(Curadoria Agro Insight)
Hoje a curadoria Agro Insight comppartilha uma publicação do pesquisador da Embrapa, Marcelo Hiroshi Hirakuri, sobre as perdas que os estresses têm causado na cultura da soja, no Brasil.
Perdas econômicas geradas por estresses bióticos e abióticos na produção brasileira de soja no período 2016-2020
O crescimento da demanda mundial por carnes tem como alicerce uma fonte de proteína vegetal com alto valor biológico, que é fornecida pela soja, e uma fonte de carboidrato, provida pelo milho. Assim, a evolução do mercado de carne teve como impacto o aumento da demanda por grãos ou farelos para a fabricação de rações, obtidas basicamente a partir da soja e milho. Em meio a este quadro, a soja se tornou a principal cultura do agronegócio brasileiro, sendo responsável pelo desenvolvimento de uma pujante cadeia produtiva, cujos agentes geram significativos impactos sociais e econômicos para diversas regiões do País, desde a criação de empregos e movimentação de capital, a um sólido desenvolvimento socioeconômico.
No decênio 2011-2020, a sojicultura cresceu em todas as regiões brasileiras, de tal forma que a área plantada de soja passou de 24,2 milhões de hectares na safra 2010/2011 para 36,9 milhões de hectares na safra 2019/2020 (Tabela 1). Isso propiciou à produção do grão, saltar de 75,3 para 124,8 milhões de toneladas no período, fazendo o Brasil se tornar o maior produtor mundial de soja, superando os Estados Unidos (Tabela 2). Os prognósticos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) indicam que o País se consolidará como líder na produção mundial da oleaginosa, pois a soja manterá uma trajetória crescente em território nacional, podendo chegar a 46,5 milhões de hectares na safra 2029/2030 (Brasil, 2020).
Tabela 1. Evolução de área e produção de soja no Brasil.
Área de soja (milhões de hectares) |
||||||||||
UF | 2010/11 | 2011/12 | 2012/13 | 2013/14 | 2014/15 | 2015/16 | 2016/17 | 2017/18 | 2018/19 | 2019/20 |
RR | 0,004 | 0,004 | 0,012 | 0,018 | 0,024 | 0,024 | 0,030 | 0,038 | 0,040 | 0,050 |
RO | 0,132 | 0,144 | 0,168 | 0,191 | 0,232 | 0,253 | 0,296 | 0,334 | 0,334 | 0,348 |
AC | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,001 | 0,002 | 0,004 |
AM | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,002 | 0,002 | 0,002 |
AP | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,019 | 0,020 | 0,021 | 0,021 |
PA | 0,105 | 0,119 | 0,172 | 0,221 | 0,336 | 0,429 | 0,500 | 0,550 | 0,561 | 0,607 |
TO | 0,405 | 0,451 | 0,550 | 0,748 | 0,850 | 0,871 | 0,964 | 0,988 | 1,029 | 1,078 |
MA | 0,518 | 0,560 | 0,586 | 0,662 | 0,750 | 0,786 | 0,822 | 0,952 | 0,992 | 0,976 |
PI | 0,384 | 0,445 | 0,546 | 0,627 | 0,674 | 0,565 | 0,694 | 0,711 | 0,758 | 0,759 |
AL | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,002 | 0,002 | 0,001 |
BA | 1,044 | 1,113 | 1,282 | 1,313 | 1,422 | 1,527 | 1,580 | 1,599 | 1,580 | 1,620 |
MT | 6,399 | 6,981 | 7,818 | 8,616 | 8,935 | 9,140 | 9,323 | 9,519 | 9,700 | 10,004 |
MS | 1,760 | 1,815 | 2,017 | 2,120 | 2,301 | 2,430 | 2,522 | 2,672 | 2,854 | 3,016 |
GO | 2,606 | 2,645 | 2,888 | 3,102 | 3,325 | 3,285 | 3,279 | 3,387 | 3,476 | 3,545 |
DF | 0,055 | 0,055 | 0,055 | 0,072 | 0,056 | 0,070 | 0,070 | 0,072 | 0,073 | 0,075 |
MG | 1,024 | 1,024 | 1,121 | 1,238 | 1,319 | 1,469 | 1,456 | 1,509 | 1,575 | 1,647 |
