(Curadoria Agro Insight)
As ESG no contexto das frutas e hortaliças.
Na curadoria de hoje trouxemos o tema das ESG, e para abordar esse assunto, compartilhamos as principais partes de um texto de João Diogo e Margarete Boteon, publicado na Revista Hortifruti Brasil, que aborda as questões relacionadas às ESG no contexto das frutas e hortaliças.
O que é ESG?
Uma sigla vem se tornando cada vez mais comum no meio empresarial, a “ESG”, que representa um conceito de sustentabilidade com três pilares – Ambiental, Social e de Governança.
Cada vez mais, consumidores, compradores e países importadores de alimentos estão impondo restrições a produtores que desrespeitem sobretudo as boas práticas sociais, ambientais e corporativas. Nesse sentido, ignorar problemas ambientais, questões sociais ou de governança pode ameaçar a reputação da marca e a viabilidade do negócio
Mas alcançar parte das metas da ESG não é uma tarefa fácil. Trata-se de um processo de longo prazo,
que demanda engajamento e monitoramentos interno e externo de agentes da cadeia para o seu sucesso.
Luiz Roberto Barcelos, sócio fundador da Agrícola Famosa, conta que: “no começo, ter aderência aos critérios do conceito aumentou nosso custo para produzir, mas, com o passar do tempo, quem não se adequou às exigências perdeu espaço no mercado de exportação e credibilidade no mercado interno”. Antes do conceito de ESG, as melhorias, de acordo com Barcelos, eram chamadas de “Boas Práticas Agrícolas” e, de lá para cá, muitas ações avançaram no setor de HF, sendo alguns fatores, atualmente, exigidos pelo próprio mercado nacional.
Implantação do conceito de ESG
Para os iniciantes, a consultoria Euromonitor propõe que a empresa faça uma série de reflexões sobre
o papel da sustentabilidade no negócio da empresa. É importante que a empresa desenvolva um plano sustentável que conecte as iniciativas de sustentabilidade com os benefícios do seu negócio – um exemplo é o Relatório de Sustentabilidade 2022, da Bem Brasil, líder nacional no segmento de batata pré-frita e comentado nesta edição.
Questionado sobre a recomendação aos produtores, Emílio Fávero, proprietário da AlfaCitrus e engajado nas práticas de ESG, diz que “essas iniciativas transformam o ecossistema em que a empresa está inserida, potencializando a fertilidade do solo, a motivação dos trabalhadores e impactando na sociedade. O coletivo é assistido, e a empresa tem muito a ganhar com isso, especialmente em retornos a longo prazo”.
Exemplos de práticas sustentáveis no setor de frutas e hortaliças
Práticas para reduzir os impactos ambientais
- Reutilização de resíduos vegetal e animal
- Aumentar a eficiência do uso da água
- Expansão da produção de abelhas e mel nas propriedades
- Combate ao desmatamento
- Aumento da biodiversidade
- Uso de energias de fontes renováveis
Práticas sociais (funcionários, colaboradores, comunidade local e seus clientes)
- Promoção da diversidade e inclusão de grupos minoritários na atividade
- Projetos sociais na redução da vulnerabilidade social das comunidades locais
- Respeito aos direitos humanos e trabalhistas
- Responsabilidade/satisfação com os clientes/colaboradores
Práticas no modelo de administração e ética da empresa
- Melhora do ambiente e qualidade do trabalho
- Programas de apoio aos fornecedores
- Eliminação da sobrecarga de trabalho
- Gestão mais eficiente dos processos
Adoção das ESG’S
Atualmente, empresas estão se organizando e publicando anualmente suas atividades por meio de relatórios de sustentabilidade e expondo suas ações nos rótulos de seus produtos. Muitas estabelecem metas específicas no médio e longo prazos para evoluir no tema da sustentabilidade nos seus três pilares: ambiental, social e de governança.
