(Curadoria Agro Insight)
Na curadoria de hoje vamos dar continuidade ao manejo da cultura do algodoeiro e o tema será a utilização dos reguladores de crescimento. Neste sentido, trouxemos um texto dos pesquisadores da Embrapa, Fernando Mendes Lamas, Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira e Valdinei Sofiatti.
Destacamos que os reguladores de crescimento são produtos de custo relativamente elevado e que a sua correta aplicação representa em eficiência e retorno econômico ao produtor.
Regulador de crescimento
O algodoeiro herbáceo apresenta hábito de crescimento indeterminado, ou seja, durante a fase reprodutiva ele continua a emitir estruturas vegetativas, que podem competir entre si pelos produtos da fotossíntese.
Na cotonicultura do Cerrado, são cultivadas extensas áreas, usadas variedades com alto potencial produtivo, altas doses de fertilizantes, muitos defensivos agrícolas, sendo imprescindível o uso de máquinas e implementos. Por causa desse sistema de cultivo, é essencial o uso de reguladores de crescimento, de forma que os algodoeiros não cresçam demasiadamente e comprometam o manejo e o rendimento da cultura, bem como que as plantas apresentem altura adequada à colheita mecânica.
Para a colheita mecanizada, o ideal é que os algodoeiros tenham altura de, no máximo, 1,30 m; acima disso, pode interferir negativamente na eficiência do processo. Além disso, a colheita mecânica dos algodoeiros altos favorece a contaminação da fibra com galhos, folhas e cascas dos ramos, depreciando a sua qualidade.
Os algodoeiros que crescem de forma descontrolada, dependendo da condição do ambiente, podem apresentar maior apodrecimento ou queda das maçãs posicionadas nos primeiros ramos frutíferos.
As variedades de algodão usadas no Brasil, geralmente, apresentam porte médio a alto, ou seja, crescem vigorosamente, sendo necessário o uso de reguladores de crescimento. A manipulação da arquitetura do algodoeiro com reguladores de crescimento é uma estratégia agronômica que, normalmente, não gera incremento de produtividade; porém, observa-se melhoria da eficiência da aplicação de inseticidas, fungicidas e a penetração da luz, a qual contribui para a abertura mais rápida e uniforme dos frutos.
Os reguladores de crescimento são substâncias químicas sintéticas que apresentam efeito sobre o metabolismo vegetal, inibindo a formação do ácido giberélico, com consequente redução do crescimento devido à menor elongação celular. Os dois fitorreguladores de crescimento usados na cotonicultura brasileira são o cloreto de mepiquat e o cloreto de clormequat.
Algumas vantagens do uso dos reguladores de crescimento:
- Controla o excessivo desenvolvimento vegetativo dos algodoeiros.
- Melhora o equilíbrio entre as partes vegetativas e reprodutivas.
- Reduz a altura e o comprimento dos ramos, e assim facilita os tratos culturais.
- Reduz a abscisão e o apodrecimento de estruturas reprodutivas, que podem refletir negativamente na produtividade.
- Diminui o ciclo por meio da redução do número excessivo de nós.
- Facilita a colheita mecanizada.
- Melhora a qualidade da fibra por meio da redução de impurezas como galhos, folhas e cascas dos ramos.
Os efeitos dos reguladores de crescimento sobre o algodoeiro dependem de alguns fatores, podendo-se destacar: temperatura, disponibilidade de nutrientes no solo, população de plantas, cultivar, disponibilidade de água no solo, precipitação pluvial, dose, época e forma de aplicação. Destes, é importante destacar a dose e a forma de aplicação.
Com relação à dose, ela pode variar de 50 a 100 g/ha do ingrediente ativo, a depender do porte e das condições do solo e da lavoura, da época de semeadura, em síntese, da expectativa de crescimento do algodoeiro (Tabela 1).
Tabela 1. Dose do ingrediente de reguladores de crescimento em relação ao porte da planta de algodoeiro.
Cultivares | Dose* (g/ha) do ingrediente ativo cloreto de mepiquat ou de clormequat |
Porte alto | 85 a 100 |
Porte médio | 60 a 85 |
Porte baixo | dose < 50 |
* espaçamento entre fileiras – 76 a 90 cm, para o cultivo na época tradicional (safra).