SP | 0,613 | 0,582 | 0,637 | 0,752 | 0,797 | 0,858 | 0,895 | 0,962 | 0,996 | 1,110 |
PR | 4,591 | 4,461 | 4,753 | 5,010 | 5,225 | 5,451 | 5,250 | 5,465 | 5,438 | 5,503 |
SC | 0,458 | 0,448 | 0,513 | 0,543 | 0,600 | 0,639 | 0,640 | 0,678 | 0,665 | 0,681 |
RS | 4,085 | 4,197 | 4,619 | 4,940 | 5,249 | 5,455 | 5,570 | 5,692 | 5,778 | 5,902 |
BR | 24,181 | 25,042 | 27,736 | 30,173 | 32,093 | 33,252 | 33,909 | 35,149 | 35,874 | 36,950 |
A soja se tornou a principal cultura do agronegócio brasileiro, apoiada em programas robustos de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) e transferência de tecnologia (TT), que permitiram gerar e difundir um conjunto de tecnologias e conhecimentos fundamentais para aumentar o potencial produtivo das lavouras. Com isso, a soja tem sido produzida em todas as regiões brasileiras, que apresentam diferentes tipos de climas, a saber, Equatorial, Tropical Zona Equatorial, Tropical Nordeste Oriental, Tropical Brasil Central e Temperado (IBGE, 2002). Estes diferentes tipos de climas interagindo com diferentes tipos de solos, características de relevo, variações de altitude, regimes pluviométricos e com diversos outros fatores, podem afetar as condições edafoclimáticas de um determinado local e, por consequência, a produção da soja.
Tabela 2. Evolução da produção de soja no Brasil.
Produção de soja (milhões de toneladas) |
||||||||||
UF | 2010/11 | 2011/12 | 2012/13 | 2013/14 | 2014/15 | 2015/16 | 2016/17 | 2017/18 | 2018/19 | 2019/20 |
RR | 0,010 | 0,010 | 0,034 | 0,056 | 0,064 | 0,079 | 0,090 | 0,118 | 0,108 | 0,152 |
RO | 0,425 | 0,462 | 0,539 | 0,608 | 0,733 | 0,765 | 0,930 | 1,095 | 1,109 | 1,234 |
AC | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,001 | 0,004 | 0,012 |
AM | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,003 | 0,005 | 0,005 |
AP | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,054 | 0,058 | 0,058 | 0,059 |
PA | 0,314 | 0,317 | 0,552 | 0,669 | 1,017 | 1,288 | 1,635 | 1,597 | 1,709 | 1,859 |
TO | 1,227 | 1,383 | 1,536 | 2,059 | 2,476 | 1,687 | 2,826 | 3,140 | 3,154 | 3,581 |
MA | 1,600 | 1,651 | 1,686 | 1,857 | 2,100 | 1,250 | 2,473 | 3,026 | 2,992 | 3,130 |
PI | 1,144 | 1,263 | 0,917 | 1,489 | 1,834 | 0,646 | 2,048 | 2,539 | 2,634 | 2,563 |
AL | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,000 | 0,006 | 0,005 | 0,005 |
BA | 3,508 | 3,183 | 2,692 | 3,308 | 4,181 | 3,211 | 5,123 | 6,333 | 5,404 | 6,122 |
MT | 20,412 | 21,849 | 23,533 | 26,442 | 28,019 | 26,278 | 30,709 | 33,201 | 32,959 | 35,885 |
MS | 5,169 | 4,628 | 5,809 | 6,148 | 7,178 | 7,241 | 8,576 | 9,715 | 9,760 | 11,363 |
GO | 8,182 | 8,252 | 8,563 | 8,995 | 8,625 | 10,250 | 11,111 | 12,223 | 12,098 | 13,159 |
DF | 0,176 | 0,176 | 0,187 | 0,216 | 0,147 | 0,231 | 0,247 | 0,260 | 0,242 | 0,291 |
MG | 2,914 | 3,059 | 3,375 | 3,346 | 3,524 | 4,747 | 5,067 | 5,747 | 5,386 | 6,172 |
SP | 1,709 | 1,598 | 2,051 | 1,688 | 2,366 | 2,844 | 3,084 | 3,410 | 3,228 | 3,959 |
PR | 15,424 | 10,942 | 15,912 | 14,781 | 17,210 | 16,845 | 19,922 | 20,045 | 16,922 | 21,598 |
SC | 1,489 | 1,085 | 1,579 | 1,644 | 1,920 | 2,135 | 2,293 | 2,363 | 2,421 | 2,253 |
RS | 11,621 | 6,527 | 12,535 | 12,868 | 15,700 | 16,201 | 18,836 | 18,380 | 19,522 | 11,444 |
BR | 75,324 | 66,383 | 81,499 | 86,173 | 97,094 | 95,698 | 115,027 | 123,259 | 119,718 | 124,845 |
Fonte: Conab (2021).
