Como evitar a resistência de plantas daninhas a herbicidas

Plantas daninhas resistentes

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(Curadoria Agro Insight)

Na curadoria de hoje, o tema é o manejo de plantas daninhas e como evitar que as mesmas tornem-se resistentes. Para isso, trouxemos um texto do GherbE, um grupo de pesquisadores da área de plantas daninhas da Embrapa e convidados externos de Universidades e órgãos oficiais de pesquisas. O objetivo do GherbE é realizar pesquisas nas áreas de ecofisiologia, manejo e controle de plantas daninhas, resistência a herbicidas, alelopatia e resíduos de herbicidas; gerar publicações técnico-científicos; monitorar e manter banco de dados de espécies daninhas.

 

O problema da resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil

Manejo e prevenção da resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil

Para o futuro as perspectivas são de que as principais culturas (soja, milho, algodão) sejam geneticamente modificadas para resistência a diferentes herbicidas e inclusive ao glifosato. Neste contexto, a sucessão e rotação de culturas resistentes aos herbicidas será uma realidade nas lavouras brasileiras. Existe a necessidade do convencimento do produtor de que o uso contínuo e repetido de culturas resistentes ao glifosato poderá, em poucos anos, inviabilizar o controle de plantas daninhas com uso dessa molécula, devido ao grande número de espécies resistentes.

Segundo o cientista e estudioso da área de resistência a herbicida, Dr. Stephen Powles, “a evolução da resistência de populações ao glifosato é uma ameaça iminente em áreas onde há dominância de culturas resistentes ao glifosato, intensa pressão de seleção e baixa diversidade”. Isso indica claramente que outras espécies daninhas resistentes ao glifosato surgirão nos próximos anos. Contudo, quando isso vai ocorrer e quantas serão as espécies está relacionado com a forma de uso do glifosato nas culturas resistentes a esse herbicida. O uso de práticas, para diminuir a pressão de seleção, como alternância de mecanismos, é importante para proteger e prolongar o período de uso dos herbicidas.

Para evitar o agravamento da seleção de espécies tolerantes e resistentes e para prolongar o tempo de utilização eficiente da tecnologia das culturas resistentes ao glifosato, recomenda-se a adoção das seguintes práticas:

a) arrancar e destruir plantas suspeitas de resistência;

b) não usar consecutivamente herbicidas com o mesmo mecanismo de ação em uma área;

c) fazer rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação;

d) realizar aplicações sequenciais de herbicidas com diferentes mecanismos de ação;

e) fazer rotação de culturas;

f) monitorar a população de plantas daninhas e o início do aparecimento da resistência;

g) evitar que plantas resistentes ou suspeitas produzam sementes;

h) usar práticas para esgotar o banco de sementes.

Manejo e controle de azevém com resistência múltipla

Com o advento da resistência múltipla impõem-se a necessidade de associar e alternar herbicidas com diferentes mecanismos de ação e de acordo com o tipo de resistência presente na área. O azevém com resistência simples ao herbicida glifosato e resistência múltipla ao glifosato+ALS e glifosato+ACCase exigem indicações diferenciadas de manejo. O azevém é uma espécie de inverno e ocorre simultaneamente nas culturas de inverno como trigo. Os herbicidas disponíveis para controle do azevém em trigo são inibidores da enzima ALS (iodosulfuron e o pyroxsulam) e inibidor da ACCase (clodinafop), para os quais existem biótipos resistentes. Contudo, não existe relato de resistência aos dois mecanismos na mesma planta de azevém. Assim, deve-se usar inibidor da ALS ou da ACCase, de acordo com a resistência do azevém (Tabela 1).

