O mamoeiro é uma espécie frutífera que apresenta uma elevada demanda nutricional, justificada pelas suas elevadas produtividades.
É uma cultura que inicia a produção de forma contínua, já a partir do sétimo/oitavo mês após o plantio. Essa característica indica que as plantas, para manterem seu regime produtivo contínuo, absorvem grandes quantidades de nutrientes ao longo de todo o ciclo.
Invariavelmente os solos não são capazes de suprir integralmente a quantidade de nutrientes necessários para o crescimento e a produção do mamoeiro, sendo fundamental a realização da adubação.
Nesse contexto, a aplicação dos fertilizantes via fertirrigação é uma alternativa altamente eficiente, pois o fertilizante fica dissolvido na água e prontamente disponível às plantas.
Para o mamoeiro a fertirrigação é particularmente importante, pois trata-se de uma cultura de crescimento rápido, exigente em água e nutrientes, tanto em quantidade quanto em um balanço adequado ao longo de todo ciclo.
1. EXPORTAÇÃO DE NUTRIENTES
A exportação de nutrientes da cultura é a quantidade de cada nutriente que sai com a produção e precisará ser reposta pela adubação.
No mamoeiro, o K e o N são os nutrientes demandados em maior quantidade, por tanto, deve-se ter muita atenção na sua reposição através da adubação (Tabela 1). Em relação aos micronutrientes, o Fe apresenta maior exportação, seguido do Mn, Zn e B (Tabela 1).
Tabela 1. Exportação média de nutrientes pela cultura do mamoeiro.
Nutriente |
Exportação |
|
Nitrogênio (N) |
Kg/tonelada de fruto |
1.8 |
Fósforo (P) |
0.2 |
|
Potássio (K) |
2.1 |
|
Cálcio (Ca) |
0.3 |
|
Magnésio (Mg) |
0.2 |
|
Enxofre (S) |
0.2 |
|
Boro (B) |
g/tonelada de fruto |
1.0 |
Cobre (Cu) |
0.3 |
|
Ferro (Fe) |
3.3 |
|
Manganês (Mn) |
1.8 |
|
Zinco (Zn) |
1.4 |
2. TIPOS DE SOLOS
Considera-se adequado para o seu cultivo, solos com textura arenoargilosa, cujo pH varie de 5,5 a 6,7.
O mamoeiro se desenvolve bem em solos com baixo teor de argila, bem drenados e ricos em matéria orgânica. Deve-se evitar solos compactados, sujeitos ao encharcamento, pois nessas condições as plantas se apresentam redução da produção.
Caso seja necessário o uso de solos argilosos e rasos, e/ou com presença de camadas adensadas, deve-se efetuar subsolagem.
3. IMPORTÂNCIA DOS NUTRIENTES E SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA
O N é o segundo nutriente mais exigido pelo mamoeiro, sendo sua absorção crescente e constante durante o ciclo da planta. É um elemento que fomenta o crescimento vegetativo, não podendo faltar nos primeiros 5 a 6 meses após o plantio.
Macronutriente primário demandado em menor quantidade, o P apresenta maior importância na fase inicial do desenvolvimento radicular, sendo importante adubar as plantas jovens com fósforo prontamente disponível. O P apresenta ainda efeito sobre a fixação do fruto na planta.
Já o K é o nutriente mais requerido pelo mamoeiro, possui importância particular após o estádio de florescimento e frutificação, por proporcionar frutos maiores, com teores mais elevados de açúcares e sólidos solúveis totais.
A relação proporcional entre N e K é de grande importância para o mamoeiro, por afetar a qualidade do fruto. Recomenda-se que nas adubações os fertilizantes apresentem relações N/K2O próximas a 1.
Uma relação alta, ou seja, excesso de N, pode proporcionar casca fina, frutos moles, sabor alterado, crescimento excessivo da planta e frutos muito distanciados. Em uma relação equilibrada, os frutos se apresentam doces e com polpa mais consistente.
O Ca é o terceiro nutriente mais requerido pelo mamoeiro e atua principalmente no crescimento e multiplicação das raízes.
A principal função Mg é um componente indispensável da molécula de clorofila, participando dos processos de fotossíntese, além de auxiliar na absorção e translocação de P.
O S participa da composição química da papaína, enzima que desempenha funções que determinam aumentos na produção e qualidade do fruto.
O B é o micronutriente mais importante para o mamoeiro, pois além de ser extraído em grandes quantidades, afeta a qualidade e produção de frutos. São citadas como causas de deficiência a calagem ou acidez excessivas, deficiência hídrica, alta luminosidade, baixo teor de matéria orgânica e de B no solo.