As variações nas condições edafoclimáticas das regiões sojícolas podem incorrer em estresses abióticos (e.g. estresses hídricos e elevação de temperatura) ou em estresses bióticos, especialmente insetos-praga, doenças e plantas daninhas. Dito de outra forma, o rendimento da cultura é impactado tanto por estresses bióticos quanto por estresses abióticos, que podem gerar perdas produtivas significativas.
Em painéis realizados pela Embrapa Soja, especialistas da cadeia produtiva relataram que no período mais recente, o contexto mercadológico favorável incentivou investimentos em práticas de manejo do solo e da cultura, voltados para o elevado rendimento da soja. Porém, em algumas safras, determinadas regiões produtoras enfrentaram problemas que comprometeram o desenvolvimento da soja e causaram a redução de produtividade das lavouras, com destaque para os regimes de estiagem (veranicos) durante o ciclo da cultura. Para tratar o problema, os especialistas relataram que é essencial adotar práticas de manejo que visem à conservação do solo, retenção de água e menores perdas por evaporação para viabilizar a produção de grãos, além de outras tecnologias como cultivares com um sistema radicular agressivo (Hirakuri et al. 2018, 2019a, 2019b).
Considerando o contexto descrito, esta publicação trata das perdas econômicas geradas pela combinação de estresses bióticos e abióticos na produção de soja, entre as safras 2015/2016 e 2019/2020, ou seja, em um período mais recente.
Impacto dos estresses na produtividade da soja
Para a análise dos impactos causados por estresses bióticos e abióticos, na produção de soja, está sendo utilizado o procedimento de cálculo definido em Hirakuri et al. (2015), para avaliar a estabilidade da produção regional de determinada cultura agrícola, o qual estima uma produtividade regional modal, a partir de 10 safras sequenciais2. Nesse sentido, a Tabela 3 traz as produtividades médias dos estados, entre as safras 2015/2016 e 2019/2020 (período mais recente), assim como as produtividades modais estaduais do decênio 2011-2020. Também traz a redução de produtividade devido à combinação de estresses bióticos e abióticos, denominada de quebra de produção. Um quadro de quebra produtiva se configura quando a produtividade média estadual de uma determinada safra é inferior à produtividade modal e excede o limite estabelecido de 60 kg ha-1 (1,0 sc ha-1). Por exemplo, configurou-se uma quebra de produção no Tocantins, na safra 2015/2016, uma vez que a produtividade média alcançada (1.937,0 kg ha-1) foi inferior à produtividade modal estadual (2.936,5 kg ha-1) e acima do limite definido. Na safra 2016/2017, por sua vez, a produtividade média (2.932,0 kg ha-1) foi pouco inferior à produtividade modal estadual, ficando a diferença inferior ao limite estabelecido, não sendo configurada a ocorrência de quebra de produção.
A partir dos cálculos realizados, observou-se que as quebras mais severas na produção de soja ocorreram nas safras 2015/2016, na região agrícola do MATOPIBA3 e 2019/2020, no Rio Grande do Sul. A quebra de safra no MATOPIBA ocorreu, sobretudo, pela combinação de temperaturas elevadas e longos períodos de estiagem durante o ciclo da cultura (Gomes, 2016; Produção…, 2016; Lara, 2016). Referente ao Rio Grande do Sul, a quebra de produção foi causada, principalmente, por períodos de estiagem, que se iniciaram em dezembro de 2019 e que continuaram durante todo o ciclo da cultura, afetando diferentes fases de desenvolvimento da planta (Rio Grande do Sul, 2020).