Recomenda-se aplicar os reguladores de crescimento de forma parcelada (Tabela 2). As pulverizações devem ser iniciadas quando os algodoeiros atingirem a altura de 30 cm a 45 cm, em função do porte da variedade. A partir dessa fase, normalmente, observa-se intenso crescimento vegetativo, razão pela qual são necessários monitoramentos constantes de forma a definir as demais pulverizações para o controle da altura.
Tabela 2. Parcelamento da dose (em % da dose total) de reguladores de crescimento na cultura do algodoeiro.
Primeira aplicação |
Segunda aplicação | Terceira aplicação | Quarta aplicação |
10% |
20% | 30% | 40% |
1ª Aplicação
- CULTIVARES DE PORTE ALTO: 30-35 cm de altura
- CULTIVARES DE PORTE MÉDIO: 35-40 cm de altura
- CULTIVARES DE PORTE BAIXO: 40-45 cm de altura
O momento em que é realizada a primeira aplicação é fundamental, pois o atraso pode comprometer seriamente (Figura 1) a eficiência do controle do crescimento.
Figura 1. Controle eficiente (A) e controle ineficiente (B) da altura dos algodoeiros por meio do regulador de crescimento, cultivar BRS 269 – Buriti. Foto: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira
As aplicações subsequentes (segunda, terceira e quarta) devem ocorrer quando houver retomada do crescimento. Para isso, quando a taxa de crescimento for maior que 1,5 cm/dia, recomenda-se aplicar novamente o fitorregulador. É essencial dividir a área em talhões homogêneos, de acordo com a cultivar, época de semeadura, condições de fertilidade do solo e adubações etc.
O monitoramento do crescimento deve ser constante, pois, após o término do efeito residual do fitorregulador aplicado (normalmente de 10 a 14 dias em função de uma série de fatores e condições do ambiente de cultivo), o algodoeiro volta a crescer à taxa maior que 1,5 cm/dia, carecendo de nova aplicação.
Cuidados na aplicação
- Os reguladores de crescimento devem ser aplicados, preferencialmente, no período da manhã, mas deve-se evitar nos algodoeiros molhados pelo orvalho.
- Normalmente, quando se usa cloreto de mepiquat – produto comercial mais concentrado, o período mínimo entre a aplicação e a ocorrência de chuva deve ser de 4 horas, para evitar que o cloreto seja lavado. Em caso de chuva após as aplicações, provavelmente, será preciso reaplicar.
- A partir da emissão dos primeiros botões florais, semanalmente, deve-se avaliar o crescimento do algodoeiro, preferencialmente em plantas previamente marcadas, para que a leitura do crescimento seja feita na mesma planta.
Quando o algodoeiro apresenta flor aberta no terceiro nó de cima para baixo (Figura 2), sua intensidade de crescimento tende a reduzir. A partir dessa fase, normalmente, não é mais necessário aplicar regulador de crescimento. Se tudo tiver ocorrido bem, nessa fase, as cultivares de porte médio e alto deverão estar com altura média entre 120 a 130 cm, desde que as pulverizações anteriores tenham sido realizadas adequadamente.
Figura 2. Fase de interrupção do crescimento do algodoeiro, com flor aberta no ponteiro (terceiro nó de cima para baixo). Foto: Alexandre Cunha de Barcellos Ferreira
Desfolhantes e maturadores
O algodoeiro, por ser espécie com hábito de crescimento indeterminado, na época da colheita ainda apresenta grande quantidade de folhas e de estruturas reprodutivas (botões florais, flores e frutos jovens) que depreciam a qualidade da fibra. As estruturas reprodutivas produzidas no final do ciclo não resultam em incremento de produção visto que, normalmente, não são colhidas, servindo apenas de alimento, local de oviposição e abrigo da lagarta-rosada (Pectinophora gossypiella) e do bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis). Desta forma, no cerrado, é muito importante a aplicação de desfolhantes e maturadores, que são usados com o objetivo de planejar e melhorar o desempenho da colheita mecânica, reduzir a umidade das fibras e das sementes no campo e proporcionar a obtenção de um produto mais limpo, reduzindo os custos do beneficiamento.
