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O agronegócio brasileiro avança para garantia da produção sustentável de alimentos

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(Curadoria Agro Insight)

Hoje, na curadria Agro Insight, compartilhamos um texto de Daniel Carrara Engenheiro–agrônomo, pós- graduado em Administração Rural, diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. O artigo é na verdade um capítulo do livro “O Futuro da Agricultura Brasileira – 10 Visões” . O livro busca compilar em dez capítulos a opinião de grandes analistas e formadores de opinião do setor.

Alimentar é construir o futuro: Desafios rumo à segurança alimentar em 2050

É notório que a demanda por alimentos se encontra crescente e nos próximos anos não será diferente. Em 2009, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) projetava para 2050 uma população mundial acima de 9 bilhões de habitantes. Essa ampliação populacional, por sua vez, deverá ser acompanhada do aumento na demanda de alimentos em mais de 60% (FAO, 2018). Mesmo com os avanços já alcançados (e as alterações do sistema de produção) desde a ocorrência das projeções, a necessidade de aumento de produção de alimento será inegável. Diversos estudos publicados na última década indicam expansão da demanda em maior ou menor grau. Uma análise de 57 projeções de segurança alimentar global indica que a demanda global por alimentos aumenta de 30% a 62% entre 2010 e 2050 (Dijk et al., 2021).

No entanto, o agronegócio brasileiro já avança para garantia da produção sustentável de alimentos.  O desenvolvimento científico acompanhado da inserção no campo, pelos produtores, de novos insumos, novas tecnologias e de boas práticas de produção têm garantido bom desempenho do setor e abastecimento de alimentos. No caso dos grãos, por exemplo, nos últimos 20 anos, a produção aumentou 120%, enquanto a área aumentou apenas 68% (Conab, 2022), demonstrando os ganhos de eficiência do setor. As perspectivas de produção de alimentos do Brasil para 2050 não sinalizam retrocessos nesse comportamento de crescimento.

É certo que ocorrerão alterações das cadeias produtivas. Elas serão movidas pela necessidade de aumento da eficiência de uso dos fatores de produção, diante da elevação dos custos de insumos e estreitamento de margens, bem como pelos novos padrões de consumo. Esse, por sua vez, influenciado pelo acesso amplo à informação, com tendências comportamentais de prevenção de doenças degenerativas e promo- ção de dietas e estilos de vida mais saudáveis.

Assim, os diferentes níveis de desenvolvimento econômico e os novos padrões de consumo da sociedade irão alterar significativamente a produção de alimentos nas próximas décadas. Isso sugere que, além da disponibilidade ampla de alimentos, novas referências de qualidade e de valoração dos produtos serão inseridas nas nuances da demanda. A partir do que se espera a inten- sificação da inserção dos parâmetros de sus- tentabilidade, saudabilidade e de valorização da origem entre os critérios de compra.

Com isso, espera-se maior participação de insumos de base biológica nos sistemas de produção; da irrigação ainda mais eficiente; da intensificação do uso de biotecnologias no melhoramento genético; da disseminação do uso da agricultura digital e de precisão; do amplo uso de ferramentas digitais de comercialização e rastreabilidade. No entanto, o maior salto no campo está associado ao uso de big data, sobretudo na melhoria da previsibilidade e controle dos fatores de produção e risco, que historicamente foi um ponto fraco do agronegócio quanto à atividade econômica, em comparação a outros setores da economia, como a indústria, por exemplo.

Essas mudanças acarretam a perspectiva de que o potencial do agronegócio brasileiro vá além da produção de alimentos, como já sinaliza hoje, e tenha avanços, principalmente, na sua contribuição direta e indireta para a matriz energética. Esta, por sua vez, deverá seguir comportamentos similares no que se refere ao crescimento de sua demanda e, sobretudo, em relação à preocupação com o nível de sustentabilidade da produção.

Agro 2050: mais conectado do que nunca

Desde que a agricultura surgiu, há cerca de 10 mil anos, o campo tem sido a prin- cipal fonte de alimentos para o homem. Vivemos hoje o Agro 4.0, também chamado de Agricultura Digital, o qual é caracterizado pela grande evolução dos sistemas utilizados e pela adoção de tecnologias que otimizam a produção e produtividade, promovem a sustentabilidade e utilizam engenharia de dados e comunicação máquina para máquina (M2M) para aprimorar a tomada de decisão no campo (Massruhá; Leite, 2017).

