(Curadoria Agro Insight)
Hoje trouxemos uma curadoria sobre essa praga que trás tantos problemas aos produtores de milho.
As doenças conhecidas como enfezamentos do milho, são transmitidas pela cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) e podem causar prejuízos de 70% na produção, sendo fator de grande preocupação para produtores e técnicos.
1. MAS O QUE É O ENFEZAMENTO DO MILHO?
Os enfezamentos são causados por bactérias da classe Mollicutes, que infectam as plantas de forma sistêmica resultante da colonização e infecção dos tecidos do floema.
No milho, dois sintomas de enfezamento são conhecidos, o enfezamento pálido e o enfezamento vermelho. Nos dois casos a transmissão é feita pela cigarrinha do milho.
A cigarrinha também é responsável pela transmissão do vírus Maize rayado fino virus – MRFV.
2. QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS SINTOMAS?
- Redução de crescimento e desenvolvimento;
- Entrenós curtos;
- Proliferação e malformação de espigas;
- Espigas improdutivas
- Enfraquecimento dos colmos com favorecimento às infecções fúngicas que resultam em tombamento.
Quando a infecção ocorre cedo, a planta fica pequena e não cresce, daí o nome de “enfezamento”, como se a planta ficasse enfezada.
3. QUEM É A CIGARRINHA DO MILHO?
A cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) é considerada uma das pragas mais importantes da cultura. Possui coloração palha com manchas negras no abdômen e duas manchas negras na cabeça, similares a olhos escuros.
4. COMO É A TRANSMISSÃO DOS PATÓGENOS PELA CIGARRINHA?
A cigarrinha se alimenta da seiva de uma planta de milho doente e quando se alimentam de plântulas de milho sadias, transmite os patógenos que causam os tipos de enfezamento.
5. QUAIS SÃO AS PLANTAS HOSPEDEIRAS DA CIGARRINHA?
O milho é o único hospedeiro conhecido no Brasil. Entretanto, o sistema de cultivo do milho no Brasil, realizado em duas safras (verão e safrinha), permite que o ciclo de vida da cigarrinha se complete, favorecendo o aumento de sua população.
Outro problema é a resistência do milho aos herbicidas, dificultando o controle da tiguera (milho voluntário que fica nas lavouras durante todo ano). Desta forma, a manutenção de plantas de milho nas áreas de lavoura é uma das principais responsáveis pela permanência dos patógenos e da cigarrinha.
6. QUE CONDIÇÕES FAVORECEM A INCIDÊNCIA DAS CIGARRINHAS?
- Temperaturas acima de 17 °C à noite e de 27 °C ao dia;
- Ocorrência de lavouras de milho em diferentes idades, favorecendo a multiplicação e a migração das cigarrinhas de lavouras com plantas adultas infectadas para novas lavouras com plântulas nos estádios iniciais de desenvolvimento;
- Presença contínua no campo de plantas de milho oriundas de grãos remanescentes da colheita anterior, denominadas tiguera ou milho-guacho;
- Cultivares suscetíveis.
7. COMO FAZER O CONTROLE?
- Realizar monitoramentos constantes na entressafra do milho para identificar presença de plantas tiguera e eliminá-las;
- Realizar a colheita de milho bem feita de forma a minimizar os restos de grãos no campo;
- Evitar a implantação de lavouras novas próximas de lavouras mais velhas;
- Uso de herbicidas para o controle do milho tiguera;
- Controle das cigarrinhas através do tratamento de sementes;
- Controle das cigarrinhas através de pulverizações (até os 40dias após a emergência).
8. USO DE HERBICIDAS
O glifosato é uma alternativa eficaz para o controle de milho voluntário oriundo de cultivares que não apresentam resistência a este herbicida. Mas, a alta adoção de cultivares de milho GR tem contribuído para o aumento da frequência destas plantas nas áreas.