Tabela 3. Produtividade da soja nos estados, entre as safras 2015/2016 e 2019/2020.
Estado |
2015/2016 |
Produtividade da soja (kg ha-1)
2016/2017 2017/2018 2018/2019 |
2019/2020 |
Modal |
||
TO | 1.937,0 | 2.932,0 | 3.178,0 | 3.066,0 | 3.322,0 | 2.936,5 |
PA | 3.003,0 | 3.270,0 | 2.905,0 | 3.044,0 | 3.061,1 | 3.078,6 |
RO | 3.028,4 | 3.143,0 | 3.282,0 | 3.323,9 | 3.541,0 | 3.197,2 |
RR | 3.300,0 | 3.000,0 | 3.077,0 | 2.700,0 | 3.044,2 | 2.923,8 |
BA | 2.103,0 | 3.242,0 | 3.960,0 | 3.420,0 | 3.779,0 | 3.340,7 |
MA | 1.590,0 | 3.010,0 | 3.180,0 | 3.015,0 | 3.206,0 | 2.934,7 |
PI | 1.143,0 | 2.952,0 | 3.573,0 | 3.475,0 | 3.377,0 | 2.874,5 |
MT | 2.875,0 | 3.294,0 | 3.488,0 | 3.398,0 | 3.587,0 | 3.138,2 |
GO | 3.120,0 | 3.389,0 | 3.609,0 | 3.480,0 | 3.712,0 | 3.049,0 |
MS | 2.980,0 | 3.400,0 | 3.636,0 | 3.420,0 | 3.767,0 | 2.963,4 |
DF | 3.300,0 | 3.524,0 | 3.630,0 | 3.300,5 | 3.900,7 | 3.279,1 |
MG | 3.231,0 | 3.480,0 | 3.810,0 | 3.420,0 | 3.747,0 | 2.843,0 |
SP | 3.316,0 | 3.445,0 3.546,0 | 3.240,0 | 3.567,0 | 3.389,0 | |
PR | 3.090,0 | 3.795,0 3.668,0 | 3.112,0 | 3.925,0 | 3.240,8 | |
RS | 2.970,0 | 3.382,0 | 3.229,0 | 3.379,0 | 1.939,0 | 2.880,0 |
SC | 3.341,0 | 3.580,0 | 3.484,0 | 3.642,0 | 3.310,0 | 3.201,9 |
Estado |
2015/2016 |
Redução de produtividade da soja (kg ha-1)
2016/2017 2017/2018 2018/2019 |
2019/2020 |
Modal |
||
TO | 999,5 | – | – | – | – | – |
PA | 75,6 | – | 173,6 | – | – | – |
RO | 168,8 | – | – | – | – | – |
RR | – | – | – | 223,8 | – | – |
BA | 1.237,7 | 98,7 | – | – | – | – |
MA | 1.344,7 | – | – | – | – | – |
PI | 1.731,5 | – | – | – | – | – |
MT | 263,2 | – | – | – | – | – |
GO | – | – | – | – | – | – |
MS | – | – | – | – | – | – |
DF | – | – | – | – | – | – |
MG | – | – | – | – | – | – |
SP | 73,0 | – – | 149,0 | – | – | |
PR | 150,8 | – – | 128,8 | – | – | |
RS | – | – | – | – | 941,0 | – |
SC | – | – | – | – | – | – |
Fonte: elaborado a partir de Conab (2021).
Não obstante as quebras severas de produção de soja serem importantes e impactarem profundamente no agronegócio brasileiro, as quebras moderadas de produção também merecem atenção do setor produtivo. Como verificado na Tabela 3, foram observadas quebras moderadas de produção nos seguintes estados: PA (safra 2017/2018); RO (safra 2015/2016); RR (safra 2018/2019); MT (safra 2015/2016); SP (safra 2018/2019) e PR (safras 2015/2016 e 2018/2019).
