Por Mariana Vieira – assessora de imprensa da Argus, empresa especializada na produção de relatórios e análises de preços para o mercado de combustíveis, agricultura, fertilizantes, gás natural e energia elétrica
O setor de etanol de milho espera produzir 10 milhões de m³ até a safra 2030-31, abarcando mais de 20pc do mercado brasileiro de combustíveis, segundo dados da União Nacional de Etanol de Milho (Unem). Para a temporada 2023-24, o processamento deve alcançar 6 milhões de m³, alta de 37pc em relação à temporada anterior.
Na safra 2022-23, a produção brasileira de etanol foi estimada pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) em 31,1 milhões de m³, sendo 4,43 milhões de m³ partindo do milho, correspondendo a 14pc do total.
Segundo Vinicius Damazio, especialista no mercado de etanol da Argus, “o Brasil tradicionalmente apostou na cana-de-açúcar como matéria-prima principal para o processamento de etanol, mas o interesse crescente de antigos e novos investidores deve elevar a participação de mercado do biocombustível fabricado a partir do milho”. O porta-voz complementa: “Anúncios de novas usinas de etanol estão surgindo por todo o território nacional. As usinas em si não são novidade, dada a rica história do país na produção de biocombustíveis – especialmente etanol a partir da cana. O que chama a atenção é que a matéria-prima que essas fábricas processarão é o milho”.
Um consenso entre participantes do mercado é que o etanol de milho está a passos largos de abocanhar porções cada vez maiores do mercado doméstico do biocombustível, via projetos greenfield e brownfield.
Uma pesquisa realizada pela Argus constatou que 15 novas plantas de etanol a partir de outras matérias-primas que não a cana-de-açúcar foram reveladas ao longo de 2023 e mais podem estar no caminho. Naturalmente, alguns projetos são mais ambiciosos que outros. Um fator chave que levou algumas empresas a avançarem na produção do biocombustível a partir de milho e outros cereais foi a disponibilidade ampla sob um custo baixo, com a “safrinha” possibilitando abastecimento para o ano inteiro.
Além disso, analistas de bancos de investimento afirmam que usinas de etanol – seja qual for a matéria-prima – são intensivas em capital, mas o prazo de retorno do investimento (ROI, na sigla em inglês) em projetos de milho é mais rápido que os de cana.
Alguns especialistas acreditam que o avanço do etanol de milho pode inclusive mudar a dinâmica de trading durante a entressafra. Isso porque usineiros mais capitalizados costumam adotar uma estratégia de “carry”, que envolve a formação de estoques para se beneficiar de preços mais atraentes quando seus concorrentes encerraram a moagem de cana, ou seja, quando há menos produto disponível no mercado.
A cana-de-açúcar tem um período de cultivo limitado e não pode ser armazenada, pois começa a fermentar assim que cortada, enquanto as plantas de milho podem produzir o ano todo.
Fonte da imagem: Portal do agronegócio 13/01/2024