O impacto da má distribuição do plantio na produtividade das culturas da soja e milho.
Exemplos e resultados de trabalhos científicos que falem sobre o tema.
A soja e o milho estão entre as culturas de maior importância para a agricultura brasileira, com uma produção estimada em 121 e 100 milhões de toneladas, respectivamente (IBGE, 2020).
A distribuição correta de plantas em uma lavoura proporciona a máxima interceptação da radiação solar, o maior aproveitamento da água e dos nutrientes, e a reduz a competição com plantas daninhas, resultando em máxima produtividade.
Muitas vezes a população de plantas pode estar adequada, porém, sua distribuição heterogênea pode prejudicar a produtividade (SCHIMANDEIRO et al., 2006).
A distribuição espacial de plantas é definida pela distância entre as fileiras de semeadura e pelo número de plantas dentro da fileira. Sendo fatores importantes nesse arranjo, a qualidade das sementes, o solo, o clima e a regulagem da semeadora (JASPER et al., 2011).
No milho, a produtividade de grãos tende a reduzir linearmente quando a desuniformidade na distribuição de plantas aumenta. Já no caso da soja, o erro de distribuição é menos impactante na produtividade de grãos, uma vez que a soja possui uma maior capacidade de compensação.
Desta forma, no presente artigo, vamos abordar os principais aspectos relacionados à distribuição de plantas nas culturas da soja e do milho.
Soja
A distribuição espacial das plantas de soja pode afetar expressivamente a velocidade de fechamento das entre linhas, a produção de fitomassa, a arquitetura das plantas, a severidade de doenças, o acamamento e a produtividade da cultura.
O arranjo espacial pode ser alterado pela densidade de plantas e pelo espaçamento entre as fileiras.
A literatura indica que a soja expressa uma baixa resposta às variações de densidade de plantas. Em geral, populações que variam entre 160 e 360 mil plantas de soja por hectare afetam pouco a produtividade de grãos, desde que as plantas estejam distribuídas uniformemente na área (LUCA; HUNGRIA, 2014; BALBINOT JUNIOR et al., 2015).
Resposta que ocorre em função da alta capacidade da planta alterar sua morfologia e componentes do rendimento, a fim de adequá-los à condição imposta pelo arranjo de plantas, permitindo a manutenção da produtividade em ampla faixa de densidade.
Em baixa densidade, as plantas de soja tendem a emitir maior quantidade de ramos e formar hastes mais robustas, aumentando o número de vagens por planta. Com isso, pode haver compensação da menor quantidade de indivíduos por área pela maior produção por planta.
Segundo o estudo de DO CARMO et al. (2018), que avaliaram o desempenho agronômico da soja semeada em diferentes distribuições espaciais de plantas em Rio Verde-GO, houve uma significativa influência do arranjo de plantas na produtividade da soja, verificando-se melhor desempenho quando foram utilizados menores espaçamentos.
No Sul do Brasil, as indicações técnicas recomendam, nas épocas indicadas de semeadura, espaçamentos de 20 a 50 cm entre as fileiras. Já para solos de várzea, o espaçamento indicado é de 50 cm entre fileiras.
De modo geral, a população indicada para a cultura de soja situa-se em torno de 300.000 plantas por hectare ou 30 plantas por metro quadrado, com variações conforme a cultivar.
Quando a semeadura for realizada no final da época indicada, sugere-se aumentar a população de plantas e reduzir o espaçamento entre fileiras.
Em condições que favorecem a ocorrência de acamamento de plantas, pode-se amenizar o problema, sem afetar o rendimento, reduzindo-se a população em até 20% da indicada. Por outro lado, quando a semeadura é realizada próxima ao final da época indicada, sugere-se acréscimo de 20% na população de plantas, com vistas a compensar redução de estatura de planta em função do encurtamento do subperíodo vegetativo.
Outro aspecto relevante é a necessidade de replantio, nos casos de baixa emergência de plantas. Os resultados de pesquisa indicam que há pouca diferença entre área com e sem replantio (BALBINOT JUNIOR et. al., 2015). Entretanto é importante dizer que o replantio não é eficiente principalmente em áreas com distribuição uniforme de plantas.
