Você já imaginou a possibilidade de comer uma carne produzida inteiramente em laboratório, apresentando as mesmas características sensoriais e propriedades nutricionais que uma carne de origem animal? Embora essa perspectiva possa inicialmente parecer ficção científica, com o crescimento constante dos avanços tecnológicos, essa tem se tornado uma realidade cada vez mais tangível, possibilitando novas tendências emergentes no setor alimentício e alternativas alimentares mais abundantes para aqueles que optam por não incluir carne animal em suas refeições.
Conforme evidenciado um estudo conduzido pela Ipsos, uma empresa de pesquisa de mercado, em colaboração com o programa EscolhaVeg da ONG Mercy For Animals no Brasil, cujos resultados foram divulgados este ano, verificou-se que um a cada cinco brasileiros (20%), faz a escolha consciente de evitar o consumo de carne de animais, incluindo bovina, aves ou suína. Os participantes desse grupo podem ser categorizados em três grupos distintos: veganos, vegetarianos e pescetarianos.
Ao observarmos o panorama global, é possível encontrar empresas engajadas no desenvolvimento da carne produzida em laboratórios que já possuem aprovação regulatória para comercialização desses produtos, por exemplo em países como Singapura e Estados Unidos. No entanto, é notório que o mercado ainda enfrenta desafios significativos para consolidar sua presença nas refeições cotidianas da população em geral. Consequentemente, empresas de todo o mundo estão comprometidas em continuar seus esforços de pesquisa e desenvolvimento para a produção do produto, abrangendo não apenas o sabor, textura e coloração, mas também a composição nutricional.
Apesar do tema ter chamado a atenção de investidores em todo o mundo há mais de uma década, é recente o aumento da participação do Brasil nas pesquisas e exploração desse assunto. Contudo, é inegável que existe um extenso caminho a ser percorrido e desafios consideráveis a serem confrontados, sobretudo no que tange aos níveis de investimento necessários e à disponibilidade de tecnologias que possam viabilizar a produção em ampla escala.
A busca pela inovação requer um profundo compromisso com a pesquisa em cultura celular, bem como com a aquisição de equipamentos e produtos de alta qualidade. E para a obtenção do produto, é necessário iniciar com a coleta de uma amostra de células de animais, as quais posteriormente serão cultivadas em ambiente laboratorial com o objetivo de promover seu crescimento, para que sejam capazes de servir como matéria-prima.
Nesse contexto, a tecnologia das bioimpressoras 3D desempenha um papel fundamental, pois permite a organização de diferentes tipos de células de forma estruturada, viabilizando a produção de carnes de acordo com as especificações desejadas. Cabe ressaltar que o êxito desse processo depende não apenas do uso de uma bioimpressora adequada, mas também da utilização de consumíveis, equipamentos e reagentes de alta qualidade, que desempenham um papel crucial na etapa de cultivo celular. Assim, torna-se imprescindível reconhecer que o investimento substancial em pesquisa, desenvolvimento de tecnologias e no aprimoramento da cadeia de suprimentos desempenha um papel crucial na progressão dos bioprocessos industriais. E àquelas empresas que almejam acompanhar essa tendência, cabe a responsabilidade de direcionar seus recursos e esforços para fortalecer esses elementos-chave.
Diante deste cenário, é visível o crescente interesse por essa temática, tanto no Brasil quanto no plano global, sobretudo no âmbito do ecossistema de inovação, desde centros de pesquisa e institutos, até startups. Mesmo enfrentando diversas interrogações relacionadas à aspectos culturais, nutricionais e ambientais, é uma área de interesse com grande potencial de relevância no mercado alimentício. Portanto, é recomendável que as partes interessadas permaneçam atentas às inovações que surgirão, visando manter-se à vanguarda da concorrência, para assim, garantir uma posição competitiva sólida e uma participação eficaz nesse promissor mercado em constante evolução.
Por Leonardo Zanovello
(Account Manager da Corning Life Sciences da América Latina, uma das líderes mundiais em inovação da ciência de materiais que desenvolve produtos para as áreas de comunicações ópticas, eletrônicos móveis de consumo, tecnologias para displays, automóveis e ciências da vida).
Fonte da imagem: Digital agro 22/10/2023