(Curadoria Agro Insight)
Na curadoria Agro Insight de hoje, trouxemos informações importantes sobre os principais aspectos a serem considerados na semeadura do milho. Para isso, fizemos uma síntese do Sistema de Produção da Embrapa para a cultura do milho.
Época de semeadura
Embora não tenha custo adicional, o plantio de milho feito na época correta afeta diretamente a produção e a produtividade da lavoura e, consequentemente, o lucro do agricultor. O atraso no plantio dificulta também diversas operações agrícolas, como o controle de pragas e plantas daninhas, além de aumentar a ocorrência e a severidade de doenças, e é apontado como um dos principais fatores responsáveis pela baixa produtividade, principalmente do pequeno e médio produtor.
O período de crescimento e desenvolvimento é afetado pela umidade do solo, pela temperatura, pela radiação solar e pelo fotoperíodo. A época de plantio é em função destes fatores, cujos limites extremos são variáveis em cada região agroclimática. A época de semeadura mais adequada é aquela que faz coincidir o período de floração com os dias mais longos do ano, e a etapa de enchimento de grãos com o período de temperaturas mais elevadas e alta disponibilidade de radiação solar. Isto, considerando satisfeitas as necessidades de água pela planta. Trabalho de pesquisa mostra que as épocas em que o rendimento de grãos foram maiores e mais estáveis foram aquelas em que os estádios de desenvolvimento de quatro folhas totalmente desenvolvidas e de floração ocorreram sob boas condições de água no solo. Nas condições tropicais, devido a menor variação da temperatura e do comprimento do dia, a distribuição de chuvas é que, geralmente, determina a melhor época de semeadura.
Região Sul
Na região sul do Brasil, no Rio Grande do Sul, lavouras obtiveram maiores rendimentos com o plantio mais cedo. Cerca de 90% da área é plantada nos meses de agosto e setembro. Em Santa Catarina, 80% dos plantios são realizados também nos meses de agosto e setembro. Esses resultados caracterizam-se pelo fato de serem locais com clima característico de regiões subtropicais. No Estado do Paraná, os resultados observados mostram que a época de plantio das lavouras de maiores rendimentos se concentra nos meses de setembro e outubro.
Região Sudeste e Centro Oeste
As épocas de plantio das lavouras de milho de alta produtividade concentram-se nos meses de outubro e novembro, chegando a cerca de 80% das lavouras com produtividade acima de 8.000 kg ha-1. O mesmo ocorre nos estados da região Centro-Oeste, onde as melhores lavouras de milho são plantadas, principalmente, nos meses de outubro e novembro.
Região Nordeste
Para as lavouras de alta produtividade na Bahia e no Piauí, principalmente, a época de plantio concentra-se no final do mês de novembro e principalmente no mês de dezembro.
Região Norte
As lavouras com alta produtividade (acima de 8 mil kg/ha) foram registradas apenas no Estado do Pará, sendo que em 70% das lavouras de alta produtividade, a época de plantio neste estado ocorreu em janeiro. Com a análise dos levantamentos, pode-se concluir que as diferenças edafoclimáticas de cada região influenciam muito na tomada de decisão da época de plantio da cultura de milho, na safra normal.
Figura 1. Distribuição percentual, por estado, das lavouras de altas produtividades de milho safrinha em diferentes épocas de plantio (amostragem de 1.024 lavouras). Fonte: CRUZ et al. (2010).
Profundidade da semeadura
A profundidade de semeadura está condicionada aos fatores temperatura do solo, umidade e tipo de solo. A semente deve ser colocada em uma profundidade que possibilite um bom contato com a umidade do solo. Entretanto, a maior ou menor profundidade de semeadura vai depender do tipo de solo. Naqueles mais pesados (argilosos), com drenagem deficiente ou com fatores que dificultam o alongamento do mesocótilo, dificultando a emergência de plântulas, as sementes devem ser colocadas entre 3 e 5 cm de profundidade. Já em solos mais leves ou arenosos, as sementes podem ser colocadas mais profundas, entre 5 e 7 cm de profundidade, para se beneficiarem do maior teor de umidade do solo.
No Sistema Plantio Direto, onde há sempre um acúmulo de resíduos na superfície do solo, especialmente em regiões mais frias, a cobertura morta pode retardar a emergência, reduzir o estande e, em alguns casos, pode até causar queda no rendimento de grãos da lavoura, dependendo da profundidade em que a semente foi colocada. A Tabela 1 mostra o efeito da profundidade de semeadura sobre a emergência, o vigor e a duração do período de emergência na cultura do milho.
Contrário a uma crença popular, a profundidade de semeadura tem influência mínima na profundidade do sistema radicular definitivo, que se estabelece logo abaixo da superfície do solo.
