(Curadoria Agro Insight)
O cultivo do algodoeiro deve ser feito em solos de fertilidade média a alta, pois a cultura necessita de grandes quantidades de nutrientes para obter boas produtividades.
No Cerrado brasileiro, a produtividade média é de 3.900 kg/ha de algodão em caroço, o que provoca uma exportação anual de 133, 47, 86 kg/ha de N, P2O5 e K2O apenas na colheita, sem contar a lixiviação intensa de nitrogênio e potássio e a forte adsorção de fósforo nas partículas do solo, que reduzem adicionalmente a disponibilidade desses nutrientes para as plantas nos cultivos seguintes. Além disso, existem áreas produzindo acima de 5.500 kg/ha, com uma extração de nutrientes muito maior.
Desse modo, os solos do Cerrado, que são ácidos e têm baixos teores de nutrientes em sua condição natural, necessitam de correção da acidez superficial com calcário, de correção da acidez subsuperficial com gesso agrícola e de aplicação de doses corretivas de fósforo e de micronutrientes (Boro – B, Cobre – Cu, Manganês – Mn e Zinco – Zn) para se tornarem férteis e produtivos. Além disso, precisam de um manejo sob rotação de culturas com gramíneas e aportes contínuos de nitrogênio e potássio para poder preservar e acumular matéria orgânica (Figura 1) e ter condição de suportar as altas produtividades que se obtêm atualmente.
O planejamento de sistemas sustentáveis de produção, com altas produtividade e rentabilidade, requer a observação de uma série de etapas importantes ligadas ao histórico da área, ao tipo de solo existente, às suas características químicas e físicas, à profundidade do seu perfil do solo, às culturas que serão exploradas em sucessão/rotação e às necessidades nutricionais de cada uma delas.
Análises do Solo
A análise de solo é o instrumento mais importante que o agricultor tem para conhecer o estado da fertilidade e as características granulométricas (textura) do solo da propriedade e as suas necessidades de corretivos, fertilizantes e manejo. E ao longo dos anos, trata-se de uma ferramenta indispensável para monitorar e corrigir os níveis de fertilidade em diversos nutrientes e garantir suprimento adequado para sua lavoura.
Em áreas sob cultivo convencional, as amostras de solo devem ser coletadas nas camadas 0-20 e 20-40 cm. No sistema de Plantio Direto, nos três primeiros anos, segue-se o mesmo procedimento do convencional. Porém, a partir do quarto ano, é recomendável retirar amostras nas camadas 0-10, 10-20 e 20-40 cm de profundidade.
Análises foliares
A análise foliar é uma ferramenta essencial para a avaliação do estado nutricional do algodoeiro e deve ser considerada como complementar à análise do solo e nunca como substituta.
A época correta de amostragem é no período do florescimento, 80 a 90 dias após a emergência. Deve-se coletar a 5ª folha totalmente formada a partir do ápice da haste principal, num total de 30 folhas por área homogênea.
Calagem
Por ser o algodoeiro pouco tolerante à acidez, à presença de alumínio trocável e ser exigente em cálcio, elemento importante na germinação e desenvolvimento inicial das raízes, a correção da acidez é essencial para a obtenção de boa produtividade.
Gessagem
O algodoeiro é uma planta cujas raízes crescem até três vezes mais rápido que a parte aérea nos primeiros 30 dias de plantio, só parando o crescimento ao redor dos 120 dias da emergência. Sua raiz principal pode facilmente ultrapassar a profundidade de 2,5 m, em solos de textura média, como os existentes no Cerrado da Bahia. Esse crescimento exuberante é importante para a tolerância da planta aos constantes “veranicos” que ocorrem no Cerrado, para as absorções de água e nutrientes a grandes profundidades, para a reciclagem de nutrientes e manutenção do solo descompactado ao longo do perfil.
Assim, a correção da acidez e dos teores tóxicos de Al na subsuperfície pode ser feita com gesso agrícola. O seu uso é recomendado quando na camada subsuperficial (20-60 cm) a saturação por alumínio for superior a 20% e/ou a saturação de cálcio for menor que 60% da CTC efetiva ou menor que 5 mmolc/dm3.