Para os próximos anos, a agropecuária precisará se reinventar novamente. O Agro 5.0 já está no horizonte (Fraser; Campbell, 2019; Saiz-Rubio; Rovira-Más, 2020; Ahmad; Nabi, 2021; Martins et al., 2023). Novas tecnologias, como big data, blockchain, machine learning, IoT (Internet of Things), quantum computing, serviços na nuvem, inteligência ar- tificial, entre outras, deverão ganhar escala. Segundo Marr (2018), aproximadamente 90% de todos os dados existentes foram gerados nos últimos 5 anos. Estimativas apontam que a quantidade de dados criados anualmente deverá crescer para 1 trilhão de gigabytes (Reinsel, 2017) e que muitos desses dados serão gerados e consumidos na agropecuária.

Os mecanismos de transformação de dados em informações e sua materialização em eficiência produtiva devem ser a virada de chave para os próximos 30 anos da agropecuária brasileira e mundial, principalmente de previsibilidade dos sistemas de produção agropecuários no que se refere à sua relação com o clima. Espera-se, assim, o aperfeiçoamento das práticas de mitigação, a melhor gestão econômica do setor e o fortalecimento da tomada de decisão em prol da segurança alimentar mundial sob o aspecto da quantidade e qualidade.

Antes da difusão massiva desses mecanismos, acredi- ta-se que haverá o aprimoramento tecnológico para a difusão das informações já existentes, principalmente entre os peque- nos e médios agropecuaristas. Isso será o início da ampliação sustentável da produção agropecuária brasileira. No rumo dos avanços pós-pandemia de Covid-19 e da aceleração de novas tecnologias, o uso de aplicativos na assistência técnica, o treinamento e a difusão tecnológica à distância indicam esses primeiros passos.

No entanto, o futuro está mais próximo do que imagi- namos para os avanços de eficiências em prol da precisão, e, para que seja possível a interação entre todos os stakeholders do setor, a conectividade será palavra-chave para a nova revolução da agropecuária. O avanço da rede 5G pelo mundo já não é novidade, e, entre seus benefícios, é interes- sante citar a enorme taxa de dados transferidos, latência quase zero entre aparelhos e grande densidade de dispositivos que permitirão a construção de ecossistemas robustos e inovadores, fornecendo serviços especializados para o setor (Tomaszewski et al., 2022).

O uso da internet no futuro será ainda mais intenso do que hoje, com produtores mapeando e gerenciando as propriedades na ponta dos dedos, identificando gargalos de produção com um clique, levando todos os dados da sua produção no bolso para onde forem. Empresas de tecnologia serão mais demandadas do que nunca pelo setor e precisarão estar prontas para lidar com as adaptações necessárias.

Para que a agropecuária brasileira seja responsável por alimentar bilhões de pessoas no futuro, o País terá que recorrer às tecnologias que visem ao aumento de produtividade, utilizando de forma consciente e sustentável os recursos naturais. Para isso, os avanços na ciência de dados podem transformar a forma como eles podem ser coletados, analisados e usados para melhorar a produtividade no setor (National Academies Press, 2019).

Nesse contexto, espera-se o desenvolvimento de uma estratégia conjunta para ciência de dados, unindo organizações públicas e privadas para pesquisar e incentivar as áreas emergentes de tecnologia da informação no campo, enfrentando os novos desafios na geração de dados. Será necessário priorizar as pesquisas que abordem as preocupações com a privacidade de informações e que incentivem o compartilhamento de dados públicos, focando a soberania e segurança alimentar.

O agro ainda mais biológico

Para além da eficiência de uso ancorada em novas tecnologias, as tendências indicam alteração da natureza dos insumos. Para sustentar a posição de destaque atual no suprimento de alimentos, o País ainda depende, em sua grande maioria, de insumos importados. Uma das maiores investidas tecnológicas para redução dessa dependência refere-se ao desenvolvimento e uso de insumos de base biológica. Movimentos dessa natureza já apresentam ganhos bilionários, como é o caso da fixação biológica de nitrogênio (FBN). No entanto, o portfólio de bioinsumos é amplo e inclui promotores de crescimento de plantas, biofertilizantes, agentes biológicos para nutrição vegetal e animal, extratos vegetais, agentes de controle biológico de pragas e doenças, etc.