Normalmente, o objetivo na semeadura é a distribuição equidistante das plantas nas linhas. Mas nos últimos anos, alguns produtores e fabricantes de discos para semeadura propuseram alocar as sementes na linha de semeadura de forma agrupada, em geral de três a quatro sementes a cada 30 a 40 cm (BALBINOT JUNIOR et. al., 2015).
Contudo, os resultados obtidos por BALBINOT JUNIOR et. al. (2018), conduzido por três safras e com duas cultivares por safra indicaram que o agrupamento de plantas não possui efeitos positivos ou negativos em relação à distribuição equidistante das plantas.
Milho
Na cultura do milho, é necessário que a planta apresente uma estrutura adequada de interceptação de radiação solar, sendo que esta é função direta da população e da distribuição de plantas na área.
O milho é altamente sensível às variações da população de plantas, ao espaçamento entre linhas, à uniformidade de emergência e à uniformidade de distribuição de plantas na linha, pois ao contrário da soja, apresenta limitada plasticidade (SANGOI et al., 2012).
A população ideal para maximizar o rendimento de grãos de milho varia de 30.000 a 90.000 plantas por hectare, dependendo da disponibilidade hídrica, da fertilidade do solo, do ciclo da cultivar, da época de semeadura e do espaçamento entre linhas.
Segundo estudos de SCHIMANDEIRO et al. (2006), há uma grande variabilidade na distribuição de plantas na linha de semeadura de milho, que resultam em redução do rendimento.
O arranjo de plantas tem grande importância na interceptação e na eficiência de conversão da radiação fotossinteticamente ativa interceptada pelo dossel para se obter altos rendimentos de grãos, por influenciar o índice de área foliar, o ângulo foliar, a interceptação de luz por outras partes da planta, a disposição de folhas na planta e a de plantas na área, bem como as características de absorção de luz pelas folhas na comunidade.
A distribuição de plantas pode ser manipulada pela densidade de plantas, pelo espaçamento entrelinhas, pela distribuição de plantas na linha e pela variabilidade entre plantas.
O incremento na densidade de plantas, dentro de certos limites, é uma forma de maximizar a interceptação da radiação solar incidente. Contudo, o uso de densidades excessivamente altas pode reduzir a atividade fotossintética, favorecer a esterilidade feminina e reduzir o número de grãos por espiga.
Comportamento que pode ser confirmado pelos resultados obtidos por FLESCH & VIEIRA (2004), em Chapecó-SC, que estudaram diferentes espaçamentos entre fileiras (70, 85, 100 e 115 cm) e densidades (30000, 50000, 70000 e 90000 plantas por hectare). Nesse caso, os espaçamentos de 70 e 85 cm entre fileiras e as populações ao redor de 74.000 plantas por hectare proporcionam maior produtividade de grãos.
Como se vê, entre as formas existentes de manipulação do arranjo espacial em milho, a densidade de plantas é a que mais influencia o rendimento de grãos.
Essa resposta está associada ao fato de que, diferentemente de outras espécies, como a soja, a planta de milho não possui um mecanismo eficiente de compensação de espaços sem plantas.
O rendimento de grãos aumenta com a elevação na densidade de plantas, sendo que a densidade ótima é determinada pela cultivar, ambiente e pelo manejo da cultura.
Uma das principais limitações ao uso de altas densidades de plantas é o possível aumento da suscetibilidade à quebra e ao acamamento. Problema que já foi reduzido com os novo híbridos.
A época mais crítica da planta de milho à deficiência hídrica situa-se no período entre duas a três semanas ao redor do espigamento. Quando há alta probabilidade de falta de umidade nesse período, deve-se diminuir a densidade para que o solo possa suprir as necessidades hídricas das plantas.
Trabalhos com genótipos, densidades de plantas e níveis de fertilidade do solo evidenciam que, à medida que se eleva a densidade de plantas, são necessários níveis crescentes de nutrientes. Por outro lado, com baixa disponibilidade de nutrientes, na qual se espera menor rendimento de grãos, a densidade indicada deve ser reduzida.