Tabela 1. Porcentagem de emergência, vigor e duração do período de germinação de sementes de milho em diferentes profundidades.
Profundidade (cm) | Emergência (%) | Vigor ¹ | Duração Média (dias) |
2.5 | 100.0 | 3.0 | 8.0 |
5.0 | 97.5 | 3.0 | 10.0 |
7.5 | 97.5 | 3.0 | 12.0 |
10.0 | 80.0 | 2.5 | 15.0 |
12.5 | 32.5 | 0.7 | 18.0 |
¹vigor aos 22 dias após a semeadura. Notas: 3.0 para o máximo vigor a zero para mínimo vigor. Fonte: Adaptado de Fagundes (1975) citado por Bresolin(1993).
Densidade de Plantio
A densidade de plantio, ou estande, definida como o número de plantas por unidade de área, tem papel importante no rendimento de uma lavoura de milho, uma vez que pequenas variações na densidade têm grande influência no rendimento final da cultura.
O milho é a gramínea mais sensível à variação na densidade de plantas. Para cada sistema de produção, existe uma população que maximiza o rendimento de grãos. A população recomendada para maximizar o rendimento de grãos de milho varia de 40.000 a 80.000 plantas.ha-1, dependendo da disponibilidade hídrica, da fertilidade do solo, da cultivar, da época de semeadura e do espaçamento entre linhas. Vários pesquisadores consideram o próprio genótipo como principal determinante da densidade de plantas. O aumento da densidade de plantas até determinado limite é uma técnica usada com a finalidade de elevar o rendimento de grãos da cultura do milho. Porém, o número ideal de plantas por hectare é variável, uma vez que a planta de milho altera o rendimento de grãos de acordo com o grau de competição intraespecífica proporcionado pelas diferentes densidades de planta.
O rendimento de uma lavoura aumenta com a elevação da densidade de plantio, até atingir uma densidade ótima, que é determinada pela cultivar e por condições externas resultantes de condições edafoclimáticas do local e do manejo da lavoura. A partir da densidade ótima, quando o rendimento é máximo, aumento na densidade resultará em decréscimo progressivo na produtividade da lavoura. A densidade ótima é, portanto, variável para cada situação e, basicamente, depende de três condições: cultivar, disponibilidade hídrica e do nível de fertilidade de solo. Qualquer alteração nesses fatores, direta ou indiretamente, afetará a densidade ótima de plantio.
Além do rendimento de grãos, o aumento da densidade de plantio também afeta outras características da planta. Dentre essas características, merecem destaque a redução no número de espigas por planta (índice de espigas) e o peso médio da espiga. Também o diâmetro do colmo é reduzido e há maior susceptibilidade ao acamamento e ao quebramento. Além disso, é reconhecido que pode haver um aumento na ocorrência de doenças, especialmente as podridões de colmo, com o aumento na densidade de plantio. Esses aspectos podem determinar o aumento de perdas na colheita, principalmente quando esta é mecanizada. Por estas razões, às vezes, deixa-se de recomendar densidades maiores, que embora em condições experimentais apresentem maiores rendimentos, não são aconselhadas em lavouras colhidas mecanicamente.
A densidade de plantio, dentre as técnicas de manejo cultural, é um dos parâmetros mais importantes. Geralmente, a causa dos baixos rendimentos de milho é o baixo número de plantas por área. Entretanto, para que haja um aumento da produtividade, é necessário que vários outros fatores, como o nível de fertilidade do solo, o nível de umidade e as cultivares estejam em consonância com o número de plantas por área. A velocidade de semeadura deve se basear no conhecimento do produtor sobre as condições de operação do equipamento, as condições do solo e as características da plantadeira, e deve ser definida, visando a uniformidade na produtividade e na distribuição da semente.
A densidade de plantio e a distribuição de sementes são também afetadas pela velocidade de plantio. Para plantadeiras a disco recomenda-se velocidades não superiores a 5 Km/h. Estudos apontam perdas de produtividade de até 11% ao aumentar a velocidade de 5 para 10 Km/h em plantadeiras a disco (Tabela 2). Plantadeiras a dedo ou a vácuo podem realizar operações de semeadura com velocidade de até 10 Km/h, desde que as condições de topografia do terreno, umidade e textura do solo permitiam a operação nesta velocidade (é importante consultar o fabricante). De um modo geral, não se recomenda a semeadura em velocidades superiores a 7 Km/h quando se utilizar essas plantadeiras. Aconselha-se que se faça um teste antes da semeadura, operando a plantadeira em diferentes velocidades para, então se escolher a melhor opção, tendo em vista principalmente a uniformidade da profundidade das sementes.
Velocidades acima do recomendado aumentam o número de falhas e duplas e prejudicam a uniformidade da profundidade das sementes. Esses dois fatores reduzem a população de plantas e aumentam o número de plantas dominadas, prejudicando dois dos principais componentes do rendimento: o número de espigas por área e o número de grãos por espiga.