As dificuldades geradas pela dependência de produtos importados, intensificadas atualmente por crises energéticas e conflitos geopolíticos em importantes fornecedores, evidenciam a necessidade de incentivo à produção doméstica, de forma a com- plementar técnicas de manejo e reduzir custos. Isso surtirá efeitos impulsionadores no desenvolvimento desses insumos. Porém, o alicerce de longo prazo de evolução é a busca crescente por alternativas sustentáveis sob a ótica social, ambiental e econômica.

Quanto à proteção de plantas, o uso de bioinsumos já é uma realidade em plena expansão, com o Brasil investindo fortemente em biodefensivos. Segundo a IHS Markit (2021), o mercado de produtos biológicos de controle no Brasil cresceu a uma taxa anual de 42% em comparação à taxa global de 16% (Meyer et al., 2022).

Com participação cada vez maior na produção agrícola, pode-se dizer que há grande potencial de crescimento dos bioinsumos na agricultura brasileira. Para isso, a ampliação da segurança jurídica para produção na fazenda, para uso próprio desses insumos – amparados na ciência, no desenvolvimento científico e no acompanhamento da assistência técnica –, deverá ser fundamental para a evolução do setor. O Brasil já caminha na organização setorial para o estabelecimento de políticas públicas direcio- nadas, por meio do Programa Nacional de Bioinsumos (Brasil, 2022), as quais, se bem estruturadas, poderão ser a base para um agro cada vez mais biológico.

Consumidores como locomotivas da produção

As transformações tecnológicas e de uso dos insumos previstas nas cadeias de valor, sejam elas destinadas à alimentação humana ou à indústria de transformação, serão norteadas pelas demandas de mercado, que, por sua vez, sofrem influência do desenvolvimento econômico e do nível de ampliação de renda da população.

Diversificação de dietas é uma tendência. Espera-se um distanciamento de ali- mentos ricos em amido, à medida que a renda per capita aumenta, e uma mudança para outros grupos de alimentos, exceto leguminosas, que não são negligenciadas conforme a renda cresce. Os aumentos de consumo mais importantes são observados para produtos de origem animal, seguidos, respectivamente, por gorduras, adoçantes, hortaliças e frutas. Isso é o que aponta o estudo do Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar (Gouel; Guimbard et al., 2017).

O mesmo estudo estima que a demanda para 2050 irá aumentar 46% entre 2019 e 2050, representando menos da metade do crescimento vivenciado nas quatro décadas antecedentes a 2010. No entanto, o estudo aponta um maior crescimento em países em desenvolvimento em razão do fato de os países desenvolvidos já terem atingido eleva- dos níveis de consumo per capita. Apesar disso, o consumo de grãos ricos em amido tende a crescer a taxas menores (19%), impulsionado, basicamente, pelo crescimento populacional sem expectativas de aumento de consumo per capita. Por sua vez, as proteínas animais devem ter demanda ampliada em 71%.

No que tange à produção agropecuária, a inquietação quanto às tendências de consumo influi diretamente nas estratégias adotadas ao longo das cadeias produtivas. A demanda por alimentos seguros, alimentos saudáveis e cadeias de valor com foco em sustentabilidade podem interferir positivamente; o que já ocorre hoje impactará ainda mais a organização das cadeias produtivas.

Por mais que já ocorra, acredita-se que a melhoria da comunicação e o aprimoramento dessas práticas de cultivo na direção da sustentabilidade será uma tendência para os próximos anos. O zelo com o ambiente no qual se produz, o uso racional de recursos, o aproveitamento de subprodutos e a mitigação de perdas e desperdícios ao longo da cadeia serão pré-requisitos para que o processo produtivo atenda às tendências da demanda.

Para a acreditação das cadeias produtivas, de marcas e de produtos específicos, mecanismos de certificação e rastreabilidade serão inevitáveis para o setor agropecuário de 2050. Nesse sentido, estratégias de gestão e controle de qualidade vêm sendo adotadas de forma crescente, e por vezes aprimoradas em cadeias específicas. A sistemática Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) é amplamente utiliza- da na indústria de alimentos (Cabrera et al., 2020), mas apresenta pontos críticos para sua utilização no setor primário de produção. Isso demandará mecanismos práticos, transparentes e de rápida checagem, nos quais as tecnologias de blockchain e big data serão imprescindíveis. O agronegócio terá de se adaptar a esse processo evolucionário de georrastreabilidade e de certificação dos sistemas de produção.

