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Perspectivas do mercado da carne brasileira

Perspectivas do mercado da carne brasileira

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(Curadoria Agro Insight)

Olá! Em mais um trabalho de curadoria sobre o agronegócio brasileiro, hoje trouxemos um artigo dos pesquisadores da Embrapa, Sergio Raposo de Medeiros, Fernando Rodrigues Teixeira Dias e Guilherme Cunha Malafaia, que fazem parte do Centro de Inteligência da Carne (CiCarne).

O CiCarne disponibiliza informações aos agentes da cadeia produtiva de carne bovina. Através dele, são disponibilizados, por exemplo, dados sobre insumos usados na atividade pecuária, rebanhos por regiões, índices zootécnicos da atividade e variações das exportações de carne.

O artigo intitulado “A carne brasileira e sua competitividade no mercado internacional”, corresponde ao Boletim CiCarne 47 e traz para o setor da carne um panorama atualizado das suas potencialidades e carências.

ARTIGO – A carne brasileira e sua competitividade no mercado internacional

As previsões para os próximos anos indicam que, no longo prazo, deverá haver redução no consumo de carne bovina. Esse assunto foi tratado em boletim CiCarne recente, do qual destacamos três pontos:

1) apesar de, nos próximos 5 anos, o consumo de carnes continuar crescendo, o crescimento do consumo de carne bovina será bem menor do que o crescimento do consumo de outras carnes;

2) haverá redução de consumo de carne em mercados desenvolvidos por questões ligadas ao preço, meio ambiente e à saúde;

3) a maior demanda pela carne bovina da China decorre da crise da Peste Suína Africana entre 2018 e 2019, que, uma vez superada, reduzirá o apetite desse país pela importação de carnes.

Naquele boletim, foi dito que com uma associação da aplicação de tecnologia para intensificação sustentável e uma comunicação mais efetiva, esse quadro de redução de demanda para nossa carne pode ser revertido. No presente boletim, pretende-se detalhar aspectos da nossa produção de carne bovina que podem ser mais bem aproveitados para sua promoção, bem como alguns fatores limitantes, para os quais descrevemos algumas alternativas para tentar fazer com que eles atrapalhem menos ou mesmo sejam usados em nosso favor. Contudo, mesmo que sejamos bem sucedidos na parte técnica e operacional, se não formos competentes na comunicação, os resultados positivos ficam mais difíceis.

1. ASPECTOS DA CARNE BRASILEIRA QUE INTERFEREM COM SUA COMPETITIVIDADE PREÇO ALTAMENTE COMPETITIVO

Um dos principais motivos para a carne bovina brasileira nos levar ao topo dos exportadores, sem dúvida, é seu custo de produção altamente competitivo. O fato de 98% ser produzida com base em pastagens, uma vez que apenas 13% dos animais abatidos são terminados em confinamento nos seus últimos 100 dias de vida, explica em grande parte essa condição. Os valores obtidos com a exportação de carne nos últimos 15 anos pode ser visto na Figura 1.

Figura 1. Exportação da carne brasileira nos últimos 15 anos. Fonte: Anuário ABIEC 2020, exceto dado de 2020 que é projeção da própria ABIEC anunciada em dezembro de 2020.

Pode-se observar que, ainda que haja variações ano a ano devido ao mercado, os valores são muito significativos e com tendência geral de crescimento. Essa conquista é feita com base, além do perfil empreendedor do nosso produtor, em três ativos muito importantes: (i) cultivares de forrageiras tropicais, (ii) gado de origem indiana e (iii) grandes investimentos no desenvolvimento tecnológico.

Os dois primeiros serão mais bem discutidos abaixo. Atualmente, o grande desafio é continuar a intensificação da produção, mas sem necessidade de aumentar muito a oferta de alimentos adicionais ao pasto. Temos boas promessas com aditivos (modificadores ruminais, enzimas, etc.). Há, ainda, oportunidades de aumentar a produção por uma manejo mais fino, seja no caso de ajudar o animal a colher mais eficientemente forragem, seja que a parte que ele estiver consumindo seja de melhor valor nutritivo, o que nos remete ao nosso próximo item.

