(Curadoria Agro Insight)
Olá pessoal do Agro,
Na curadoria de hoje continuamos abordando plantas daninhas resistentes aos herbicidas. Mas hoje, trouxemos um estudo da Embrapa que avalia o aumento do custo que essa resistência gera aos produtores.
Estudo: Impacto econômico da resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil
A resistência é definida como a habilidade herdada de uma planta daninha em sobreviver e reproduzir-se após a exposição a uma dose de herbicida normalmente letal (dose de bula) para a população natural.
Os primeiros casos de resistência a herbicidas no Brasil foram relatados em 1993, relativos às espécies Bidens pilosa (picão-preto) e Euphorbia heterophylla (leiteiro), resistentes a herbicidas inibidores da enzima acetolactato-sintase – ALS. Atualmente o número de relatos perfaz 44 casos, abrangendo 22 espécies e oito mecanismos de ação.
O uso intensivo do glifosato, herbicida inibidor da EPSPs, acarretou grande pressão de seleção sobre as plantas daninhas, resultando na seleção de sete espécies daninhas resistentes: o azevém (Lolium multiflorum), a buva (Conyza bonariensis, C. canadensis, C. sumatrensis), o capim-amargoso (Digitaria insularis), o caruru-palmeri (Amaranthus palmeri) e o capim pé-de-galinha (Eleusine indica).
Custo do controle de plantas daninhas resistentes no Brasil
Conforme já comentado, os principais custos da resistência relacionam-se com a necessidade do uso de herbicidas alternativos e as perdas de produtividade devido à competição das plantas daninhas resistentes remanescentes na lavoura. O custo com herbicidas alternativos é variável de acordo com a opção adotada pelo produtor, uma vez que, na maioria das vezes, há mais de uma alternativa de produto para uso no manejo das populações resistentes.
Os resultados do custo das opções de controle químico de azevém, de buva e do capim-amargoso resistentes ao glifosato estão apresentados na Tabela 1. Como padrão, em um cenário de ausência de resistência, o custo médio de controle pode ser restrito a uma aplicação de glifosato na dessecação e duas aplicações na pós-emergência, resultando em custo atualizado total de R$ 120,00/ha.
Em um cenário de infestação de azevém resistente ao glifosato, existe a necessidade do uso de um herbicida graminicida alternativo associado ao glifosato para controle da infestante, com isso o custo por hectare fica no intervalo entre R$ 118,60 a R$ 236,70, o que representa um aumento médio de gasto com herbicidas de R$ 57,65 ha (Tabela 1).
Outro cenário prático, para o Sul do Brasil, é a ocorrência de buva e azevém com resistência múltipla na mesma área. Nesse caso as opções restringem-se apenas à dessecação com o herbicida 2,4-D para controle da buva e paraquate para o controle do azevém. Já para aplicação seletiva na cultura, os herbicidas flumioxazin e trifluralina são as principais opções. O custo total do controle, nesta situação, pode variar entre R$ 141,90 a R$ 253,20, com média de R$ 197,55/ha (Tabela 1).
Em áreas infestadas com capim-amargoso resistente ao glifosato, a alternativa de controle passa a ser o uso de graminicidas específicos, principalmente os inibidores da ACCase, tanto em dessecação como em pós-emergência da cultura, podendo ser intercalados na dessecação, com herbicidas de contato, como o paraquate e o amônio-glufosinato. De maneira geral, tem-se realizado entre 2 a 4 aplicações de graminicidas, o que aumenta o custo médio de controle em R$ 198,35/ha (Tabela 1).
No cenário de infestação conjunta de capimamargoso e buva resistentes ao glifosato, que tem ocorrido em várias regiões do Paraná e do Cerrado, o custo de controle pode chegar a R$ 479,50/ha, portanto, um acréscimo de até R$ 359,50/ha quando comparado à área sem a presença destas espécies resistentes, sendo que na presença dessas espécies o custo médio de controle é de R$ 386,65/ha (Tabela 1).
