(Curadoria Agro Insight)
Olá pessoal do Agro! Hoje a nossa curadoria é sobre o controle biológico da Sclerotinia na soja. Para apresentar a eficiência e diversos produtos que estão no mercado e ajudar na decisão, trouxemos os resultados da Circular Técnica 186, publicada pelo pesquisador Maurício Conrado Meyer (Embrapa Soja), juntamente com outros 15 pesquisadores. Os resultados são bastante robustos uma vez que os testes foram realizados em 12 locais diferentes.
Controle biológico de Sclerotinia sclerotiorum na cultura da soja
O sistema de produção de soja no Brasil é fortemente impactado pelas doenças que acometem a cultura, as quais demandam a adoção de medidas específicas de controle e, consequentemente, aumentam o custo de produção.
A extensão da área cultivada, o clima e a ausência de rotação de culturas são fatores que contribuem para o desenvolvimento de doenças e o aumento da severidade (Hirakuri, 2020; Seixas et al., 2020).
O mofo-branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é uma das principais doenças da soja, com potencial de redução de produtividade de até 70% caso as medidas de manejo não sejam devidamente adotadas. Estima-se que a área de cultivo de soja infestada pelo patógeno seja de, aproximadamente, 11 milhões de hectares, que representa 27% dos 40,9 milhões de hectares cultivados na safra 2021/2022 (Conab, 2022; Meyer et al., 2022).
O manejo do mofo-branco na cultura da soja requer a adoção conjunta e integrada de medidas de controle, como os controles químico e biológico, cultivo em sistema de semeadura direta sobre palha de gramíneas, rotação e/ou sucessão de culturas não hospedeiras, entre outras (Campos et al., 2010; Willbur et al., 2019; Meyer et al., 2022).
O controle biológico de S. sclerotiorum se baseia na infestação do solo por agentes antagonistas, pulverizados no início da fase vegetativa da soja, capazes de afetar a viabilidade dos escleródios ou de promover a redução da germinação carpogênica. A eficiência do controle biológico depende diretamente das condições do ambiente do solo, que carece de cobertura uniforme com palha de gramíneas, visando manter a umidade superficial, fornecer matéria orgânica e reduzir a temperatura do solo (Görgen et al., 2010; Meyer et al., 2022).
Locais de avaliação e época de semeadura
Tabela 1. Instituições, locais onde os experimentos foram instalados, cultivares utilizadas e datas de semeadura da soja, época de aplicação dos biofungicidas e de incubação dos escleródios para análise de viabilidade, safra 2021/2022.
Local / Instituição |
Município |
Cultivar |
Semeadura |
Época de Aplicação | Incubação Escleródio | ||
1ª | 2ª | ||||||
1. | UEPG | Ponta Grossa, PR | 57i59RSF IPRO | 21/10/2021 | 16/11/2021 | 26/11/2021 | 16/12/2021 |
2. | CWR | Palmeira, PR | M 5947 IPRO | 27/11/2021 | 13/12/2021 | 27/12/2021 | 17/01/2022 |
3. | Embrapa | Guarapuava, PR | BMX Apolo RR | 21/10/2021 | 11/11/2021 | 25/11/2021 | 16/12/2021 |
4. | Dallas/ RB Cons. | Passo Fundo, RS | 55i57RSF IPRO | 19/12/2021 | 04/01/2022 | 25/01/2022 | 01/03/2022 |
5. | UFJ | Jataí, GO | 74i77RSF IPRO | 04/11/2021 | 23/11/2021 | 01/12/2021 | 22/12/2021 |
6. | UniRV | Rio Verde, GO (1) | TMG 2381 IPRO | 15/10/2021 | 08/11/2021 | 20/11/2021 | 17/12/2021 |
7. | Agronunes | Silvânia, GO | GA76 IPRO | 16/11/2021 | 05/12/2021 | 15/12/2021 | 07/02/2022 |
8. | UFU | Uberaba, MG | 74i77RSF IPRO | 10/10/2021 | 22/11/2021 | 25/11/2021 | 05/01/2022 |
9. | UFLA | Lavras, MG | 58i60RSF IPRO | 27/10/2021 | 11/11/2021 | 26/11/2021 | 16/12/2021 |
10. | CCGL | Cruz Alta, RS | 58i60RSF IPRO | 03/12/2021 | 31/12/2021 | 10/01/2022 | 30/01/2022 |
11. | UniRV | Rio Verde, GO (2) | TMG 2381 IPRO | 15/10/2021 | 08/11/2021 | 20/11/2021 | 17/12/2021 |
12. | Mulitcrop | Riachão das Neves, BA (1) | FT 3179 | 18/12/2021 | 14/01/2022 | 14/01/2022 | 14/02/2022 |
Produtos avaliados
Tabela 2. Tratamentos com biofungicidas (p.c.= produto comercial), ingrediente ativo (i.a.), empresa fabricante, épocas de aplicação e doses utilizadas no ensaio cooperativo de controle biológico de mofo-branco em soja, safra 2021/2022.
