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Coinoculação da soja com Bradyrhizobium e Azospirillum

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(Curadoria Agro Insight)

Na curadoria de hoje abordamos o tema da coinoculação, tecnologia recomendada pela Embrapa, mas ainda pouco utilizada pelos produtores. Com o objetivo de esclarecer alguns aspectos a respeito da coinoculação, trouxemos um resumo da Circular Técnica 181, da Embrapa Soja.

Simbiose entre bactérias do gênero Bradyrhizobium e as plantas de soja

A fixação biológica do nitrogênio (FBN) é um dos pilares de sustentabilidade do sistema de produção de soja no Brasil. Resulta em grandes benefícios para o produtor e para o meio ambiente, por dispensar o uso de fertilizantes nitrogenados na cultura, aumentando a competitividade do produto no mercado externo com menor impacto ambiental. Esse processo se dá pela simbiose entre bactérias do gênero Bradyrhizobium e as plantas de soja, formando os nódulos radiculares, nos quais as plantas hospedeiras abrigam, protegem e nutrem as bactérias com nutrientes e energia. Em troca, as bactérias capturam o nitrogênio atmosférico (N2 ) e, pela ação da enzima nitrogenase, o reduz a amônia que, na sequência, é convertida em compostos nitrogenados que são exportados para a planta hospedeira.

O emprego de estirpes elite de Bradyrhizobium nos inoculantes, que foram selecionadas pela pesquisa ao longo de décadas, assegura o suprimento do nitrogênio (N) necessário para a cultura, mesmo em altos níveis de produtividade (Hungria et al., 2007; Hungria; Nogueira, 2019). Cabe salientar a grande exigência da soja, em mais de 80 kg de nitrogênio para cada tonelada de grãos produzidos (Seixas et al., 2020).

A inoculação é essencial em áreas de primeiro ano de cultivo de soja, ou onde a leguminosa não é cultivada há muito tempo, pois as bactérias fixadoras de N2 estão ausentes ou em baixa população no solo. Entretanto, mesmo em áreas frequentemente cultivadas com soja, é vantajoso realizar a inoculação a cada safra, durante a instalação da cultura, via sementes ou sulco de semeadura. Pesquisas mostram ganhos médios na ordem de 8% em produtividade, resultante da inoculação anual da soja com Bradyrhizobium, em áreas tradicionais de cultivo (Hungria et al., 2007; Hungria; Nogueira, 2019), representando um grande retorno econômico e ambiental frente ao baixo custo do inoculante.

Fonte: Hungria et al. (2007)

Coinoculação

Além da inoculação anual com Bradyrhizobium, a Embrapa passou a indicar, a partir de 2013, o uso conjunto de uma segunda bactéria para a inoculação da soja, em um processo denominado de coinoculação (Hungria et al., 2013). Duas estirpes elite da espécie Azospirillum brasilense já eram recomendadas para as culturas de milho, trigo e arroz desde 2009/2010 (Hungria, 2011; Hungria; Nogueira, 2019).

A capacidade de FBN dessas estirpes de A. brasilense é modesta quando comparada à de Bradyrhizobium; contudo, o principal processo microbiano pelo qual elas beneficiam as plantas consiste na síntese de fitormônios que promovem o crescimento vegetal, principalmente o sistema radicular. Esse processo favorece, inclusive, a nodulação e a FBN realizada por Bradyrhizobium pela ampliação do sistema radicular, além de aumentar o volume de solo explorado, favorecendo a absorção de água e nutrientes, incluindo maior aproveitamento dos fertilizantes químicos (Rondina et al., 2020; Barbosa et al., 2021).

As plantas de soja coinoculadas com Bradyrhizobium e Azospirillum apresentam nodulação mais abundante e precoce (Chibeba et al., 2015; Hungria et al., 2015), com ganho médio de produtividade de 16% (Hungria et al., 2013), o dobro do proporcionado pela inoculação anual apenas com Bradyrhizobium.

Embora os benefícios da inoculação anual sejam comprovados, muitos agricultores ainda não utilizam tal prática, por observarem que, em áreas cultivadas por várias safras consecutivas, mesmo sem inocular, ocorre a formação de nódulos nas raízes da soja pela população estabelecida de Bradyrhizobium no solo. Entretanto, o não uso de inoculante nessas áreas faz com que o produtor deixe de ganhar, em média, 8% de produtividade, conforme já mencionado (Hungria et al., 2007; Hungria; Nogueira, 2019).

Já a coinoculação, embora seja uma tecnologia mais recente, encontra-se em franca expansão e já é empregada em cerca de 26% das áreas cultivadas com soja no Brasil, segundo informações da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes – ANPII. Outra preocupação é que todos os produtores que adotam a inoculação ou a coinoculação passem a adotar boas práticas recomendadas pela pesquisa, tais como:

  • usar apenas inoculantes de Bradyrhizobium e Azospirillum registrados para a cultura da soja no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
  • utilizar o inoculante dentro do prazo de validade, estabelecido na embalagem.
  • assegurar-se de que o produto tenha sido transportado e armazenado em local protegido do sol e com temperaturas inferiores a 30 °C.
  • aplicar em dose adequada conforme a condição e a modalidade de uso. A saber, em áreas tradicionais de cultivo, no mínimo, 1 dose por hectare de inoculante à base de Bradyrhizobium via sementes ou 2,5 a 3 doses por hectare via sulco de semeadura. Uma dose de Bradyrhizobium deve ser suficiente para fornecer, no mínimo, 1,2 milhões de células por semente, sendo possível aumentar o número de doses sem problema.
  • Para Azospirillum, em coinoculação, somente 1 dose por hectare via sementes, ou 2 doses por hectare via sulco de semeadura, ou o que
  • constar no rótulo do produto conforme registro no Mapa para a cultura da soja. Essa dose de Azospirillum não deve ser aumentada, pois pode resultar em excesso de fitormônios e prejudicar o crescimento das plantas.
  • evitar o uso do inoculante turfoso diretamente na caixa da semeadora.
  • O correto é preparar uma solução açucarada a 10% e usar 200 mL a 300 mL/50 kg de sementes para umedecer e dar aderência. Na sequência, adicionar o inoculante turfoso, misturar bem e deixar as sementes secarem à sombra, antes de abastecer a semeadora.
  • se forem empregados inoculantes “longa vida” em inoculação antecipada à semeadura (pré-inoculação), a pesquisa recomenda que devem ser recuperadas de 80 mil a 100 mil células viáveis de Bradyrhizobium por semente no momento da semeadura, o que deve ser garantido pelo fabricante. Nesse caso, as sementes pré-inoculadas precisam ser armazenadas sob temperaturas amenas, preferencialmente abaixo de 20 °C, até o momento da semeadura.
  • quando usar produtos químicos no tratamento de sementes, aplicar o inoculante na última operação antes da semeadura e jamais misturar o inoculante diretamente com esses produtos durante a aplicação.
  • em área de primeiro ano de cultivo, ou há muito tempo sem cultivo de soja, o cuidado com a compatibilidade com químicos no tratamento de sementes deve ser redobrado e a dose do inoculante com Bradyrhizobium deve ser aumentada.
  • para evitar a incompatibilidade com químicos no tratamento de sementes, pode-se realizar a inoculação no sulco de semeadura, com a utilização de tanque exclusivo para o(s) inoculante(s). Nesse caso, aumentar a dose. Bradyrhizobium e A. brasilense são totalmente compatíveis e podem ser misturados; contudo, para outros microrganismos, verificar a compatibilidade com o fabricante.
  • inoculação via pulverização só deve ser feita em caso de emergência, quando não houver boa nodulação inicial e, ainda assim, quando houver condições de boa umidade no solo e temperatura amena no momento da aplicação. A mesma não substitui a inoculação via sementes ou via sulco de semeadura e exige, pelo menos, 6 doses por hectare de Bradyrhizobium, aplicadas no final do dia para evitar os raios solares, solo úmido e, preferencialmente, com previsão de chuva.
  • aplicar o cobalto e o molibdênio (CoMo) via sementes ou, de preferência, via foliar, em V3-V5 quando a inoculação for via sementes e com isso diminuir o impacto de produtos químicos sobre as basctéias inoculadas. Atentar para a dose mínima a ser aplicada que deve ser de 2-3 g/ha de Co e 12-25 g/ha de Mo. As doses recomendadas para aplicação via sementes ou foliar são as mesmas.
  • não semear “no pó”, ou seja, em solo seco, pois isso equivale a armazenar as sementes inoculadas em um ambiente quente e seco, que é desfavorável à sobrevivência das bactérias, principalmente quando as sementes são tratadas com químicos, além de diminuir o vigor das sementes.
  • a garantia da concentração de células, da pureza e da eficiência das bactérias presentes no inoculante é fundamental para o sucesso da inoculação. Essas condições dificilmente são alcançadas em produções caseiras de inoculantes. O inoculante é um insumo de baixo custo e de alto retorno econômico, portanto, não vale a pena arriscar com produtos sem a garantia da qualidade mínima necessária.

Considerações

As ações de transferência da tecnologia da coinoculação da soja com Bradyrhizobium sp. e Azospirillum brasilense na safra 2020/2021 foram conduzidas em 65 URs em lavouras comerciais em 52 municípios do Paraná e indicaram que:

  • Em média, houve um incremento no número de nódulos de 37% e no rendimento de grãos de 6,6% pela coinoculação.
  • O lucro líquido pela coinoculação foi estimado em R$ 603,03/ha.
  • Apesar dos benefícios apontados, foi levantado que apenas 17% dos agricultores utilizam a coinoculação da soja e que diversas recomendações técnicas não são praticadas, indicando a necessidade de intensificação de ações de transferência de tecnologia.

BIBLIOGRAFIA E LINS RELACIONADOS

PRANDO, A. M.; OLIVEIRA, A. B. de; LIMA, D. de; POSSAMAI, E. J.; REIS, E. A.; NOGUEIRA, M. A.; HUNGRIA, M.; HARGER, N.; CONTE, O. Coinoculação da soja com Bradyrhizobium e Azospirillum na safra 2020/2021 no Paraná.                Londrina: Embrapa Soja, 2022. 24 p.

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Tags: Azospirillum brasilense, Bradyrhizobium, Fixação de Nitrogênio, inoculação, Root inoculation, soja, Soybeans

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