(Curadoria Agro Insight)
Olá Agronautas!
Em mais um trabalho de curadoria Agro Insight sobre o agronegócio brasileiro, hoje trouxemos um artigo dos pesquisadores da Embrapa, Guilherme Cunha Malafaia, Fernando Rodrigues Teixeira Dias e Sergio Raposo de Medeiros, que fazem parte do Centro de Inteligência da Carne (CiCarne).
O CiCarne disponibiliza informações aos agentes da cadeia produtiva de carne bovina. Através dele, são disponibilizados, por exemplo, dados sobre insumos usados na atividade pecuária, rebanhos por regiões, índices zootécnicos da atividade e variações das exportações de carne.
O artigo intitulado “A pecuária de corte mundial em números”, corresponde ao Boletim CiCarne 48 e traz para o pecuarista um panorama atualizado do mercado mundial da carne.
ARTIGO – A pecuária de corte mundial em números
Segundo estimativas do Departamento de Agricultura Norte-Americano (USDA,2020), o rebanho mundial de bovinos deve chegar a pouco mais de 1 bilhão de cabeças em 2021. A se confirmar tal previsão, o estoque de gado no mundo crescerá 0,7% em relação a 2020, o que representa um aumento de 6,4 milhões de cabeças, o maior patamar desde 2009 (Figura 1).
Sete países concentram 90% do rebanho mundial: Índia, Brasil, Estados Unidos, China, União Europeia, Argentina e Austrália. Índia e Brasil representam 55%, respectivamente, 30,6% e 24,7%.
Figura 1. Evolução do estoque mundial de bovinos, em mil cabeças. Fonte: USDA (2020).
Produção e comércio mundial de carne bovina
A internacionalização do comércio possibilitou o acesso a consumidores em todo o mundo, consumidores cada vez mais exigentes. A forte competição levou a padrões comerciais muito rígidos para a carne bovina:
- Diferenças de consumo – O consumo de carne está fortemente associado à renda média em cada região e ao acesso a cortes de maior qualidade e métodos de conservação. Fatores culturais explicam diferenças nas preferências do consumidor por espécies e raças.
- Política comercial: barreiras comerciais (tarifas, subsídios, cotas, etc.) e acordos de integração tornam o comércio real muito diferente do potencial. Embora tenha havido alguma flexibilização, as negociações ainda são difíceis e o comércio ainda é muito afetado pelas relações entre governos e empresas (p. ex., na proteção do mercado interno, e na promoção de seu acesso a outros mercados).
- Estrutura de mercado: as economias de escala desempenham um papel importante na redução dos custos médios na produção, aumentando o poder de mercado e a subsequente concentração.
- Sanidade: doenças animais que envolvem riscos à saúde humana ou à produção doméstica levaram a recorrentes crises sanitárias e ao fechamento de mercados para o país afetado. Além disso, a disseminação global de algumas doenças abalou o mundo. O Brasil tornou-se o maior exportador de carne bovina em 2005, como resultado da detecção da doença da vaca louca em 2003 nos EUA.
O mundo deve produzir 61,16 milhões de toneladas equivalente carcaça de carne bovina em 2021, crescendo 1% em relação a 2020. Segundo as projeções, os Estados Unidos seguem como o principal produtor mundial com 20% do volume global produzido, seguido do Brasil com 16,8% e a União Europeia aparecendo em terceiro lugar com 12,5%. A China, quarto maior produtor mundial de carne bovina, também deve apresentar crescimento da produção de 1% até o final de 2021, mas com sua produção ainda muito aquém do seu consumo interno. Índia e Argentina, quinto e sexto no ranking dos maiores produtores do mundo, aparecem como destaques, aumentando, respectivamente, 10% e 9% no período analisado. Já a Austrália, que teve crescimento irrisório no período, experimentou uma forte queda da produção em 2020 em relação a 2019.
