(Curadoria Agro Insight)
A produção de algodão possui um importante papel social, colaborando na criação de milhares de empregos ao longo de toda a cadeia produtiva, assim como, econômico, pelo fato de ser uma grande commoditie, na qual o Brasil se destaca como um dos principais países produtores e exportadores.
Dentre os estados brasileiros, as maiores produções encontram-se no Mato Grosso e na Bahia, enquanto outros estados produzem a cultura em menores escalas como os estados do Mato Grosso do Sul, do Maranhão e de Goiás.
1. DANOS CAUSADOS PELO BICUDO
O bicudo do algodoeiro (Anthonomus grandis) é considerado uma praga chave no cultivo de algodão no Brasil, dado que limita o potencial máximo de produção. É uma praga considerada tardia, mas pode estar presente desde da formação dos botões florais, até o período reprodutivo e a colheita. O besouro utiliza suas mandíbulas afiadas que ficam localizadas na extremidade de seu “bico” ou rostro para se alimentar.
A principal fonte de alimentação dos bicudos adultos e larvas são as estruturas reprodutivas das plantas como botões florais e maçãs recém formadas, depreciando a qualidade da fibra e em casos mais graves comprometendo a produção.
As maçãs, que futuramente se tornarão capulhos, quando sofrem ataques do bicudo, podem não se desenvolverem ou desabrocham de forma irregular e podem apresentar manchas em suas fibras, além de torna-las pouco resistentes. O bicudo provoca o apodrecimento das maçãs, devido os orifícios abertos para alimentação facilitarem a entrada de microrganismos como bactérias e fungos. Os orifícios apresentam em média 1 mm de diâmetro e costumam apresentar um anel amarelado ao redor, composto por grãos de pólen.
É possível notar a presença do bicudo através da separação das brácteas dos botões florais, amarelamento e queda. Quando há uma queda excessiva de botões florais, é indicado que seja realizada a coleta e, ao abri-los, caso existam larvas de formato curvo e esbranquiçada, é possível constatar a presença do bicudo na lavoura. Outro dano comum é o efeito “Flor em balão” que consiste na não abertura das pétalas.
É possível identificar um ataque do bicudo quando observado que uma lavoura de algodão apresenta um ótimo desenvolvimento vegetativo, porém uma perda de carga ou queda brusca de produção.
Figura 1. Danos causados pelo bicudo
Os orifícios abertos nas estruturas reprodutivado.s da cultura do algodão pelo A. grandis são maiores que os orifícios utilizados para alimentação. A fêmea normalmente costuma realizar a postura de ovos na base dos botões florais, e, após realizar a deposição dos ovos, é depositada uma espécie de cera com a finalidade de protegê-los e evitar a desidratação desses até que ocorra todo o desenvolvimento desde a fase pupal até a formação completa do indivíduo adulto. Normalmente a fêmea costuma realizar a postura de um ovo por botão floral da planta.
O bicudo possui preferência em se alimentar dos botões florais localizadas no terço médio do algodoeiro e realizar a ovoposição no terço superior da planta. Em caso de alta infestação de adultos em uma lavoura, eles podem optar por atacar flores e maçãs.
Figura 2. Porcentagem de danos causados pelo bicudodo-algodoeiro, de acordo com os terços superior, médio e inferior da planta. Fonte: Ramiro, Z. (2001), III CBA Estádios de desenvolvimento (Gallo et al., 2002).
Ovo: os ovos são branco-brilhantes e medem, em média, 0,8 mm de comprimento por 0,5 mm de largura. Normalmente são elípticos, mas a forma e o tamanho variam. Após 2 a 4 dias da postura, eclodem as larvas.
Larva: as larvas são de cor branca, com a cabeça com cor pardo-clara, sem pernas, encurvadas e, no terceiro ínstar, apresentam entre 5 e 7 mm de comprimento. Passam de 4 a 12 dias alimentando-se (depende da temperatura) e, em seguida, transformam-se em pupas.
Pupa: as pupas são de cor branca e pode-se observar os vestígios dos diferentes membros do corpo dos futuros adultos, como olhos e rostro. Permanecem assim de 2 a 6 dias e, a seguir, transformam-se em adultos.
