(Curadoria Agro Insight)
Hoje a curadoria compartilha a previsão climática para os meses de março, abril e maio de 2023. O conhecimento das condições de clima é fator fundamental para o planejamento das atividades agropecuárias e para a sustentabilidade dos sistemas de produção.
Outono 2023: estação começa na próxima segunda-feira
O outono no Hemisfério Sul começa às 18h25 (horário de Brasília) da próxima segunda-feira (20) e termina às 11h58 (horário de Brasília) do dia 21 de junho.
Estação de transição entre o verão quente e úmido e o inverno frio e seco, principalmente no Brasil Central, o outono se caracteriza pelas chuvas mais escassas no interior do País, especialmente no semiárido nordestino (figura 1a).
Já na parte norte das regiões Nordeste e Norte, ainda é época de muita chuva, principalmente, se houver a persistência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) ao sul de sua posição climatológica.
O outono também é caracterizado por incursões de massas de ar frio vindas do sul do continente, que provocam a queda das temperaturas do ar, principalmente, na Região Sul e em parte da Região Sudeste (figura 1b).
Vale destacar ainda que, durante a estação, é possível observar as primeiras formações de fenômenos adversos, como nevoeiros nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste; geadas nas regiões Sul e Sudeste e no Mato Grosso do Sul; neve nas áreas serranas e nos planaltos da Região Sul, e friagem no sul da Região Norte e nos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e até no sul de Goiás.
Figura 1. Climatologia de (a) precipitação (chuva) e (b) temperatura média do ar para o trimestre abril, maio e junho. Período de referência: 1981 – 2010. Fonte: INMET.
Prognóstico Agroclimático para o período de março, abril e maio de 2023
Região Norte
A previsão climática produzida com o método objetivo (multimodelo – cooperação entre INPE, INMET e FUNCEME) indica predomínio de chuvas acima da média climatológica em praticamente toda a região, devido principalmente à atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) típica desta estação, principalmente no nordeste do Pará e leste do Amapá. Na divisa entre o norte de Rondônia e sul do Amazonas, a previsão é de chuvas próximas da média durante o trimestre.
A temperatura média do ar deverá prevalecer próxima da climatologia em praticamente toda a região, com valores que podem superar os 27ºC no norte de Roraima. No noroeste do Pará a previsão indica temperaturas ligeiramente abaixo da média. Já a previsão do balanço hídrico continua indicando a manutenção de áreas com armazenamentos hídricos superiores a 70% em praticamente toda a região nos meses de março e abril. Entretanto, em áreas do extremo sul da região, além do estado de Tocantins, a redução nas chuvas poderá impactar negativamente os níveis de água no solo a partir de maio. Já em áreas do extremo norte da região, como em Roraima, mesmo com previsão de chuvas dentro ou acima da média, os níveis de água no solo podem continuar baixos nos meses de março e abril, podendo haver uma recuperação no armazenamento apenas em maio.
Região Nordeste
A previsão indica chuvas acima da média em praticamente toda a região. Coerente com o período chuvoso na parte norte, ocasionadas principalmente pela a atuação da ZCIT, além do padrão de águas ligeiramente mais aquecidas próximo à costa. Já para o nordeste e sul da Bahia e sudeste do Piauí, são previstos menores volumes de chuva.
As temperaturas do ar devem ficar próximas ou acima da média histórica em quase toda região, exceto no norte dos Estados do Maranhão, Piauí e Ceará, onde as temperaturas devem ficar ligeiramente abaixo da climatologia nos próximos meses, devido a persistência de dias chuvosos.
A previsão de chuvas dentro ou acima da média em grande parte da região, em especial no MATOPIBA (região que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) pode auxiliar na manutenção da umidade no solo e beneficiar as culturas de primeira safra na região, além do estabelecimento dos cultivos de segunda safra como o milho e feijão, principalmente no mês de março. No entanto, em áreas da Bahia, como nordeste do estado, os menores volumes de chuva podem reduzir os níveis de água no solo e impactar negativamente as culturas que se encontram em
estágios fenológicos mais sensíveis. Já em áreas do norte e da costa leste da região, há previsão de aumento das chuvas e consequente elevação da umidade do solo a partir de abril.
Região Centro-Oeste
A previsão do multimodelo indica tendência da precipitação ser acima da média histórica nos Estados de Mato Grosso e Goiás, por conta ainda da canalização de umidade oriunda da Região Norte e que pode causar dias consecutivos com chuva. No Mato Grosso do Sul, por sua vez, são previstos totais de chuvas abaixo da climatologia do trimestre, com valores que podem ser menores que 300 mm no oeste do Estado. Em relação à temperatura média do ar, as previsões indicam que devem ficar próximas ou acima da climatologia nos próximos meses, principalmente no oeste do
Mato Grosso do Sul.
As condições climáticas observadas nos últimos meses foram favoráveis para o bom desenvolvimento dos cultivos de primeira safra em grande parte das áreas rodutoras. Além disso, as chuvas dentro ou acima da média climatológica previstas pelo modelo, com exceção de áreas do Mato Grosso do Sul, poderão favorecer a manutenção dos níveis de água no solo e beneficiar as fases finais dos cultivos de primeira safra, como soja, milho, feijão e algodão, além do estabelecimento dos cultivos de segunda safra.