Tratamentos (p.c.) | Ingrediente Ativo (i.a.) | Épocas de Aplicação | Dose p.c. L-kg/ha | Concentração i.a.* | ||
1ª | 2ª | |||||
1. | Testemunha | – | – | – | – | – |
2. | PNR1 | B. amyloliquefaciens + B. velezensis + B. thuringiensis, Biotrop | V2 | V4 | 0,3 | 1,9x(10)12 |
3. | PNR1 | B. subtilis + B. velezensis + B. pumilus, Biotrop | V2 | V4 | 0,6 | 1x(10)11** |
4. | Pardella | T. harzianum + T. asperellum + B. amyloliquefaciens, Ballagro | V2 | V4 | 0,1 | 1x(10)7** |
5. | Ecotrich | T. harzianum, Ballagro | V2 | V4 | 0,1 | 1x(10)10 |
6. | Natucontrol | T. harzianum, Biotrop | V2 | V4 | 0,5 | 1x(10)7 |
7. | PNR1 | T. harzianum (Th2RI99), Rizobacter | V2 | V4 | 0,25 | 1x(10)8 |
8. | PNR1 | T. asperellum (TR 356 e TR 696), Simbiose | V2 | V4 | 0,1 | 1x(10)10 |
*Concentração mínima de conídios ou UFC do agente de biocontrole por mL ou g de produto; ** A mesma concentração para os três agentes. 1PNR = produto não registrado no Mapa para o alvo. Os escleródios utilizados em todos os experimentos foram oriundos de plantas de soja infectadas naturalmente por sclerotiorum, de uma lavoura de Campos Novos, SC. Esses escleródios foram previamente desinfestados por lavagem em água corrente, imersão por 3 minutos em solução de hipoclorito de sódio a 0,3% e posterior enxágue em água corrente. Em seguida, foram secados em temperatura ambiente e enviados às respectivas instituições para a realização dos experimentos.
Desempenho
O percentual de escleródios inviáveis (escleródios mortos) após a exposição a campo, observado no tratamento T1, sem aplicação de biofungicidas, foi relativamente elevado, com a média de 26,1%. Pela comparação dos índices de mortalidade dos demais tratamentos com o tratamento T1, observou-se que os tratamentos com T. harzianum (T6 e T7) formaram o grupo com maiores percentuais de inviabilidade de escleródios, com nível de controle de 65% e 43%, respectivamente. Os tratamentos com T. asperellum (T8) e a formulação em mistura de B. subtilis + B. velezensis + B. pumilus (T3) apresentaram controle de 37%. Os tratamentos T2, T4 e T5 não diferiram da testemunha T1 para esse parâmetro (Tabela 3).
Com relação à colonização de escleródios pelos agentes de biocontrole, não foi possível observar diferenças significativas entre os tratamentos com o conjunto de dados analisado (Tabela 3).
Tabela 3. Germinação carpogênica e seu respectivo percentual de controle (% C), escleródios inviáveis e seu respectivo percentual de controle (% C) e colonização de escleródios pelos agentes de biocontrole em função dos tratamentos com biofungicidas nos experimentos em rede de controle biológico de mofo-branco, safra 2021/2022.
Tratamentos | Ingrediente Ativo | Germinação Carpogênica (%) | % C | Escleródios Inviáveis (%) | % C | Escleródios Colonizados (%) | |||
1. Testemunha | – | 45,4 | A | 0 | 26,1 | D | 0 | 4,4 | ns |
2. PNR1 | Ba + Bv + Bt | 35,9 | B | 21 | 26,9 | D | 3 | 4,7 | |
3. PNR1 | Bs + Bv + Bp | 30,8 | BCD | 32 | 35,7 | BC | 37 | 5,0 | |
4. Pardella | Ba + Th + Ta | 32,1 | BC | 29 | 30,3 | BCD | 16 | 7,3 | |
5. Ecotrich | Th | 27,6 | CD | 39 | 29,6 | CD | 14 | 6,3 | |
6. Natucontrol | Th | 28,0 | CD | 38 | 43,1 | A | 65 | 7,8 | |
7. PNR1 | Th | 33,7 | B | 26 | 37,4 | AB | 43 | 6,1 | |
8. PNR1 | Ta | 26,6 | D | 41 | 35,7 | BC | 37 | 5,7 | |
CV (%) | 23,1 | 25,9 | 63,4 |
Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem pelo teste de Tukey-Kramer (p≤5%); ns= diferenças não significativas entre as médias. 1PNR = produto não registrado no Mapa para o alvo. * Ba= Bacillus amyloliquefaciens; Bv= Bacillus velezensis; Bt= Bacillus thuringiensis; Bs= Bacillus subtilis; Bp= Bacillus pumilus; Th= Trichoderma harzianum; Ta= Trichoderma asperellum.
Conclusão
As médias dos parâmetros de análise de viabilidade de escleródios, obtidas entre seis e nove locais distintos na safra 2021/2022, permitiram observar a eficiência do controle biológico pela redução da germinação carpogênica em até 41% e da inviabilidade de escleródios em até 65%.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
MEYER, M. C.; CAMPOS, H. D.; GODOY, C. V.; UTIAMADA, C. M.; JACCOUD FILHO, D. de S.; VENANCIO, W. S.; BRUSTOLIN, R.; CARNEIRO, L. C.; NUNES JUNIOR, J.; LOBO JUNIOR, M.; JULIATTI, F. C.; MEDEIROS, F. H. V. de; PIZOLOTTO, C. A.; SOUZA, T. P. de; OLIVEIRA, M. C. N. de. Experimentos cooperativos de controle biológico de Sclerotinia sclerotiorum na cultura da soja: resultados sumarizados da safra 2021/2022. Londrina: Embrapa Soja, 2022. 11 p. (Embrapa Soja. Circular técnica, 186).