Adulto: de coloração cinza ou castanha, os adultos medem, em média, 7 mm de comprimento (incluindo o rostro, que corresponde à metade do comprimento do corpo) e cerca de 2,3 mm de largura. O corpo é coberto por pequenos e finos pelos dourados. Os adultos recém-emergidos possuem uma cor marrom-avermelhada. O ciclo de vida de ovo a adulto se completa em aproximadamente 21 dias, mas pode levar de 20 a 40 dias.
Figura 3. Ciclo biológico do bicudo. Fotos: Paulo E. Saran (ovo, larva e pupa). Fonte: IMAmt
Normalmente as fêmeas possuem um ciclo de vida mais prolongado, chegando até 30 dias, e realizando a postura de até 300 ovos. Conforme o ciclo da cultura do algodão evolui para a colheita, o potencial reprodutivo da fêmea do A. grandis decai de geração em geração, chegando a ovopositar um ovo a cada dois dias.
Dado o ciclo rápido da praga, é possível que até sete gerações do inseto infestem uma única safra do algodão, tornado essa praga fortemente presente em todas as fases da cultura. Além disso, o controle da praga é dificultado pela sua capacidade de dormência, que permite que os insetos atrasem sua maturidade sexual e fisiológica, além do acumulo de lipídeo até que encontrem um ambiente seguro e propicio. Isso garante sua sobrevivência durante o período de entressafra.
Outra característica que dificulta o controle e manejo da praga é o fato de o bicudo possuir a habilidade de se tornar endofítico, o que o mantem protegido da ação de alguns defensivos utilizados no seu controle.
As diversas características da praga evidenciam que é necessário realizar um bom controle e monitoramento durante todo o ciclo da cultura, além do manejo preventivo, que antecede a cultura, e na pós-colheita. Estima-se que uma infestação de apenas 20 indivíduos no início do ciclo da cultura do algodão pode gerar uma população de 2 milhões de descentes ao final do ciclo da cultura.
Figura 4. Infestação do bicudo-do-algodoeiro, de acordo com os terços superior, médio e inferior da planta a partir de 20 indivíduos. Fonte: Ramiro, Z. (2001), III CBA.
2. MANEJO E ESTRATÉGIAS DE COMBATE
Para melhor controle do bicudo, é necessário realizar a retirada de restos culturais e soqueiras da planta do algodão no período de entressafra evitando a sobrevivência e disseminação da praga.
A utilização de operações com arado e grade tendem a “espantar” o bicudo para áreas periféricas distantes da área de plantio. Porém, tal ação deve ser realizado com até 40 dias de antecedência da semeadura. É muito importante que o plantio seja feito de forma padronizada e respeitando a época de plantio da região, e se possível utilizando cultivares precoces, pois as cultivares de ciclo tardio tendem a sofrerem mais ataques e tornam o controle da praga inviável.
A catação dos botões florais caídos é indicada nos primeiros 60 dias e depois aos 80 dias, já que essa ação pode reduzir em até 50% a ocorrência dos indivíduos. A utilização de estratégias de controle não anula a necessidade de utilização de defensivos, sejam eles biológicos ou químicos. O indicado é que se utilize o máximo de ferramentas como estratégia de prevenção e controle para que haja uma proteção eficaz e precisa.
É indicado a utilização de reguladores hormonais em até 40 dias após o plantio, com o objetivo de padronizar o crescimento da lavoura e auxiliar na absorção do inseticida na planta, realizando um controle eficaz do bicudo.
O uso de iscas e armadilhas auxiliam no controle e devem ser utilizadas no período que antecede o plantio, ao longo do ciclo, e no pós colheita (entressafra). Ao constatar a presença do bicudo, a partir da fase de “pinhead square” (primórdios do botão floral), é indicado a aplicação de inseticida nas bordaduras de forma constante e uniforme.
Figura 5. Fonte: Bayer
Uma estratégia que se mostra muito eficaz é a utilização de plantio isca, que consiste em realizar o plantio da cultura do algodão em pequenas faixas entre 100 e 500 m² nas bordaduras da lavoura. O plantio da lavoura isca deve ser realizado no mínimo cinco dias antes da lavoura comercial para cumprir seu objetivo de atrair os insetos pragas que restaram no período da entressafra e os eliminar a partir do décimo dia com o uso de inseticidas. É importante que seja feito um carreador de até quatro metros entre as bordaduras e a lavoura comercial. Outro método muito utilizado são as soqueiras iscas também implantados nas bordaduras.
