(Curadoria Agro Insight)
Resultados da análise do Cepea sobre o mercado de trabalho no agro
Na curadoria de hoje, trouxemos os resultados da análise do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) sobre o mercado de trabalho no agro).
A população ocupada (PO) no agronegócio brasileiro no primeiro trimestre de 2023 somou 28,1 milhões de pessoas. Esse número representa o segundo maior contingente de trabalhadores para um trimestre desde 2012 (início da série), considerando a nova série histórica do Cepea, atrás apenas do registrado no segundo trimestre de 2019. Já para um primeiro trimestre anual, trata-se do maior número de ocupados dessa série. Como o Brasil com um todo também experimentou expansão da PO entre os primeiros trimestres de 2022 e de 2023, a participação do setor no total foi de 27% no primeiro trimestre de 2023[1], frente à taxa de 27,4% no primeiro trimestre do ano anterior.
O resultado bastante positivo da PO no trimestre reflete também o bom desempenho do mercado de trabalho do setor nos últimos anos, sendo que esse apresentou crescimentos sucessivos em 2021 e em 2022, após recuar em 2020 em decorrência da pandemia de Covid-19. A boa conjuntura vivenciada pelo agronegócio brasileiro nesse período, somada ao movimento de recuperação dos empregos no pós-pandemia, justificam essa dinâmica de crescimento acelerado.
O resultado bastante positivo da PO no trimestre reflete também o bom desempenho do mercado de trabalho do setor nos últimos anos, sendo que esse apresentou crescimentos sucessivos em 2021 e em 2022, após recuar em 2020 em decorrência da pandemia de Covid-19. A boa conjuntura vivenciada pelo agronegócio brasileiro nesse período, somada ao movimento de recuperação dos empregos no pós-pandemia, justificam essa dinâmica de crescimento acelerado.
Na comparação entre períodos recentes, a PO do agronegócio cresceu 1,0% ou cerca de 288 mil pessoas. Esse resultado decorre da estimativa de um maior contingente ocupado nos agrosserviços do agronegócio, segmento para o qual se espera uma expansão de 6,7% na PO em 2023. Por sua vez, esse crescimento esperado nos empregos nos agrosserviços reflete sobretudo o excelente desempenho da produção agrícola dentro da porteira – com expectativa de uma safra 2022/2023 recorde de grãos, somada às maiores produções esperadas de café e cana –, o que deve se traduzir em expansão dos serviços de transporte, armazenagem, comércio e outros serviços (como financeiros, contábeis, jurídicos, de comunicação, entre outros) prestados ao agronegócio.
Para os demais segmentos, na mesma comparação (4T2022 x 1T2023), foram observadas reduções na PO. Em termos absolutos, as maiores quedas foram observadas no segmento primário (-2,4% ou cerca de 201 mil pessoas) e na agroindústria (-2,5% ou cerca de 113 mil pessoas). Na agropecuária, diversas atividades contribuíram para essa queda, com destaques negativos para: bovinos, produção florestal, cacau, pesca e aquicultura e fumo. Ressalta-se, como já mencionado, que tal comparação é sujeita a efeitos da sazonalidade. No setor agroindustrial, destacaram-se as reduções nas indústrias de vestuário e acessórios e de móveis de madeira. Segundo a equipe Algodão/Cepea (2023), as condições econômicas adversas nos cenários mundial e brasileiro no primeiro trimestre geraram receios e impactaram as vendas de manufaturas têxteis.
Já o mercado de trabalho brasileiro como um todo recuou -1,5% ou 1,54 milhão de pessoas entre o último trimestre de 2022 e o primeiro de 2023. Segundo o IBGE (2023), esse comportamento é típico para primeiros trimestres.
Na comparação entre períodos iguais, ou frente ao primeiro trimestre de 2022, houve crescimento de 0,9% na PO do agronegócio, o equivalente a 237 mil pessoas. Nesta comparação, o resultado também foi influenciado sobretudo pelas boas projeções para os agrosserviços – e, em menor magnitude, pelos maiores contingentes de ocupados nos insumos (+9,5% ou cerca de 24,84 mil pessoas) e na agroindústria (+1,2% ou cerca de 52,41 mil pessoas). Nas agroindústrias, o destaque positivo em termos de expansão de mercado de trabalho foi a indústria do abate (ver Tabela A1), sendo esse resultado condizente com os crescimentos nos abates de bovinos, suínos e aves no primeiro trimestre demonstrados na Pesquisa Trimestral do Abate do IBGE (PTA, 2023).
Com movimento contrário, houve contração das ocupações na agropecuária entre os primeiros trimestres de 2022 e 2023, de 5,2% ou 456,22 mil pessoas. Essa queda resultou sobretudo do menor contingente de ocupados em “outras lavouras”, com 191 mil trabalhadores a menos frente ao primeiro trimestre de 2022 – esse grupo inclui banana, abacaxi, melancia, melão, mandioca, feijão, batata, cebola, outras atividades temporárias e outras atividades permanentes (para a composição detalhada dos grupos de atividades agropecuárias, ver tabela A2 do apêndice). Outras atividades com redução de PO na comparação entre períodos iguais foram: cultivo de cereais (arroz, trigo e outros), horticultura, laranja, fumo, bovinos e “outros animais” (inclui criação de caprinos e ovinos, apicultura, sericicultura, caça e afins e criação de outros animais não especificados).