Também foram observadas quebras menores de produção de soja, ocorridas nos seguintes estados: PA (safra 2015/2016); BA (safra 2016/2017) e SP (safra 2015/2016). Conforme acompanhamento da Embrapa Soja junto ao setor sojícola dos estados, essas quebras geralmente ocorreram pela combinação de estresses bióticos e abióticos, com destaque para períodos de seca, muitas vezes, acompanhados de elevada temperatura.
Não houve quebra de produção de soja em GO, MS, SC, MG e DF, no período observado, com as produtividades alcançadas entre as safras 2015/2016 e 2019/2020 superando a produtividade modal. Dito de outra forma, a produtividade da soja dos três estados e do DF, neste quinquênio, foi superior à produtividade do quinquênio anterior, se mantendo estável em um patamar elevado (Tabela 3).
Impacto produtivo e econômico dos estresses na sojicultura
A partir das quebras produtivas indicadas na Tabela 3 e das áreas estaduais, foi estimada a perda econômica do agronegócio da soja nos estados (Tabela 4). Como pode ser observado, a primeira e última safra do período foram aquelas em que houve a maior perda produtiva e econômica. Na safra 2015/2016, houve uma redução de 8,2 milhões de toneladas, que correspondeu a 8,0% da produção potencial e gerou uma perda econômica de R$ 11,1 bilhões, enquanto na safra 2019/2020, a redução foi de 5,6 milhões de toneladas, que representou 4,9% da produção esperada e causou uma perda econômica de R$ 6,9 bilhões.
Nas demais safras, a redução causada pelos estresses bióticos e abióticos foi inferior a 1,0% da produção esperada de soja, com prejuízos econômicos variando entre R$ 116 milhões e R$ 1,1 bilhão (Tabela 4). Em meio a este cenário, os estresses bióticos e abióticos geraram uma perda de R$ 19,3 bilhões à sojicultura brasileira, no período considerado. Referente aos estados, são feitas as seguintes observações:
- Rio Grande do Sul: apresentou a maior perda econômica do período (R$ 6,9 bilhões), em virtude da quebra de produção ocorrida na safra 2019/2020 (Tabela 2), a qual foi potencializada pela extensa área de soja do estado (Tabela 1);
- Mato Grosso: mesmo sofrendo apenas uma quebra moderada no período (Tabela 3), a expressiva área de soja (Tabela 1) fez o principal estado produtor do grão alcançar a segunda maior perda econômica (R$ 3,1 bilhões);
- Bahia: o estado apresentou a terceira maior perda econômica (R$ 2,8 bilhões), mesmo possuindo uma área de produção bastante inferior àquela observada para os principais estados produtores de soja, como Mato Grosso e Paraná (Tabela 1), em decorrência de uma quebra severa na safra 2015/2016 (Tabela 2);
- Paraná: alcançou a quarta maior perda econômica (R$ 2,0 bilhões), em decorrência de duas quebras moderadas no período (Tabela 2), as quais foram potencializadas pela significativa área de produção estadual (Tabela 1);
- Maranhão, Piauí e Tocantins: também tiveram perdas econômicas significativas (MA: R$ 1,5 bilhão; PI: R$ 1,3 bilhão; TO: R$ 1,2 bilhão), sendo que especialistas da cadeia produtiva ressaltaram que os três estados são importantes regiões, onde a soja tem apresentado uma expansão gradual de área (Tabela 1), mas que tem sido restringida, sobretudo, pela ocorrência de períodos de veranicos durante o ciclo da cultura;
- São Paulo e Pará: embora tenham tido perdas econômicas menores, os estados tiveram duas safras com quebras moderadas ou leves, de tal forma que a manutenção da expansão sojícola tende a potencializar prejuízos futuros, causados por estresses bióticos e abióticos na produção de
Tabela 4. Perdas econômicas, por estresses bióticos e abióticos, na produção de soja dos estados, entre as safras 2015/2016 e 2019/2020.