O Tubo Mata Bicudo (TMB) é uma ferramenta muito utilizada no controle do A. grandis. É indicada a instalação dos tubos 10 dias antes do plantio, nas bordaduras, com uma distância entre tubos de até 45 m, e a reaplicação das armadinhas após 40 dias.
A estratégia de utilizar desfolhantes com o objetivo de paralisar por um determinado período o surgimento de novos botões florais reduz a população da praga ao final do ciclo da cultura do algodão. Além dessas estratégias, é necessário realizar o monitoramento a todo momento para inspecionar os níveis de infestações e realizar a melhor tomada de decisão com os produtos e estratégias adequadas para o controle da praga.
Existem diversas estratégias de manejo e o controle a partir de inseticidas deve ser realizado de forma criteriosa. Sua aplicação deve ser realizada de forma consciente e sustentável seguindo as recomendações do profissional e respeitando o meio ambiente. A rotação de cultura é uma boa alternativa para realizar o controle de diversas pragas, além de uma prática sustentável e aliada do plantio direto.
Ao final do texto são listados alguns inseticidas utilizados no controle do A. grandis e seus princípios ativos (Tabela 1). É importante observar que o uso de qualquer produto inseticida ou defensivo agrícola deve ser acompanhado por um agrônomo ou outro profissional qualificado e deve respeitar a lista de produtos autorizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Tabela 1. Inseticidas utilizados no controle do A. grandis.
Produto | Ingrediente Ativo | Produto | Ingrediente Ativo |
Acucor | Clorantraniliprole, Lambda-Cialotrina | Kaiso Sorbie | Lambda-Cialotrina |
Ajanta Super | Cipermetrina, Profenofós | Kaiso Sorbie BR | Lambda-Cialotrina |
Akito | Beta-Cipermetrina | Karate Zeon 250 CS | Lambda-Cialotrina |
Ametista | Bifentrina, Zeta-Cipermetrina | Karate Zeon 50 CS | Lambda-Cialotrina |
Ampligo | Clorantraniliprole, Lambda-Cialotrina | Kumulus DF | Enxofre (Sulfur) |
Bazuka 216 SL | Metomil | Lambda Cialotrina CCAB | Lambda-Cialotrina |
Bifentrina 100 EC Nortox | Bifentrina | Lecar | Lambda-Cialotrina |
Bistar 100 EC | Bifentrina | Luretape BW-10 | Grandlure (I, II, III e IV) |
Bitrin 100 EC | Bifentrina | Malathion 1000 EC FCM | Malationa |
Bold | Acetamiprido, Fenpropatrina | Malathion CCAB 1000 EC | Malationa |
Brasão | Lambda-Cialotrina | Malathion CCAB 1170 UL | Malationa |
Brigade 100 EC | Bifentrina | Malathion Prentiss | Malationa |
Brit | Cipermetrina | Malathion UL FMC | Malationa |
Brutus | Lambda-Cialotrina | Marathon 800 WG | Fipronil |
Bucanero | Lambda-Cialotrina | Marshal Star | Carbosulfano |
Bulldock 125 SC | Beta-ciflutrina | Masumo | Clorantraniliprole, Lambda-Cialotrina |
Capture 100 EC | Bifentrina | Meothrin 300 | Fenpropatrina |
Capture 400 EC | Bifentrina | Methomex 215 SL | Metomil |
Chess 500 WG | Pimetrozina | Microthiol Disperss WG | Enxofre (Sulfur) |
Cipermetrin 250 EC CCAB | Cipermetrina | Mustang 350 EC | Zeta-Cipermetrina |
Cipermetrina 200 EC | Cipermetrina | Nexide | Gama-Cialotrina |
Cipermetrina 250 EC CCAB | Cipermetrina | Nordik | Gama-Cialotrina, Malationa |
Cipermetrina Nortox 250 EC | Cipermetrina | Notório | Lambda-Cialotrina |
Cipertrin | Cipermetrina | Optix | Beta-Cipermetrina |
Comissário | Bifentrina, Diafentiurom | Phostek | Fosfeto de alumínio |