Tabela 1. Estimativa do custo do controle na cultura da soja, atualizado para julho de 2017, de populações isoladas ou mistas de azevém, buva e capim-amargoso, com resistência isolada ao glifosato e múltipla também para os inibidores da ALS e ACCase.
Situação de resistência | Mínimo (R$/ha) | Máximo (R$/ha) | Média (R$/ha) |
Sem resistência | 95,40 | 144,60 | 120,00 |
Azevém | 118,60 | 236,70 | 177,65 |
Buva | 126,20 | 214,80 | 170,50 |
Capim-amargoso | 264,40 | 372,30 | 318,35 |
Azevém + Buva | 141,90 | 253,20 | 197,55 |
Buva + Capim amargoso | 293,80 | 479,50 | 386,65 |
Quando se realiza a análise da variação percentual do custo de controle (Tabela 2), pode-se verificar o grande aumento dos custos em lavouras com a presença de plantas daninhas resistentes ao glifosato, variando, em média, entre 42% e 48%, para as infestações isoladas de buva e azevém, respectivamente, e até 165%, com a presença de capim-amargoso. Nas situações de maior dificuldade de controle, onde ocorrem os maiores gastos, o custo de controle para estas espécies praticamente triplicou em relação ao custo mínimo, sendo de 125% maior para a buva, 148% para o azevém e de 290% para o capim-amargoso (Tabela 2).
Conforme pode-se observar ainda na Tabela 2, em situações de infestações mistas de espécies daninhas resistentes ao glifosato, o aumento nos custos de controle é ainda maior. Para situações de presença de azevém e buva o custo médio aumentou 65% em comparação com áreas sem resistência, sendo o maior incremento de 165%.
A pior situação em relação aos custos de controle ocorre em situações de infestação mista de buva e capim-amargoso, com aumento médio de 222%, e em casos extremos (alta infestação e plantas bem desenvolvidas) podendo atingir o montante de 403% de aumento dos custos de controle.
Tabela 2. Estimativa do aumento percentual do custo do controle de plantas daninhas, em áreas de soja com presença de diferentes populações de plantas daninhas resistentes aos inibidores da EPSPs (glifosato), comparado a áreas sem resistência.
Situação de resistência | Aumento médio | Aumento máximo |
Azevém | 48% | 148% |
Buva | 42% | 125% |
Capim-amargoso | 165% | 290% |
Azevém + Buva | 65% | 165% |
Buva + Capim amargoso | 222% | 403% |
Analisando toda a área de soja infestada com plantas daninhas resistentes no Brasil, os custos de controle em relação as área sem problemas de resistência estão entre R$ 3.796.540.000,00 a R$ 6.046.500.000,00, com incremento médio de R$ 4.918.820.000,00 ao ano. Se foram acrescentadas a este custo de controle, perdas médias de 5% da cultura da soja em função da competição com a população resistente, o custo total da resistência no Brasil poderia atingir R$ 9 bilhões anualmente.
Nesse cenário, é extremamente importante que todos ao agentes do setor produtivo se conscientizem da importância de enfrentamento do problema da resistência das plantas daninhas aos herbicidas, cujo planejamento deve ser feito dentro dos princípios do manejo integrado de plantas daninhas (MIPD), que pode ser definido como sendo a seleção e a integração de métodos de controle e o conjunto de critérios para a sua utilização, com resultados favoráveis dos pontos de vista agronômico, econômico, ecológico e social.
Considerações
Os dados apresentados demonstram a importância do manejo integrado de plantas daninhas com o objetivo de evitar a ocorrência de plantas daninhas resistentes. Vale ressaltar ainda, que as estimativas são do ano de 2017, indicando que atualmente, após a disparada no preço dos herbicidas, o custo do controle de plantas daninhas resistentes é com certeza muito maior.
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