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Como conviver com os fitonematoides? Ferramentas de manejo integrado

Como conviver com os fitonematoides? Ferramentas de manejo integrado

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Impossível erradicar!

Segundo a Sociedade Brasileira de Nematologia, perdas causadas por nematoides chegam a R$ 35 bilhões de reais ao ano só no Agronegócio Brasileiro, somente na cultura da soja esse valor chega a R$ 16 bilhões de reais. O manejo de nematoides em áreas agrícolas é um grande desafio para os profissionais do Agro e produtores rurais.

É praticamente impossível erradicar os nematoides de uma área (erradicar = zerar a densidade populacional), devido às formas de sobrevivência dos nematoides e ação das ferramentas de manejo.

O Manejo Integrado de Fitonematoides consiste em conviver com os nematoides, sempre mantendo as densidades populacionais em nível mais baixo possível, a partir do momento que se detecta a presença dos nematoides, o planejamento deve ser feito imediatamente, visto que a sua multiplicação é muito rápida e a maioria das culturas apresenta suscetibilidade às principais espécies presentes nas áreas.

No sistema de grãos praticado em grande parte do Brasil (soja-milho e culturas de inverno) o nematoide tem alimento o ano todo, essa condição facilita o aumento de densidade e consequentemente o aumento das perdas relacionadas à doença.

O objetivo desse artigo é mostrar os detalhes do manejo integrado de fitonematoides e detalhar as ferramentas disponíveis para a convivencia com o patógeno.

1. ANTES DO MANEJO INTEGRADO DE FITONEMATOIDES!

Antes de planejar o manejo, a identificação do problema é essencial, amostras de solo e raízes devem ser enviadas a um laboratório de diagnose nematológica e com o laudo em mãos, obtemos as informações de quais espécies estão presentes na área e a densidade de cada uma.

Outro ponto importante é o nível de ação ou dano, essa informação não se aplica quando o assunto é nematoide, visto que é praticamente impossível definir esse nível de dano, para obter esses dados de forma confiável, seria necessário isolar todas as variáveis que influenciam no dano do nematoide na cultura.

É sempre importante começar o manejo assim que o problema é identificado, independente da densidade encontrada, porque esse cenário apresentado pelo laudo pode mudar rapidamente dependendo do manejo adotado na área infestada.

2. FERRAMENTAS DE MANEJO INTEGRADO DE FITONEMATOIDES

O manejo de fitonematoides é complexo, o uso de ferramentas isoladas normalmente não traz benefícios satisfatórios, e a combinação dos métodos de controle com um planejamento em longo prazo é mais eficiente.

2.1. Manejo genético

O manejo genético consiste no uso de cultivares resistentes aos nematoides, uma ferramenta sem grandes custos adicionais, pois quando o produtor adquire a semente a ferramenta vem junto.
Porém alguns cuidados devem ser tomados, a resistência para nematoides não é completa, é uma resistência pós infeccional estabelecida para nematoides sedentários, como por exemplo, nematoides de galhas e de cisto.

Na resistência pós infeccional a planta reage ao nematoide, depois que ele já entrou no sistema radicular, e normalmente já incitou a formação dos tecidos de alimentação (tecidos nutridores), nesse caso a planta reage e necrosa esses tecidos afetados, esse processo tem um gasto energético grande para a cultivar e em situação de altas densidades de nematoides, esse gasto é muito maior.

Uma cultivar resistente no manejo de fitonematoides é aquela que apresenta FR<= 1 (FR = fator de reprodução), ou seja, o nematoide vai diminuir na área ou no máximo se manter com a mesma densidade, a cultivar não favorece a multiplicação. Sempre que temos situações de altas densidades as cultivares devem ser utilizadas em combinação com outros métodos de controle.

Em relação a esse tema temos outros conceitos, como plantas tolerantes, plantas suscetíveis e imunes (Figura 1).

Plantas imunes são plantas que não apresentam relação de parasitismo para determinada espécie de nematoide, o nematoide não parasita aquela planta, nem é atraído para ela, exemplo, algodão x Meloidogyne javanica, essa relação nunca acontece, pelo menos até o momento, para espécie M. incognita, ocorre multiplicação, aumento de densidade, danos, mas para M. javanica não existe relação de parasitismo registrada, nesse caso o FR=0.

Plantas tolerantes são aquelas que mesmo na presença do nematoide conseguem manter a produtividade, plantas tolerantes multiplicam nematoides! Essa confusão é comum de acontecer, imaginar que plantas tolerantes não multiplicam o nematoide, mas pelo contrário, podem multiplicar e muito, a tolerância está relacionada à capacidade de suportar/tolerar a presença do patógeno e produzir de forma satisfatória nessa condição, essa opção é interessante para produtividade, porém pode impactar na próxima safra, devido ao aumento da densidade dos nematoides na área.

Plantas suscetíveis são aquelas que não apresentam nenhum impedimento para a multiplicação do nematoide (FR > 1), a densidade populacional aumenta e as perdas de produtividade são observadas.