É importante ter ciência de que parte dessas metas não é uma tarefa fácil. Trata-se de um processo de longo prazo, que demanda engajamento e monitoramentos interno e externo de agentes da cadeia para o seu sucesso. Muitos desafios envolvendo a adoção da ESG são apresentados a seguir:
Prosperidade com sustentabilidade
O retorno dos investimentos em atividades sustentáveis não é perceptível no curto prazo. E, a cada ano, é necessário estabelecer novas metas e mostrar a evolução das suas práticas. O mais importante é que o comprometimento dessas práticas se inicie na liderança da organização. Nesse sentido, proprietários/sócios precisam assumir um compromisso de longo prazo com ações sustentáveis, mesmo que isso implique em maiores custos no curto prazo. E, a partir da liderança, é necessário o alinhamento/engajamento de todas as metas com as equipes internas e externas. Nenhuma empresa sozinha vai conseguir por mérito próprio erradicar completamente todas as questões ambientais e sociais que o seu negócio impacta. A parceria externa é fundamental!
Práticas só para publicidade
Muitas empresas utilizam o conceito de ESG só para melhoria na sua imagem institucional, sem praticar efetivamente o que é divulgado. Essa estratégia hoje é conhecida pelo termo greenwashing: divulgação de projetos sustentáveis, ecologicamente e ambientalmente responsáveis e que não condizem com a realidade da empresa.
As ações, muitas vezes, são válidas, elaboradas com embasamento, mas, no momento de colocá-las em prática, acabam sendo distorcidas ou parcialmente implementadas, não atingindo, portanto, o resultado esperado. Exemplos são campanhas em redes sociais de diversidade das empresas, em que, na realidade, internamente, tais corporações não conseguem deixar estas mensagens explícitas e intrínsecas ao hábito das suas diretorias e áreas como um todo, inclusive dos seus colaboradores (como seleção e tratamento ético de fornecedores).
Visibilidade das ações de ESG
Para uma empresa hoje se diferenciar das estratégias superficiais de sustentabilidade, é importante usar certificações de terceiros, especialmente aquelas que são amplamente reconhecidas e compreendidas pelos consumidores. Isso vai proteger a marca de acusações de greenwashing. Expor as conquistas das empresas nos rótulos e nas embalagens dos produtos é uma forma eficaz, mas, como ainda não há uma regulamentação específica sobre práticas sustentáveis, há muita desinformação nesses rótulos, dificultando a apuração da veracidade do que as empresas anunciam. A publicidade efetiva das ações de sustentabilidade é ainda um grande desafio para as empresas.
Sustentabilidade acessível
Apesar de várias pesquisas indicarem que os consumidores estão preocupados com as mudanças climáticas e demandam um sistema de produção mais sustentável, há um grande dilema sobre a viabilidade de agregação de valor por conta da sustentabilidade. A inflação dos alimentos no período da pandemia e pós mostrou que a crise do custo de vida limitou a adoção da sustentabilidade. Por outro lado, os termos de sustentabilidade acessível em épocas de bolso curto do consumidor também fazem com que algumas práticas sejam revistas, tais como redução de desperdício e economia de energia.
Adequações ambientais
Quando se trata de exportação, adequar as legislações ambientais do Brasil ou a normas de outros países é um grande desafio. Ressalta-se que atender à legislação vigente é uma obrigação das empresas e esse fato não indica que a instituição realiza práticas sustentáveis como um todo. E muitas empresas seguem a legislação para fugir de multas e outras sanções, não pensando na saúde do planeta.
Prosperidade com sustentabilidade!
Os desafios são muitos, mas, sem dúvida, a saúde do negócio da cadeia de frutas e hortaliças depende da saúde do planeta, da sociedade e da economia. Muitas práticas ampliam a eficiência do negócio, como o uso de energias alternativas (a fotovoltaica) nas propriedades. O uso mais eficiente dos recursos hídricos é um grande investimento no longo prazo para a manutenção da agricultura irrigada. Um ambiente interno com maior equidade e transparência também melhora a produtividade dos funcionários. Muitas práticas não podem ser simplificadas como um custo ou uma adequação da legislação. Uso de compostos orgânicos, reuso de materiais vegetais e inseticidas biológicos contribuem com o meio ambiente, diminuem a pressão de pragas e resultam em melhor fertilidade.
O caminho inicial é: encontrar alternativas sustentáveis que melhore o seu negócio e coibir práticas que possam denigrir a reputação da empresa.
BIBLIOGRAFIA E LINS RELACIONADOS
Diogo, J.; Boteon, M. ESG: PROSPERIDADE COM SUSTENTABILIDADE! Revista Hortifruti, Cepea, agosto de 2023.