(Curadoria Agro Insight)
Na curadoria Agro insight de hoje, trouxemos como tema o Sistema Antecipe, de produção de milho, que é mais uma alternativa para o produtor. Para exemplificar as diferenças entre o sistema Antecipe e o cultivo pós-soja, vamos apresentar um resumo da publicação “Cultivo intercalar antecipado de milho segunda safra nas entrelinhas da soja – Antecipe: resultados do ano agrícola 2021/22 em Rio Verde/GO” de autoria dos pesquisadores EMERSON BORGHI (Embrapa Milho e Sorgo); DIEIMISSON PAULO ALMEIDA (Centro Tecnológico COMIGO); DECIO KARAM, (Embrapa Milho e Sorgo); JÚLIA RESENDE OLIVEIRA SILVA (Universidade Federal de Viçosa); MARIANA NOGUEIRA DINIZ (Universidade Federal de São João del-Rei).
Cultivo intercalar antecipado de milho segunda safra nas entrelinhas da soja – Antecipe: resultados do ano agrícola 2021/22 em Rio Verde/GO
No Cerrado brasileiro, o binômio soja/milho é o sistema de sucessão e/ou rotação de culturas predominante e coloca o Brasil como principal produtor de grãos do mundo. O milho em segunda safra representa atualmente 76% (87,4 milhões de t) de toda produção desta cultura no país. A partir do levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2022), aproximadamente 40% de toda a área semeada com soja no Brasil é semeada com milho segunda safra. Ainda de acordo com o levantamento, a área semeada com milho segunda safra no Centro-Oeste representou 63% do total nacional e, deste total, 1,7 milhões de hectares foram cultivados no Estado de Goiás.
A área cultivada com soja neste ano agrícola 2021/22 no Estado foi de 4,0 milhões de hectares e, deste total, 42,5% receberam o milho na sequência. Embora o aumento de área de milho segunda safra representou um aumento de 5% em relação à safra anterior, a produtividade de grãos de milho foi 14% maior em comparação à safra passada, gerando um incremento na produção de milho no Estado de 1,3 milhão de toneladas.
Este sistema de cultivo é possível graças aos grandes avanços tecnológicos em genética, manejos culturais, mecanização agrícola e pela ousadia dos produtores. Porém, mesmo com toda a tecnologia disponível, o clima é o fator preponderante para o sucesso da segunda safra. Os cenários climáticos vêm sendo determinantes na decisão da época de semeadura destas duas culturas e, mesmo com a semeadura na soja antes do início do calendário agrícola (conhecido tradicionalmente como “plantio no pó”) os impactos na produtividade por área são bastante significativos para as duas culturas (MAGALHÃES et al., 2020).
A busca por sistemas produtivos resilientes, com técnicas que proporcionem o uso racional dos recursos naturais e menor perda de água e nutrientes sem prejuízo à produtividade torna-se essencial para garantir a eficiência produtiva e de mercado destas duas culturas. Nesta temática, o sistema Antecipe – cultivo intercalar antecipado, sistema de cultivo desenvolvido pela Embrapa ao longo de 15 anos de pesquisa em diferentes regiões de produção de milho segunda safra no Brasil, surge como uma oportunidade de antecipar a semeadura do milho em até 20 dias antes da colheita da soja (SILVA et al., 2021).
ESTUDO
Local
O experimento foi realizado na Fazenda Monte Alegre, pertencente à Cooperativa COMIGO, em Rio Verde – GO durante o ano agrícola 2021/22. O solo da área é caracterizado como Latossolo Vermelho Distrófico (SANTOS et al., 2018).
Tratamentos
Para o Sistema 1, o milho foi semeado mecanicamente nas entrelinhas da soja 12 dias antes da colheita da oleaginosa, em 24/02/2022, utilizando semeadora-adubadora de 4 linhas espaçadas em 50 cm desenvolvida pela Jumil – Justino de Morais Irmãos S/A para o sistema Antecipe, conforme descrito em Karam et al. (2020). Por ocasião da semeadura intercalar, a soja encontrava-se em estádio fenológico R7, correspondendo ao pleno amarelecimento das folhas e uma vagem com coloração escura na haste principal (FARIAS et al., 2007). A Figura 2 demonstra a emergência do milho no estádio V2 em 05/03/2022, 3 dias antes da colheita da soja.
O híbrido de milho utilizado nos dois tratamentos foi o AG8065 PRO3. No Sistema 1, a densidade de sementes de milho foi regulada para 3,5 sementes m-1 objetivando estande final de 70.000 plantas ha-1.
No Sistema 2, em razão da época de semeadura, a densidade de sementes foi diminuída para 2,8 sementes m-1 com objetivo de obter estande final de 56.000 plantas ha-1 no momento da colheita. A colheita da soja foi realizada mecanicamente em área total no dia 08/03/2022, correspondendo a 140 dias após a semeadura.