Tabela 2. Sintomas de deficiência nutricional em mamoeiro.
Nutriente |
Idade da folha | Sintomas no limbo foliar |
Sintomas adicionais |
N | Todas as idades, mas iniciam nas folhas velhas. | Apresentam áreas amarelas entre as nervuras. Posteriormente, essas folhas tornam-se amarelas, senescendo e caindo. | Com o agravamento da deficiência, toda a folhagem torna-se amarela, as folhas novas se apresentam com pecíolo mais delgado e limbo foliar menos desenvolvido. |
P | Velhas | Apresentam um mosqueado amarelo ao longo das margens. Com a evolução da carência, as áreas amarelas tornam-se necróticas e as folhas apresentam as pontas dos lóbulos e as margens enroladas para cima.
Posteriormente, as folhas amarelam completamente e soltam-se do tronco. |
Aparecimento de manchas púrpuras no limbo das folhas maduras, onde o centro de cada mancha torna-se necrótico com o tempo. Os sintomas de deficiência se espalham das folhas mais velhas para as folhas mais novas. |
K | Velhas | Apresentam cor amarelo-esverdeadas entre as nervuras e nas margens.
Nas extremidades dos lóbulos dessas folhas, posteriormente, surge uma leve necrose marginal. As folhas tendem a secar da ponta para o centro. |
As folhas em desenvolvimento apresentam-se com os bordos cloróticos, com pequenos pontos necróticos.
Deficiência severa afeta o ponto de crescimento da planta. |
Ca | Jovens | Clorose com pequenos pontos necróticos espalhados pelo limbo.
Margens encurvadas, prejudicando o seu desenvolvimento.
|
A deficiência de cálcio é responsável pelo amolecimento da polpa do fruto, provocando sua menor resistência ao transporte e menor tempo de prateleira. |
Mg | Velhas | Apresentam cor amarela intensa, enquanto as áreas próximas às nervuras permanecem verdes. | Em deficiência acentuada, as folhas novas também apresentam sintomas semelhantes. |
S | Jovens | As folhas novas (em expansão) apresentam-se verde-claras, tornando-se uniformemente amareladas. | Com o agravamento da deficiência as folhas completamente expandidas também se tornam amareladas.
Antes que os sintomas visuais nas folhas se apresentem, o crescimento do mamoeiro é prejudicado. |
B | Os frutos se apresentam com aspecto encaroçado e mal formados, com escorrimento de látex pela casca em 3 a 5 pontos bem distintos. Pode ocorrer abortamentos de flores em períodos de estiagem, produção de frutos de forma alternada no tronco. |
Embora a diagnose visual seja uma das ferramentas para verificar as deficiências nutricionais, é fundamental a realização da análise foliar e de solo.
Para a coleta das amostras de solo deve-se separar a área em glebas homogêneas, levando-se em conta a idade das plantas e a variedade cultivada. Coletar o solo nas profundidades de 0-20 e 20-40 cm, em cerca de 20 pontos tomados ao acaso, para formar uma amostra composta que deverá ser enviada ao laboratório.
No mamoeiro, o tecido que melhor representa o seu estado nutricional é o pecíolo da folha que apresenta em sua axila uma flor prestes a se abrir ou recentemente aberta. Por tanto, eve-se retirar apenas as folhas que apresentarem em sua axila uma flor recentemente aberta; reservar o pecíolo e descartar o limbo.
4. CALAGEM E ADUBAÇÃO
4.1. Calagem
O mamoeiro apresenta bom desenvolvimento em solos com o pH variando de 5,5-6,7. Em solos ácidos, com teores de alumínio (Al) maiores que 4 mmolc dm-3 ou de Ca+2 + Mg+2 menores que 20 mmolc dm-3, a correção da acidez pela calagem é necessária.
A recomendação de calagem com base na saturação por bases, visa elevar a do solo a 80%, sempre que esta for inferior a 70%.
4.2. Adubação potássica
O potássio deve ser fracionado mensalmente, conforme as doses indicadas nas Tabelas 3, 4 e 5. Os fertilizantes mais utilizados são o cloreto de potássio e sulfato de potássio.
4.3. Adubação nitrogenada
O N é um nutriente muito importante para o crescimento vegetativo da planta. As doses recomendadas de acordo com o estádio de desenvolvimento e a produtividade esperada, são apresentadas nas Tabelas 3, 4 e 5. Deve ser fracionado tanto quanto possível, de preferência mensalmente.