Quanto ao cultivo de cereais, parte importante dos empregos do grupo está na cultura do arroz. Nesse sentido, a queda pode refletir a menor área com a cultura (-8,9% frente à safra anterior conforme a Conab). Segundo a Conab (2023), a redução importante de área de arroz na atual safra reflete a menor atratividade do setor frente às culturas concorrentes em área, como soja e milho. No caso dos bovinos, a redução dos empregos provavelmente está mais relacionada com a criação para a produção leiteira, tendo em vista a expansão da produção de bovinos para corte no início de 2023 (PTA, 2023). E segundo a equipe Leite/Cepea (2023), o encarecimento dos insumos da atividade leiteira a partir de 2019, com consequente estreitamento das margens, fez com que muitos produtores deixassem a atividade – movimento que se estendeu até no decorrer de 2022 e pode ter tido consequências no início de 2023. Um cenário parecido pode ter marcado o caso da horticultura. De acordo com a equipe HF/Cepea (2023), os custos de produção subiram expressivamente para o horticultor e pressionaram as margens ao longo de 2021 e 2022, o que pode ter impactado o emprego no setor no início de 2023.
No Brasil como um todo, se observou um alta de 2,5% ou cerca de 2,55 milhões de pessoas nesta comparação, refletindo uma recuperação importante do mercado de trabalho brasileiro entre 2022 e 2023.
Classes de posição na ocupação e categorias de emprego, de escolaridade e gênero
Importante lembrar que as informações sobre o perfil médio da PO do setor também foram impactadas pela mudança metodológica adotada a partir de 2023. Esse perfil atual é agora influenciado também pelas características dos trabalhadores de autoconsumo.
Lançando foco na comparação entre períodos iguais (sem efeitos sazonais), nota-se que as ocupações no agronegócio no primeiro trimestre de 2023 aumentaram puxadas pelos empregados, sobretudo empregos com carteira de trabalho assinada. Logo, nesse período, aumentou a formalização do emprego no setor. Essa maior geração de empregos com carteira assinada foi verificada em todos os segmentos do agronegócio no período. Ao contrário, houve reduções nos números de ocupados por conta própria e nos trabalhadores familiares auxiliares.
Nessa mesma comparação, entre os primeiros trimestres anuais, em relação à escolaridade, nota-se que o aumento da PO do agronegócio no período ocorreu sobretudo para trabalhadores com maior nível de instrução – tendência que tem sido verificada no setor desde o início da série histórica, em 2012. Entre os trabalhadores com ensino médio, o aumento foi de 450 mil pessoas (4,4%); e para aqueles com ensino superior, foi de quase 157 mil pessoas (3,9%). O resultado, nesse caso, foi relacionado especialmente aos agrosserviços.
Por fim, em relação ao gênero, houve aumento da participação feminina no setor entre os primeiros trimestres de 2022 e de 2023. A PO feminina aumentou 1,3%, com cerca de 140 mil mulheres a mais atuando no agronegócio. Já a PO masculina aumentou 0,6%, o equivalente a 97 mil trabalhadores.
Rendimentos no agronegócio – 1º Trimestre 2023
No primeiro trimestre de 2023, frente ao mesmo trimestre do ano anterior, os rendimentos mensais dos empregados cresceram para todos os segmentos do agronegócio. Entre os segmentos, os destaques em ganhos de rendimento foram o de insumos e o primário agrícola. O avanço dos salários no agronegócio (5,9%) foi apenas pouco acima do observado na média do País (5,4%), indicando ser uma tendência geral do mercado de trabalho brasileiro. Segundo análise do IPEA (2023), com a recuperação da renda do trabalho no Brasil no primeiro trimestre de 2023, essa se aproximou do nível observado em dezembro de 2019, imediatamente antes do início da pandemia.
Já entre os empregadores, o ganho de rendimentos no agronegócio (4,8%) ficou aquém do observado no Brasil como um todo (11,1%), na comparação entre o primeiro trimestre de 2023 e o mesmo trimestre do ano anterior. E para os trabalhadores por conta própria, assim como para os empregados, o observado no agronegócio (+8,3%) acompanhou o cenário geral do mercado de trabalho brasileiro (+8,6%).
Fazendo uma comparação entre os rendimentos reais do primeiro trimestre de 2023 e do último trimestre de 2019, antes da chegada da pandemia, no caso do Brasil como um todo: os salários dos empregados estão atualmente no mesmo patamar que no pré- pandemia (-0,6%); houve perda de rendimentos para os empregadores (-3,2%) e ganho de rendimentos para os conta própria (+7,2%). Já no agronegócio, na mesma comparação, houve ganho salarial para os empregados (+2,6%), estabilidade para os empregadores (-0,6%) e ganho para os conta própria (+10%).
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
CEPEA. População ocupada no agro soma 28 mil, o maior número para um 1º TRI desde 2012. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/releases/mercado-de-trabalho-cepea-populacao-ocupada-no-agro-soma-28-mi-o-maior-numero-para-um-1-tri-desde-2012.aspx#:~:text=Trata%2Dse%20do%20maior%20n%C3%BAmero,(aproximadamente%20237%20mil%20pessoas). Acesso em 07 de agosto de 2023.
CEPEA; CNA. Mercado de Trabalho do Agronegócio Brasileiro. 1º trimestre 2023. Disponível em: https://cepea.esalq.usp.br/upload/kceditor/files/Boletim%20MT%20Agro%20(1-2023).pdf. Acesso em 07 de agosto de 2023.