O solo é um recurso natural vivo e dinâmico, fundamental para a preservação ambiental e para a produção de alimentos e fibras. Há alguns anos que o solo vem sendo estudado de forma sistêmica e sua qualidade considerada como sendo um indicador da sustentabilidade do ambiente agrícola.
A discussão sobre a temática da qualidade do solo é amplamente discutida na literatura e intensificou-se no início dos anos 1990, quando a comunidade científica, consciente da importância do solo para a qualidade ambiental, começou a abordar em publicações, a preocupação com a degradação dos recursos naturais, a sustentabilidade agrícola e a função do solo nesse contexto.
Atualmente a definição de qualidade do solo mais conhecida e citada é a proposta por DORAN & PARKIN (1994), e reformulada mais tarde por DORAN (1997), como sendo a capacidade de um solo funcionar dentro dos limites de um ecossistema natural ou manejado, capaz de sustentar a produtividade de plantas e animais, manter ou aumentar a qualidade do ar e da água e promover a saúde das plantas, dos animais e dos homens.
A qualidade do solo é a relação entre as propriedades biológicas, físicas e químicas do solo, haja vista que o bom funcionamento dessas propriedades permite ao solo exercer suas funções.
Neste sentido, o solo deve ser capaz de exercer as seguintes funções na natureza: promover meio para o crescimento das plantas; regular e compartimentalizar o fluxo de água no ambiente; estocar e promover a ciclagem de elementos na biosfera e atuar como um tampão ambiental na formação, atenuação e degradação de compostos prejudiciais ao ambiente.
Desta forma, pode-se dizer que a qualidade do solo é resultante da interação de inúmeros processos físicos, químicos e biológicos que habilitam o solo a exercer suas funções em sua plenitude.
A conservação da qualidade do solo ou até mesmo a sua melhoria, é fundamental para a sustentabilidade de agroecossistemas, visando a produção agrícola e a preservação ambiental. O manejo adequado dos solos agrícolas é o principal fator a ser considerado quando se almeja a produção agrícola sustentável, uma vez que as práticas de preparo do solo e os sistemas de cultivos interferem de modo significativo nas propriedades do solo.
Neste sentido, práticas agrícolas adotadas pelo modelo convencional de agricultura, muitas vezes, alteram de forma significativa a qualidade do solo, resultando em limitações sobre as produções agrícolas.
Os números alarmantes de áreas degradadas física e quimicamente, contaminadas por agroquímicos, e as perspectivas catastróficas fizeram com que os autores LAL & PIERCE (1991), estimulassem a comunidade científica a ir em busca de sistemas de manejo inovadores, capazes de balancear o requerimento do solo e das culturas. Estes mesmos autores ainda alertaram que “A ênfase não está em maximizar a produção, mas sim em otimizar o uso do recurso e sustentar produtividade por um longo período”.
Com isso, se faz necessário o uso e a intensificação de práticas agrícolas de manejo que aumentem a capacidade dos agroecossistemas em gerar ganhos sustentáveis, reduzindo assim a ameaça para a segurança alimentar.
A inter-relação entre a agricultura e os agroecossistemas precisa ser redefinida e o planejamento do uso do solo deve ser reconhecido como uma ferramenta para aprimorar o seu manejo.
Neste contexto, os sistemas agroflorestais são considerados como uma opção viável para reduzir os danos causados pelas práticas agrícolas convencionais, em que é possível recuperar e/ou manter a qualidade do solo nos agroecossistemas.
1. A IMPORTÂNCIA DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS PARA A QUALIDADE DO SOLO
A adoção de sistemas agroflorestais, visa não somente a produção agrícola e geração de renda ao agricultor, mas também a oferta de serviços ambientais ecossistêmicos como, a captura de CO2, a mitigação de emissões de gases de efeito estufa, a produção de água para mananciais de abastecimento público, o amortecimento de enxurradas, a recarga de aquíferos e rios, e a prevenção de erosão hídrica, dentre outros.
Ademais, estes sistemas, têm potencial de recuperar e manter a qualidade do solo, pois englobam em seu manejo, práticas sustentáveis, como o cultivo mínimo, uso de palhada e plantas de cobertura, adubação verde, rotação de culturas e capina seletiva.
A comunidade científica nacional e internacional ressalta que os sistemas agroflorestais apresentam capacidade de aumentar e/ou manter a qualidade do solo, buscando o equilíbrio físico, químico e biológico. E isso ocorre principalmente pelo intenso aporte de material vegetal, que promove a cobertura do solo, e por consequência a manutenção e o aumento do teor de matéria orgânica.
A conservação de resíduos vegetais na superfície do solo é de suma importância para a manutenção e conservação da qualidade do solo.
Pesquisadores apontam para a importância dos sistemas agroflorestais, na manutenção e/ou melhoria da qualidade do solo, em que estes são capazes de melhorar diversos atributos, tais como: diminuir a densidade do solo, aumentar a porosidade, a aeração, a estabilidade dos agregados e a capacidade de retenção de água.
Da mesma forma, diversas pesquisas apontam que o acúmulo de carbono orgânico no solo é aumentado em áreas com o cultivo de sistemas agroflorestais, quando estes são comparados à sistemas convencionais de produção.
A presença do componente arbóreo nestes sistemas, favorece a maior deposição de material vegetal sobre o solo (folhas, raízes, galhos), contribuindo para a manutenção e/ou melhoria da fertilidade do solo, assim como, reduzindo a concentração de gases de efeito estufa, através da fixação do carbono, tanto no solo, sob a forma de matéria orgânica, quanto na própria madeira.
Com relação aos atributos biológicos do solo, a fauna do solo, realiza uma complexa rede de interações com as plantas, e quanto maior for a diversidade de espécies vegetais, maior será a diversidade de organismos presentes no solo, o que irá potencializar o ciclo de entrada e saída de nutrientes.
Todos os atributos do solo, sejam eles químicos, físicos ou biológicos são importantes, pois trazem benefícios para o crescimento e o desenvolvimento das plantas, aumentando a produtividade e garantindo a sustentabilidade dos agroecossistemas.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sistemas agroflorestais vêm ganhando grande destaque no cenário mundial, pela capacidade de reverterem os processos de degradação do solo. Além de contribuírem para a manutenção ou incremento na qualidade do solo. Pois, são utilizadas técnicas de manejo baseadas em princípios agroecológicos, que permitem a melhoria dos atributos físicos, químico e biológicos do solo.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
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