Adubação
O fósforo e o potássio são recomendados em função da análise do solo, considerando as tabelas de recomendação de adubação de cada estado ou região. Em geral, elas recomendam 25 kg/ha de P2O5 e 40 kg/ha de K2O para cada tonelada de expectativa de produtividade.
A recomendação de nitrogênio é baseada na produtividade esperada e no potencial de resposta da cultura associado ao histórico de uso da área. Em área com alto potencial de resposta (área sob uso intensivo, com cultivo de cobertura de gramíneas, com muitas palhas na superfície), recomenda-se a aplicação de 35 kg a 40 kg/ha de N para cada tonelada de expectativa de produtividade; para áreas com baixo potencial de resposta (área recém-aberta ou logo após sucessão/rotação com leguminosas, com alto teor de matéria orgânica), cerca de 30 kg/ha por tonelada de expectativa de produtividade.
Não se espera resposta à adubação potássica quando o teor de potássio no solo for superior a 2,5 mmolc/dm3 ou quando a relação (Ca + Mg) /K < 20.
O enxofre, assim como o nitrogênio, não é recomendado pela análise do solo. Nos casos em que se espera resposta a esse nutriente, a aplicação de 25 kg a 30 kg/ha usando gesso tem sido suficiente para o algodoeiro.
É recomendável o uso de fontes solúveis de fósforo e de formulações NPK que contenham sulfatos, seja como sulfato de amônio e/ou superfosfato simples, que além de N e P também fornecem enxofre.
Devido ao uso de plantadeiras de alta performance e rendimento operacional, há uma tendência à aplicação em pré-plantio de fósforo e potássio, a lanço e sem incorporação. Em solos com fertilidade média a alta, essa prática é viável. Do mesmo modo, é possível a antecipação parcial ou total da adubação PK sobre gramíneas de cobertura, especialmente, milheto e braquiária.
A antecipação de até metade da adubação nitrogenada nas plantas de coberturas que precedem o plantio do algodão no início da safra, em algumas regiões do Cerrado, também tem se mostrado viável. Neste caso, todo o restante do nitrogênio deve ser aplicado no início do abotoamento (cerca de 30-35 dias do plantio).
A adubação de plantio deve ser feita no sulco de semeadura, ao lado e abaixo da semente, com pequena proporção de nitrogênio (10-15 kg/ha), fósforo em dose total, metade ou um terço da dose recomendada de potássio e micronutrientes.
A adubação de cobertura pode ser única ou parcelada, se necessário. A primeira cobertura deve ser feita entre 30 a 35 dias após a emergência, com N, K, S e B (1/2 da dose), caso esses dois últimos não tenham sido aplicados na semeadura. A segunda cobertura com N e K (se necessário) deve ser feita cerca de 20-30 dias após a primeira. Este parcelamento aumenta a eficiência da adubação, pois assegura o fornecimento desses nutrientes na fase de maior absorção pelas plantas e evita perdas por lixiviação, sobretudo em solos arenosos. Além disso, a aplicação de quantidades elevadas de adubo potássico na semeadura, pode prejudicar a emergência das plantas devido ao aumento da pressão osmótica no meio, uma vez que o cloreto de potássio tem elevado índice salino.
As pesquisas com adubação do algodoeiro têm sugerido que:
- As aplicações tardias de nitrogênio (após 80 dias de emergência) promovem o crescimento vegetativo, prolongamento do ciclo da cultura, aumento da queda de botões florais e aumento da intensidade de ataques de pragas e doenças, sem que ocorra aumento da produtividade.
- Quanto aos micronutrientes, a adubação via solo tem se mostrado mais eficiente do que a adubação foliar. A pulverização foliar é recomendada apenas para corrigir deficiências detectadas durante o desenvolvimento da cultura.
- Quanto à adubação foliar com fosfato monoamônio purificado (MAP) e nitrato de potássio, as pesquisas raramente mostram efeito positivo sobre a produtividade. Entretanto, sob condição de plantas estressadas por veranico prolongado ou em desfolhas ocasionadas por surto de lagartas ou chuva de granizo, pode haver resposta econômica em produtividade.
1 Comentário. Deixe novo
Muito bom me ajudou muito