O conhecimento e a compreensão das propriedades do solo é um fator determinante para a identificação e correção das deficiências nutricionais visando garantir a melhor resposta produtiva.
Convencionalmente esse diagnóstico é realizado a partir de amostragem e análise do solo. Análise que é realizada através de métodos analíticos já bastante consolidadas, mas que demandam muita mão de obra, tempo e são de custo elevado. Contudo, o principal problema talvez seja mesmo o tempo para os resultados da análise, que é de vários dias e pode prejudicar o manejo da adubação.
Desta forma, a busca por alternativas mais dinâmicas que proporcionem maior eficiência, rapidez, densidade amostral, sensibilidade e de menor custo é uma constante nos centros de pesquisa ao redor do mundo, principalmente com a evolução e a difusão da agricultura de precisão.
Nesse contexto, o Laboratório de Sensores do Departamento de Ciência do Solo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, recebeu indicação, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), de líder na região da América Latina e Caribe em espectroscopia de solo.
A espectroscopia é uma tecnologia que têm como princípio básico de funcionamento a interação da radiação eletromagnética com os componentes da matriz do solo, possibilitando a avaliação de diversas informações, como características químicas e físicas do solo e inclusive o embarque de sensores em máquinas agrícolas, a fim de realizar aplicação de insumos com precisão e em tempo real.
Segundo relata o professor José Alexandre de Mello Demattê, do grupo Geotecnologias em Ciência do Solo (GeoCis), responsável pelo laboratório que pesquisa a espectroscopia de solo, “para chegar a esse reconhecimento foram 28 anos de trabalho com esse tipo de análise. Assim fortalecemos as pesquisas nesse tema, que emprega uma tecnologia que será disseminada para toda a área de análise de solos agrícola. Laboratórios de todo o País seguirão esse modelo adotado na Esalq”.
Além disso, Demattê destaca que através dessa inserção internacional a FAO reconhece a importância do Brasil na área agrícola e nos estudos que envolvem essa tecnologia, que norteará os rumos da análise de solo.
O laboratório da Esalq integra a Rede Global de Laboratórios de Solo, ou Global Soil Laboratory Network (Glosolan), que tem o objetivo de construir e fortalecer a capacidade dos laboratórios em análise de solo e para responder à necessidade de harmonizar os dados analíticos do solo.
Como funciona a espectroscopia em amostras de solo?
É uma técnica que se baseia na leitura da intensidade dos fótons refletidos ou espalhados quando uma amostra de solo é submetida a uma determinada radiação eletromagnética. Geralmente as leituras são realizadas por sensores na faixa Vis-Nir (400-2500 nm).
A partir dos espectros refletidos por cada amostra é possível fazer a determinação das características químicas e físicas da amostra.
Contudo, para se chegar a esse resultado, antes é preciso construir um grande banco de amostras de solo (milhares de amostras), com suas características de interesse determinadas por métodos convencionais.
Em seguida, as mesmas amostras são submetidas à análise de espectroscopia e seus espectros de reflectância são correlacionados com os resultados da análise convencional, utilizando modelos de análise estatística multivariada e softwares específicos.
Principais vantagens da espectroscopia de solo
– Método não destrutivo;
– Possibilita a análise do solo in loco, permitindo a análise das características do solo diretamente na lavoura.
– Baixo custo;
– Sem produção de resíduos.
Bibliotecas espectrais de solos
Com o objetivo de acelerar o desenvolvimento dessa técnica, foi criada a biblioteca espectral mundial de solos. Um banco de amostras de solos com suas análises químicas e físicas e suas respectivas curvas espectrais.
O Brasil, contribui com a Biblioteca Espectral de Solos do Brasil, que está sendo construída pelo Laboratório de Sensoriamento Remoto Aplicado a Solos da ESALQ/USP.
Através da biblioteca mundial, é possível utilizar milhões de amostras para o desenvolvimento da técnica, fato que aumenta significativamente a precisão dos resultados.
Considerações
Como é possível constatar em todos os setores, a busca por tecnologias mais dinâmicas, com menor necessidade de mão de obra e de menor custo operacional é uma tendência geral. No entanto, em relação ao uso da espectroscopia para análise do solo, é provável que o tempo de amadurecimento dessa tecnologia ainda seja de médio a longo prazo para os laboratórios de rotina brasileiros. Além disso, dificilmente a espectrometria irá substituir completamente a análise de solo convencional. Mas provavelmente será utilizada de forma híbrida possibilitando a análise de um número maior de parâmetros sobre o solo, incluindo, por exemplo, parâmetros de física do solo de forma rápida e precisa.
Certamente é uma tecnologia que tende a experimentar um desenvolvimento muito intenso nos próximos anos e que faz parte do futuro da diagnose do estado nutricional do solo.
Fonte: Jornal da USP e Caio Albuquerque (Assessoria de Comunicação da Esalq).