A prioridade é o uso de cultivares resistentes quando possível, claro intercalando no planejamento com cultivares suscetíveis e tolerantes, sempre com ferramentas adicionais de manejo, visto que a resistência não é completa.

Figura 1. Conceitos Manejo genético de nematoides.

2.2. Manejo químico

O manejo químico se dá pelo uso de produtos nematicidas químicos, registrados para cultura e alvo, atualmente os produtos nematicidas são aplicados em tratamento de semente (T.S.) on farm ou por tratamento de sementes industrial (T.S.I.) além da aplicação em sulco de plantio, ou pulverizado no solo no caso das culturas perenes.

Até o momento existem nove ingredientes ativos registrados como nematicidas químicos (Tabela 1) para as mais diversas culturas, são eles: Abamectina, terbufós, cadusáfos, fostiazato, tiodicarbe, carbossulfano, fluensulfona, fluazinam + tiofanato metílico, fluopiram.

É importante destacar que os produtos nematicidas químicos são importantes para proteger a cultura no início do ciclo, esses produtos impedem a penetração dos nematoides nas raízes em até 90% ou mais. Isso garante que a cultura consiga se desenvolver nos primeiros 30-40 dias para produzir melhor frente aos nematoides, todos os produtos tem residual de aproximadamente 30-40 dias, após esse período os nematoides se desenvolvem normalmente na planta.

Os nematicidas químicos são ótimos em reduzir a penetração inicial, garantindo vigor, sanidade e desenvolvimento radicular da cultura. Mas, após o período residual o nematoide se desenvolve normalmente, por isso o nematicida químico na maioria das vezes não reduz fator de reprodução, porém melhora a entrega em produtividade da cultura.
Por isso o conhecimento sobre os efeitos das ferramentas é essencial, nenhuma é a salvação da lavoura, são opções que auxiliam no convívio com os nematoides.

Tabela 1. Ingredientes ativos registrados no Ministério da Agricultura (2021) como nematicidas químicos.

Ingrediente ativo Grupo químico
Abamectina Avermectina
Terbufós Organofosforado
Cadusafós Organofosforado
Fostiazato Organofosforado
Tiodicarbe Metilcarbamato de oxima
Carbossulfano Metilcarbamato de benzofuranila
Fluensulfona Fluoroalquenil sulfona heterocíclica
Fluazinam + tiofanato metílico Fenilpiridinilamina + Benzimidazol
Fluopiram Benzamida piramida

2.3. Manejo biológico

Uso de produtos nematicidas microbiológicos com registro para o alvo, tem crescido muito nos últimos anos. O registro para o alvo facilita o uso dos biológicos, nesse caso o produto pode ser utilizado em qualquer cultura onde ocorrer o alvo, o que facilitou, por exemplo, o manejo em culturas em que não se tinha registro de nematicidas químicos, ou o custo não agradava o produtor, exemplo das hortaliças e minor crops ou CSFI (culturas com suporte fitossanitário insuficiente).

São inúmeros os organismos que tem potencial de se tornar agentes de controle biológico de nematoides, na natureza isso ocorre de forma natural em solos com microbiota diversificada, porém no momento fungos e bactérias são os organismos registrados no ministério (Tabela 2).
Os fungos registrados são: Purpureocilium lilacinum=Paecilomyces lilacinus, Pochonia chlamydosporia, Trichoderma harzianum, Trichoderma koningiopsis.

As bactérias registradas se dividem em dois grupos, as endoparasitas como: Pasteuria nishizawae e as rizobactérias, gênero Bacillus, sendo: B. firmus, B. subtilis, B. amyloliquefaciens, B. methylotropicus, B. velezensis, e misturas como: B. subtilis + B. licheniformis. Além de produtos em mistura de bactérias + fungo, como: B. subtilis + B. licheniformis + P. lilacinum.

Tabela 2. Agentes de controle biológico registrados no Ministério da Agricultura (2021) como nematicidas microbiológicos e nematoides-alvo.

Agente de biocontrole Espécie Nematoides-alvo
Fungo Purpureocilium lilacinum Meloidogyne javanica, M. incognita, Pratylenchus brachyurus
Fungo Pochonia chlamydosporia M. javanica
Fungo Trichoderma harzianum P. brachyurus, P. zeae
Fungo Trichoderma koningiopsis M. incognita, P. brachyurus, Heterodera glycines
Bactéria endoparasita Pasteuria nishizawae H. glycines
Rizobactéria Bacillus firmus P. brachyurus, M. incognita
Rizobactéria Bacillus subtilis M. incognita, M. javanica, M. exigua, M. paranaensis, P. brachyurus
Rizobactéria Bacillus methylotropicus M. javanica, P. brachyurus
Rizobactéria Bacillus velezensis M. incognita
Rizobactéria Bacillus amyloliquefaciens M. javanica, M. incognita, H. glycines, P. brachyurus
Rizobactéria Bacillus subtilis + Bacillus licheniformis P. brachyurus, P. zeae, M. javanica, M. incognita, Radopholus similis, M. exígua
Rizobactéria + fungo Bacillus subtilis + Bacillus licheniformis + Purpureocilium lilacinum M. incognita, P. brachyurus

2.4. Manejo cultural

As ferramentas de manejo cultural estão relacionadas com o desenvolvimento da cultura que pode interferir no nematoide, são elas: uso de mudas e sementes sadias, manejo de plantas daninhas e plantas tigueras, rotação de culturas, manejo de fertilidade e M.O.S. (matéria orgânica).