Quanto ao cumprimento dessas exigências de mercado, o País já encontra bases regulatórias estruturadas que permitem a identificação da origem, como a Lei no 12.651/2012 (Brasil, 2012), por meio do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e todas as bases de dados governamentais, com tecnologias de georreferenciamento que poderão alavancar esse processo, principalmente, no que se refere à validação das práticas já realizadas.

Porém, mais do que critérios de diferenciação, acredita-se que rastreabilidade e transparência dos sistemas de produção serão necessidades básicas de acesso a mercados. Os principais desafios do Brasil para os próximos anos serão: a) a definição de estratégias de prevenção às barreiras técnicas impostas por competidores internacionais (disfarçadas de exigência dos consumidores ou de métricas de mitigação de impactos ambientais); e b) o aprimoramento da comunicação com a sociedade.

Agro: muito além da alimentação

Sabe-se que o agronegócio possui encargo fundamental em diversas outras áreas para além do seu papel primordial, que é alimentar o mundo. Ainda que se trate do seu peso essencial relacionado à matéria-prima para os mais diversos tipos de indústrias, observam-se claramente os movimentos acerca de transformações irremediáveis no que tange à sociedade em si, considerando sustentabilidade e inovação. Exemplo disso é a transição energética, sobre o que tanto se tem debatido e direcionado esforços.

Alimentar é construir o futuro: desafios rumo à segurança alimentar em 2050

O setor agropecuário, já no setor energético, envolve e aprimora instrumentos para mitigação, redução, compensação e neutralização de emissões de poluentes atmosféricos e gases de efeito estufa, como o gás carbônico, a fim de trazer soluções e contribuições muito positivas a curto, médio e longo prazos. Tendência que deve ser mantida, seguindo as premissas de economia circular.

O aproveitamento de resíduos orgânicos e biomassa de diferentes culturas, que hoje correspondem a 9% da potência outorgada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) da matriz energética do Brasil – superior à gerada na Usina Itaipu –, possui um dos maiores potenciais de crescimento gerador de energia nos próximos anos. Segundo a Aneel, a capacidade de geração de energia por biomassa de cana-de-açúcar atingiu 12,1 GW em agosto de 2021, correspondendo a incremento superior a 30% em relação a 2016 (Agência Nacional de Energia Elétrica, 2022).

Já as projeções da Empresa de Pesquisa Energética indicam que, em 2030, a energia gerada por resíduos agroindustriais e agrícolas, apenas do setor sucroalcooleiro, deverá equivaler a aproximadamente 2,4 milhões de barris de petróleo, valor 166% maior que o considerado no ano de 2005 (Brasil, 2021). Soma-se a isso o intenso grau de avanço em pesquisas e desenvolvimento do setor, que pode beneficiar ainda mais o cenário futuro.

Além disso, por meio da biomassa amplamente disponível, se produzirão volumes cada vez maiores de biocombustíveis, como etanol, biodiesel e biometano, reduzindo significativa- mente a dependência por combustíveis fósseis. Políticas como o RenovaBio (Política Nacional de Biocombustíveis) estimulam a produção e o consumo de combustíveis limpos e renováveis, de modo ainda a trazer benefícios, não somente ambientais, mas também financeiros, para aqueles que o implementam, permitindo a comercialização de créditos de descarbonização aos diferentes elos da cadeia, possibilitando também para agentes não obrigados, mas interessados a negociá-los. Os ganhos ambientais já são notórios. De 2020, quando do início do programa RenovaBio, até julho de 2022, mais de 81 milhões de toneladas de CO2 equivalente foram evitados na atmosfera, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocom- bustíveis, 2022).

Nesse sentido, também é importante ressaltar a relevância dos mercados de car- bono, sejam voluntários ou regulados, na composição de uma economia cada vez mais verde. O Brasil é a grande aposta na geração de ativos de carbono frente ao mercado global, e estimativas do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sus- tentável (CEBDS) apontam que o País possui um potencial de movimentar mais de US$ 160 bilhões em créditos até 2030 e mais de US$ 300 bilhões até 2050 (Proposta…, 2021), inclusive se tornando um dos maiores fornecedores de créditos a outros países que precisem compensar suas emissões, como corrobora estudo do International Chamber of Commerce (ICC Brasil), que aponta que o Brasil deve suprir 22% da demanda global de créditos de carbono (Relatório…, 2021).