Um dos fatores limitantes ao incremento da densidade de plantas na lavoura é que o uso de altas densidades pode aumentar a incidência de doenças.
A utilização de práticas de manejo que previnam a incidência de doenças, tais como rotação de culturas, adequação do genótipo à região de cultivo e tratamento de sementes, é fundamental para que se possa utilizar altas densidades como estratégia de manejo do arranjo de plantas para se obter maior rendimento de grãos de milho.
Por várias razões, uma lavoura de milho pode se apresentar com população de plantas abaixo da esperada. Nesse caso, o agricultor precisa decidir quanto à necessidade de efetuar uma nova semeadura.
A planta de milho possui uma capacidade limitada de compensação por falhas aleatórias na densidade planejada de plantas. Porém, dentro de certos limites, as plantas adjacentes às falhas podem compensar parcialmente. Então, na decisão de ressemeadura, devem ser considerados a perda teórica esperada no rendimento de grãos, os custos financeiros da nova operação e, muito importante, os prováveis efeitos negativos de uma semeadura tardia no rendimento de grãos.
Grande parte dos produtores de milho do Brasil utilizam espaçamentos entrelinhas compreendidos entre 80 cm e 100 cm. Essa distância, convencionalmente utilizada entre fileiras, permite adequado funcionamento dos equipamentos necessários ao cultivo.
O interesse em cultivar milho utilizando espaçamentos entrelinhas reduzidos, de 45 cm a 60 cm, têm crescido nos últimos anos em diferentes regiões produtoras, principalmente entre os produtores que trabalham com densidades de semeadura maiores que 5,0 plantas por metro quadrado e alcançam rendimentos superiores a 6,0 t/ha.
O desenvolvimento de híbridos mais tolerantes a altas densidades de plantas, o maior número de herbicidas disponíveis para controle seletivo de plantas daninhas e a maior agilidade da indústria de máquinas agrícolas no desenvolvimento de equipamentos adaptados ao cultivo de milho com linhas mais próximas têm estimulado a adoção de tal prática cultural.
No estudo de PASSOS et al. (2019), com a avaliação de cinco híbridos em diferentes densidades (55000, 70000, 85000 e 100000 plantas por hectare), os autores verificaram que o rendimento da produção foi proporcional à elevação da população de plantas, sendo a população de 100 mil plantas a que resultou em maior rendimento.
A redução do espaçamento entrelinhas apresenta várias vantagens potenciais para o milho.
A primeira é que incrementa a distância entre as plantas na linha, propiciando arranjo mais equidistante entre plantas na área de cultivo. Isso reduz a competição entre plantas pelos recursos do ambiente, otimizando sua utilização.
O arranjo mais favorável de plantas propiciado pela aproximação das linhas estimula as taxas de crescimento da cultura no início de seu ciclo, aumentando a interceptação da luz solar e a eficiência de uso da radiação solar incidente e, consequentemente, o rendimento de grãos.
O fechamento mais rápido dos espaços disponíveis entre as plantas, limita o desenvolvimento de plantas daninhas.
Outra vantagem do sombreamento antecipado da superfície do solo, é a menor quantidade de água perdida por evaporação no início do ciclo do milho.
Considerações
As culturas da soja e do milho têm respostas distintas à distribuição de plantas na lavoura.
Em situações de menor densidade ou falhas de semeadura, a soja possui uma maior capacidade de ocupação dos espaços vazios, mantendo a produtividade. Por outro lado, o milho não possui o mesmo poder de compensação, sendo extremamente importante utilizar a densidade recomendada para a região, a época e a cultivar.
Contudo, os cuidados com a qualidade da semente, o adequado tratamento da semente e a regulagem da semeadora, são aspectos fundamentais para que o estande e a distribuição adequada de plantas sejam alcançados, independente da cultura.
Links relacionados:
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Indicações técnicas para a cultura da soja no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, safras 2018/2019 e 2019/2020. Disponível em: https://logos.setrem.com.br/uploads/bibliografia_digital/35327.pdf
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