4.4. Adubação fosfatada
Devido à baixa exigência do mamoeiro por fósforo e considerando a sua menor mobilidade, as adubações de cobertura podem ser aplicadas de dois em dois meses e distribuídas conforme as doses indicadas nas Tabelas 3, 4 e 5.
Tabela 3. Recomendação de adubação com N, P e K, do plantio aos 120 dias.
PLANTIO |
||||||||
Plantio | kg/ha de N |
— P resina (mg dm-3) — |
— K trocável (mmolc dm-3) — |
|||||
0-12 |
13-30 | >30 | 0-1,5 | 1,6-3,0 |
>3,0 |
|||
—- P2O5 (kg/ha) —- | —- K2O (kg/ha) —- | |||||||
60 | 60 | 40 | 20 | – | – |
– |
||
FORMAÇÃO (até os 120 dias) |
||||||||
Dias após
plantio |
kg/ha de N |
— P resina (mg dm-3) — |
— K trocável (mmolc dm-3) — |
|||||
0-12 |
13-30 | >30 | 0-1,5 | 1,6-3,0 |
>3,0 |
|||
—- P2O5 (kg/ha) —- | —- K2O (kg/ha) —- | |||||||
30 |
10 |
– | – | – | 20 | 15 | 10 | |
60 |
10 | 20 | 15 | 10 | 20 | 15 |
10 |
|
90 |
20 |
– | – | – | 20 | 15 |
10 |
|
120 |
20 | 20 | 15 | 10 | 20 | 15 |
10 |
Fonte: Oliveira et al. (2004).
Tabela 4. Recomendação de adubação com N, P e K, dos 120 dias (floração) até os 360 dias pós-plantio.
Floração e frutificação e produção (após 120 dias) |
|||||||
Produtividade
esperada |
N (kg/ha) |
— P resina (mg/dm3) — |
— K trocável (mmolc/dm3) — | ||||
0-12 | 13-30 | >30 | 0-1,5 | 1,6-3,0 |
>3,0 |
||
—- P2O5 (kg/ha) —- |
—- K2O (kg/ha) —- | ||||||
30-50 |
180 |
60 |
40 | 20 | 220 | 140 |
60 |
50-70 |
230 |
70 | 50 | 30 | 270 | 180 |
80 |
>70 |
280 | 80 | 60 | 40 | 320 | 210 |
100 |
Fonte: Oliveira et al. (2004).
Tabela 5. Recomendação de adubação com N, P e K, no segundo ano pós-plantio.
Floração e frutificação e prdução (após 120 dias) |
|||||||
Produtividade esperada |
N (kg/ha) | — P resina (mg/dm3) — | — K trocável (mmolc/dm3) — | ||||
0-12 |
13-30 | >30 | 0-1,5 | 1,6-3,0 |
>3,0 |
||
—- P2O5 (kg/ha) —- |
—- K2O (kg/ha) —- |
||||||
30-50 |
200 |
130 | 80 | 40 | 240 | 160 | 80 |
50-70 |
240 | 150 | 100 | 50 | 280 | 190 |
95 |
>70 |
280 | 170 | 120 | 60 | 320 | 220 |
110 |
Fonte: Oliveira et al. (2004).
As adubações em cobertura devem sempre ser feitas com boa umidade no solo. Além disso, como a concentração do sistema radicular do mamoeiro se localiza em raio inferior a 60 cm ao redor do tronco e à profundidade de 30cm, recomenda-se a aplicação do adubo a lanço, distribuído uniformemente entre a parte mediana da projeção da copa e o tronco do mamoeiro.
5. FERTIRRIGAÇÃO
A fertirrigação é reconhecidamente como um método de adubação de maior eficiência, pois possibilita o fornecimento dos nutrientes em proporções adequadas à cada estádio de desenvolvimento do mamoeiro. Além de apresentar menores perdas.
5.1. Sistema de fertirrigação
Os sistemas de irrigação mais recomendados para a cultura do mamoeiro são a irrigação por aspersão e localizada.
Entre os sistemas de irrigação por aspersão, os autopropelidos e os pivôs centrais são os mais utilizados. Em relação aos sistemas de irrigação localizada, tanto o gotejamento como a microaspersão vêm sendo muito utilizados.
A microaspersão funciona com baixa pressão (100 kPa a 300 kPa) e vazão por microaspersor entre 20 L h-1 e 175 L h-1. A disposição dos emissores é normalmente de um emissor para duas ou quatro plantas, sendo esperada uma uniformidade de distribuição de água nesses emissores acima de 85%.