Outras iniciativas, principalmente ligadas à transformação digital, como IoT e Agri- cultura 5.0, andarão paralelamente com novas tendências emergentes do setor. Dessa forma, não somente produtores rurais e outros agentes ligados direta ou indiretamente às cadeias produtivas serão positivamente impactados com as mudanças que estão por vir, mas toda a sociedade de forma globalizada.

Desafios para o setor

Com avanços em campo ancorados na eficiência do uso dos fatores de produção, na transparência de execução de boas práticas, na demanda crescente pela rastrea- bilidade e, sobretudo, na análise conjunta e eficiente de dados em prol da mitigação dos fatores de risco, a ampliação do acesso à internet é um desafio atual e que precisa ser enfrentado nos próximos anos. Democratizar o acesso a ela será um serviço social com efeitos de maior e menor intensidade nos diferentes sistemas de produção e porte de propriedades, por isso, encontra-se entre os desafios atuais que devem ser considerados na próxima década.

Quanto aos bioinsumos e seu papel para evolução sustentável da agropecuária brasileira, a superação do desafio atual de criação de um marco regulatório que ofereça segurança jurídica, qualidade agronômica desses insumos e, sobretudo, que estimule a pesquisa e a expansão do potencial da nossa biodiversidade é o primeiro e maior passo.

Da mesma forma, o Estado terá um papel regente no direcionamento das políticas públicas e esforços em prol de uma produção que melhor atenda aos novos padrões de consumos. Mas, no curto prazo, o papel dos governos será primordial no oferecimento de ferramentas para o cumprimento legal e a translucidez das ações já realizadas, que enquadram a agropecuária brasileira como a mais sustentável do mundo. Transparência e comunicação adequada determinarão o nosso potencial de defesa e distinção entre as exigências de consumo e o cumprimento de políticas ambientais internacionais das barreiras técnicas impostas ao comércio internacional.

No entanto, o atendimento às boas práticas e à produção sustentável sob o aspecto ambiental demanda esforços financeiros adicionais dos produtores rurais. Agregar valor e buscar mecanismos de compartilhamento dos serviços ecossistêmicos prestados pelos agropecuaristas encontram-se entre os principais desafios para ame- nização desse custo. Tanto a normatização como a estruturação de mercados, tanto de pagamentos por serviços ambientais quanto da estruturação de mercados de carbono, são alternativas possíveis nessa direção.

Buscar meios claros, cooperativos e democráticos de solução desses desafios com amparo na ciência será o primeiro passo para o agronegócio brasileiro se tornar ainda mais sustentável e, sobretudo, principal fornecedor de alimento com qualidade para o mundo.

Considerações finais

O crescimento populacional e o nível de desenvolvimento econômico mundial ditarão o comportamento da demanda por produtos da agropecuária. No entanto, por mais que ainda existam dúvidas sobre as taxas de sua ocorrência, o crescimento da demanda será inegável. Mais do que isso, o acesso crescente à informação contribuirá sobremaneira para alteração do comportamento de consumo, que priorizará parâme- tros de qualidade, sustentabilidade com minúcias sobre o nível de perdas e desperdício das atividades.

O passado recente da agropecuária brasileira deixa explícito sua aptidão e serviços prestados para a alimentação mundial. Porém, o nível de planejamento, envolvimento e organização do Estado brasileiro bem como o desenvolvimento e difusão tecnológica serão primordiais para o pleno atendimento e inserção, ainda maior, do País no rol dos fornecedores de alimentos para o mundo.

A ampliação da conectividade no campo, a transformação de dados em insumos, a ampliação da previsibilidade dos sistemas de produção e o compartilhamento das responsabilidades socioambientais com a sociedade são necessidades atuais que acompanharão a agropecuária no seu desenvolvimento nas próximas décadas.

O uso das tecnologias para além da produção – principalmente, no que se refere à comunicação, transparência, rastreabilidade e certificação dos diferentes parâmetros de qualidade – será necessário para reafirmação constante da nossa idoneidade, junto aos consumidores globais, como fornecedores de alimentos e garantidores de pilares relevantes da segurança alimentar mundial.

BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

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O futuro da agricultura brasileira: 10 visões

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BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

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Tags: Agricultura de baixo carbono, agronegócio, biocombustivel, Desenvolvimento sustentável, inovacao, Segurança alimentar

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