Tabela 2. Média de populações alcançadas com diferentes velocidades de plantio (média de 7 anos e 61 locais).
Velocidade de plantio (km h-1) | |||
5,0 | 7,5 | 10,0 | |
Densidade desejada | 55.000 plantas ha-1 | ||
Densidade na colheita (plantas ha-1) | 52.612 | 51.131 | 46.821 |
% em relação à densidade desejada | 95,7 | 93,0 | 85,1 |
Dif. de densidade plantas ha-¹ para 5 km/h | 0 | -1.481 | -5.791 |
Perdas em % em relação à velocidade de 5 km/h | 0 | 2,8 | 11,0 |
Produtividade (kg ha-¹) | 9.327 | 8.589 | 8.203 |
Diferença em (kg ha-¹) | 0 | 738 | 1.124 |
Fonte: Pioneer Sementes, 2004.
Em termos genéricos, verifica-se que cultivares precoces (ciclo mais curto) exigem maior densidade de plantio em relação a cultivares tardias, para expressarem seu máximo rendimento. A razão desta diferença é que cultivares mais precoces, geralmente, possuem plantas de menor altura e menor massa vegetativa. Essas características morfológicas determinam um menor sombreamento dentro da cultura, possibilitando, com isto, menor espaçamento entre plantas, para melhor aproveitamento de luz. Mesmo dentre os grupos de cultivares (precoces ou tardios), há diferenças quanto à densidade ótima de plantio.
Uma análise de cerca de 489 cultivares de milho comercializadas na safra 2011/12 mostra que as variedades são indicadas para plantios com densidades variando de 40.000 a 55.000 plantas por hectare, o que é coerente com o menor nível de tecnologia dos sistemas de produção empregados pelos agricultores que usam esse tipo de cultivar. As faixas de densidades mais frequentemente recomendadas para os híbridos duplos variam de 50 a 60 mil plantas por ha, havendo casos de recomendação até de 70 mil plantas por ha. Para os híbridos triplos e simples, é frequente a densidade de 55 a 70 mil plantas por ha, havendo casos de recomendação de até 80 mil plantas por ha, principalmente entre os híbridos simples. Deve ser ressaltado que na safra 2009/10 apenas 23 cultivares eram recomendadas com densidades de plantio igual ou maior do que 70 mil plantas por hectare. Nesta safra (2011/12) esse número passou para um pouco mais de 100 híbridos (triplos e simples) representando cerca de 28% de todos os híbridos triplos e simples disponíveis no mercado, independentemente se são ou não transgênicos, mostrando também a importância da densidade de plantio para que as cultivares possam expressar seus potenciais produtivos. Por outro lado, a ideia tradicional de se utilizar um saco de sementes para o plantio de um hectare já não é verdadeira, havendo necessidades de se utilizar 1,2 a 1,4 sacos de sementes (com 60.000 sementes) para o plantio de um hectare.
Figura 2. Plantio com distribuição uniforme, CRUZ et al. (2010).
Espaçamento entre fileiras
Ainda é muito variado o espaçamento entre fileiras de milho nas lavouras, embora seja nítida a tendência de sua redução. Dados de pesquisa mostram vantagens do espaçamento reduzido (45 a 50 cm entre fileiras) comparado ao espaçamento convencional (80 a 90 cm), especialmente quando se utilizam densidades de plantio mais elevadas, como é demonstrado na Figura 3.
Entre as vantagens potenciais da utilização de espaçamentos mais estreitos, podem ser citados o aumento do rendimento de grãos, em função de uma distribuição mais equidistante de plantas na área, aumentando a eficiência de utilização de luz solar, água e nutrientes, melhor controle de plantas daninhas, devido ao fechamento mais rápido dos espaços disponíveis, diminuindo, dessa forma, a duração do período crítico das plantas daninhas, redução da erosão, em consequência do efeito da cobertura antecipada da superfície do solo, melhor qualidade de plantio, através da menor velocidade de rotação dos sistemas de distribuição de sementes e maximização da utilização de plantadoras, uma vez que diferentes culturas, como, por exemplo, milho e soja, poderão ser plantadas com o mesmo espaçamento, permitindo maior praticidade e ganho de tempo. Tem sido também mencionado que os espaçamentos reduzidos permitem melhor distribuição da palhada de milho sobre a superfície do solo, após a colheita, favorecendo o sistema de plantio direto.
Figura 3. Médias do rendimento de grãos de milho obtidas em dois espaçamentos e quatro densidades de plantas. Fonte: Cruz et al., 2008.