O manejo (dessecação) do azevém antes da semeadura da cultura de verão (soja ou milho) deve ser realizado de 15 a 20 dias antes da semeadura, de forma a permitir o controle em tempo suficiente para evitar os efeitos negativos da competição e da alelopatia. No caso de azevém resistente ao glifosato pode-se utilizar na área os herbicidas inibidores da ALS ou da ACCase (Tabela 1). Já nos casos de resistência múltipla, ou seja, ao glifosato e aos inibidores da ALS, somente os inibidores da ACCase serão eficientes. Por outro lado, nos casos de resistência múltipla, que envolva o glifosato e os inibidores da ACCase, somente os inibidores da ALS serão eficientes. Na dessecação de azevém podem ser utilizados herbicidas de contato como, por exemplo, paraquate e glufosinato, atentando-se para o estádio vegetativo, pois esses herbicidas controlam eficientemente plantas jovens de azevém, preferencialmente ainda não perfilhadas. Vale salientar que mesmo utilizando-se um graminicida para controle do azevém na pré-semeadura (dessecação), a necessidade de utilização de glifosato para controlar as espécies dicotiledôneas (folhas largas) permanece.

Assim, a resistência do azevém aos herbicidas glifosato, glifosato associado a um inibidor da ALS ou da ACCase faz com que os produtores necessitem acrescentar mais um herbicida na lista de aplicações ou a alterar o manejo da vegetação nestas áreas, utilizando métodos de manejo e controle, muitas vezes menos eficientes e com maior custo de implantação. Esses fatos ilustram o custo da resistência para o produtor.

Manejo e controle de buva com resistência múltipla

A buva é uma espécie anual, nativa da América do Sul, e uma planta chega a produzir mais de 200 mil sementes. As sementes da buva germinam durante o outono/inverno, as plantas desenvolvem-se durante a primavera/verão e encerram o ciclo no outono. A germinação é aumentada na presença da luz e em condições de campo as sementes só germinam se estiverem próximas da superfície do solo. A baixa dormência faz com que ocorram vários fluxos germinativos, dependendo das condições de clima.

O glifosato vem sendo usado na dessecação pré-semeadura de culturas, com controle eficiente da buva em diferentes estádios de desenvolvimento, há mais de 20 anos. Contudo, o surgimento de biótipos de buva resistentes ao glifosato inviabilizou o uso desse herbicida como única forma de controle. As recomendações de controle da buva são no sentido de que as áreas sejam manejadas de forma que os biótipos resistentes não produzam sementes evitando abastecimento do banco de sementes. O uso de controle manual, aplicações localizadas de herbicidas e a instalação de culturas para cobertura do solo são alternativas importantes. O cultivo da área com trigo, centeio ou aveia diminui o número de plantas de buva quando comparado com áreas não cultivadas, deixadas em pousio. A implantação de culturas que permitam a colheita de grãos, como trigo ou espécies que possam ser utilizadas somente para cobertura do solo, como aveia, ervilhaca ou nabo forrageiro, entre outras, são boas alternativas. A Brachiaria ruziziensis também é uma boa opção para regiões mais quentes como Paraná ou Brasil Central, e o seu uso pode ser feito no sistema lavoura-pecuária, junto com o milho safrinha ou mesmo apenas para ocupação de área e formação de cobertura morta.

O controle dos biótipos resistentes, com herbicidas, é mais eficiente quando realizado durante o inverno, já que a buva é mais sensível a esses produtos em estádios iniciais de desenvolvimento. O controle da buva tem sido obtido com 2,4-D ou clorimurom associados ao glifosato (Tabela 2). As aplicações sequenciais têm apresentado excelente resultado. Nesse caso, a primeira aplicação é realizada com glifosato associado ao 2,4-D ou ao clorimurom e após 10 a 15 dias realiza-se a aplicação de paraquate, ou paraquate+diurom, ou amônio-glufosinato, ou saflufenacil, sendo que a semeadura deve ocorrer um a dois dias depois dessa aplicação (Tabela 2). Aplicações sequenciais usando somente produtos de contato como amônio-glufosinato, ou paraquate + diurom apresentam alta eficiência, desde que usados em plantas pequenas. Nestes casos, pode ser usado o mesmo produto na primeira e na segunda aplicação ou alternar produtos.

