tabela 1. Agentes de controle biológico de nematoides e seus respectivos alvos.

Agente de controle Alvo Tipo de agente
Trichoderma harzianum Pratylenchus brachyurus; P. zeae Fungo
Trichoderma koningiopsis M. incognita; P. brachyurus; Heterodera glycines
Purpureocilium lilacinum M. incognita; M. javanica; P. brachyurus
Pochonia chlamydosporia M. javanica
Pasteuria nishizawae H. glycines Bactéria endoparasita
Bacillus firmus M. javanica; P. brachyurus Rizobactéria
Bacillus subtilis Meloidogyne sp.; P. brachyurus
Bacillus velezensis M. incognita
Bacillus amyloliquefaciens M. incognita; M. javanica; H. glycines; P. brachyurus
Bacillus methylotrophicus M. javanica; P. brachyurus
Bacillus subtilis + B. licheniformis M. incognita; M. javanica; Radopholus similis
Bacillus subtilis + B. licheniformis + P. lilacinum M. incognita; P. brachyurus Rizobactéria + fungo

O fungo Purpureocilium lilacinum foi o primeiro agente de controle biológico registrado como nematicida microbiológico, é um fungo quitinolítico, que se alimenta de ovos de nematoides, é importante salientar que somente a fase de ovo possui quitina na cutícula, os juvenis não apresentam cutícula com quitina, como ocorre nos insetos, a composição da cutícula é proteica, além de outras substâncias.

O gênero Trichoderma sp. podem agir de forma direta, liberando substâncias que tem efeito deletério em juvenis e ovos de nematoides, como: quitinases, proteases, lipases, glucanases. Algumas cepas podem induzir resistência sistêmica na cultura, além de criar barreira mecânica nas raízes por colonizar a rizosfera antes dos nematoides.

Além dos citados, a Pochonia chlamydosporia também é um fungo com efeito em ovos de nematoides, o crescimento micelial se dá ao redor das massas de ovos de nematoides sedentários, como Meloidogyne sp. (nematoide das galhas).

Em relação as bactérias registradas, podemos destacar dois grupos: endoparasitas e bactérias colonizadoras de raízes.

A bactéria Pasteuria nishizawae é endoparasita e tem registro especifico para o nematoide de cisto da soja, a bactéria se fixa ao corpo dos juvenis e fêmeas e se reproduz dentro do nematoide, causando a morte.

Bactérias colonizadoras de raízes (rizobactérias) são bem presentes no manejo de nematoides, existem cinco espécies de Bacillus sp. registrados para o controle, além das misturas de espécies num mesmo produto.

Bacillus sp. são conhecidos pelas várias formas de controle, seja direta ou indiretamente no nematoide, primeiro é importante destacar que pelo fato de se tratar de uma rizobactéria, a bactéria disputa espaço com o nematoide, criando um biofilme ao redor da rizosfera, esse biofilme tem função de barreira mecânica e química, mecânica porque dificulta a entrada dos nematoides e química porque liberam substâncias que tem efeito nos nematoides, além disso essa bactéria também se alimenta dos exsudatos radiculares liberados pela planta, com isso o nematoide fica desorientado no solo e acaba morrendo por inanição (fome).

Algumas cepas também podem induzir resistência, além do gênero Bacillus também ser conhecido como PGPR (Plant Growth Promoting Rhizobacteria = rizobactérias promotoras de crescimento radicular de plantas), que promovem o crescimento radicular, auxiliando na tolerância da planta a presença do nematoide (efeito de diluição), como isso acontece? Os nematoides que conseguem penetrar nas raízes vão estar mais distribuídos, pois a planta tem maior volume radicular, os danos são amenizados.

3. COMO ESCOLHER UM BOM PRODUTO?

Antes de escolher qual produto vai usar, é essencial a diagnose dos nematoides que estão presentes na área, pois o controle biológico é específico, nematoides não são todos iguais.

Outro ponto importante é observar como é a ação do microrganismo, se o mesmo agir em ovos, podemos aplicar para nematoides que tem maior ovoposição, por exemplo, nematoides sedentários que ovopositam em massa de ovos (Meloidogyne sp.).

Se o produto age em juvenis/adultos, impede a entrada dos nematoides, podemos utilizar para nematoides migradores, pois sem a entrada dos nematoides na raiz, não ocorre o dano.

O que devemos levar em consideração para escolher o produto?

  • Sempre adquirir os produtos com registro como nematicida microbiológico, garantindo que o produto foi testado para as espécies indicadas.
  • Adequar para sua realidade, a maioria dos produtos são aplicados via tratamento de sementes ou sulco de plantio, opte pelo produto que você pode aplicar com qualidade.
  • Por se tratar de organismos vivos, seguir as recomendações dos fabricantes quanto a armazenamento, validade, aplicação, entre outros.
  • Não misturar produtos sem orientação de um agrônomo ou especialista, você pode não ter o resultado esperado.

4. CONSIDERAÇÕES

O controle biológico veio para ficar quando o assunto é manejo de nematoides, além dos benefícios no controle dos nematoides na área, alguns agentes tem efeito sob a cultura, trazendo mais sanidade, desenvolvimento radicular, entre outros que ajudam a mesma a tolerar a presença dos patógenos.

BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

– BROWN, D.J.F.; FERRAZ, L.C.C.B. Nematologia das plantas: fundamentos e importância. Manaus: Norma Editora, 2016. 251 p. Disponível em: http://www.nematologia.com.br/files/livros/1.pdf

– MERIAN PAUL DAS; L. JEYANTHI REBECCA; S.S. SHARMILA; ANU ANKITA BANERJEE; DHIRAJ KUMAR. Identification and optimization of cultural conditions for chitinase production by Bacillus amyloliquefaciens SM3. Journal of Chemical and Pharmaceutical Research, v.4, n.11, p.4816-4821, 2012. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/276319889_Identification_and_optimization_of_cultural_conditions_of_chitinase_production_by_Bacillus_amyloliquefaciens_SM3

– VIEIRA JUNIOR, J.R.; FERNANDES, C.F.; ANTUNES JÚNIOR, H.; SILVA, M.S.; SILVA, D.S.G.; SILVA, U.O. Rizobactérias como agentes de controle biológico e promotores de crescimento de plantas. Embrapa Rondônia, Documentos 155, 2013. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1018841/rizobacterias-como-agentes-de-controle-biologico-e-promotores-de-crescimento-de-plantas

 

 

 

 

 

 

 

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Tags: Bacillus, controle biológico, Nematoides, Pasteuria, Pochonia, Purpureocilium, Trichoderma

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