COP16: uma oportunidade para o Brasil reforçar o combate à desertificação
Entre os dias 2 e 13 de dezembro, a COP16, realizada em Riad, na Arábia Saudita, reuniu representantes de 196 países e da União Europeia para discutir ações e compromissos políticos que fortaleçam a resiliência global às secas. O evento ocorreu em uma região severamente impactada pela desertificação e escassez hídrica, destacando a urgência de soluções sustentáveis para o uso da terra.
Embora o Brasil seja conhecido pela abundância de água, o país também enfrenta vulnerabilidades relacionadas à desertificação. Estudos recentes identificaram áreas áridas e a expansão de terras semiáridas em regiões como o Pantanal e a Mata Atlântica. Atualmente, 1,4 milhão de km² do território brasileiro são suscetíveis à desertificação, afetando diretamente mais de 1.500 municípios e cerca de 38 milhões de pessoas, incluindo agricultores familiares, comunidades indígenas e quilombolas.
A desertificação no Brasil tem impactos sociais e econômicos profundos, especialmente no bioma Caatinga, a área seca mais populosa do mundo. A perda de fertilidade do solo leva à migração forçada, desemprego e pobreza, exigindo uma resposta robusta que combine ciência, políticas públicas e engajamento comunitário. Para enfrentar esse desafio, o governo brasileiro, em parceria com a FAO e organizações locais, implementa projetos que promovem práticas agrícolas sustentáveis e políticas públicas baseadas em evidências.
Um exemplo é o projeto REDESER, que busca reverter a desertificação no semiárido nordestino por meio de práticas agroflorestais e gestão integrada dos recursos naturais. Com um investimento de R$ 19 milhões até 2025, o projeto restaurará cerca de 900 mil hectares e beneficiará 1.500 pequenos produtores em áreas críticas da Caatinga, promovendo segurança alimentar, hídrica e sustentabilidade socioeconômica.
Além das ações em campo, o Brasil precisa adotar metas de neutralidade de degradação da terra e atualizar instrumentos como o Atlas Nacional de Áreas Suscetíveis à Desertificação. Esses passos são essenciais para alinhar o país aos padrões globais e melhorar a gestão dos recursos naturais. A integração de políticas de combate à desertificação com estratégias de segurança alimentar e resiliência climática é crucial para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças no clima.
A COP16 é uma oportunidade para o Brasil reafirmar seu compromisso com a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação. O país tem potencial para liderar pelo exemplo, demonstrando que é possível combinar crescimento econômico, inclusão social e sustentabilidade ambiental. As ações tomadas hoje não apenas restaurarão terras degradadas, mas também construirão resiliência para as gerações futuras.
Fonte: FAO 18/12/2024