No Sistema 1, o milho apresentava estádio de desenvolvimento V3, toda a parte aérea foi ceifada pela passagem da máquina. Para isso, a altura da plataforma de corte da colhedora foi regulada para trabalhar considerando a inserção da primeira vagem de soja em relação ao solo.
No Sistema 2, a semeadura ocorreu em 18/03/2022, com semeadora-adubadora pneumática de 6 linhas e espaçamento de 50 cm entrelinhas, acoplada a um trator 6155J de 115 cv de potência.
A colheita do milho em todos os tratamentos foi realizada em 01/07/2022, correspondendo a 123 dias após a emergência (Sistema 1) e 99 dias após a emergência do milho (Sistema 2). Ressalta-se que, no caso do Sistema 2 (milho pós-Soja), a colheita foi antecipada, em razão da disponibilidade de mão-deobra para realização desta avaliação. No momento da colheita, o teor de umidade nos grãos deste tratamento era superior ao Sistema 1. Assim, não é possível inferir que o ciclo do milho é menor em função da época de semeadura contrastante entre os tratamentos.
Principais resultados
Nas condições em que o trabalho foi conduzido, a antecipação da semeadura em 22 dias, mesmo com o dano mecânico ao milho, houve maior produtividade de grãos no sistema Antecipe. A resposta foi decorrente das condições mais favoráveis para estabelecimento de plantas, impactando na altura e diâmetro do colmo, comprimento, diâmetro e o número de grãos por espiga.
O atraso na semeadura para o mês de março de 2022 impacta negativamente na produtividade de milho segunda safra. A diferença de 22 dias de semeadura pelo sistema Antecipe proporciona 1,7 sacas ha-1 para cada dia de antecipação. Para as condições de Rio Verde/GO, a antecipação em até 20 dias antes da colheita da soja é possível obter 1,5 sacas ha-1 dia-1 de antecipação, com retorno econômico quatro vezes superior ao milho semeado fora do calendário agrícola preconizado pelo ZARC.
Tabela 1. Estande de plantas, número de espigas, grãos por espiga e produtividade do milho segunda safra em dois sistemas de cultivo. Rio Verde – GO, safra 2021/2022.
Tratamento | Estande (plantas ha-1) | Espigas (espigas ha-1) | Grãos por espiga | Produtividade (sacas ha-1 dia-1) | ||
Planejado | Final | Planejado | Final | |||
Antecipe | 70.000 | 66.389 a | 70.000 | 55.417 a | 523 a | 66 a |
Pós-Soja | 56.000 | 53.403 b | 56.000 | 41.528 b | 321 b | 28 b |
Fonte: Canal Show Rural Coopavel
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
BORGHI, E.; ALMEIDA, D. P.; KARAM, D.; SILVA, J. R. O.; DINIZ, M. N. Cultivo intercalar antecipado de milho segunda safra nas entrelinhas da soja – Antecipe: resultados do ano agrícola 2021/22 em Rio Verde/GO. Anuário de Pesquisas Agricultura, v. 5, n. 2, p. 70-83, 2022.
MAGALHÃES, P. C.; BORGHI, E.; KARAM, D.; PEREIRA FILHO, I. A.; RIOS, S. de A.; ABREU, S. C.; LANDAU, E. C.; GUIMARAES, L. J. M.; PASTINA, M. M.; DURAES, F. O. M. Desenvolvimento do milho segunda safra: fatores genético-fisiológicos, plataforma de conhecimento e práticas de manejo de cultivo e uso, visando sustentabilidade de produção
Fitotecnia 83 e produtividade no binômio soja/milho. Sete Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2020. 42 p. (Embrapa Milho e Sorgo. Documentos, 258).
SILVA, J. R. O.; BORGHI, E.; KARAM, D.; ALMEIDA; FURTINI NETO, A. E. Cultivo intercalar antecipado de milho segunda safra nas entrelinhas da soja – Antecipe. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE MILHO SAFRINHA, 16., 2021, Assis. Três décadas de inovações: avanços e desafios: anais. Sete Lagoas: Associação Brasileira de Milho e Sorgo, 2021. p. 33-34
SANTOS, H.G.; JACOMINE, P. K. T.; ANJOS, L. H. C.; OLIVEIRA, V. A.; LUMBRERAS, J. F.; COELHO, M. R; ALMEIDA, J. A.; ARAÚJO FILHO, J. C.; OLIVEIRA, J. B.; CUNHA, T. J. F. Latossolos. In: Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 5. ed. Brasília :Brasília: Embrapa, Cap. 10, p. 195 – 199,2018.