Diversos trabalhos têm mostrado tendência de maiores produções de grãos em espaçamentos mais estreitos (45 e 50 cm), principalmente com os híbridos atuais, que são de porte mais baixo e arquitetura mais ereta. Essa redução no espaçamento resulta também em maior peso de grãos por espiga. Esse comportamento se deve ao fato de os milhos atuais terem características de porte mais baixo, melhor arquitetura foliar e menor massa vegetal, o que permite cultivos mais adensados em espaçamentos mais fechados. Devido a essas características, esses materiais exercem menores índices de sombreamento e aproveitam melhor a luz solar.
A Tabela 3 mostra o número de sementes por metro linear de sulco para diferentes densidades de semeadura e espaçamentos entrelinhas quando é realizada a regulagem da plantadeira.
População desejada | Nº de sementes no plantio | Número de sementes por metro de sulco Espaçamento (cm) |
||||
50 | 60 | 70 | 80 | 90 | ||
40.000 | 44.000 | 2,2 | 2,6 | 3,1 | 3,5 | 4,0 |
45.000 | 49.500 | 2,5 | 3,0 | 3,4 | 4,0 | 4,5 |
50.000 | 55.000 | 2,8 | 3,3 | 3,8 | 4,4 | 5,0 |
55.000 | 60.500 | 3,0 | 3,6 | 4,2 | 4,8 | 5,4 |
60.000 | 66.000 | 3,3 | 3,9 | 4,6 | 5,3 | 5,9 |
65.000 | 71.500 | 3,6 | 4,3 | 5,0 | 5,7 | 6,4 |
70.000 | 77.000 | 3,9 | 4,6 | 5,4 | 5,2 | 6,9 |
75.000 | 82.500 | 4,1 | 4,9 | 5,8 | 6,6 | 7,4 |
80.000 | 88.000 | 4,4 | 5,2 | 6,2 | 7,0 | 7,9 |
(*) Numero de sementes no plantio, com acréscimo de 10% para compensar perdas durante o ciclo da cultura.
Quando se pensa em diminuir o espaçamento entre linhas e/ou aumentar a densidade de plantas por área, a escolha do híbrido deve ser criteriosa. Geralmente, os híbridos ou as variedades de porte alto e ciclo longo produzem bastante massa e quase sempre não proporcionam um bom arranjo das plantas dentro da lavoura e, por essa razão, já no início do crescimento é prejudicada a captação da luz. Os híbridos de menor porte, mais precoces, desenvolvem pouca massa vegetal, com menor quantidade de autossombreamento, o que proporciona uma maior penetração da luz solar. Estas plantas permitem cultivo em menores espaçamentos e maiores densidades.
Uma das dificuldades para o uso de espaçamentos mais estreitos eram as plataformas das colheitadeiras, que, muitas vezes, não se adaptavam a esta situação. No entanto, hoje, com a evolução do parque de máquinas agrícolas, esse problema já não existe.
Considerações
A cultura do milho, por sua versatilidade, adapta-se a diferentes sistemas de produção. Devido à grande produção de fitomassa de alta relação C/N, a cultura é fundamental em programas de rotação e sucessão de culturas em Sistemas de Plantio Direto, envolvendo ou não sistemas de produção com Integração Lavoura-Pecuária. Embora apresente alto potencial de produção, comprovado nos concursos de produtividade e por agricultores que utilizam alto nível tecnológico, o rendimento de milho, no Brasil, ainda é muito baixo. Considerando, ainda, a qualidade e o potencial da semente de milho disponível, com predominância dos híbridos simples, verifica-se que é fundamental um aperfeiçoamento dos sistemas de produção para que esses materiais possam expressar ao máximo seu potencial genético, alcançando altas produtividades em sistemas de produção sustentáveis.
BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS
MANTOVANI, E.C.; PEREIRA FILHO, I.A. VIANA, J.H.M.; ALBUQUERQUE FILHO, M.R.; OLIVEIRA, M.F.; GONTIJO NETO, M.M.; ALVARENGA, R.C.; MATRANGOLO, W.J.R.; CRUZ, J.C. Milho: Sistema de Produção, 9ª edição, Embrapa Milho e Sorgo, Novembro de 2015.
CRUZ,J.C.; SILVA,G.H.; PEREIRA FILHO,I.A.; GONTIJO NETO,M.M.; MAGALHÃES, P.C.Sistema de produção de milho safrinha de alta produtividade.In: n: CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO, 28.; SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE A LAGARTA DO CARTUCHO, 4., 2010, Goiânia. Potencialidades, desafios e sutentabilidade: resumos expandidos. Goiânia: ABMS, 2010. 1 CD-ROM.
BRESOLIN, M. (Coord.). Contribuições à cultura do milho para o estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Fundação Ciência e Tecnologia, 1993. (Fundação Ciência e Tecnologia. Boletim técnico.).