2. FORRAGEIRAS TROPICAIS NO BRASIL

Entre tantas conquistas da zootecnia nacional, o nosso portfólio de forragens tropicais, variado e extremamente produtivo, é motivo de muito orgulho. Explorar o app Pasto Certo é uma boa forma de comprovar isso.

Ainda há possibilidade de expressivos aumentos de produtividade e valor nutritivo das forrageiras, por processos como hibridização, melhoramento e seleção. Todavia, além desses atributos, atualmente buscam-se outros atributos mais específicos, como tolerância ao encharcamento e à seca, em linha com os desafios das mudanças climáticas.

O desenvolvimento de novas cultivares de leguminosas, visando consorciação com gramíneas, também contempla bem os desafios de maior resiliência ao déficit hídrico, menor uso de suplementos alimentares e redução da necessidade de adubação, todos também alinhados aos desafios vindouros.

3. RAÇAS BOVINAS E SEUS CRUZAMENTOS NO BRASIL

Não por acaso, no Brasil, há uma predominâncias das raças zebuínas, com destaque para o Nelore. Isso decorre de maior tolerância aos ecto e endoparasitas e menor exigência de manutenção, duas características importantes para as condições desafiadoras do ambiente no Brasil central-pecuário.

Em contrapartida, animais zebuínos produzem carne mais magra e de menor maciez quando comparada às raças europeias. As raças europeias no Brasil, apesar de minoritárias, são importantes na produção de carne premium, especialmente em sistema de cruzamento com raças zebuínas e com terminação em confinamento. Maciez é um ponto-chave, como veremos a seguir.

4. MACIEZ

É o ponto principal em termos de qualidade da carne, o que fica claro ao se constatar que são os cortes de maior grau de maciez que têm os maiores valores. Têm sido feitos grandes esforços para reduzir a diferença entre taurinos e zebuínos, no caso da maciez, tanto por melhoramento animal, como com tecnologias pós-abate. A variabilidade nessas características para nelore, a raça zebuína predominante, é bastante grande, portanto, é possível ter animais no rebanho que produzem carne macia.

Assim, uma tecnologia que pode ajudar muito é a determinação da maciez em tempo real dos cortes no frigorífico com uso de espectrometria do infravermelho próximo (NIRS, near infrared spectrometry). Isso ajudaria a ter um produto diferenciado usando nossa base e, certamente, ajudaria a melhorar a seleção de animais com essa característica.

5. MARMOREIO

O marmoreio, que é a ocorrência de gordura entremeada aos feixes de fibras musculares da carne, é outro importante fator de qualidade da carne, especialmente cobrado pelos mercados que melhor remuneram.

A obtenção dele depende da genética do animal, mas é favorecida, também, por maiores taxas de ganho de peso na terminação. Animais zebuínos têm menor predisposição genética para o marmoreio e, no sistema de produção em pastagem, com ganhos menores, raramente produzem carne com essa característica que, por envolver o acúmulo de gordura, está relacionado à redução da eficiência alimentar. O interessante, nesse ponto, é que o Brasil tem como atender o mercado premium, com cruzamento industrial e terminação em confinamento, deixando o sistema de produção predominante para produzir carne magra baseada em pastagem a atender outros mercados.

6. SISTEMA DE PRODUÇÃO: BEM-ESTAR ANIMAL, ASPECTOS NUTRICIONAIS E DE ALIMENTO SEGURO

O sistema de produção brasileiro, por ser baseado em pastagens, tem vários aspectos que vão ao encontro das tendências mundiais, como a questão da crescente valorização do bem estar animal (BEA), pois os animais são criados mais próximos às condições naturais. Também por produzir uma carne mais magra, que atende melhor às recomendações de saúde e, não menos importante, produzindo proteína animal com menor competição por alimentos passíveis de consumo por humanos, como o milho e a soja, em relação aos animais monogástricos, como suínos e aves.