Commanche 200 EC | Cipermetrina | Pirephos EC | Esfenvalerato, Fenitrotiona |
Connect | Beta-ciflutrina, Imidacloprido | Polytrin | Cipermetrina, Profenofós |
Cosavet | Enxofre (Sulfur) | Polytrin 400/40 EC | Cipermetrina, Profenofós |
Curbix 200 SC | Etiprole | Primum | Malationa |
Cyman | Cipermetrina | Rainil | Fipronil |
Cyper Copa 250 EC | Cipermetrina | Rotashock | Metomil |
Cypermethrin 200 EC | Cipermetrina | Safety | Etofenproxi |
Cyptrin 250 CE | Cipermetrina | Seizer 100 EC | Bifentrina |
Cyptrin Prime | Cipermetrina | Shambda 50 EC | Lambda-Cialotrina |
Danimen 300 EC | Fenpropatrina | Shyper 250 EC | Cipermetrina |
Decis 25 EC | Deltametrina | SingularBR | Fipronil |
Defend WDG | Enxofre (Sulfur) | Sparviero 50 | Lambda-Cialotrina |
Engeo Pleno S | Lambda-Cialotrina, Tiametoxam | Sperto | Acetamiprido, Bifentrina |
Êxito 215 SL | Metomil | Stallion 150 CS | Gama-Cialotrina |
Fastac 100 SC | Alfa-Cipermetrina | Stallion 60 CS | Gama-Cialotrina |
Fentrol | Gama-Cialotrina | Sulphur 800 WG Perterra | Enxofre (Sulfur) |
Fipronil 800 WG CCAB | Fipronil | Sumidan 150 SC | Esfenvalerato |
Fipronil Nortox | Fipronil | Sumidan 25 EC | Esfenvalerato |
Fipronil Nortox 800 WG | Fipronil | Sumirody 300 | Fenpropatrina |
Fury 180 EW | Zeta-Cipermetrina | Sumithion 500 EC | Fenitrotiona |
Fury 200 EW | Zeta-Cipermetrina | Sumithion UBV | Fenitrotiona |
Galgotrin | Cipermetrina | Suprathion 400 EC | Metidationa |
Gastoxin | Fosfeto de alumínio | Survey 800 WG | Fipronil |
Produto | Ingrediente Ativo | Talisman | Bifentrina, Carbosulfano |
Gastoxin B57 | Fosfeto de alumínio | Talstar 100 EC | Bifentrina |
Hero | Bifentrina, Zeta-Cipermetrina | Tora | Malationa |
Instal WG | Fipronil | Toreg 50 EC | Lambda-Cialotrina |
Iscalure BW 10 | Grandlure (I, II, III e IV) | Trebon 100 SC | Etofenproxi |
Jambtrin 120 EC | Lambda-Cialotrina | Trinca | Lambda-Cialotrina |
Judoka | Lambda-Cialotrina | Trinca Caps | Lambda-Cialotrina |
Kaiso 250 CS | Lambda-Cialotrina | Voliam Flexi | Clorantraniliprole, Tiametoxam |
Manejo do bicudo em algodão orgânico
Com alto poder de destruição, o bicudo do algodoeiro é uma das principais ameaças ao cultivo do algodão orgânico.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
Agrolink, 2021. Bicudo (Anthonomus grandis). Disponível em: https://www.agrolink.com.br/problemas/bicudo_29.html
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GABRIEL, D., 2016. O bicudo do algodoeiro. Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA): Documento Técnico 25. P 1-20. Disponível em: http://www.biologico.sp.gov.br/uploads/docs/dt/bicudo_algodoeiro.pdf
MARTINS, I. S., 2018. Informativo Técnico Nortox: Bicudo do algodoeiro. Edição 7. Disponível em: http://www.nortox.com.br/wp-content/uploads/2018/04/informativo-artigo-07-Isaac.pdf
Procedi, A., 2019. Mais Soja: Prioridades MAPA: bicudo do algodoeiro, “a praga” do algodão Brasileiro. Disponível em: https://maissoja.com.br/prioridades-mapa-bicudo-do-algodoeiro-a-praga-do-algodao-brasileiro/
RIBEIRO, J. G. P., 2018. Espaçamento de plantas do algodoeiro afetando a infestação do bicudo-doalgodoeiro. Brasília: Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília, 43 páginas. Monografia. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/20393/1/2018_JoaoGabrielPrudenteRibeiro_tcc.pdf
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