O uso de herbicidas pré-emergentes como o flumioxazin, o diclosulam e o sulfentrazona (Tabela 2), apresentam controle de buva proveniente do banco de sementes do solo. Esses herbicidas, quando utilizados na pré-emergência da soja (semear/aplicar ou aplicar/semear), proporcionam controle residual de 20 dias ou mais, dependendo das condições de solo e clima. Na pós-emergência da soja, o clorimuron e o cloransulam são as alternativas com eficiência intermediária (abaixo de 80% de controle) e podem resultar em fitotoxicidade na soja, dependente da dose herbicida e do adjuvante utilizado.

De forma geral, o manejo dos biótipos resistentes, tanto azevém como a buva, deve ser feito antes da implantação da cultura (por permitir uso de herbicidas não seletivos), com uso de herbicidas com mecanismos alternativos, não repetindo mecanismos de ação em um mesmo ano (Tabela 3), evitando uso dos produtos para os quais os biótipos possuem resistência.

Manejo e controle de capim-amargoso resistente ao glifosato

O capim-amargoso (Digitaria insularis) é uma gramínea perene adaptada a diferentes ambientes agrícolas. A reprodução é realizada por sementes e pequenos rizomas, com a formação de touceiras. Resultados de pesquisa (GAZZIERO et. al., 2015) mostraram que a competição do capim-amargoso com a soja reduziu a produtividade da cultura de 3392 kg ha-1 para 1885 kg ha-1, na presença 4 a 8 plantas m-2, ou seja, perdas equivalentes a 44% ou (25 sacos por hectare).

Esta planta daninha pode ser controlada antes da emergência da soja, através da aplicação de herbicidas pré-emergentes como a trifluralina e o metolachlor. Na pós-emergência, esta infestante tem maior sensibilidade para ser controlada quando estiver com até 3 a 4 perfilhos. Nesta situação, o controle pode ser feito com o uso da maioria de graminicidas pós-emergentes (inibidores da ACCase), nas doses normais de bula.

O grande desafio que os agricultores enfrentam é o manejo das plantas adultas, quando já estão entouceiradas. Nestas condições, as aplicações de graminicidas inibidores da ACCase, nas doses de bula, não têm apresentado controle satisfatório, com ocorrência de rebrotes. Resultados de pesquisas têm indicado a necessidade de doses superiores às utilizadas em pós-emergência da cultura, observando-se que nem todos os produtos herbicidas desse grupo encontram-se registrados ou cadastrados nos estados para essa modalidade de aplicação. Uma segunda aplicação ou até mesmo uma terceira aplicação poderão ser necessárias. Ou seja, normalmente não se consegue eliminar plantas adultas resistentes ao glifosato com aplicação única, sendo importante o planejamento de aplicações sequenciais. Caso no planejamento de controle esteja prevista uma aplicação em pós-emergência da cultura, não se pode em hipótese nenhuma utilizar dose superior à prevista em rótulo, que é menor do que a registrada para uso na entressafra.

Algumas práticas ajudam, no controle do capim-amargoso, como não deixar áreas em pousio. A palhada das culturas de entressafra, especialmente as de trigo e aveia no Sul e as braquiárias no Centro-Oeste, tem proporcionado resultados importantes. A aplicação de herbicidas em plantas roçadas mecanicamente ou pela barra de corte da colhedora de soja só deve ser feita quando as plantas apresentarem bom desenvolvimento vegetativo, com rebrota de aproximadamente 30 cm de altura, e em condições climáticas adequadas. A altura de roçagem deve ser preferencialmente em torno de 10 cm. O controle em áreas infestadas conjuntamente com buva e capim-amargoso pode envolver o uso de latifolicidas (como o 2,4-D) e graminicidas. Dependendo das condições de trabalho, clima, idade da planta, tamanho das touceiras e dose dos produtos, essa combinação pode resultar em problemas de incompatibilidade e a redução da eficiência dos graminicidas (inibidores da ACCase). Quanto ao uso de glifosato nos programas de controle do capim-amargoso, é importante a utilização da dose recomendada no rótulo.

Fonte: GherbE/Embrapa

REFERÊNCIAS E LINKS RELACIONADOS

Manejo e prevenção da resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil

 

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Tags: embrapa, GherbE, glifosato, herbicida, Manejo e prevenção da resistência

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