Neste contexto, deve-se utilizar herbicidas com outros mecanismos de ação, com destaque para os graminicidas. Os inibidores da acetil-coenzima A-carboxilzase (ACCase), se caracterizam por serem efetivos no controle de diversas gramíneas, dentre elas o milho.
9. CONTROLE DAS CIGARRINHAS
A recomendação é que seja feito o tratamento de sementes para controle das cigarrinhas nos estádios iniciais de desenvolvimento das lavouras e complementar com a aplicação de inseticidas que também deve ser realizada na fase inicial de desenvolvimento da cultura.
É importante fazer o controle da cigarrinha até os 40 dias após a emergência. Após esse período não são observados efeitos positivos.
A maior parte das sementes já vem pré-tratadas, mas é preciso confirmar se inclui os produtos registrados para controle da cigarrinha do milho.
O pousio pode ser uma estratégia em áreas muito infestadas, pois a ausência de plantas de milho vai contribuir para a diminuição da sobrevivência destes insetos no período de entresafra.
Tabela 1. Produtos registrados para controle da cigarrinha do milho via tratamento de sementes.
Produto | Ingrediente Ativo (Grupo Químico) |
Adage 350 FS | Tiametoxam (neonicotinóide) |
Cropstar | Imidacloprido (neonicotinóide) + Tiodicarbe (metilcarbamato de oxima) |
Cruiser Opti | Lambda-cialotrina (piretróide) + Tiametoxam (neonicotinóide) |
Cruiser 350 FS | Tiametoxam (neonicotinóide) |
Cruiser 600 FS | Tiametoxam (neonicotinóide) |
Gaucho FS | Imidacloprido (neonicotinóide) |
Imidacloprid Nortox | Imidacloprido (neonicotinóide) |
ÍmparBR | Tiametoxam (neonicotinóide) |
Inside FS | Clotianidina (neonicotinóide) |
Much 600 FS | Imidacloprido (neonicotinóide) |
Poncho | Clotianidina (neonicotinóide) |
Sectia 350 | Tiametoxam (neonicotinóide) |
Sombrero | Imidacloprido (neonicotinóide) |
Fonte: Agrofit, Adapar (2020)
Tabela 2. Produtos registrados para aplicação pós-emergência no cultivo de milho para controle da cigarrinha do milho.
Produto | Ingrediente Ativo (Grupo Químico) |
Bold | Acetamiprido (neonicotinóide) + fenpropatrina (piretróide) |
Connect | Beta-ciflutrina (piretróide) + Imidacloprido (neonicotinóide) |
Galil SC | Bifentrina (piretróide) + Imidacloprido (neonicotinóide) |
Perito 970 SG | Acefato (organofosforado) |
Polytrin | Cipermetrina (piretróide) + Profenofós (organofosforado) |
Racio | Acefato (organofosforado) |
Sperto | Acetamiprido (neonicotinóide) + Bifentrina (piretróide) |
Talisman | Bifentrina (piretróide) + Carbossulfano (metilcarbamato de benzofuranila) |
Biológicos | Atualmente possuem registro 16 produtos comerciais à base de Beauveria bassiana e 1 à base de Isaria fumosorosea para controle da cigarrinha. A eficiência de controle pode chegar a 85%, mas devem ser aplicados nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura do milho. |
Fonte: Agrofit, Adapar (2020)
10. ENTREVISTA SOBRE O MANEJO DAS CIGARRINHAS
Assista também à entrevista com o pesquisador Charles Martins de Oliveira, da Embrapa Cerrados, sobre o manejo das cigarrinhas que transmitem os patógenos causadores dos enfezamentos na cultura do milho.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
– COTA, L.V.; OLIVEIRA, I.R.; SILVA, D.D.; MENDES, S.M.; COSTA, R.V.; SOUZA, I.R.P.; SILVA, A.F. Manejo da cigarrinha e enfezamentos na cultura do milho. Embrapa Milho e Sorgo e Sistema FAEP/SENAR-PR. Disponível em: https://sistemafaep.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Cartilha-cigarrinha-e-enfezamentos_WEB.pdf