Além dessas vantagens, em função de ser um sistema de produção com uso de muitos poucos insumos, como medicamentos e outros produtos industrializados, a carne brasileira é o alimento de produção convencional mais próxima à produção orgânica. Isso pode ser atestado por raramente a carne brasileira apresentar não conformidades quanto à presença de compostos proibidos. Pode ser considerada, portanto, um alimento seguro.

7. REPUTAÇÃO AMBIENTAL

O Brasil tem todos os índices para ser considerado uma potência ambiental: temos uma das maiores áreas de ambientes nativos preservados, uma das maiores biodiversidades do planeta, abundância de água, com uma vasta rede hidrográfica e tendo os maiores aquíferos do mundo. Soma-se a isso, tecnologia para produção sustentável para ser usada para explorar áreas de pastagem extensiva que tem sido substituída por produções mais intensivas, incluindo as produções integradas, em todas suas modalidades.

Infelizmente, apesar do cenário exposto acima, atualmente, o Brasil se encontra em uma situação de exposição externa muito negativa com relação à área ambiental, especialmente pelos expressivos aumentos no desmatamento da Amazônia. A última atualização, do período 2020-2021, fechou em mais de 11 mil km que, se ainda está a meio caminho do recorde de 2004, com mais de 25 mil km, é significativamente mais elevado do que os 4 mil km, o menor valor da série histórica, obtido em 2012.

Aqui fica claro que todas as estatísticas positivas caem por terra quando apresentamos resultados tão ruins como esses, ainda mais dentro de um contexto de alta flexibilização das normas, redução de aplicação de multas e reduzidos esforços de comando e controle para inibir os crimes ambientais.

Importante frisar que a manutenção do da floresta amazônica tem como seus maiores interessados todos aqueles preocupados com o futuro da produção rural nas áreas ao sul dela, pois sua manutenção é fundamental para a manutenção de períodos de chuvas regulares, não sendo preciso qualquer pressão externa para justificar sua exploração racional e dentro dos limites da lei.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Objetivou-se fazer um panorama geral com os principais pontos que caracterizam a produção de carne bovina brasileira e algumas particularidades que trazem vantagem ou desafios para ampliar a exportação da carne brasileira. Fica demonstrado que temos ainda muito espaço para evoluir na produção em pastagens com nossa base genética predominante, sem perder oportunidades de mercados premium, com uso de raças europeias, seus cruzamentos e terminação confinada. Ao mesmo tempo, podemos melhorar aspectos particulares da produção, como a maciez da carne, e criar protocolos de bem-estar animal e produção ambientalmente correta, para apresentar a carne brasileira com esse pacote de qualidade que inclui tudo isso e, ainda, a vantagem extra de ser uma opção mais saudável.

Ao mesmo tempo, é importante ter uma estratégia de melhor conhecimento dos mercados emergentes para saber o que nosso produto tem que ter para atender os anseios desse consumidor. Mesmo que sejam necessários ajustes, outra característica do nosso sistema de produção é que ele é variado e versátil, podendo ser trabalhado para atender interesses diversos. Esse cuidado, mais uma boa campanha de comunicação, também feita sob medida para cada mercado, pode ajudar a, mesmo num cenário de redução de demanda, o Brasil conseguir conquistar fatias maiores do mercado como um todo.

BIBLIOGRAFIA E LINKS RELACIONADOS

– MEDEIROS, S.R; DIAS, F.R.T.; MALAFAIA, G.C. A carne brasileira e sua competitividade no mercado internacional. Boletim 47 – Análise da equipe de especialistas. Disponível em: https://www.embrapa.br/documents/1355108/51748908/Boletim+CiCarne+47-2021.pdf/73941c68-510e-06a1-3fd1-76c8be584e73

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Tags: Carne Bovina, centro-de-inteligencia-da-carne, cicarne, competitividade, gado-de-corte, Mercado, observatorio-da-carne, precos

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