Estimativa de perdas econômicas | ||||||
2015/2016 | 2016/2017 2017/2018 2018/2019 | 2019/2020 | Total (Bilhões R$) | |||
REGIÃO/UF | (Bilhões R$) | (Bilhões R$) (Bilhões R$) (Bilhões R$) | (Bilhões R$) | |||
TO | 1,245 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1,245 |
PA | 0,04 | 0 | 0,116 | 0 | 0 | 0,156 |
RO | 0,051 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0,051 |
RR | 0 | 0 | 0 | 0,011 | 0 | 0,011 |
Norte | 1,335 | 0 | 0,116 | 0,011 | 0 | 1,462 |
BA | 2,587 | 0,192 | 0 | 0 | 0 | 2,779 |
MA | 1,54 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1,54 |
PI | 1,334 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1,334 |
Nordeste | 5,461 | 0,192 | 0 | 0 | 0 | 5,653 |
MT | 3,057 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3,057 |
GO | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
MS | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
DF | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Centro-Oeste | 3,057 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3,057 |
MG | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
SP | 0,086 | 0 | 0 | 0,184 | 0 | 0,27 |
Sudeste | 0,086 | 0 | 0 | 0,184 | 0 | 0,27 |
PR | 1,133 | 0 | 0 | 0,861 | 0 | 1,994 |
RS | 0 | 0 | 0 | 0 | 6,896 | 6,896 |
SC | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Sul | 1,133 | 0 | 0 | 0,861 | 6,896 | 8,89 |
Brasil | 11,073 | 0,192 | 0,116 | 1,056 | 6,896 | 19,332 |
Considerações
Os estresses abióticos, principalmente os períodos de estiagem na fase reprodutiva, foram os principais responsáveis pelas quebras de produção de soja, ocorridas no Brasil entre as safras 2015/2016 e 2019/2020, com destaque para os veranicos que aconteceram no Rio Grande do Sul na safra 2019/2020 e no MATOPIBA na safra 2015/2016. Em meio a este contexto, a perda de produção de soja pela combinação de estresses bióticos e abióticos foi de 14,8 milhões de toneladas, em cinco safras, valor superior à produção de uma safra de culturas graníferas, como arroz, trigo, algodão em caroço, feijão e sorgo.
A perda econômica para o agronegócio da soja, gerada pela combinação de estresses bióticos e abióticos, totalizou R$ 19,3 bilhões, em cinco safras, ressaltando a ocorrência de perda expressiva em duas safras (2015/2016 e 2019/2020) e de perda moderada em uma safra (2018/2019). Isso demonstra que os referidos estresses são muito impactantes para a agricultura brasileira, ganhando respaldo em práticas de manejo inadequadas, como a baixa diversificação de espécies cultivadas, a nutrição desequilibrada das plantas, a mobilização excessiva do solo e o cultivo em Sistema Plantio Direto (SPD) com pouca palha, as quais, muitas vezes não estão baseadas em critérios técnicos adequados e se transformam em um facilitador para a evolução de pragas e doenças.
A redução das perdas econômicas geradas pelos estresses bióticos e abióticos na sojicultura permitiria a capitalização de produtores, o aumento do fluxo de capital em polos agrícolas e a realização de investimentos para fortalecer cadeias produtivas do agronegócio, o que poderia promover o desenvolvimento socioeconômico de regiões e municípios sojícolas. Nesse sentido, será essencial a evolução dos estudos em genética e biologia das plantas, no sentido de se obterem cultivares, tecnologias e mecanismos que permitam à soja maior tolerância aos estresses, tanto bióticos quanto abióticos. Também será fundamental, a expansão da adoção do SPD em sua plenitude, ou seja, com maior diversificação de cultivos, palha sobre o solo e manutenção do carbono orgânico no solo.
Adicionalmente, outras estratégias devem ser preconizadas, como o manejo integrado de insetos-praga (MIP), doenças (MID) e plantas daninhas (MIPD) e a semeadura da soja em época cuja probabilidade de perdas por estresses abióticos seja menor, além da adoção de densidades de plantas e realização de fertilização de acordo com as indicações técnicas. Estas práticas, além de tornar a produção de soja mais resiliente, podem potencializar o desempenho produtivo da cultura, favorecendo a obtenção de elevadas produtividades.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
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