(Curadoria Agro Insight)
A curadoria de hoje é sobre o mercado de frutas e hortaliças. A análise é do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), que publicou o Hortifruti Brasil, resultado de pesquisas de mercado.
Em 2021, o avanço da vacinação contra a covid-19 no Brasil trouxe um certo alívio à população. Com a consequente diminuição dos casos e das mortes, medidas impostas para conter as infecções foram flexibilizadas, favorecendo a abertura do comércio e do mercado institucional (escolas, bares e restaurantes, importantes compradores de hortifrútis) e o retorno da realização de eventos. Mesmo assim, a economia brasileira não conseguiu decolar como o esperado em 2021 e o setor de HF enfrentou uma demanda enfraquecida, em função sobretudo da renda bastante limitada da maior parte da população, do alto endividamento e do aumento generalizado dos preços dos alimentos.
As vendas de alimentos nos supermercados, importante indicador de comercialização de frutas e hortaliças, se reduziram em 2021 em comparação ao ano anterior (vale lembrar que, no segundo semestre de 2020, o consumo aumentou frente ao nível pré-pandemia, estimulado pelo auxílio emergencial e pelo isolamento das pessoas, que, consequentemente, passaram a se alimentar dentro do lar). E a abertura do mercado institucional em 2021 não foi suficiente para compensar o enfraquecimento das vendas de frutas e hortaliças no varejo. Esse cenário é resultado não só do aumento dos preços das frutas e hortaliças, diante da forte elevação dos custos de produção, mas especialmente da pressão exercida pela inflação generalizada no Brasil, que afeta diretamente o poder de compra da população.
Outro dado importante que pesa no bolso do brasileiro é o endividamento. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o total de famílias endividadas atingiu 75,6% no Brasil em novembro, o equivalente a 12,2 milhões de famílias. É o maior percentual já registrado desde janeiro de 2010. Há registro de crescimento do endividamento em todos os meses de 2021 (até novembro).
Para 2022, a expectativa é que os casos da covid-19 continuem diminuindo e que retomada econômica seja mais sustentável, para estimular mais pessoas a irem às compras.
Consumidor gasta mais e leva menos alimentos em 2021
Tabela 1. Venda de alimentos nos supermercados e hipermercados no acumulado de 2021 frente ao ano anterior.
INDICADORES |
JAN-JUL |
JAN-AGO |
JAN-SET |
Volume (%) |
-2,6 | -2,9 | -3 |
Receita (%) |
11,3 | 11 | 10,8 |
Fonte: Pesquisa Mensal de Comércio/Cepea.
Perspectiva econômica: 2022 x 2021
Para 2022, mesmo com as estimativas indicando crescimento econômico muito baixo, com o Produto Interno Bruto (PIB) próximo de zero frente a 2021, a previsão é de redução da inflação próximo a 5% a.a., segundo o Boletim Focus, do Banco Central (03/12).
Esse cenário ao menos aliviaria um pouco o poder de compra do consumidor, que foi limitado em 2021 pela alta dos preços. O câmbio em 2022, por outro lado, deve se manter em patamar elevado, próximo de R$ 5,5/US$. Os dados econômicos, infelizmente, sinalizam um mercado doméstico ainda enfraquecido em 2022. Por outro lado, o câmbio nos atuais níveis mantém atrativas as exportações de frutas frescas.
No campo, os preços dos insumos agrícolas ainda devem continuar bastante elevados, por conta do dólar alto, da restrição da cadeia de distribuição e da forte concorrência por insumos com as culturas agrícolas de maior extensão, como a soja.
Tabela 2. Comparação entre os principais indicadores econômicos nos anos de 2021 e 2022.
Indicadores Econômicos
|
2021 |
2022 |
PIB (var%)
|
4,71 | 0,51 |
IPCA (% a.a)
|
10,18 | 5,02 |
SELIC (% a.a) |
9,25
|
11,25 |
CÂMBIO (R$/US$) |
5,56 | 5,55 |
Fonte: Focus/Banco Central (03/12/2021).