O gotejamento, que funciona na faixa de pressão de 50 kPa a 250 kPa, apresenta vazões entre 2 L h-1 e 4 L h-1. Para a cultura do mamão, recomendam-se dois gotejadores por planta, com vazão próxima ou igual a 4 L h-1, instalados a 0,25 m do caule para solos arenosos e a 0,50 m para solos argilosos.
O sistema de microaspersão proporciona maior área molhada ao solo dando melhores condições às raízes de se desenvolverem. Entretanto, as diferenças em produtividade comparadas ao gotejamento superficial ao longo da fileira de plantas são pequenas (inferiores a 10%).
5.2. Frequência de fertirrigação
As adubações com nitrogênio e potássio, via água de irrigação, devem ser aplicadas em frequências de 3 ou 7 dias, devendo-se ajustar os intervalos de aplicação de acordo com a resposta da cultura e a economicidade do processo. O fósforo, pela sua menor exigência e menor mobilidade no solo, deve ser parcelado em intervalos de 30 dias.
5.3. Cálculo da solução de fertirrigação
Como exemplo será utilizado a dose de 350 kg de K2O no primeiro ano de cultivo.
a) Primeiramente é definido a quantidade recomendada na fase (QRF), com base na percentagem demandada na fase (PDF).
Tabela 6. Determinação da quantidade recomendada em cada fase.
Dias após o plantio |
Total anual (kg) |
PDF (%) | QRF (kg) |
0-120 |
350 |
8,6 |
30,10 |
121-180 |
14,2 |
49,70 |
|
181-270 |
51,7 |
180,80 |
|
271-360 |
25,5 |
89,40 |
Fonte: Coelho et al. (2007).
b) Define-se a frequência de irrigação. No caso será 3 dias. Com base na duração de cada fase e a frequência de irrigação é possível calcular o número de fertirrigações por fase.
Tabela 7. Determinação do número de fertirrigações por fase.
Dias após o plantio |
Duração da fase (dias) |
Frequência de fertirrigação (dias) |
Número de fertirrigações |
0-120 |
120 |
3 |
40 |
121-180 |
60 |
3 |
20 |
181-270 |
90 | 3 |
30 |
271-360 |
90 | 3 |
30 |
Fonte: Coelho et al. (2007).
c) Calcula-se a quantidade de fertilizante aplicado em cada fertirrigação de cada fase (QAF).
Tabela 8. Determinação da quantidade de fertilizante a ser aplicado em cada fertirrigação de cada fase.
Dias após o plantio |
QRF (kg) |
Número de fertirrigações |
QAF (kg) |
0-120 |
30,10 |
40 |
0,752 |
121-180 |
49,70 |
20 | 2,485 |
181-270 |
180,80 | 30 |
6,026 |
271-360 |
89,40 | 30 |
2,980 |
Fonte: Coelho et al. (2007).
5.4. Monitoramento da fertirrigação
O resultado da fertirrigação é observado pela resposta das plantas. Entretanto, é extremamente importante monitorar a salinidade do solo, através da condutividade elétrica. Para o bom crescimento e produção do mamoeiro, a condutividade elétrica deve ser inferior a 1 dS m-1.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
– COELHO, E. F.; COELHO FILHO, M. A.; CRUZ, J. L. Orientações práticas para a fertirrigação do mamoeiro. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, 2007, 6p. Circular Técnica 85. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/655537/1/circular85.pdf
– COELHO, E. F.; OLIVEIRA, A. M. G.; SILVA, J. G. F. da; COELHO FILHO, M. A.; CRUZ, J. L. Irrigação e fertirrigação na cultura do mamão. Embrapa Mandioca e Fruticultura – Capítulo em livro científico. Cap. 15, p. 441-472, 2011. Disponível em: https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/915680/1/IRRIGACAOeFERTIRRIGACAOcap15.pdf
– OLIVEIRA, A. M. G.; SOUZA, L. D.; COELHO, E. F. Recomendações de calagem e adubação para mamoeiro. Cruz das Almas: Embrapa Mandioca e Fruticultura, 2010. Comunicado Técnico 139, 5p. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/28555/1/comunicado-139.pdf
– OLIVEIRA, A.M.G.; SOUZA, L.F. da; VAN RAIJ, B.; MAGALHÃES, A.F. de J.;BERNARDI, A.C. de C. Nutrição, calagem e adubação do mamoeiro irrigado. Cruz das Almas, BA: Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, 2004. 10p. (Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical. Circular Técnica 69).