(Curadoria Agro Insight)
A curadoria de hoje apresenta a síntese de um trabalho de monitoramento dos efeitos do manejo integrado de pragras na cultura da soja, realizado pela Embrapa.
Introdução
A exemplo de outros anos, em 2020, o complexo soja foi o principal exportador do agronegócio brasileiro, com 101,04 Mt de grãos, farelo e óleo, exportados a um valor de 35,24 bilhões de dólares, correspondente a 35% das exportações do agronegócio (Conab, 2020). Já na safra 2020/2021, segundo a Conab (2020), a área ocupada pela cultura foi de 38,5 Mha, com produção de 136 Mt, demanda interna total de 50 Mt e exportações estimadas em 83,61 Mt, até julho de 2021.
Os números acima promovem uma visibilidade comercial que expõe a sojicultura brasileira a fortes questionamentos ambientais. Os questionamentos são respondidos pela pesquisa, extensão e produção, com diversas tecnologias redutoras dos impactos, como os dos gases do efeito estufa (Nepomuceno et al., 2021). Entre tais tecnologias está o manejo integrado de pragas (MIP), com que se enfrenta com sustentabilidade, a convivência com vários artrópodes-praga (Kogan, 1998; Hoffmann-Campo et al., 2000; Prokopy; Kogan, 2003; Moscardi et al., 2012; Panizzi et al., 2012). O MIP tem sido importante desde décadas atrás, quando alertas mundiais do abuso dos agrotóxicos impulsionaram essa estratégia no Brasil, conforme Bueno et al. (2012). Eles relatam as experiências da Embrapa Soja com Transferência de Tecnologias (TT) em MIP na cultura da soja, iniciadas na safra 1975/1976. Em 1977, a Emater do Paraná, hoje agregada ao IDR-Paraná, já se envolvia em uma Rede de TT e pesquisas integradas, com resultados repercutidos inclusive no exterior. A partir da safra 2013/2014, as ações de TT da Embrapa em parceria com o IDR-Paraná voltaram a se intensificar, mostrando o MIP como prática atemporal, com ganhos econômicos e ambientais, benéficos a toda a sociedade (Conte et al., 2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019, 2020).
MIP
O MIP integra diversas táticas protetoras da cultura ao ataque de pragas, por meio do conhecimento desses organismos e de suas interações com o meio.
Para tal, se baseia na correta identificação e no constante monitoramento dos níveis populacionais das pragas e de seus inimigos naturais; na mortalidade natural e na tolerância das plantas às suas injúrias.
As medidas de controle são condicionadas a níveis populacionais de pragas ou de suas injúrias, conforme definição de nível de controle, por Stern et al. (1959). Tais níveis são inferiores aos níveis associados a perdas economicamente representativas, conforme definição de nível de dano econômico por Pedigo et al. (1986).
A segurança desses níveis foi validada, frente a mudanças na cultura, como o tipo de crescimento, a produtividade e o ciclo de novas cultivares (Bueno et al., 2010; 2011). Entretanto, muitos produtores ainda programam previamente as aplicações de inseticidas, independente da necessidade, aproveitando aplicações de herbicidas e fungicidas (Bueno et al., 2012). Dessa forma, se oneram os custos, se aumentam os riscos de contaminação das pessoas, do produto e do ambiente e se diminui a densidade populacional de agentes de controle biológico. Esses fatores levam a surtos populacionais e ao aumento da demanda por aplicações de inseticidas nas lavouras (Corrêa-Ferreira et al., 2010). Além disso, se acelera a seleção de insetos resistentes aos inseticidas (Sosa-Gómez; Omoto, 2012) e se fornecem argumentos para o estabelecimento internacional de barreiras não tarifárias à soja brasileira e seus derivados.
Por essas razões se propõem critérios adequados para decisão de aplicações de agrotóxicos, produtos mais seletivos aos inimigos naturais e integração de estratégias como controle biológico e cultivares mais tolerantes aos artrópodes-praga. Para tal, unidades de referência têm sido implantadas e acompanhadas em municípios de todas as mesorregiões produtoras do Paraná, inclusive na safra 2020/2021, à qual se referem os resultados apresentados nesta publicação.
Fonte: Aprosoja
Monitoramento da eficiência do MIP na soja
O trabalho de inserção do MIP nas unidades de referência (URs), na safra 2020/2021 continua dando resultados extremamente positivos em termos de Transferência de Tecnologias e Extensão Rural.
Os principais diferenciais das URs em relação ao entorno foram a redução do número médio de aplicações e de custos e ainda o prolongamento seguro do período entre a emergência e a primeira aplicação. Nas áreas das URs, as aplicações foram reduzidas em 1,7 aplicação, em média, correspondente a 50% das aplicações nas áreas levantadas no entorno e equivalente a um saco de soja por hectare, que é muito significante se comparado com a margem líquida auferida pelo produtor.
Em relação ao entorno, as primeiras aplicações nas áreas das URs foram postergadas em uma média de 27 dias a partir da emergência das plântulas, que é um período importante para atuação dos inimigos naturais presentes nas áreas.
Com o passar das safras, se observa uma melhoria dos indicadores, especialmente nas URs, mas também no entorno, em sinal de que os resultados, em termos de Transferência de Tecnologias e Extensão Rural, transcendem o âmbito das URs.
A plataforma Bt contribuiu com uma redução média de 0,08 aplicações no âmbito das URs, onde as aplicações já são reduzidas e de 1,75 aplicações no entorno das URs.
Com base nos resultados levantados nas safras anteriores, a safra de 2020/2021 foi a mais diferenciada, em termos de proporções de lagartas encontradas nas áreas. Enquanto nas safras anteriores predominavam as lagartas-da-soja, seguidas pelas lagartas do grupo Plusiinae, na safra 2020/2021 predominaram, pela primeira vez, as lagartas do gênero Spodoptera. Já a lagarta-da-soja, nem sequer superou as lagartas do grupo Plusiinae, a quem apenas se igualou, em termos de frequência nas áreas. A maior frequência das lagartas do gênero Spodoptera no cômputo geral, foi determinada pela maior frequência do inseto nas áreas com a plataforma Bt. Entretanto, mesmo nas demais áreas, a proporção das lagartas Spodoptera ganhou força e se aproximou dos dois grupos mais frequentes. Além disso, registra-se ainda um substancial aumento na frequência percentual das lagartas do grupo Heliothinae. Esses resultados se devem a consolidação da plataforma Bt e as alterações que a mesma determina na fauna entomológica sobre a cultura da soja, especialmente sobre as populações de lagartas.
Entre os percevejos praga, ainda predomina o percevejo-marrom, seguido pelo percevejo-barriga-verde. Apenas se registra uma distribuição mais equilibrada com uma menor participação do percevejo-marrom.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
Arnold Barbosa de Oliveira… [et al.]. Resultados do manejo integrado de pragas da soja na safra 2020/2021 no Paraná. Londrina : Embrapa Soja, 2022. 67 p. – (Documentos / Embrapa Soja, ISSN 2176-2937 ; n. 443).