Os desfolhantes e maturadores são fitormônios, cujos princípios ativos atualmente mais utilizados são o tidiazuron e o etefom, respectivamente, atuam no balanço hormonal das plantas. Com a aplicação de tidiazuron, verifica-se redução da concentração e transporte endógeno do inibidor da abscisão (AIA), resultando em aumento substancial na produção de etileno, hormônio responsável pela formação da camada de abscisão. Em geral, se constata, após a aplicação do tidiazuron, declínio da concentração de auxina, com consequente formação da camada de abscisão.
O etefom (ácido-2-cloro-etil-fosfônico) é uma substância liberadora de etileno, que inibe a biossíntese e, subsequentemente, a movimentação de auxinas, acelerando a maturação dos frutos e a formação da zona de abscisão, promovendo a desfolha. A precocidade e uniformidade de abertura dos frutos são aumentadas significativamente com a aplicação de etefom.
Dentre os fatores ambientais, a temperatura é o que mais influencia a ação desses produtos. A eficiência dos desfolhantes e maturadores é sensivelmente reduzida quando a temperatura média é inferior a 20 ºC, situação em que não se recomenda a sua aplicação.
Em geral, os desfolhantes devem ser aplicados quando 60% a 70% dos frutos (capulhos) estiverem abertos. Dependendo das condições climáticas, a desfolha ocorre entre sete a quinze dias após a aplicação do produto; em plantas sobre efeito de estresse, especialmente o hídrico, a desfolha é bem mais lenta e reduzida do que a verificada em algodoeiros com atividade metabólica normal. A aplicação de desfolhantes, quando menos de 60% dos frutos estão abertos, provoca redução significativa na produção e efeitos negativos sobre as características tecnológicas da fibra, especialmente sobre o micronaire. Em função da dificuldade em se quantificar a porcentagem de frutos abertos (capulhos), recomenda-se que o desfolhante seja aplicado quando, acima do capulho localizado na posição mais alta da planta, existirem, no máximo, quatro ramos com maçãs, com probabilidade de se transformarem em capulho.
Com a aplicação de desfolhantes, a colheita pode ser antecipada, pois a desfolha provocada pelo produto facilita a penetração dos raios solares no interior do dossel das plantas, e favorece a abertura dos frutos. Além disso, ela auxilia o controle de pragas e a obtenção de produto mais limpo, a colheita é facilitada e o seu rendimento melhor.
Sete a quinze dias após a aplicação do desfolhante, é notória intensa desfolha, o que deixa os capulhos totalmente expostos à ação de chuvas, poeira etc. Portanto, algodoeiros que foram desfolhados não devem ser colhidos muito tempo depois, devido ao risco de depreciação da qualidade da fibra.
No caso de grandes áreas, recomenda-se fazer a aplicação do desfolhante, quando necessário, de forma escalonada, observando-se a capacidade de colheita, como o número de máquinas e a sua capacidade.
Produtos utilizados como desfolhantes:
- Tidiazuron + diuron – 120 + 60 g L-1 – dose recomendada é de 48 a 60 g ha-1 de tidiazuron + 24 a 30 g ha-1 de diuron.
- Carfentrazone-ethyl (triazolona) – 400 g L-1 – dose recomendada – 40 a 60 g ha-1 + 1% v.v, de óleo mineral. Deve-se tomar cuidado com a concentração de óleo mineral, pois sendo superior a 1% v.v, poderá comprometer a qualidade da fibra, causando sobretudo pegajosidade.
Os maturadores devem ser aplicados quando 100% dos frutos atingirem a maturidade fisiológica ou mais de 90% dos frutos (capulhos) estiverem abertos. Pulverizações precoces de etefom têm efeito negativo sobre a produção e a qualidade da fibra.
Quando da aplicação de maturadores, o alvo principal é o fruto; assim, caso os algodoeiros ainda tenham número elevado de folhas, é imprescindível a aplicação de produto com ação desfolhante, anterior à aplicação do maturador, de modo a facilitar o contato do produto com os frutos (maçãs).
Embora os produtos utilizados como maturadores tenham algum efeito como desfolhante, o objetivo da sua aplicação é acelerar a maturação e a consequente abertura dos frutos.
Um dos produtos recomendados como maturador é o etefom + cyclanilide, em dose que varia entre 720 a 1.200 g de etefom + 90 a 150 g de cyclanilide, que potencializa o efeito do etefom, provocando abscisão foliar.