Sem dúvidas as medidas de prevenção da entrada dos nematoides na área também entram no manejo cultural, visto que a partir do momento que o nematoide se instala é praticamente impossível erradicar.

Evitar a disseminação entre as áreas é importante, principalmente pelo trânsito de máquinas, que é o principal meio de disseminação, outro ponto importante é a irrigação, se ocorrer escorrimento superficial com carregamento de solo, os nematoides são levados de um local para outro, é comum em áreas mais baixas encontrarmos maiores densidades do que nas áreas mais altas.

Na instalação das culturas, devemos nos preocupar com o uso de mudas e sementes não contaminadas, para evitar a entrada ou aumento dos nematoides nas áreas. Já durante o desenvolvimento da cultura o manejo de plantas daninhas e plantas tigueras são essenciais, visto que, essas plantas são excelentes multiplicadores de nematoides, o que pode intensificar o aumento do inoculo na área.

A rotação de culturas é uma das ferramentas mais efetivas no manejo de fitonematoides. Mas por que isso acontece?
O uso de plantas de rotação reduz a densidade do nematoide, mas também melhora a qualidade física, química e biológica do solo. A quebra do ciclo da doença, traz reduções satisfatórias de população do nematoide, pois durante um período de tempo a espécie de planta não irá favorecer a multiplicação do nematoide na área. Redução essencial para o desenvolvimento da cultura subsequente e para o sistema como um todo.

Importante ressaltar que a escolha da planta de rotação é essencial para o sucesso da ferramenta, devemos saber qual espécie(s) estão presentes na área para escolher a melhor planta, pois a reação é diferente para as plantas de rotação.

Deve-se escolher plantas resistentes, plantas antagonistas e/ou más hospedeiras quando não se tem as primeiras opções disponíveis.

Plantas resistentes não favorecem a multiplicação do nematoide, plantas antagonistas, liberam substâncias tóxicas que impedem a entrada ou depois da entrada impedem o desenvolvimento do nematoide e plantas más hospedeiras, são plantas que tem FR baixo. Essas plantas são utilizadas porque não existem opções resistentes, para alguns nematoides as opções de plantas de rotação são escassas, como é o caso do nematoide das lesões radiculares, Pratylenchulus brachyurus, então nesse caso utilizamos plantas com FR baixo, porém suscetíveis, melhor utilizar uma planta que multiplica 5 vezes o nematoide do que uma que multiplique 50 vezes.

A rotação de culturas somente em uma safra não é suficiente em áreas com mistura de espécies de nematoides e com altas densidades do patógeno, deve-se planejar essa rotação nas safras subsequentes, intercalando talhões, sempre de uma forma que satisfaça o manejo e o custo-benefício para o produtor.

Outros pontos a serem verificados dentro do manejo cultural é a fertilidade do solo, que deve estar adequada, isso interfere diretamente no desenvolvimento da cultura, a incorporação de M.O.S. contribui de forma indireta para a atividade microbiana do solo, que irá interferir na densidade dos nematoides.

3. CONSIDERAÇÕES

O segredo do manejo integrado de fitonematoides está nos detalhes, como o conhecimento das espécies que ocorrem na área, do histórico da área e das ferramentas que podem ser utilizadas. Com um manejo complexo e alicerçado em informação e planejamento de longo prazo, é possível produzir mesmo com a presença indesejável dos fitonematoides.

BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

– BROWN, D.J.F.; FERRAZ, L.C.C.B. Nematologia das plantas: fundamentos e importância. Manaus: Norma Editora, 2016. 251 p. Disponível em: http://www.nematologia.com.br/files/livros/1.pdf

– FERRAZ, S.; FREITAS, L.G.; LOPES, E.A.; DIAS-ARIEIRA, C.R. Manejo sustentável de fitonematoides. Editora UFV, 2010. 306p. Disponível para compra em: https://www.editoraufv.com.br/produto/manejo-sustentavel-de-fitonematoides/1108956

– SITE SOCIEDADE BRASILIERA DE NEMATOLOGIA. Disponível em: http://nematologia.com.br

AGROFIT, Ministério da Agricultura. Disponível em: http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons

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Tags: Controle de nematoides, Fitonematoides, Manejo biológico, Manejo cultural, Manejo genético, Manejo Integrado, Manejo químico

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