Região Sudeste
São previstas chuvas abaixo da média histórica em grande parte da região, porém não se descarta chuvas mais localizadas sobre o litoral, devido a passagem de frentes frias, com volumes que podem ultrapassar os 400 mm, durante o trimestre.
A temperatura do ar deve ficar próxima ou acima da média histórica na maioria dos Estados, porém em regiões mais elevadas do sul de Minas Gerais, Vale do Paraíba em São Paulo e região serrana do Rio de Janeiro, as temperaturas podem ficar mais baixas, a partir de maio.
Assim como na Região Centro-Oeste, os grandes volumes de chuva observados nos últimos meses, principalmente em áreas do centro-sul da região também foram importantes para a manutenção do armazenamento de água no solo e o bom desenvolvimento dos cultivos de primeira safra. A previsão de chuvas dentro ou ligeiramente abaixo da média para os meses de abril e maio em grande parte da região pode beneficiar as fases finais dos cultivos de soja e milho primeira safra, porém afetará negativamente os níveis de água no solo, principalmente em áreas do norte de Minas Gerais, oeste de São Paulo e no Espírito Santo.
Região Sul
A previsão é de chuvas abaixo da média climatológica nos próximos meses, principalmente no sul do Paraná e em Santa Catarina, porém no litoral da região os acumulados de chuva poderão ser mais elevados em relação as demais áreas.
A temperatura do ar deverá prevalecer acima da média histórica durante o trimestre, principalmente no oeste do Rio Grande do Sul. Entretanto, assim como na Região Sudeste, as áreas das serras gaúcha e catarinense poderão ter
temperaturas inferiores a 15ºC.
A redução das chuvas em grande parte da região que foi causada principalmente pela persistência do fenômeno La Niña, em especial no Rio Grande do Sul, causou restrição hídrica e impactos irreversíveis aos cultivos de primeira safra que se encontravam em estágios fenológicos mais sensíveis. Considerando o prognóstico climático, há previsão de que os níveis de água no solo ainda permaneçam baixos no Rio Grande do Sul, principalmente em áreas mais ao sul do Estado durante o mês de março, porém, nos meses seguintes há possibilidade de que os volumes de chuva possam auxiliar na recuperação do armazenamento. No Paraná e em Santa Catarina, mesmo que ocorram chuvas abaixo da média, os níveis de água no solo ainda poderão continuar elevados, devido principalmente aos altos volumes de chuva que foram observados nos últimos meses, o que pode beneficiar o estabelecimento dos cultivos de segunda safra e as fases finais dos cultivos de primeira safra.
Condições oceânicas observadas e tendências
A interação entre a superfície dos oceanos e a atmosfera interfere nas condições do tempo e do clima em diversas localidades no mundo. No Brasil, fenômenos como El Niño-Oscilação Sul (ENOS), no Oceano Pacífico Equatorial, e o
gradiente térmico do Oceano Atlântico Tropical, também chamado de Dipolo do Atlântico, são exemplos dessa interação oceano-atmosfera que influenciam o clima no Brasil. Neste contexto, as águas mais quentes no Atlântico Tropical Sul e águas mais frias no Atlântico Tropical Norte favorecem a ocorrência de chuva em grande parte norte do Brasil (Dipolo Negativo). Caso contrário, há uma redução de chuva na região citada (Dipolo Positivo). No mês de fevereiro/2023, áreas do Atlântico Sul mantiveram-se águas mais aquecidas em relação ao Atlântico Norte, com uma
diferença de -0,21ºC, mantendo a região de Dipolo na fase negativa. A persistência deste dipolo negativo nos próximos meses, contribui para ocorrência de chuvas sobre o norte das regiões Norte e Nordeste, conforme tem sido observado.
No Oceano Pacífico Equatorial, as médias mensais da área de referência para definição do evento ENOS, denominada região de Niño 3.4 (entre 170°W-120°W), vem-se observando valores de anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) menores que -0,5°C, indicando condições de La Niña ao longo do ano de 2022, mesmo havendo um enfraquecimento da intensidade fenômeno nos meses de junho e julho de 2022. Entre os meses de janeiro e fevereiro/2023, esta anomalia vem sofrendo um enfraquecimento da intensidade, passando de -0,7ºC para -0,4ºC, que já é considerado um valor próximo da neutralidade.
O modelo de previsão de ENOS do APEC Climate Center (APCC), centro de pesquisa sediado na Coréia do Sul indica uma transição do fenômeno La Niña para a fase de Neutralidade nos próximos meses, com uma probabilidade superior a 80% e possibilidade de formação da fase quente (El Niño) entre o fim do inverno e início da primavera. Desta forma, é fundamental acompanhar as atualizações destas previsões em nossos próximos boletins.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
Boletim Agroclimatológico / Instituto Nacional de Meteorologia. – v.58 n. 03 – (2023) – Brasília: Inmet, 2023.