(Curadoria Agro Insight)
Antecipar mudanças sobre o agro brasileiro e preparar os tomadores de decisão para o que está por vir. Com este propósito a Embrapa traz oito megatendências que têm como base os estudos de futuro do Sistema de Inteligência Estratégica da Empresa.
Na curadoria de hoje vamos abordar a quarta megatendência, que é sobre as Transformações rápidas no consumo e na agregação de valor.
MEGATENDÊNCIAS
1) Sustentabilidade
2) Adaptação à mudança do clima
3) Agrodigital
4) Intensificação tecnológica e concentração da produção
5) Transformações rápidas no consumo e na agregação de valor
6) Biorrevolução
7) Integração de conhecimento e de tecnologias
8) Incremento da governança e dos riscos
A rápida transformação digital tem provocado mudanças acentuadas nas relações de mercado. No consumo, o acesso aos produtos do agro por diferentes canais foi facilitado, e o consumidor final passou a ter maior poder de influenciar e de ser influenciado pelas cadeias agroalimentares. Grandes redes varejistas têm direcionado a oferta e a qualidade dos alimentos produzidos e comercializados globalmente, em relação estreita e direta com os consumidores.
As principais tendências globais de consumo de alimentos são a sustentabilidade, a saudabilidade, a segurança dos alimentos e a segmentação crescente do mercado. Há ainda uma tendência de consolidação da busca por processos sustentáveis de produção, com aumento da compra direta e por canais digitais, e maior preocupação com questões sociais e ambientais.
Em contrapartida, o mundo enfrenta crise de segurança alimentar e nutricional, com aumento das pessoas em condições de fome e insegurança alimentar, e outros problemas relacionados à obesidade e desnutrição. Há uma expectativa de intensificação dessa condição, em função da pandemia de Covid-19, que também alterou hábitos de consumo, impactando de forma diferente as populações.
A riqueza da biodiversidade brasileira oferece oportunidades para a geração de novos produtos com uso potencial de ativos biológicos nas indústrias alimentícia, química, farmacêutica e cosmética. As indicações geográficas protegem os produtos de qualidade que possuem um vínculo com a área geográfica de produção, contemplam aspectos culturais dos alimentos e, em conjunto com o turismo rural, oferecem amplas possibilidades para agregação de valor e desenvolvimento dos territórios da agricultura brasileira.
Essa megatendência trata do conjunto dessas mudanças, aqui agrupadas em duas grandes direções: novas dinâmicas de consumo e de geração de valor.
Sinais e tendências
- Crescimento da digitalização
- Sustentabilidade na agenda do consumidor
- Desafios crescente de segurança alimentar, obesidade e desnutrição
- Ampliação do consumo saudável
- Maior preocupação com segurança dos alimentos
- Um mundo mais vegetariano, flexitariano e vegano
- Aumento da importância das proteínas alternativas à carnes
- Maior geração de valor da biodiversidade brasileira
Implicações
A relação entre as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e o comportamento dos consumidores se constituem em uma tendência global consolidada. A popularização da internet e o uso intensivo de smartphones e computadores possibilitam acesso à informação e propiciam maior poder ao consumidor em suas decisões de compra, bem como no compartilhamento de experiências e monitoramento de produtos e marcas.
Outra importante tendência relacionada às TICs é o marketing direcionado das grandes redes de varejo, decorrente de análises em bases de dados (Big Data), que influencia e ao mesmo tempo é influenciado pelas escolhas dos consumidores.
Os principais determinantes das tendências de consumo são crescimento da população, urbanização, educação e informação, estrutura etária e familiar e nível de renda. Em mercados com diferenças acentuadas entre as classes sociais – incluindo o brasileiro –, a influência do consumidor sobre as cadeias de valor é liderada pelas classes com maior poder aquisitivo (Parente et al., 2005; Rocha, 2017).
Entre as tendências de consumo, podem ser destacadas a busca por nutrição e saúde e pela procedência dos alimentos, a conveniência e praticidade, o crescimento de nichos de mercado como vegetarianos, produtos alternativos à carne (plant-based), e o aumento do mercado para produtos verdes, insetos e algas (Neves et al., 2020).
O consumidor tem passado a considerar fatores como o meio ambiente, a saúde humana, a saúde e o bem-estar animal e as relações justas de trabalho em suas decisões de compra (Embrapa, 2018).
Um amplo segmento da população está começando a inserir-se no mercado e tende a aumentar o consumo de produtos alimentícios processados, abandonando as dietas tradicionais, consideradas mais saudáveis. A relação inversa entre renda e consumo de alimentos processados tem aumentado os níveis de obesidade, sobretudo na população de baixa renda.
De forma geral, os alimentos podem ter valor agregado no que se refere à sua qualidade global, como aparência, sabor, maciez, sanidade e características nutricionais. Um produto vegetal ou animal, in natura, minimamente processado ou industrializado pode conter diferenciais de qualidade, incluindo funcionalidades, ou como produtos de terroir.
A rastreabilidade do produto e a oferta de novos produtos e processos são formas crescentes de agregação de valor. A valorização da compra local também ajuda a agregar valor à produção de pequenos produtores.
Cadeias produtivas agrícolas e afins tenderão a concentrar ações no fornecimento de produtos com maior valor agregado e com as seguintes características:
1) alimentos funcionais ricos em bioativos com características antioxidantes, probióticas, prebióticas;
2) maior oferta de produtos com menor densidade energética e maior densidade nutricional e proteica;
3) processos e produtos para fins e públicos-alvo específicos, com necessidades dietéticas individuais;
4) novas fontes proteicas: proteínas de plantas, carne de laboratório, algas, coprodutos, insetos;
5) produtos com apelos de “tecnologia limpa”;
6) ingredientes naturais, como emulsificantes, aromatizantes, corantes e conservantes, em detrimento dos artificiais;
7) embalagens inteligentes, rotulagem, selo de qualidade e denominação de origem;
8) aproveitamento de coprodutos agroindustriais para obtenção de compostos e materiais de interesse;
9) produtos gourmet, premium e artesanais (Neves et al., 2020).
A transformação dos resíduos do processamento de alimentos em produtos para comercialização (waste-to-value, upcycling) agrega valor às cadeias produtivas e melhora a sustentabilidade do processo, inclusive no que se refere à percepção do consumidor (Aschemman-Witzel; Stangherlin, 2021).
Alimentos derivados das diversas espécies nativas dos biomas brasileiros contribuem para incrementar a percepção de autenticidade dos produtos, o que tende a ser valorizado pelo mercado internacional e nacional.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
VISÃO de futuro do agro brasileiro: sumário executivo. Brasília, DF: Embrapa, 2022. 8 p., 2022