O consumo mundial de carne bovina em 2021 deve alcançar 60,04 milhões de toneladas, aumento de 1,6% frente a 2020. O consumo nos Estados Unidos, maior consumidor mundial, deve chegar a 12,52 milhões de toneladas em 2021, crescimento de 1,01% em relação a 2020. A China, segundo maior consumidor, deve consumir 10,08 milhões de toneladas em 2021. O Brasil pode superar o consumo da UE em 2021, já que por aqui o consumo é crescente e, na UE, a tendência é de queda: 7,73 milhões de toneladas e, na UE, 7,69 milhões de toneladas (Tabela 1).
Tabela 1. Consumo mundial de carne bovina, em mil toneladas em equivalente carcaça, de 2010 a 2021. Fonte: USDA (2020).
O consumo de carne bovina no mundo atingiu mais de 59 milhões de toneladas em 2019 contra 34 milhões de toneladas em 1970, em função do crescimento da população mundial que duplicou no mesmo período, saindo de 3,7 bilhões para mais de 7,6 bilhões de habitantes. Percebe-se com isso uma redução do consumo per capita.
Há forte correlação entre crescimento de renda e consumo de carne. Países de renda média como China e Brasil, que registraram um crescimento econômico significativo nas últimas décadas, experimentaram um grande aumento no consumo de carne (Figura 2).
Figura 2. Consumo de carne bovina per capita médio em kg/hab/ano de países selecionados, histórico (2011 a 2020, 2019 e 2020 estimados) e projeção (2023). Fonte: Fitch Solutions, elaborado por CiCarne (2021).
Em 1960, Argentina, Austrália e EUA lideravam o ranking global de consumo de carne bovina. Após 2008, os maiores consumidores foram Argentina, Brasil e Estados Unidos, e a previsão era de que esses países permaneceriam liderando o consumo, mas as estimativas de consumo per capita para o ano de 2020 diminuíram e o ranking mudou. O país de maior consumo foi a Argentina, consumindo 36 kg/hab/ano, seguida dos Estados Unidos, com um consumo de 26 kg/hab/ano e o Brasil, com consumo de 24,4 kg/hab/ano. Na sequência estão Israel e Chile, consumindo, respectivamente, 24,1 e 21,8 kg/hab/ano (FAO, 2020).
Projeções da oferta e demanda para carne bovina
A produção mundial de carne bovina deve seguir crescendo e alcançar 79,3 milhões de toneladas em 2027, incremento médio de 1,28% ao ano (Figura 3).
Figura 3. Projeções da produção mundial de carne bovina – 2017 a 2027. Fonte: OECD/FAO (2020).
O crescimento projetado para o Brasil sobressai e fortalecerá sua posição entre os principais players de carne bovina do mundo. EUA, UE e China, permanecerão como principais produtores em 2026, mas com crescimento aquém do esperado.
A análise de todos esses números mostra que o Brasil não só continuará entre os maiores produtores e fornecedores de carne bovina do mundo, mas como tem as melhores condições para ser o protagonista. Efetivar esse prognóstico depende, em grande parte, de nos mantermos firmes na busca da melhoria da gestão, da produção sustentável, sempre com empreendedorismo e tendo como base a melhor tecnologia tropical que seja possível desenvolver.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
– Boletim nº 48. A pecuária de corte mundial em números.
– CICARNE – Centro de Inteligência da Carne Bovina, Embrapa Gado de Corte. Boletins, 2020.
– Disponível em: https://www.cicarne.com.br/informativos/. Acesso em: 23 jun. 2021.
– OECD/FAO – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico “OECD-FAO Agricultural Outlook”, Meat Consumption, 2020. Disponível em: https://data.oecd.org/agroutput/meat-consumption.htm. Acesso em: 28 abr. 2021.
– USDA – UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE FOREIGN AGRICULTURAL SERVICE, 2020. Disponível em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html#/app/ advQuery. Acesso: 27 abr. 2021
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